22.Os conselhos de um anjo

I look at you and my blood boils hot
Ifeel my temperature rise

I want it all, give me what you got
There's hunger in your eyes

"Me tens em sua cama,

mas não em seus domínios
E nunca em suas mãos."

- Queen the Vampire

Você encarava a garotinha de forma apaixonada; era no mínimo engraçado que uma criança estivesse ali penteando e enfeitando os cabelos do demônio considerado o mais forte, e ele estivesse extremamente à vontade com isso.

— Tsuki parece feliz — você sussurrou enquanto ajudava Nefira na cozinha. Na verdade, estava mais para aprendendo, já que, como sempre foi tratada como uma princesa, não sabia muito o que fazer.

— Mexa mais a panela, Sn. Ela está feliz sim, Tisu... Minha filha é uma criança adorável — Nefira continuou desfolhando as ervas que iriam usar.

— E ele parece não se importar — você comentou baixinho.

— Sabe que ele pode nos ouvir, não é? — A mais velha riu. — Não se preocupe, ela é filha dele também, então é normal que pais brinquem com seus filhos.

— Mas ele é um demônio, não? Eu não sei como isso funciona.

Nefira se aproximou, colocando as folhas na água e tomando a espátula das suas mãos.

— Minha querida, você aprenderá aos poucos. Seu contrato é de sangue, então sempre haverá traços dele dentro de você, e deve-se atentar a isso para que o lado do demônio não te domine.

Suas mãos foram para as batatas, cortando-as em formatos irregulares, enquanto ela colocava sal e deixava tudo ferver.

— Agora vamos falar sobre como você se protegerá de um possível herdeiro dele.

Kokushibo desviou o olhar e depois tirou as mãos da criança de seus cabelos.

— Vou levar Tsuki para andar a cavalo. Não apronte, Nefira. — A voz sempre rude, como se desse uma ordem atrás da outra para a mulher, te fazia imaginar como o casamento dela funcionava.

— Volte para o almoço e não me faça esperar. — Ele não respondeu, apenas pegou a garotinha no colo e seguiu para fora da casa. Você respirou pesado.

— Como consegue?

— A que se refere?

— Como conseguiu fazer com que esse casamento desse certo?

Ela riu, terminando de preparar a sopa, já que o clima estava frio e queria evitar que a criança se resfriasse.

— E que escolha eu tenho? Eu sou um anjo, Sn, e ele é um demônio. Pode imaginar o que nossa fusão causa, não é? Para ele, nada, mas para mim, me mata de dentro para fora. E, diferente dos seres humanos, eu não morro; poderiam quebrar todo o meu corpo, me torturar das mais diversas formas, e eu continuaria viva, mesmo que a dor fosse excruciante. Então optei pelo certo e garanti que ninguém mais passasse por isso.

Sn não fazia a menor ideia de que esse curto exemplo era mais do que verídico, mas essa é uma história que será contada em seu próprio tempo.

— Então, se sacrificou por sua espécie?

— Sim. E não me arrependo de nada. Kokushibo é um... bom marido — se limitou a dizer. — Agora, voltemos a você.

— Sabe como funciona uma ligação de sangue?

Você a encarou confusa, e Nefira tapou a panela antes de pedir que a seguisse até o balcão mais distante.

— Quando ligados pelo sangue, tudo é mais intenso. Se o demônio tiver sentimentos, eles invadem sua mente e podem até mesmo tomar conta de você se não for forte o suficiente. Agora, quando eles não os têm ou os reprimem, isso só serve para despertar o seu pior lado. Sentimentos como raiva, ciúmes e luxúria costumam se apresentar rapidamente, principalmente se ele portar algum pecado. E o seu demônio porta, na minha humilde opinião, o pior deles, justamente por vivenciá-lo com louvor. A luxúria almeja te consumir em prazeres, e tal sentimento vai de acordo com os aspectos do seu demônio.

— Ou seja, um sádico — você concluiu.

— Exatamente. Mas podemos mudar isso — Nefira tirou de dentro do armário vários potes de vidro com tampa de bambu; cada um deles tinha um nome, e ela foi separando um pouco de cada erva. — Pegue um pano para mim na segunda gaveta à esquerda, por favor.

Você foi mais do que rápida, e Nefira envolveu as ervas no tecido, amarrando-o com uma fita de cheiro almiscarado.

— O que é isso?

— Um chá abortivo que também serve para que você não engravide. Dê sempre preferência à segunda opção, pois seu corpo não é feito para ficar expulsando crianças como se fossem suas regras.

Uma combustão tomou conta de você.

— Só mais uma coisa: você precisa encontrar alguém de confiança dentro daquele castelo para sempre preparar o chá para você, visto que não costuma ficar na cozinha. Do contrário, ele desconfiará. Douma é muito esperto e ardiloso.

