25.Asas vermelhas

Look at you now, exalted no more
Scorging's left your blood soaked into the floor
For having the sight you will pay a heavy price
Martyr for mankind, contrived sacrifice

Olhe pra você agora, não está mais exultante
O acoite deixou o chão encharcado com seu sangue
Você pagará um preço alto por ter a visão
Mártir da humanidade, sacrifício planejado



"Quanto mais próxima do inferno, mais deveria temer, no entanto,

Se apaixonou por toda a dor e perversão
que lhe foi apresentada, como

Uma máscara lúgubre que entorpecia seus sentidos e moldava a sua mente." -- Queen The Vampire.


Seus pés doíam conforme corria entre a mata fria. Esfregava os braços, tentando trazer minimamente o calor ao seu corpo, e até mesmo de sua respiração saía fumaça. Seus cílios possuíam pontinhos brancos de neve conforme corria em meio à paisagem congelada, e o leve riso ecoava pela copa das árvores sem ter uma direção fixa.

Você respirou pesado, e um ofego saiu de seus lábios quando sentiu um rasante de gelo atravessar seu vestido, perfurando-o.

— Pare de correr, minha dama. — O demônio sussurrou ao pé da sua orelha. — Ou então corra mais rápido.

E logo sentiu algo verter por seu corpo, aquecendo-o. Em meio àquela paisagem cruelmente clara, gotas vermelhas tingiam o chão.

Seu rosto vacilou um pouco ao sentir a dor percorrer pelo ferimento. Parecia que estava congelando de dentro para fora. Mais uma vez, você se arrastou até o lago. O gelo poderia ser grosso ou fino sobre a superfície, e você resolveu pagar para ver.

— Você precisa de mim viva, não é, Douma? — Seu sussurro não passou despercebido por ele, que agora se aproximava lentamente enquanto você quebrava o chão, batendo o salto da bota com força na superfície congelada.

— Preciso de você viva, não inteira. — Uma rajada fria foi jogada em sua direção, enfeitando seu vestido com pequenos flocos entre os cortes recém-abertos, assim como a bochecha direita, o que te fez rachar o piso com mais força. E, em um sorriso mudo, você começou a sentir o gelo ceder.

— É o que vamos ver — foi tudo o que pronunciou antes de afundar, mediante ao susto que mal lhe permitiu prender a respiração.

Os olhos arco-íris brilharam imensamente em surpresa. Ele nunca pensou que você chegaria a tanto, e no fundo gostou de sua reação. Com os leques nas mãos, ele lançou uma rajada de vento cortante, despedaçando o gelo ao redor do lago. Alguns pedaços maiores caíram sobre você, te desacordando de vez. Douma olhou pela superfície e não sentiu sua presença. Foi aí que se deu conta de que você realmente estava afundando.

Enquanto afundava naquelas águas cada vez mais escuras, você só conseguia imaginar como seria sua vida se nada disso tivesse acontecido. Em sua mente, as palavras de Kaigaku ainda ecoavam, e a lembrança de que tudo o que conhecia era falso.

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— Kai... — Seu sussurro foi involuntário ao ver o homem que agora olhava para você e sorria tranquilamente. Pode contemplar o sorriso apaixonado dele mais uma vez antes de tentar afagar seus cabelos conforme se aproximou, algo que jamais ocorreria, uma vez que esse plano não o pertencia mais.

— Você está tão bonita, Sn — ele sussurrou.

— E você está bem? — Seu coração batia fortemente, e ele sorriu.

— Sim, digamos que a oração de um anjo foi o suficiente para interceder por mim. — Ele desviou o olhar para Nefira e depois retornou a você. — Mas, infelizmente, não temos muito tempo. Então, peço que faça as suas perguntas, pois agora eu posso respondê-las sem temor.

— O que quer dizer com isso? — Sua voz saiu calmamente embargada.

— Está fazendo as perguntas erradas, menina. — A voz de Hanâmi ecoou pelo local. — Eu vou erguer um escudo em volta desse jardim, mas ele não vai durar. Então, Nefira, guie-a sem problemas.

