21.Um ponto de fuga

Make the sadness go away
Come back another day
For years I've tried to teach
But their eyes are empty
Empty too I have become
For them I must die
A sad and troubled race
An ungrateful troubled place

Douma andava pelos corredores revoltado, mesmo que não demonstrasse. Planejava passar a noite toda dentro de você e não gostou nem um pouco de ser interrompido. Caminhando pelo local, avistou quando Gyokko o esperava conversando com algumas damas.

— Deixem-nos — a seriedade na voz chegava a ser duvidosa, uma vez que Douma nunca perdia a pose irônica. — Se tiver vindo até aqui para besteira, arrancarei sua cabeça, sim? — sorriu de maneira ingênua antes de lançar um olhar desgostoso da forma mais psicopata que existe.

— Só vim entregar seu ouro e os contratos que manipulei como o combinado — Gyokko tentou disfarçar o possível medo.

— Poderia ter vindo como de costume, à noite — Douma o observou de perto.

— Mas isso não é nada bom para um artista que está em busca de inspiração — e aqui o loiro perdeu a paciência, puxando a cabeça dele, tendo-a nas mãos.

— Acho que o mestre não sentirá sua falta se morrer, não é mesmo?

Uma voz ecoou na cabeça de ambos e assim Douma se afastou:

"Já chega disso, venha até o inferno imediatamente e você Gyokko volte para a vila e tente descobrir mais a respeito do que os anjos estão aprontando."

Douma suspirou enquanto tacava a cabeça para o corpo de Gyokko, que enquanto se consertava pensava que foi por pouco e, no momento o loiro suspirava, ir ao inferno era sua última vontade. Ainda queria acertar alguns pontos com você e quem sabe aproveitar mais de sua presença.

[...]

Enquanto o demônio partia a mando do rei, você respirava fundo naquele mesmo lugar:

— O que foi que eu fiz? — Sua mente parecia martelar incessantemente enquanto você não conseguia se levantar daquele banco frio, ainda sentindo suas pernas tremerem. Mas precisava sair.

Forçando o tronco e sentindo seu baixo ventre doer como se uma agulha estivesse fincada ali devido às pontadas frias, você se sentou, arrumou o vestido e ficou de pé, caindo de joelhos. Gritou de raiva por seu corpo estar tão fraco e respirou fundo, ainda se arrastando.

— Isso não vai ficar assim. — Ainda sentindo os efeitos de tudo o que ocorreu, você se pôs de pé e, penosamente, caminhou para fora, após arrumar o vestido, pouco se importando com as palavras de Douma que mandou você ficar na fonte.

Você se assemelhava a um animal sedento de raiva após ser machucado, abrindo as portas uma atrás da outra como se ninguém à frente importasse, até encontrar o responsável pelos cavalos, que evitou olhar para você, já que suas vestes estavam deploráveis.

— Prepare-me um cavalo. — Virou-se para a concubina que sempre estava à espreita e sorriu amargamente. — Já que está aqui, tragam-me um casaco e acho bom não demorarem ou provarão da minha ira.

Óbvio que ela queria recusar, mas sabia que, se o fizesse, provavelmente Douma saberia. Então, não demorou a trazer um longo casaco de pelo branco, segurando-o para que você o vestisse. Depois disso, você seguiu até o estábulo, onde o cavalo estava bem selado com os arreios, próximo ao seu cuidador. Pegou as rédeas e o montou.

— Abra. — Apesar de obedecerem a Douma, ninguém ia contra as suas ordens, principalmente quando o loiro não deixou claro que você deveria ficar confinado no palácio.

Você, Sn Fubuki, cavalgaria por um bom tempo até ter noção de para onde iria.


[...]


Encarava as portas do palácio vermelho com temor, rezando para que ela te recebesse. As portas foram abertas e você vislumbrou a mulher em trajes pretos com o rosto coberto. Assim que te viu, ela tirou o véu e, sobre a penumbra escura do castelo, atrás dela, notou o demônio com seus seis olhos focado em ti. Um arrepio de temor percorreu cada linha do seu corpo, sentindo que não era bem-vinda e que provavelmente estragou algo importante. No entanto, foi ele quem deu meia volta e saiu, estando próximo a ti e segurando as rédeas do pesadelo.

— Querida, você está bem? — As mãos da dama seguraram seus braços, e tudo o que você fez foi balançar a cabeça e chorar. Ela te acolheu, trazendo-te para dentro e, com um assobio, uma garotinha de cabelos pretos e roupa idêntica às dela apareceu. — Leve-a para o quarto de hóspedes e prepare um banho quente.

Seu olhar desconfiado foi até ela.

— Não se preocupe, querida. Akarui Tsuki é de confiança. — Apesar de sentir-se um pouco receosa, você sentia que podia confiar completamente em Nefira. Ela, ao ficar sozinha com o marido, respirou fundo.