Sua concordância veio com cada palavra, e logo em sua mente uma única garota sorridente passou.

— Eu já sei em quem posso confiar.

— Excelente, e tenha certeza disso. Não esqueça que ele mantém aquela concubina apenas para te espiar e incitar seu ciúme, mesmo que não queira.

— E qual o próximo passo?

Nefira sorriu.

— Vou te ensinar a fazer. Você deve tomar sempre após o período de sua regra ou antes de descer. Conhece os sinais de seu corpo, não?

A mais velha estava muito à vontade enquanto colocava as coisas na panela com água e te explicava como proceder.

— Conheço, sim. Geralmente fico um pouco mais voluptuosa, e minhas mamas pesam.

— Então será mais fácil. Agora observe: o chá deve ficar da cor azul, e você pode colocar estrela-anis para suavizar o sabor, que não é muito agradável.

— Da forma como fala, parece que conhece o chá a fundo.

Ela sorriu amargamente.

— Infelizmente, o preparei muitas vezes para ajudar mulheres que foram estupradas e não desejavam conceber.

Você notou que o semblante da mulher ficou um pouco triste, deixando claro que o assunto era delicado, e resolveu prosseguir.

— E depois disso?

— Basta tomar e esperar. Se estiver grávida, sentirá uma dor no baixo ventre extremamente forte e, então, abortará. Não será nada agradável, e seu corpo sofrerá com o processo, justamente por ser uma humana carregando um nefelin. Agora, se for para prevenir, apenas o seu fluxo de sangue aumentará durante o período. Aconselho que reforce suas anáguas.

Você assentiu, e assim ela te entregou o chá, pedindo para que o guardasse e, sempre que precisasse de mais, viesse vê-la, pois tinha uma plantação completa de ervas medicinais no jardim.

Depois de um tempo, você retornou e notou pratos brancos de cerâmica com bordas douradas, além da xícara com o chá e a estrela-anis.

— Tiveram uma primeira vez bem turbulenta. Tome o chá e vamos planejar uma forma de ele não te punir.

Suas mãos foram até a xícara, e ao bebericar o chá, precisou respirar fundo antes de pousá-la sobre a bancada.

— Credo, é muito ruim. — Nefira riu, e você achou bonito, pois desde que se conheceram, nunca a tinha visto rir de verdade.

— Pode comer uma maçã para quebrar o sabor, mas faça isso depois de tomar. Sempre conserve a pureza do chá para que o efeito funcione.

Você se sentou na cadeira, bebendo seu chá, enquanto ela preparava o prato da criança de forma tão singela que não pôde deixar de notar o carinho no que estava fazendo.

— Você mencionou nefelin. Pode me explicar o que é?

— Claro. Nefelins são híbridos entre espécies. Quando um anjo e um humano, por exemplo, têm um bebê, ele não será nem um, nem outro; entretanto, carregará a linhagem dos dois e tende a ser mais poderoso. E é por isso que são extremamente proibidos — Nefira explicou, segurando o prato já pronto em uma bandeja. Você a acompanhou para fora da cozinha, indo em direção à imensa sala de jantar.

— Se são proibidos, por que Douma afirma que o mestre dele quer um?

— Para renascer nesse mundo. Eu sei que você já ouviu esses detalhes dispersos, e sinceramente estou pouco me lixando para as consequências que sofrerei por te contar, principalmente agora que estamos sozinhas. Serei o mais clara possível com você: se engravidar, você morre, Sn. Não agora ou durante a gestação, mas é bem provável que no parto isso aconteça. Você dará à luz ao rei dos demônios, que está confinado na prisão em seu próprio reino. Ele tentou várias formas de ressurgir neste mundo, e em todas houve falhas, menos uma: o nascimento. Como afirmei antes, não sei por que você foi escolhida, criança, mas seu destino será fadado ao sofrimento se o fizer.

— Mas se eu morrer, tudo isso acaba — sua voz estava distante, e sua percepção afetada pela descoberta que agora martelava em seu peito.

— Eu também pensei que fosse assim, mas li o seu contrato, então posso lhe afirmar que não vai adiantar muito. No momento de sua morte, você entrará para a corte infernal; você é a esposa de uma Lua, achou mesmo que seria tão fácil?

Retornaram à cozinha para levar o restante da comida para a sala de jantar. Deram duas voltas até carregar as panelas e pratos, já que Nefira cozinhou bastante.

— Agora, vamos ver como deixaremos Douma longe de você.

— Eu sei o que ele quer e não estou disposta a dar — você afirmou, enquanto arrumava os pratos na mesa.

— Então, não dê, mas faça-o achar que aceitou.

— Está sugerindo que eu minta?