Observou a anjo se aproximar, parando atrás de ti e colocando as mãos sobre os ombros dela.

— Kaigaku, fale sobre o motivo dela ser escolhida. — Nefira assumiu. Para a anjo, parecia haver uma película vítrea em seus olhos que a impedia de acordar de vez e compreender não só o seu lugar na Corte como o plano brutal do rei infernal que tanto a desgraçou. Mesmo que lesse seu contrato, não encaixava a sua falta de resistência a ele. Nefira não se referia ao fato de ele subjugá-la ou de sua resistência massiva a Douma, e sim ao seu próprio ser.

— Tudo bem, mãe... Perdão, senhora Nefira. — A anjo sentiu os olhos brilharem antes de se afastar minimamente. Ninguém é capaz de entender a dor de perder um filho a não ser aqueles que passam por isso. — Você foi o meu primeiro trabalho como recém-criado. O lua superior dois estava incumbido de conseguir uma noiva para o renascimento do mestre. O problema é que Douma não consegue se conter diante de uma mulher normal, imagine aquela que de fato pertenceria a ele. Então, eu fui mandado em seu lugar. Deveria encontrar a noiva perfeita, um ser puro para o mestre.

Seu mundo parecia desabar. Sua respiração pesou, imaginando que tudo o que viveu não passou de uma farsa.

— E por que me escolheu? — Sua pergunta saiu como um sussurro.

— Antes de ir atrás das famílias nobres, Douma me deu algo para beber, algo que reagiria com o sangue da escolhida assim que eu a visse. E depois de setenta e seis dias, eu te encontrei. Soube de imediato que se tratava de você porque meu sangue queimou, como se sua presença me causasse uma verdadeira aversão. E não demorei muito a descobrir o porquê. Fui eu quem sussurrou no ouvido da sua mãe, fui eu a questioná-la sobre a sua existência e a descobrir que ela traiu o pai que você conheceu com um homem desconhecido que, segundo ela, possuía um sorriso bondoso e uma aura tão pura que se assemelhava a um anjo.

Nefira piscou diversas vezes antes de se aproximar e segurar em seus ombros.

— Há alguma marca de nascença em seu corpo parecida com a de meu marido, Sn?

— O quê? Não. — Ficou envergonhada, e Kaigaku riu.

— Não tem nenhuma marca no corpo dela, mãe.

Seu rosto parecia estar fervendo conforme Nefira se afastou, e você tomou coragem para fazer a pergunta que ecoava em sua mente.

— Então eu fui apenas um trabalho?

Ele logo compreendeu a sua dúvida e, apesar de não poder te tocar, ainda assim tentou, fazendo com que você apoiasse falsamente o rosto na palma da mão dele.

— Eu ainda tinha uma alma, Sn. Não brinquei com seus sentimentos. Tudo o que tivemos foi real, e se eu soubesse que teria acabado desse jeito, jamais teria aceito te entregar ao Douma.

— Você tinha opções, Kai? — Ele sorriu.

— Minha bela Sn, nenhum dos luas possui tantas escolhas, mas você foi a minha, e não me arrependo. — Ele sorriu e, aos poucos, foi desaparecendo enquanto seu olhar se perdia em meio àquela fumaça. As asas vermelhas da anjo varreram o que sobrou conforme se aproximava de você.

— Sn, você entendeu?

— Um pouco.

— Por Deus, menina, as explicações estão repetitivas. Precisamos que deixe essa ingenuidade de lado se quiser manter-se viva e soberana. Muzan tentou renascer várias vezes nesse mundo e em todas falhou. Para conseguir passar, ele precisa quebrar o meu selo, e somente sendo gerado por alguém com um sangue tão forte quanto o meu seria possível. Ele tentou através da minha mãe e falhou. O mesmo ocorreu com Nefira, e agora você é a última.

— Mas...