— O que aquele idiota fez?

Kokushibo afagou o alazão infernal e desviou o olhar para a esposa, medindo-a de cima a baixo.

— Ela cumpriu com o contrato. — Disse simplista, e a mulher se aproximou, tocando o braço dele.

— Isso significa que ele a est...

— Não. Aquele idiota fez um contrato que exige a submissão dela, então, mesmo que não seja total, mesmo que parcialmente, ela aceitou.

— Isso não é bom — Nefira afirmou, e após prender o cavalo, ele aproveitou para segurar ambos os lados da cintura fina da mulher.

— Nefira, não se meta nisso. Será que ter perdido Kaigaku não foi o suficiente? — Ela desviou o olhar entristecida, e ele alisou a face, aproximando-se mais.

— Sei que não devo, mas quero ajudar e sabe que não me importo de lutar por isso. — Ele respirou fundo, olhando para os lábios carnudos da mulher que tanto o desconcertava.

— Estou acostumado com o seu temperamento. Apenas tome cuidado com as regras.

— E as consequências? — Ela perguntou, sentindo os dedos ralharem por sua boca e o espaço tornar-se praticamente inexistente. Desviando no último segundo e, apesar de frustrar profundamente o lua mais forte, ele não faria nada.

Afastando-se, Kokushibo desviou o olhar, pegando o cavalo e montando-o.

— Tsuki é a sua nova filha e pode ter certeza de que ninguém encostará um dedo nela e, principalmente, em você. Do contrário, este mundo sangrará.

— Filhos não podem ser substituídos, Kokushibo. — A voz chegava a sair amarga ao lembrar que nem pôde enterrá-lo.

— E não serão, apenas me dê um tempo e verá que todas as afirmações que te fiz foram sérias.

Enquanto partia, a mulher respirou pesado, seu casamento tão complicado começava a ecoar em seu peito.

Voltando a você, seu corpo repousava na banheira. A menina que estava sentada na cama esperando por ti não tinha mais do que sete anos e estava cansada demais. Na verdade, ainda não havia dormido ou sequer se acostumado com a nova morada e, com isso, adormeceu na cama que seria sua.

Nefira não demorou a retornar, trazendo uma bandeja com comida quentinha e, depois de deixar sobre a mesinha, olhou para a cama e não pôde evitar de sorrir. Tsuki dormia lindamente sobre a cama e você ainda estava no banheiro.

A dama levantou a barra do vestido e foi até a porta, batendo algumas vezes e ouvindo o famigerado "entre".

— Precisa de ajuda?

Você permaneceu suspirando antes de se erguer e aceitar a toalha que ela te entregava.

— Venha comer, Sn, e depois me conte o que aconteceu. — Você assentiu, seguindo a mulher e olhando a menina dormindo sobre a cama.

— Vou levá-la para a cama. Se importa de ficar sozinha?

— Na verdade, poderia me acompanhar? — Você pediu, e ela sorriu por baixo do véu. Havia o colocado assim que adentrou o quarto.

— Claro. Vista um dos vestidos que há no armário e fique à vontade; eles se adequam a qualquer corpo. Há peças íntimas novas do mesmo material nas prateleiras, e se precisar de ajuda para pôr ou apertar o corset, não hesite em me chamar.

Depois de concordar, você foi até o local, optando por um vestido azul escuro e peças íntimas brancas padrões da época, deixando o espartilho para depois. Quando retornou ao quarto, viu a garotinha no colo de Nefira, que havia retirado o véu e com um candelabro a esperava na porta.

Você se apressou em pegar o candelabro e seguir ao lado dela.

— Aqui é muito escuro.

— É sim. Eu mandei que trouxessem mais velas justamente para apaziguar essa situação, já que só há o meu quarto e o de Kokushibo sendo usados. Nesse castelo, não há necessidade de outros, e o de Tsuki ainda não ficou pronto. Pronto, chegamos. — A mulher, que caminhava com graça com a criança adormecida, fez um carinho nos fios negros enquanto o rostinho permanecia apoiado em seu ombro. Ao abrir a porta, você ficou boquiaberta. O local parecia um recorte em meio àquele lugar escuro e completamente destoante.

— Não repare a bagunça — Nefira pediu, indo até a cama e colocando Tsuki com carinho, cobrindo o pequeno corpinho e fazendo um carinho nos cabelos antes de pegar o candelabro de suas mãos para que pudesse descansar.

— Agora me diga o que te atormenta e coma enquanto está quente. — Ela te olhou com esmero, deixando que você desse o primeiro passo enquanto tomava a sopa e depois o chá calmante que bateu de primeira, relaxando os seus músculos.

— Eu me entreguei àquele demônio. — Sua afirmação saiu com um olhar perdido, contemplando o espelho de frente ao local onde estava sentada. A mulher se aproximou.