— Não. Eu estou afirmando que deve mentir. Você deve acreditar na sua ideia e no papel que vai assumir com tanto afinco que ele jamais saberá que tudo não passou de uma armação. Deve se tornar a própria ideia, ao ponto de se questionar se realmente estava mentindo. E, quando tudo estiver acabado, deve procurar seu ponto de fuga, aquele que guardou quem você realmente é.

Você encarou a jarra dourada com vinho, se perguntando como faria isso, principalmente a respeito do apoio, uma vez que seus pais te rejeitaram e não havia mais ninguém à sua espera.

— E se eu não tiver em quem me apoiar?

Nefira segurou suas mãos.

— Sempre seremos fortes por nós mesmas, Sn. E se, por acaso, se sentir desamparada, tenha a minha casa e a mim como o seu ponto de fuga — a mais velha alisou seu rosto e sorriu docemente, relembrando algo que lhe ocorreu.

— Sabe o que Kai me disse ao seu respeito? — Ela negou — "Por uma mulher como você ele esperaria em mil vidas, pois é difícil ver a beleza por trás da aparência."

Seu rosto enrubesceu.

— Ele sempre foi um caso complicado e demorou a entender que a arrogância que tinha não o levaria a lugar nenhum. Quando se despiu daquela criação estúpida, ficou vulnerável e encontrou você. Uma pessoa simples, que não almejava nada do que a ganância tinha a oferecer, apenas a liberdade e viver pelos seus. Foi por isso que ele quis tanto te ajudar e, acima de tudo, foi por esse motivo que se apaixonou. Então, querida, não se prenda a esse sentimento como algo ruim, mas sim como um bom motivador. E, se precisar, terá um ponto de fuga dentro de você caso sua força de vontade não seja suficiente.

A cada palavra da mais velha, você se sentia extasiada. Aquilo eram mais que palavras de ajuda; eram conselhos de alguém que já os vivenciou. Sua respiração forte e seu sorriso ameno enquanto a abraçava em agradecimento fizeram-na ficar parada, indicando que talvez tenha passado dos limites, mas aos poucos os braços de Nefira se fecharam ao seu redor, retribuindo o abraço.

— Agora, se prepare para mentir ao demônio que tanto diz te adorar.

Um sorriso levemente perverso brincou em seus lábios e, apesar de odiar a ideia que teve, você se renderia a ela prontamente.

— Eu sei o que tenho que fazer.

Nefira não perguntou nada; confiava em seus instintos e sentia sua autoconfiança. Assim que se separaram, a porta da sala de jantar foi aberta. Por ela, o Lua Superior entrou, carregando a criança, que foi direto para o colo de Nefira.

— Então, como foi o seu passeio?

— Muito bom, o pap... Senhor Kokushibo me ensinou a domar um cavalo. — A garotinha foi posta no chão.

— Coma enquanto está morno. — A criança correu em direção ao prato e agradeceu antes de provar a sopa, dizendo que estava uma delícia. Enquanto isso, vocês prepararam seus pratos com arroz, carnes e outras iguarias para acompanhar o vinho.

No fim, o almoço ocorreu tranquilamente, e pelo resto da tarde, você ajudou Nefira a cuidar da casa, se perguntando como ela aguentava limpar tudo sozinha. Para você, acabou sendo um dia de aprendizado, uma vez que nunca havia vivido esse lado da história, sempre no topo, sendo cuidada e ensinada a assumir o legado, mas nunca cuidando dos outros em primeira mão.

Quando anoiteceu, você já havia se banhado, assim como os demais membros da casa. Tsuki estava com a mãe, contemplando os pertences que chegaram, e você viu pela janela frutas em um pé praticamente congelado.

— São morangos do gelo! São uma delícia — Tsuki afirmou, correndo com uma boneca nas mãos e se jogando na larga poltrona. — Vá lá provar, são docinhos e deliciosos.

Você olhou para a criança com olhos brilhantes e sorriu.

— Tsuki, você tem que guardar os brinquedos.

— Estou indo, mamãe. — A garotinha saiu correndo enquanto você observava a cena. Nefira fazia tudo parecer tão... simples, mesmo sabendo que não era assim. Para se livrar dos pensamentos ruins, você seguiu a indicação da criança, indo até o lado externo, perto da entrada do castelo, e pegando algumas das frutas. Apesar da familiaridade, você notou que não eram morangos. Comeu um, achando-o um pouco azedo, mas realmente gostoso. Pegou mais alguns e nem se deu conta do pesadelo extremamente silencioso parado na floresta, ou dos olhos arco-íris que te espreitavam, cheios de malícia e raiva.

— Parece que te encontrei, bela dama. — Um leve arrepio passou por seu corpo, e você se afastou, sentindo-se observada. Antes de chegar na casa, ele finalmente se revelou.

