13. Too late to apologize

Assim que fechei a porta, senti minhas mãos tremerem. A madeira fria parecia vibrar contra meus dedos, como se quisesse devolver a tensão que eu tentava afastar. Encostei a testa na porta por um breve momento, tentando respirar fundo, mas o ar parecia pesado, sufocante. Eu tinha segurado firme, mantido a expressão inabalável, mas agora, sozinha com Zara, tudo desmoronava. Simplesmente a droga do mundo todo parecia desabar dentro de mim, e era incontroável.

— Você acha que eu devia ter escutado ele? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto virava o rosto para Zara. Não queria admitir, mas havia uma dúvida terrível corroendo meu peito.

Zara, sempre tão direta e protetora, cruzou os braços e me encarou com aquele olhar que não deixava espaço para questionamentos.

— Não. — Disse simples, dando de ombros — Depois do que ele fez? Não. Ele não merece ser ouvido, Calista. Não depois de ontem à noite.

Engoli em seco, tentando absorver as palavras dela. Parte de mim queria acreditar, precisava acreditar que eu tinha feito a coisa certa. Respirei fundo, endireitei a postura, como se fosse suficiente para convencer a mim mesma. Eu sempre fui durona, mas diante de toda essa situação, me sentia pequena, como se voltasse ao tempo em que eu era uma garotinha assustada chorando pela mamãe e o papai.

— Eu fiz o certo, não fiz? Pra mim mesma. Foi o certo... — Sussurrei, mais para mim do que para ela.

Zara assentiu, mas sua expressão suavizou, e ela colocou a mão no meu ombro.

— Você fez. Ele que lide com as consequências do que fez.

Assenti de volta, forçando um sorriso que não chegava aos meus olhos, e me afastei em direção ao banheiro. Cada passo parecia pesar o dobro, como se o ar ao meu redor estivesse carregado. Logo fechei a porta do banheiro atrás de mim e liguei o chuveiro. O som da água caindo era alto, quase ensurdecedor, mas eu me agarrei a isso. A sensação do vapor começando a preencher o espaço era reconfortante de uma forma que eu nem sabia explicar. Tirei as roupas com movimentos lentos, cada peça parecendo pesar mais que a anterior. Quando finalmente entrei debaixo da água, senti o calor bater na minha pele, escorrendo como se quisesse levar embora o peso que eu carregava.

Mas ele não foi embora.

Fechei os olhos, e foi como se tudo voltasse. O rosto dele na noite passada, os olhos ardendo de raiva, o tom de voz que ecoava com força demais. O jeito como ele me segurou. E de repente, minha respiração começou a acelerar, e o calor da água parecia sufocante agora. Meus braços instintivamente se cruzaram sobre o peito, como se quisessem criar uma barreira, mesmo que tardia.

Eu tentei empurrar as memórias para longe, mas elas voltaram com uma clareza cruel. O momento em que ele me puxou, a força em seus dedos segurando meu braço. A maneira como ele me olhou, com algo tão confuso e desesperado que beirava o descontrole.

E então o beijo.

A lembrança daquele momento fez meu estômago se revirar. Não foi um beijo de afeto, nem algo que eu queria. Foi forçado, invasivo, cheio de uma intensidade que me deixou paralisada. Eu tentei empurrá-lo, mas ele não cedeu. A sensação da pressão dos lábios dele contra os meus, o gosto da bebida em sua boca, tudo parecia impregnado em mim, como uma marca que eu não conseguia apagar.

As lágrimas começaram a escorrer sem que eu percebesse, misturando-se com a água quente do chuveiro. Pressionei as costas contra a parede fria, tentando me ancorar em algo real, algo que não fosse aquela lembrança, mas minha mente gritava para que eu deixasse isso para trás, que eu não deixasse Kwon me destruir como ele parecia estar destruído, embora meu coração doesse, como se estivesse sendo rasgado de dentro para fora. Não era só o que ele tinha feito ontem. Era tudo. O jeito que ele me fazia sentir, como se eu fosse importante e ao mesmo tempo uma peça em um jogo que ele não sabia controlar.

E, acima de tudo, a decepção.

Eu confiava que ele realmente não chegaria a um extremo. Mesmo com todos os defeitos, eu tinha visto algo nele que me fazia acreditar que ele poderia ser melhor. Mas agora... Agora eu não sabia mais.

Abri os olhos, encarando o teto embaçado pelo vapor, e deixei escapar um suspiro trêmulo.

— Você fez o certo, Calista — Murmurei para mim mesma, mas minha voz soou fraca, sem convicção.

O peso do que tinha acontecido ainda estava lá, latejando na minha mente, no meu peito, como se não quisesse me deixar esquecer.