— E ele te fez mal? — Você negou. — Então por que está chorando, meu bem?

— Eu não sei — fungou. — Eu não o queria dessa forma e, ainda assim, consenti seus atos. Meu corpo dói por sua brutalidade, mas é a minha alma que está completamente quebrada. Não sei mais como suportar essa vida; minha mente parece que não me obedece.

Nefira te abraçou, e você chorou soluçando, sentindo-se segura ali e desejando jamais ter que partir.

— Sn, se você consentiu, não há nada que eu possa fazer além de te ajudar a entender que ele não vai deixá-la nunca mais. Douma fez um contrato eterno com você, o mesmo que eu possuo com Kokushibo. Jamais morrerá, entretanto, deve se resguardar e assumir o controle da sua vida. Foi por isso que te dei aqueles dias para que pudesse se opor e o obrigar a fazer o que quisesse.

— E ainda assim eu não consegui, o que há de errado comigo?

Ela se levantou, andando de um lado para o outro, apoiando os dedos abaixo do queixo.

— Talvez a resposta esteja no quarto de Kaigaku. — Seus olhos brilharam ao ouvir o nome dele. — Querida, precisa aprender a esconder esse sentimento tão bonito. Se Douma sequer sonhar que não é por ele que seus olhos brilham, sua eternidade será maldita.

Seu suspiro foi inevitável enquanto a acompanhava até o quarto dele. Ao abrir a porta, até mesmo o perfume parecia fixo, te entorpecendo.

— Nunca parei para imaginar como seria o quarto dele, mas parece exatamente com ele.

Nefira deixou você deslizar pelo local, tocando os móveis e sorrindo até ver o casaco sobre a cama e o pegar, apertando-o junto a si. Realmente, ela havia se apaixonado por ele sem sequer conhecê-lo profundamente.

— Ele estava empenhado no seu contrato. Meu querido filho burro estava procurando uma forma de quebrá-lo por você. — A mulher caminhou até a estante, encarou um único livro fora de posição e o pegou, lendo calmamente enquanto você processava as palavras dela. Kaigaku era visto como um filho — um filho que morreu por você.

— Vejamos... Aqui está! — Ela continuou lendo, e você apertou o tecido do seu vestido.

— Sinto muito. Deve me odiar, não é mesmo? — Ela fechou o livro, te encarando com confusão.

— A morte dele não é culpa sua, e sim de um demônio muito ardiloso. Fique tranquila, eu não te culpo por nada, Sn. Você é tão vítima deles quanto eu fui um dia. — Nefira sentou na poltrona, enquanto você ficou na cama.

— Só não entendo o motivo dele ter te escolhido. — Você parecia confusa.

Ela suspirou.

— Sn, você foi o primeiro trabalho dele. Kai deveria selecionar uma noiva para Douma, eu só não entendo por que te escolheu.

Enquanto divagava, não notou a presença do lua mais forte nem que ele estava encostado na porta.

— Quando Sn descobrir a origem dela, matará essa charada. Agora vamos, não cabe a nós interromper o que já foi feito. — Kokushibo afirmou, olhando para a mulher sem o véu, adorando ver o rosto dela tão sereno.

— Voltou rápido.

— Pesadelos são montarias instáveis quando não controladas de maneira correta. Selei um cavalo decente para ela. Agora estarei em meus aposentos; os pertences de Tsuki chegam amanhã.

Nefira assentiu ao ouvi-lo, e quando voltaram a ficar sozinhas, ela te olhou.

— Já sabe como vai proceder a respeito do seu demônio?

Por um momento, você parou para pensar, andando pelo quarto até se recordar de algo.

— Eu preciso da sua ajuda.

Nefira simplesmente esperou que você concluísse. Você se aproximou, segurou as mãos dela e olhou em seus olhos:

— Como eu faço para não engravidar? Não quero conceber a criança que todos esperam.

A anja sorriu abertamente, achando a sua decisão formidável. Estragar os planos de Muzan era tudo o que ela queria.

— Te ajudei pessoalmente. Faço questão de ver o rei dos demônios fracassar mais uma vez, nem que isso custe o resto da minha vida.

Ambas não sabiam que podiam ser ouvidas pelo lua e muito menos que um certo demônio de olhos arco-íris cavalgava em direção ao palácio vermelho, furioso. Você não havia apenas desobedecido, havia procurado refúgio em outro lugar longe de sua presença, e isso era imperdoável para ele.


I see the sadness in their eyes

Melancholy in their cries

Devoid of all the passion

The human spirit cannot die

Look at the pain around me

The human spirit cannot die

Look at the pain around me

────────────────

Pré-revisado.

Akarui Tsuki - significa Lua brilhante

Música: melancholy (Holy Martyr) - iced earth

Até domingo que vem ;*

https://youtu.be/Crl0MOqwApI

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