— Querida, você não deveria me desobedecer.

— Até que demorou a chegar. — Você se fez de desentendida, observando-o soltar as rédeas do cavalo.

— Então é melhor irmos. Já está tarde, e não gosto de passar a noite fora com você. — Ele te encarou, sorrindo falsamente.

— Então volte amanhã, demônio. Não estou afim de retornar ao palácio e não tenho motivos para isso. — O sangue de Douma parecia ferver, e agora ele te olhava descrente.

— Sn, vamos para casa agora! — A voz, apesar de altiva, não perdia a ironia de costume, e você o olhou furiosa.

— Quem você pensa que é para falar assim comigo? Eu não vou voltar com você! — A pequena discussão que se iniciava na porta do castelo de Kokushibo ganhou mais atenção quando ele se aproximou de você, puxando-a em direção ao próprio corpo, com a mão gelada deslizando pelo seu braço. Óbvio que você se desvencilhou.

— Já disse que vamos agora, minha dama. — Ele sorriu sem vontade, bem mais do que de costume.

— Voltará sozinho, demônio. Eu sou sua dona e não o contrário! — Finalmente tomou uma iniciativa a respeito dele, que aos poucos te soltou, e a porta do castelo foi aberta, revelando a dama em vestes escuras, já com o rosto tapado, que olhava para ambos.

— O que está acontecendo aqui?

— Fique fora disso, Nefira-chan. Sn é muito teimosa.

A mulher respirou fundo e, como prometido, te ajudaria.

— Estão na porta da minha casa e querem que eu não me meta depois de tanto barulho?

— E é por isso que vamos embora.

— Eu não quero — você puxou o braço e se afastou, indo em direção à anjo, que simplesmente sorriu por baixo do véu e deu um passo à frente, deixando o loiro incrédulo.

— Nefira-chan, saia do meu caminho, por favor. — Apesar do pedido, os dedos da mão esquerda de Douma, gélidos e prontos para agir, ousaram tocar o braço dela, sendo decepados tão rapidamente que chegou a te deixar assustada. Já a mulher simplesmente respirou fundo pela demonstração gratuita de violência.

— Ousa vir à minha casa e tocar na minha mulher? — Kokushibo estava parado à frente dela, encarando Douma.

— Kokushibo-dono, você é tão eloquente! — Douma riu enquanto seus dedos voltavam ao lugar.

— Vou arrancar seus olhos e desmembrá-lo por esse erro, farei inúmeras vezes até que fique satisfeito e aprenda a nunca mais encostar um dedo no que é meu!

Nefira chegou a massagear as têmporas, se aproximando do lua mais forte e tocando o pulso que se mantinha preso na espada.

— Vamos nos acalmar sim? Douma não seria tão cego ao ponto de me machucar, não é mesmo lorde Fubuki?

Ele arqueou a sobrancelha antes de olhar para Nefira e sorrir gentilmente.

— Eu amo as mulheres, jamais machucaria uma.

"Imbecil" foi o que a anjo pensou.

— Até mesmo porque eu poderia acabar com você tão ou até mais rápido do que ele — inclinou a cabeça para o esposo. — Não é à toa que sou casada com a lua mais forte e, se o que diz for verdade, não ligará de passar a noite em nossos domínios.

Douma ficou sem reação. Ele era sádico e esperto o suficiente para perceber que ela estava propondo uma forma de evitar que ele pudesse te punir, visto que nos domínios de Kokushibo ele não tinha permissão para agir como quisesse.

— Não acho uma boa ideia — Kokushibo enlaçou a cintura de Nefira, olhando de canto para o loiro.

— Eu penso o contrário, é ótima! São recém-casados, e uma mudança de ares virá bem a calhar.

Douma deu-se por vencido. Afinal, era só olhar para a esposa para perceber que não conseguiria convencê-la. A porta foi aberta novamente, e por ela, a criança passou coçando os olhos, arrastando um pequeno urso de pelúcia. Ela foi até o mais forte e segurou no quimono dele.

— Não vai contar uma história para mim? — Kokushibo respirou pesadamente, pegando-a no colo.

— Resolva da forma como quiser. Vou colocar Tsuki para dormir. — Ele desviou o olhar para você. — Sempre será bem-vinda à minha casa, Sn. Já você, Douma, conhece as regras.

E assim, ele partiu, saindo com a criança no colo. Por um minuto, você vislumbrou o brilho no olhar da mulher que, aos poucos, tornava-se sua amiga.

— Bom, venham comigo. Vou acomodá-los da melhor forma possível. — Nefira caminhou na frente, e você seguiu junto a Douma, que encostou de leve no seu ombro.