Fiquei ali por um tempo, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo, como se pudesse lavar não só o que aconteceu, mas também os sentimentos confusos que vinham com isso. Mas eu sabia, no fundo, que isso não ia desaparecer tão fácil. Que o que aconteceu entre mim e Kwon tinha deixado marcas profundas demais para serem apagadas com um banho. E o pior de tudo era saber que, por mais que eu quisesse odiá-lo, uma parte de mim ainda se importava. E essa era a dor mais difícil de lidar. Por que raios eu deveria me importar com alguém que sequer se importou em me machucar duas vezes? Não parece ter sentido ou lógica alguma.

E enfim, depois de um tempo debaixo do chuveiro, quando finalmente saí, sentia o peso de tudo ainda grudado na pele, mesmo com a água quente escorrendo sobre mim, mas tentei ao máximo afastar os pensamentos intrusivos para ter uma boa noite de sono. Enrolei-me na toalha e me encarei no espelho do banheiro, que estava embaçado pelo vapor. Passei a mão pelo vidro, revelando meus olhos cansados e o semblante abatido. Era como se minha própria imagem fosse de alguém que eu não reconhecia.

Vesti-me quase preguiçosamente, como se estivesse fraca e destruída, com uma camiseta larga e uma calça de moletom. Queria apenas algo confortável, algo que me envolvesse como um escudo contra o mundo lá fora, principalmente quando se trata do karatê, aquilo que prometi que apagaria da memória, e que agora voltou à minha vida com vigor, trazendo à tona todos os fantasmas do passado, e novos traumas. Ao sair do banheiro, o quarto estava quieto, mas logo ouvi o som de Zara mexendo em algo.

Ela estava parada em frente ao guarda-roupa, puxando peças de roupa com animação. Algo que, confesso, era inesperado, considerando como ela tinha estado nos últimos dois dias, mal saía da cama e respondia a tudo com monossílabos. Mas agora, ela parecia... Verdadeiramente animada.

Aproveitei a mudança de humor dela para provocar.

— Que foi? Já achou outro garoto pra você flertar? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha e me jogando na cama com um sorriso zombeteiro.

Ela me lançou um olhar comicamente ofendido antes de rir, embora tenha revirado os olhos logo em seguida.

— Engraçadinha. Mas, pra sua informação, alguém da equipe chilena me chamou a atenção, sim.

— Equipe chilena, é? — Continuei, fingindo interesse. — É sério, Zara? Você mal saiu do último drama e já está procurando o próximo?

— Quem disse que eu estou procurando drama? — Ela rebateu, virando-se para mim com um vestido na mão. — Talvez seja só diversão.

Ela disse isso com um sorriso confiante que parecia genuíno, algo que eu não via há dias. Não era como se eu não quisesse que ela se sentisse bem, mas ver como ela estava conseguindo seguir em frente só serviu para me lembrar de como eu me sentia presa no meu próprio caos. Eu queria verdadeiramente poder só prosseguir, assim como ela.

— E você? — Ela perguntou, mudando o foco. — Vem comigo. Você precisa sair, se distrair, sei lá. Isso aqui tá te consumindo.

Eu ri, mas sem muito entusiasmo, balançando a cabeça negativamente.

— Não, obrigada. Hoje não. Só quero descansar.

Ela me encarou por um momento, como se avaliasse minha resposta, mas não insistiu. Talvez ela soubesse que eu precisava de espaço. Zara apenas deu de ombros, pegando o vestido e sumindo no banheiro para se arrumar.

Quando ela saiu, pronta para sua noite, eu estava sentada na cama, olhando para a porta.

— Vai lá e se diverte bastante por mim, tá? — Falei, tentando soar leve.

Zara deu um sorriso, aquele sorriso típico dela, confiante e cheio de energia.

— Pode deixar.

Assim que a porta se fechou atrás dela, o silêncio voltou ao quarto, tão pesado quanto antes. Suspirei, deixando meu corpo cair para trás na cama, encarando o teto. Não sabia por quanto tempo fiquei ali, mas quando me virei para pegar meu celular na mesa de cabeceira, ele estava cheio de notificações.

Meu coração afundou ao ver o nome de Axel. Mensagens preocupadas, uma atrás da outra. Ele queria saber se eu estava bem, se precisava de algo, e por que eu tinha sumido desde o que aconteceu. E eu li cada uma lentamente, os olhos passando pelas palavras dele, enquanto um nó crescia na minha garganta. Axel não tinha nada a ver com isso. Ele não merecia meu silêncio. Mas eu não sabia como explicar. Como falar sobre Kwon, sobre o que ele fez, sobre o que eu senti, sem que tudo parecesse mais confuso e doloroso? Principalmente depois de suas palavras também me atingirem com força. Ele sempre deixou claro seus sentimentos, mas pela primeira vez, os pôs em palavras, e por mais que eu tenha rebatido no primeiro instante, eu sentia que havia uma pontada de esperança ainda latente em seu peito, e eu verdadeiramente não queria alimentar isso ou ele só se machucaria.