— Escute-a, Sn, estamos ficando sem tempo. Mesmo que Kokushibo me deixe livre para que não precise reportar ao seu mestre, ele também corre o risco de ser penalizado se aquele desgraçado descobrir, e Akaza só ficará em silêncio enquanto Hanâmi estiver de pé. — Você se calou e prestou bastante atenção.

— Ele tentou por meio de um anjo puro, um nefilim a partir de um demônio, um humano e agora um nefilim a partir de um anjo, ou seja, você. Não permita que isso aconteça, Sn. Eu não posso ir mais além do que isso, pois você tem um contrato, e contratos com kizukis superiores são inquebráveis e uma forma única de os prender eternamente.

Toda a proteção de Hanâmi caiu, e o corpo dela automaticamente arreou no chão. Nefira se pôs adiante, erguendo a garota nos braços e te encarou. Akaza, que até então estava em transe, veio até vocês, se preparando para pegar a mulher.

— Vamos cuidar dela, tudo bem? — Você assentiu. A cada nova revelação, seu corpo, mente, alma e coração tendiam a sufocar, como se pedissem desesperadamente por amparo.

Dentro da casa, o silêncio imperou. O corpo de Hanâmi estava sobre o sofá acolchoado, enquanto o rosado não saía do lado dela. Nefira aproveitou tal ato para recolher todas as plantas medicinais que precisava e, enquanto preparava uma espécie de chá, você contemplava o "casal" à frente.

— Possuem uma união muito bonita. — Ele piscou diversas vezes até te encarar. — O seu contato é igual ao meu?

Akaza te olhou nos olhos por um instante.

— Sabe que cada contrato é único.

— Não me refiro a isso e sim às penalidades.

— Não há necessidade de punir aquela que nunca me fez mal e nunca fará. Agora, você deve se apressar antes que aquele desgraçado chegue até aqui. — Voltou a olhar para Hanâmi, e assim que Nefira se aproximou, dando a ela o que deveria beber, o corpo começou a corresponder e não demorou a acordar.

Os olhos de Hanâmi vagaram por todos no local, para no fim sorrir para o rosado.

— Akaza, vamos embora. — Ele simplesmente se aproximou, pegando-a nos braços, e assim deixou o local.

--------------


Sua visão se encontrava perdida entre o mais profundo vermelho, você via humanos suplicando por ajuda, implorando que os tirassem daquele martírio e ao seu lado os verdadeiros agressores:

Asas rasgadas, rostos distorcidos e corpos ofegantes;

Asas vermelhas que pingavam sangue em
semblantes que jaziam sorrindo pela dor
infligida;

Desespero que se vertia em prazer aos
amaldiçoados.

Amaldiçoado seja o hediondo inferno.


Seu tremor lhe fez escorar na parede e apertar as mãos no peito.

— Deus, me tira daqui. — Sussurrou desesperada, sentindo o líquido verter por sua bela face.

Os olhos daqueles que castigavam foram parar em você, analisando-a. Unhas pontiagudas passaram a desejar rasgar sua pele, ferir sua carne e absorver toda a sua dor até que só restasse o desespero e a loucura. E, quando mais passos eram dados em sua direção, mais você parecia querer se fundir com a parede que agora pingava sobre suas vestes, um líquido ferroso que a fez fechar os olhos e unir as mãos em posição de oração. O choro preso na garganta e o desespero em ter que estar ali.

— Aposto que você não deveria estar aqui. — A voz desconhecida chamou sua atenção, e no mesmo instante os outros se afastaram.

— Criança, não pise na corte se quiser permanecer humana, ou pelo menos esconda essas belas asas antes que eu mesma seja obrigada a maculá-la.

Seus longos cabelos estavam completamente hirsutos em meio à confusão de pensamentos. Ao olhar para baixo, viu que seus pés não tocavam aquele chão medonho, e o medo percorreu seu sistema nervoso. Seus olhos incrédulos contemplavam o local inóspito e pavoroso que mais lhe fazia querer implorar para deixá-lo. Ainda trêmula, desviou o olhar, sentindo o vento ir contra sua face em lufadas de ar simples e, apesar do cheiro férrico, o que invadia suas vias nasais era praticamente um ar puro.