"Em casa teremos uma conversinha querida." Ele sussurrou para que só você escutasse.

"Depende de como se portará." Você deslizou os dedos pela mão dele.

"Se não, não voltarei tãããoo cedo." Com esse sussurro o loiro agarrou sua mão deslizando os dedos por seu braço e enlaçando sua cintura.

— Pelo visto, minha dama parou mesmo de fugir. Talvez eu deva agradecer a Nefira por isso. — Douma sorriu.

— Ela só me fez ver quem realmente está na posse desse contrato.

O não casal seguiu ainda pelo primeiro andar até uma porta de metal completamente ornamentada.

— Espero que não se importem de ficar no primeiro andar, visto que os quartos de hóspedes do segundo não possuem um bom isolamento. — A combustão em seu rosto foi intensa devido à afirmação, mesmo que essa fosse sua ideia. Entretanto, a conversa que teve a deixou preparada caso ocorresse algo.

— Realmente, você se superou em cada cômodo. Mesmo que eu ache ambientes claros mais belos, este quarto é muito bonito. — Sua voz saiu impressionada.

— Obrigada, querida. Fiquem extremamente à vontade. Douma, se quiser jantar, posso pedir para que lhe sirvam.

— Não precisa, linda dama, minha fome não pode ser saciada dessa forma. — A mulher deu de ombros, deixando vocês dois a sós, e antes de sair, entregou a chave em suas mãos, transmitindo um olhar claro de que estava segura.

A porta foi fechada pelo loiro, que, de braços cruzados, se encostou na madeira.

— O que pretende conseguir passando a noite aqui, minha dama? — Ele te encarava com uma devoção praticamente infernal.

— Um descanso. Aquela casa não me traz boas recordações. — De fato, não estava mentindo; entretanto, não era cem por cento verdade.

— E acha que ficando aqui vai amenizar seus feitos?

Você riu antes de se aproximar das janelas, notando o gelo nos vidros.

— Não tenho que amenizar nada, o único errado nessa história foi você. Se me queria tanto, que procurasse me conquistar da maneira correta, seu estúpido. — E assim começou a pôr em prática tudo o que planejou.

— Então espero que lide com as consequências. Não gosto quando foge de mim, e já te avisei inúmeras vezes.

— Então é simples. — Você virou para ele. — Me dê motivos para ficar ao invés de fugir, e não seja um completo imbecil comigo. — Você se surpreendeu por estar sendo tão boa atriz.

O loiro caminhou em sua direção e olhou em volta.

— Hunf... Talvez eu tenha uma ideia do que fazer com você.

Aqui, se fingiu de desentendida, imaginando cada passo que o demônio daria.

— Talvez te tomar no mesmo local onde aquele seu namoradinho viveu. — Sorriu perversamente.

— Isso tudo é por ciúme? Francamente, Douma, não fui eu quem traí aqui. Você colocou uma concubina em nossa casa e está reclamando por eu ter sido beijada por Kai?

Kai. Ele odiava a intimidade que você não fazia questão alguma de esconder e, principalmente, o fato de tratá-lo como um tolo. No entanto, sentia que estava diferente e gostava dessa sua maneira peculiar de lidar com a perversidade estampada por todo o ser demoníaco.

— Eu não gosto de ser posto em segundo plano, Sn. E acha que Nefira nos colocou no quarto com isolamento para quê? — O loiro bateu na parede revestida de madeira duas vezes, fazendo o som ecoar seco pelo ambiente.

— Aqui há no mínimo duas camadas de carvalho, e o restante é em pedra, minha dama. — Ele agarrou sua cintura.

— Sua falta de confiança é uma ruína. — Desconversou sem se afastar ou negar.

— Não, talvez você só precise entender que está casada comigo. Então, não se preocupe com o volume da sua voz, pois pretendo te fazer gritar.

Você desviou o olhar, sentindo sua pele queimar pelo contato. Por um minuto, desejou ter ido embora, mas sabia que daria no mesmo. Seus olhos voltaram à face perversa de quem te consumiria.

— Não sei se estou preparada para isso. — Você resolveu entrar no jogo, falando de uma forma com a qual o loiro não teria como evitar. — Foi muito bruto e ainda não me recuperei, ou esqueceu que sou humana?

Ele sorriu, se aproximando e beijando seu ombro, e depois a boca.

— Ah, Washi no miko. — Ele roçou o nariz na sua bochecha. — Vou fazer com carinho, tanto que vai me pedir por mais.

Seu corpo aqueceu ao sentir os dedos dele nos botões do vestido. Em seguida, ele te virou, mantendo suas costas grudadas no peito enquanto devorava seu pescoço com beijos e mordidas leves. A peça deslizou por seus ombros enquanto ele notava a veste íntima tão bonita. Seu vestido foi ao chão e sua respiração se tornou pesada. O ambiente ficava cada vez mais quente, e o sorriso de quem estava louco para te ter se ampliava.