"Me responde quando puder. Tô preocupado com você, sério."

Essa última mensagem parecia ecoar na minha mente. Axel sempre foi... Seguro, alguém em quem eu podia confiar. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele não entenderia completamente o que estava acontecendo dentro de mim.

Apenas coloquei o celular de volta na mesa, sem responder. Não ainda. Não porque eu não quisesse falar com ele, mas porque eu não sabia o que dizer. E, no fundo, sabia que nenhuma resposta apagaria o peso que carregava.

Fechei os olhos por um breve momento, tentando afastar a sensação de solidão que parecia me cercar, mas as lembranças continuavam voltando, como se fossem tatuadas em minha memória. O toque de Kwon, as palavras de Zara, as mensagens de Axel, os conselhos de Terry. Tudo girava em minha mente como um furacão, e eu não sabia como sair disso.

Suspirei profundamente, sentindo as lágrimas ameaçarem voltar, mas forcei-me a levantar. Se não conseguia resolver nada agora, ao menos podia tentar descansar, mesmo que meu corpo parecesse tão exausto quanto minha mente.

Depois que Zara saiu, o silêncio no quarto parecia quase ensurdecedor. Fiquei ali, jogada na cama, encarando o teto enquanto tentava ignorar a bagunça que era minha mente. Respirei fundo algumas vezes, tentando empurrar para longe as emoções que me sufocavam. Mas elas não iam embora.

Levantei o braço e peguei o controle da TV, passando pelos canais sem realmente prestar atenção em nada. Acabei colocando uma comédia romântica qualquer, aquelas que tinham casais clichês e finais previsíveis. Era o que eu precisava, algo que não me fizesse pensar, algo que distraísse a dor no meu peito. Mas até isso parecia ineficaz. Cada cena de sorrisos e olhares apaixonados me lembrava que minha vida era o oposto daquele escapismo. Suspirei, exausta de mim mesma, e alcancei o celular na mesa de cabeceira.

Minha intenção era simples, responder Axel. Ele merecia pelo menos isso. Mas, assim que desbloqueei a tela, meu coração deu um salto. Havia mensagens de um número desconhecido.

Por um segundo, meu peito se apertou com a possibilidade de ser Terry, com suas inúmeras maneiras de me controlar e manipular. Já tinha lidado com isso antes. Mas quando abri a conversa e vi as mensagens, o ar pareceu congelar ao meu redor.

Era Kwon.

Li o primeiro "Oi" na tela, e meu estômago revirou. Mais abaixo, outra mensagem: "Por favor, precisamos conversar."

Minhas mãos começaram a tremer. A raiva subiu tão rápido que precisei largar o celular, atirando-o na beirada da cama como se ele tivesse queimado minha pele.

— Que droga, Kwon! — Murmurei, minha voz rouca de frustração.— Seu idiota.

Afundei o rosto no travesseiro, e o grito que saiu de mim foi abafado, mas cheio de tudo que eu estava segurando. Era como se eu estivesse explodindo de dentro para fora, e não havia ninguém para ouvir. A dor que senti era profunda, rasgando meu peito como uma lâmina invisível. Não era só o que ele tinha feito naquela noite, mas tudo o que ele significava. Toda aquela confusão de sentimentos que ele sempre despertava em mim, o caos que ele trazia para minha vida. Eu queria odiá-lo com todas as forças, mas, ao mesmo tempo, sabia que parte da dor vinha do fato de que eu me importava.

Isso estava me matando.

Respirei fundo, ainda com o rosto enterrado no travesseiro, tentando acalmar o coração disparado. Mas não adiantava. Era como se a raiva e a mágoa fossem ondas, batendo em mim sem parar. Eu não sabia se queria ouvir o que ele tinha a dizer ou se preferia socar aquele rosto até ele nunca mais ousar olhar para mim. Talvez fosse ambos. Talvez fosse nenhum.

Levantei o rosto, os olhos ardendo de lágrimas que eu me recusava a deixar cair. Encostei as costas na cabeceira da cama, encarando o celular na beirada como se fosse uma bomba prestes a explodir.

Por que ele simplesmente não podia me deixar em paz?