Sn sentiu algo tocar seus ombros e apenas observou, tomando em mãos a pequena pena tingida de vermelho. Em um giro incontido, contemplou asas que mais pareciam uma fábula dos livros que sua mãe lia há muitos anos. Então, tudo escureceu enquanto sentia-se puxada...

No momento em que você começou a morrer, Douma parou de brincar. O Lua Superior Dois notou que sua destra não alcançava seu corpo dentro da água, por mais que tentasse, e assim afundou naquele frio e escuro lago, procurando-a pelos escombros de gelo que a empurravam cada vez mais fundo. Quando finalmente a encontrou, só conseguiu ver a curta luz que parecia emanar de seu corpo antes de sumir.

Em instantes, estavam na superfície. O Lua não fez questão alguma de revivê-la, apenas a observava sem vida, levemente empalidecida pela possível pré-morbidez, além da pele extremamente fria.

— Ah, minha Washi no Miko... Você nunca esteve tão linda.

E, assim como Kaigaku, tendo o próprio sangue exposto pelo corte feito pelas presas no próprio lábio, ele a beijou, derretendo o gelo ao redor e trazendo a floresta ao normal. Seu corpo foi esquentando e a cor de sua pele, aos poucos, voltou ao normal, até que seus olhos se abriram. Em um ímpeto, você o empurrou, tossindo muito e cuspindo a água que parecia ter se apropriado de seu corpo internamente.

Primeiro, ele a colocou no chão. Você limpou os lábios e, depois, olhou para ele, cheia de ódio no olhar. Somente os deuses sabiam o quanto seu coração puro penava por esse sentimento tão desprezível. Suas lágrimas pareciam ter secado no momento em que viu o patife superior sorrindo e, sem pensar muito, aproximou-se novamente, virando a destra na face dele em uma bela bofetada que ecoou por parte da floresta.

Na sua mente, todas as cenas que presenciou se misturavam, e agora sentia-se desesperada. Seus joelhos dobraram no chão, e ele se aproximou, acolhendo-a nos braços.

— Shiii, minha Washi no Miko... Vamos para casa.

— Eu quero que vá para o inferno. — Você o empurrou, mas ele enrijeceu os braços, e todo o seu esforço não valeu de nada.

O loiro sorria satisfeito enquanto você encarava o lago escuro, cheia de receio, sem saber que havia adquirido medo de estar em contato direto com a água que não fosse de uma banheira.

— Vou pedir que preparem um bom banho e uma sopa quente. — As palavras dele lhe causavam ainda mais raiva.

— E eu, que te arrastem e prendam no pior lugar do mundo.

Quanto mais desejava-lhe o mal, mais ele parecia se divertir. Douma não fazia a menor ideia, mas você finalmente havia quebrado e se transformado na dama que ele tanto idealizou, afinal, uma dama quebrada não se move por vontade própria, sonhos ou expectativas, e sim por interesse em sobreviver.

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Música: Crucify the King - Iced Earth

Um trecho do próximo capítulo:

— Não dá para matar o que já está morto, Douma! Se você me queria tanto, que fizesse por onde. Agora, o que você tem é exatamente o que procurou, e eu vou sair!

— Se passar por aquela porta, eu vou te cortar todinha, minha Washi no Miko.

Um sorriso brincou em sua face conforme se aproximou do demônio, seus dedos correndo pela face fria e pressionando o queixo. Sua boca roçou na dele antes de tomá-la, mas, ao menor contato das mãos alheias, se afastou.

— Pois então terá que me matar.

Tudo o que o Lua Superior Dois viu foram seus longos fios esvoaçando conforme você saía do palácio — e a sensação de que, a cada dia, perdia o controle que tanto infligiu em você.

https://youtu.be/JSBWxmMbbso

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