As amarras do tecido se prenderam nos dedos esguios dele enquanto você apertava o pulso direito do loiro. Ele parou o que estava fazendo para te observar. Você se virou na direção dele, e mesmo com as mãos trêmulas, puxou o cinto que prendia o casaco, abrindo-o e revelando que ele já estava sem camisa.

— Que linda, minha dama. Talvez amanhã seja sua vez, mas por hoje — ele voltou a te virar de costas — seu corpo é todo meu. — E assim sua última peça foi ao chão.

Os corpos colados e quentes, a sensação da embriaguez apartada pela luxúria se fazia presente, nublando sua mente. Os dedos dele deslizando por suas curvas, apertando seus seios e descendo até uma das mãos estar no meio de suas pernas, tocando lentamente, evidenciavam que talvez — SÓ TALVEZ — você fosse se arrepender. Um murmúrio de incômodo saiu de seus lábios conforme ele te tocava. Em nenhum momento Douma parou de te distribuir selares pelo ombro e pescoço, arfando de vez em quando na sua orelha, conforme se esfregava em você ou te estimulava. Você não o negaria mais, apenas seguiria o plano. Quando sua lubrificação melou o meio de suas pernas, ele soube que não se conteria. Aos poucos, você foi empurrada na cama, e, se ajeitando, percebeu quando o loiro tirou as calças. Você desviou o olhar, e ele riu, abaixando a boca e tocando os seus joelhos, o que te fez fechar as pernas.

— Minha dama, não me quer mais? — O beicinho que ele fez, se não conhecesse a maldade de perto, com toda certeza te faria abrir as pernas. Mas no momento, queria manter aquela boca perigosa demais para sua sanidade longe. Mesmo que o odiasse, admitia que ela a levava ao paraíso.

— Apenas não me toque com os seus lábios. — Você pediu, sentindo as mãos dele alisarem suas coxas.

— Foi tão ruim assim? — Ele esfregou o rosto nos seus joelhos, te olhando com desejo. — Ou foi tão bom que quer se livrar de mim? — Ele mordeu o lábio inferior como se tivesse certeza da resposta.

— Você não sabe quando parar, não é mesmo? — Havia um pouco de seriedade em sua voz enquanto ele abria as suas pernas lentamente e encarava seu rosto. Você podia ver uma leve fumaça sair de sua boca, e ele apenas te tocou. Estava tão frio que todo o seu corpo se arrepiou. Quando ele te sorveu intensamente, seus olhos se fecharam com força, e você agarrou os fios dele. Era isso que o demônio queria, principalmente quando seu gemido baixo saiu. Ele se empenhou cada vez mais, tratando seus grandes lábios e clitóris como se estivesse beijando sua boca. Estava tão frio que toda a dor que você sentia naquela região pela noite anterior foi ignorada e amortecida. Os apertos que dava nos fios dele faziam com que revirasse os olhos, e quando seu quadril passou a se mover enquanto você gemia cada vez mais alto, ele suavizou, te levando ao orgasmo com mais duas linguadas. O loiro se ergueu e se masturbou, retendo seu olhar nos movimentos que pouco duraram. Não é como se não estivesse duro, só queria capturar suas expressões, e ao entrar foi devagarinho, sentindo suas unhas curtas se firmarem nos braços fortes enquanto ele se sentia tão bem acolhido. Douma beijou a sua boca se movendo lentamente, e você só pensava em como raios esse demônio conseguia ser assim.

A resposta é fácil: um ser que não tem sentimentos, ou não os expressa, os manipula a seu bel-prazer. Então, lidar com você sempre será uma experiência. Uma das mais deliciosas que existem, segundo ele.

Agora, o ritmo ia evoluindo conforme você ficava sem voz, seu rosto em desespero devido às boas sensações que lhe acometiam e o sorrisinho de satisfação nos lábios dele enquanto te tomava com tanto afinco. Queria te ouvir pedir e, mais à frente, implorar. Por isso, ele reduziu o ritmo, ondulando o quadril e prendendo seus pulsos na cama. Quando deixou que o impacto fosse entre suas pernas, chocando as intimidades, você praticamente gritou.

— Sabe, minha dama, ainda estou chateado pelo que você fez. Justamente na nossa primeira vez. — Ele ironizou, enquanto você enrolava as pernas no quadril dele ao sentir que ele havia parado.

— Acha mesmo que ele pode ser melhor do que eu? Te dando tanto prazer que seu corpo até mesmo para de responder? — A mão dele subiu pelo vale de seus seios, apertando de leve o seu pescoço. A outra dedilhou sua coxa antes de agarrá-la, abrindo suas pernas e quebrando completamente a força que fazia ao prender a cintura enquanto estocava com força.