Eu sabia que, se pegasse o telefone e lesse as mensagens, haveria algo nele que me puxaria de volta. Algo que faria meu coração vacilar, mesmo contra minha vontade. Mas a raiva ainda estava ali, queimando como um fogo incessante, me lembrando de tudo que ele tinha feito. Apertei os olhos e passei as mãos pelo rosto, tentando encontrar alguma clareza. Mas a única coisa que eu sentia era um nó enorme na garganta e um vazio no peito que parecia impossível de preencher.

Eu não sabia como ele tinha causado um efeito tão catastrófico e dilacerante em mim, num período tão curto de tempo. Desde a primeira troca de olhares no tatame, eu já sabia que ele seria um problema, mas não imaginei que fosse me causar tanta dor, frustração e uma intensa confusão que me faz querer gritar sempre que seu rosto me vem à mente.

Sentada na cama, encarando o celular como se ele fosse o epicentro de todos os meus problemas, algo começou a crescer dentro de mim. Não era apenas raiva ou dor, mas uma necessidade urgente de fazer alguma coisa. Qualquer coisa. Ficar ali parada, à mercê das minhas emoções e memórias, não estava me ajudando.

Eu precisava enfrentar isso, mesmo que doesse. Mesmo que me consumisse.

Respirei fundo, como se estivesse reunindo coragem para saltar de um penhasco, e alcancei o celular na beirada da cama. Minhas mãos ainda tremiam enquanto o segurava, mas ignorei isso, focando no visor.

As notificações ainda estavam ali, como fantasmas pairando sobre mim. As mensagens de Axel eram longas, cheias de preocupação e empatia. Ele queria me ouvir, queria estar presente, e eu sabia que em algum momento, precisaria esclarecer as coisas para ele, porque apesar de tudo, somos amigos.

Continuei deslizando a tela e vi as mensagens de Kwon. As palavras dele eram curtas, quase desesperadas. "Oi." "Por favor, precisamos conversar." "Eu sei que não mereço, mas..."

Meu peito apertou ao ler aquilo, como se cada sílaba fosse uma mão invisível esmagando meu coração. Era ridículo como ele conseguia despertar tantas emoções conflitantes ao mesmo tempo. O ódio e o fascínio. A mágoa e... O quê? Alguma coisa que eu não queria admitir nem para mim mesma. Fiquei olhando para as duas conversas. Meu polegar pairava sobre o nome de Axel, mas, antes que pudesse abrir, meus olhos voltaram para o número desconhecido. Kwon.

Eu senti um calor subir pelo meu corpo, uma mistura de raiva e adrenalina. Minha respiração ficou mais pesada, e minha visão quase parecia turva. O que eu estava fazendo? Por que estava dando espaço para ele novamente? Mas, no fundo, eu sabia. Era impossível simplesmente ignorar. Não importava o quanto eu quisesse apagá-lo, ele estava ali, como uma sombra que eu não conseguia evitar, no entanto, eu não sei se preciso vê-lo tão imediatamente, preciso?

Respirei fundo, prendendo o ar por alguns segundos antes de soltá-lo. Minhas mãos estavam firmes agora, como se a decisão que eu estava prestes a tomar tivesse trazido um pouco de controle de volta. Abri enfim, uma das conversas. O visor parecia mais brilhante do que o normal, como se o próprio celular estivesse me desafiando. Por um momento, só fiquei ali, olhando para as mensagens, pensando no que exatamente dizer.

Finalmente, meus dedos se moveram. Digitei lentamente, mas com firmeza, cada letra carregada de um peso que eu não sabia como carregar sozinha, e que talvez, não precisasse de fato, carregar sozinha.

"Me encontre na praia em quinze minutos."

Enviei antes que pudesse mudar de ideia. Assim que a mensagem foi entregue, larguei o celular no colo, sentindo meu coração disparar como se estivesse correndo uma maratona. Era isso. Eu tinha dado o próximo passo, mesmo que não soubesse exatamente para onde ele me levaria.

Olhei para o relógio no celular. O tempo parecia se arrastar e correr ao mesmo tempo. Quinze minutos. Quinze malditos minutos para encontrar alguma forma de lidar com tudo o que estava por vir.

Levantei-me da cama, sentindo minhas pernas um pouco fracas, e fui até o espelho. Meu reflexo parecia tão confuso quanto eu me sentia. Passei as mãos pelos cabelos, ajustei a camiseta larga e respirei fundo, ajeitando meus fios desalinhados, não tinha a intenção de me produzir para uma conversa que seria difícil, mas ainda assim, não precisava aparecer feito um zumbi, demonstrando o quão derrotada eu estou, isso só traria ainda mais perguntas e perguntas.

Sabia que precisava dar uma basta nesse assunto, me livrando desse problema por hoje. Então, peguei meu celular e minha chave do quarto, saindo sem olhar para trás.


Obra autoral ©

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