— Vamos, minha dama, diga o que eu quero saber.

— Não sei, não deu tempo de provar direito, não é mesmo? — Tão cínica quanto ele, e sem se arrepender. Você pouco se importava com o que ele queria; na verdade, estava mais focada na sensação que estava tomando conta do seu corpo, o frio que aos poucos acometia sua coxa e pescoço.

— Vai me torturar agora e ir contra as regras da anfitriã? — Sua face, completamente arruinada devido ao ato, o fez morder seus lábios inferiores antes de soltar seu pescoço e agarrar os fios de sua nuca, forçando-a a manter a conexão de olhares.

— Talvez em casa. Agora mantenha seu olhar em mim enquanto eu te fodo até que sinta dor, para que não esqueça que ninguém será seu além de mim. — E o impacto seguinte veio sem um pingo de piedade, te fazendo revirar os olhos. Ele até conseguiria arrancar expressões de sofrimento de você, se e somente se não estivesse acertando seu ponto G com tanta vontade que o prazer engolia qualquer outra emoção. E, em um grito, além do seu corpo todo se arquear, você se derramou, o que o fez sorrir feito um louco. Evidentemente, ele não ficou satisfeito, repetindo o ato uma, duas, três vezes, até te sentir apertá-lo cada vez mais. No fim, ele se deixou levar, te preenchendo com vontade antes de arfar e sair de cima, se deitando ao seu lado.

— Minha dama, vou me viciar facilmente. É tão gostoso que posso passar a noite inteira dentro de você. — Ele riu de leve, apoiando o rosto em uma das mãos enquanto observava sua respiração desregulada.

— Não diga essas coisas, Douma. — Você ficou extremamente envergonhada, e ele te puxou para perto, olhando em seus olhos.

— Mas é verdade, e quando chegarmos em casa, quero que sente em mim. — Ele mordeu os lábios. — Quero a sensação desses seios pulando e batendo em meu rosto enquanto espalmo sua bunda.

Seu rosto mudou inúmeros níveis de cor.

— Foi realmente muito bom. — Você admitiu, se virando de costas. — Mas não pense que faremos isso de novo.

Aqui ele te abraçou com vontade, jogando a coberta sobre vocês.

— Eu não penso, minha dama, eu afirmei que você vai sentar em mim. É tudo uma questão de tempo, e temos a eternidade pela frente.

Seu corpo tremeu, e então você respirou lentamente. Ainda precisava tomar ciência de cada ato e não o faria por medo. Se realmente havia se tornado a mulher dele, aquela que ficaria ao lado dele por inúmeros séculos, então o faria dançar conforme sua música. Só precisava planejar direito.

Seus olhos foram se fechando, e aos poucos você pegou no sono com ele agarrado a você, respirando profundamente em seus cabelos. Para o demônio, você o havia aceitado por inteiro, e mesmo que por um momento você se sentisse segura o suficiente naquele lugar, sua intuição gritava para que ficasse alerta.

Feel my heat taking you higher
Burn with me, heaven's on fire
Paint the sky with desire
Angel, fly, heaven's on fir
I got a fever raging in my heart
You make me shiver and shake
Baby, don't stop, take it to the top

Eat it like a piece of cake.

.

.

.

"— Sabe, minha dama, uma vez torturei alguém a mando do mestre e foi incrível. — O som da voz era tão doce que parecia até mesmo se importar. — Ele queria resultados rápidos, e as pessoas costumam falar tudo o que sabem diante do frio da morte.

Mais uma vez, ele roçou os dedos pela sua pele, notando-a eriçada pelo frio.

— Suponho que essa seja a parte em que me rendo a você e aceito o que quiser fazer para que não me mate, não é? — Sua voz saiu um pouco desgastada, como se essa situação a cansasse. Não era a primeira e nem seria a última vez que lidaria com ele dessa forma, então por que abdicar de suas convicções por tão pouco? Apenas para manter-se abaixo de uma coroa que jamais desejou? Certamente, você não romperia os laços com sua dignidade para dar a ele o que tanto quer.

— Não seja impaciente, minha dama, deixe-me continuar. — Douma puxou seu corpo até o dele, te prendendo, e você evitou olhar para baixo, afinal, o demônio ainda estava completamente nu. — O homem era um inimigo valoroso e muito dedicado, mas no fim acabou por perder a vida no fio da espada de Kokushibo. Mas quem mandou dar em cima da mulher dele e ainda por cima conseguir parte do seu afeto?

— E o que espera conseguir me contando essa história, Douma? — Desta vez, você olhou nos olhos dele, sentindo seu corpo cada vez mais frio ao ponto de seus lábios mudarem de tom, algo que ele simplesmente adorou.

— Que entenda e pare de me interromper. — Ele sorriu falsamente. — Quando o homem acordou, estava acorrentado no inferno e, para a sorte dele, caiu em minhas mãos.

Você sorriu com escárnio, não acreditando na falácia alheia.

— Duvida de mim, minha dama? — A pergunta ficou sem resposta. — Pois bem, Kokushibo queria estripá-lo, suturar e fazer de novo e de novo até cansar, tudo pelo pecado de cortejar a mulher dele e quase conseguir conviver com ela, sendo que o humano era um caçador. É engraçado como o ódio cega as vontades até mesmo do mais poderoso dos demônios da corte. O mestre tomou a frente e me deu uma simples ordem, então eu congelei os braços, apoiei meu pé nas costas, bem no meio, e o quebrei. Achei que, por estar congelado, não sangraria mais, mas errei muito. A fisiologia humana é fascinante!

Sua face se verteu em horror pela violência que foi obrigada a imaginar, e seu corpo, intensamente frio, te fez tremer além de bater os dentes. Até mesmo suas pestanas acumulavam sutis flocos de gelo.

— Agora... — Ele se afastou de seu corpo, finalmente te libertando do aperto, e seu peito pesou como se em todo esse tempo sua respiração estivesse presa. — Se eu fosse você, entraria na água, minha dama, antes que morra, pois o tempo vai ficar frio, muito frio.

O demônio passou à sua frente, e você não fez questão de desviar. Ao se levantar, sentiu um pouco de dor e compreendeu rapidamente o motivo: seu vestido estava congelado e parecia quebrar como pedaços de porcelana que trincavam no chão, e o loiro assistia a tudo com os braços bem abertos na fonte à sua espera. Pouco se importando com as consequências, você virou de costas e começou a andar em direção à porta. A única coisa que se ouvia eram os barulhos do seu vestido quebrando até que só restaram suas vestes íntimas. Portando sua dignidade, seguiu até a saída. A porta estava congelada, e mesmo assim você bateu, notando que o som jamais chegaria ao outro lado. Isso aconteceria em todos os lados e saídas do local. A cada passo dado, seus pés sensíveis ficavam à beira de se ferir; seu rosto, tão belo e suave, já não aguentava mais o efeito do frio até que foi finalmente ao chão, ofegando e se encolhendo completamente, o que deixou Douma extremamente irritado.

Você preferia morrer a estar na presença dele, e rejeição não era um sentimento experimentado pelo demônio com frequência. Assumir tal sensação era o mesmo que perder. E ele nunca perde.

Naquele momento, o demônio decidiu que você seria completamente dele, o amaria até que seu ar sufocasse com a sensação excruciante e, quando estivesse completamente cega por esse sentimento, ele o partiria em dois, tornando-a uma verdadeira santa e servindo de exemplo. Os fios loiros e úmidos agora soltos batiam nas costas nuas enquanto ele chegava até você, te erguendo do chão frio e derretendo o gelo ao redor, trazendo seu corpo quase morto para a fonte antes que sofresse uma hipotermia. Não era da vontade dele que você sofresse - não hoje - ele queria te deixar sem opções, fazendo assim com que adentrasse a banheira. No fim, somente conseguiu mais uma prova de que Sn Fubuki não baixaria a cabeça e agora a tinha entre os braços.

Cabeça repousando no peito, rosto solenemente adormecido e singelos toques em seus braços para que seu corpo esquentasse mais, com o contrato ativado, não teria como escapar, uma vez que o mestre dos demônios almejava renascer e precisava da escolhida pelo lua superior dois.

Você começou a dar os primeiros sinais de que estava recuperando a consciência quando, mais uma vez, ele moveu as mãos sobre seu corpo e seus olhos aos poucos se abriram..."

— Finalmente, minha dama. — Ele sorriu ao encontrar sua mudez. — Pensei que só acordaria quando estivéssemos para partir. Nefira-chan ainda quer conversar com você.

Você piscou diversas vezes tentando compreender o que estava acontecendo. O quarto no qual estava ainda pertencia ao palácio vermelho, e seu corpo continuava completamente nu entre as cobertas. Com isso, chegou a duas possíveis conclusões:

"Será que tive um pesadelo ou aquilo foi um aviso?" — Seu olhar estava assustado, e Douma passava a mão por seus fios.

— O que está acontecendo comigo?

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Pré-revisado, 6k de palavras pra compensar os atrasos que virão.

Aaahh não vejo a hora de chegar no livro do Kokushibo, é tão apaixonante e revoltante que estou ansiosa, pena que é o último.

Música: Heaven's On Fire - kiss

https://youtu.be/q4dazPE5Q10

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