18.Não há paz...

I'm so damn numb
Nothing else matters
I'm miserable

Yet so invincible

Você lia os livros de maneira entretida, fazendo anotações cada vez mais precisas e cheias de perguntas que, assim que possível, tiraria suas dúvidas com Nefira. Estava tão concentrada que nem se deu conta de que Douma havia adentrado o quarto.

– Nossa, esses morangos estão uma delícia. Depois vou agradecer a Suki. – Sussurrou, se deliciando. Pelo ambiente estar ameno, novamente estava descalça e recostada no amontoado de almofadas que havia na varanda. O demônio se aproximou, sentando-se à sua frente e olhando para os seus lábios levemente tingidos pela fruta.

– Pelo visto, está muito concentrada, não é, minha dona? – Você baixou o livro o suficiente para que seus olhares se encontrassem e fez menção de voltar a ler, mas o indicador direito dele pressionou o meio do livro, tirando-o de suas mãos. – Sn-chan, temos um local para visitar, então se arrume.

– E onde iremos dessa vez? Olha, não aguento mais simplesmente te seguir.

– Oh, então é isso que acha que está acontecendo? – Desconversou cinicamente. – Minha bela dona, eu tenho uma surpresa pra você. – Ele riu de maneira convencida e você suspirou. Estava pronta para dispensá-lo, mas recordou das palavras de Suki e do esforço de Nefira para lhe conceder um pouco mais de liberdade e poder sobre ele.

– Apenas preciso pôr meus sapatos. – Ele sumiu rapidamente, voltando com o par de botas em mãos.

– Pra que ter esse trabalho? Deixe que eu mesmo faço. – Você observou Douma levantar parte de seu vestido, expondo os tornozelos, e depois colocar a primeira bota em seu pé esquerdo, calçando-o e amarrando tranquilamente. Repetiu o processo no direito e ainda te ofereceu a mão para se levantar.

"Esse demônio está armando alguma coisa." Você pensou e, por seu vestido ser pouco volumoso, não teve problemas para aprumá-lo rapidamente.

Os corredores, geralmente frios, estavam calmos, e alguns cochichos eram ouvidos de longe até que ambos passaram por uma das portas da cozinha:

– Gyutaro, você não quer? – Suki comentou, com os olhos brilhando.

– Eu posso, né? – Ela assentiu, estendendo a bandeja de doces para ele. – Escuta, por que você é tão... assim?

– Assim como?

– Como se não tivesse medo de mim.

Ela riu, e você nem tinha notado que havia parado.

– Eu não tenho medo de você, Gyutaro. – A morena colocou as mãos sobre o peito dele. – Eu sei que você é um demônio, mas fui criada com eles e, se for para ter um contrato, eu quem devo escolher. – Sem esperar que o lua seis respondesse, a garota beijou os lábios do superior, que demorou para entender o que ocorria antes de fechar os olhos e correspondê-la, apertando-lhe a cintura e pressionando mais em seu corpo. Você desviou o olhar, extremamente envergonhada, antes de dar passos rápidos para longe da cozinha.

"Nunca imaginei que Suki fosse assim. Se bem que não a conheço tanto." Pensou. Em sua vida, nunca se deparou com uma situação como essa. Na verdade, tudo que viveu desde que pisou nos domínios do demônio pode ser julgado independente da sensação.

Douma te parou mais à frente, segurando pela cintura e fazendo com que olhasse nos belos arco-íris.

– Minha dama ficou com vergonha? Que linda. – Sorriu só para você, escorrendo os dedos pelo fim de suas costas até chegar no início da sua bunda, parando a destra em uma de suas bandas, descansando sobre o tecido do vestido e se aproximando do seu rosto: – Nem parece que estava se controlando para não ceder na noite anterior. Cada uma de suas emoções me deixa em êxtase, Sn! Agora vamos, estou louco por isso.

Você ficou incrédula por um momento, depois simplesmente piscou.

-- Não pense que isso irá se repetir! --Passou na frente dele que riu de levinho.

– E por que não, minha dama? Foi tão gostoso... e poderia ser bem mais.

Você massageou as têmporas antes de olhar para ele.

– Tenho certeza de que você fez alguma coisa. Eu, em minha plena consciência, não teria aceitado aquilo vindo de você!

– Ah, Sn, então acha que eu te manipulei? Que adorável. – Até então não tinha notado que o leque estava com ele, que só o agitou em frente ao rosto.

– E não foi? Quer mesmo me fazer crer que praticamente me deitei com você por escolha? Não seja ridículo, muito mal aguento estar em sua presença, quem dirá me sentir atraída a esse ponto.

Dentro da cabeça do demônio, os neurônios pareciam se partir com tanta rejeição. Ele é o segundo mais forte, tendo o posto de mais belo dentre os superiores, aquele que detém o pecado da luxúria. Então por que, com você, nada parece funcionar como planejou? Por que raios Sn ex-Nethuns Amarantis parecia ser tão indiferente a ele? Mesmo que a subvertesse, nunca durava o suficiente para conseguir o que queria, ou seja, sua completa devoção.

A resposta era simples e, por mais que não assumisse, sabia que Akaza tinha razão.

– Como é difícil corromper sua alma, minha washi no miko, mas eu irei me esforçar ao máximo, nem que para isso você precise praticamente morrer. – Seu arqueio de sobrancelha não passou despercebido por ele, entretanto, se conteve apertando o tecido do vestido em suas mãos.

– Se quisesse minha vida, já teria feito. Mas não, está aqui quase implorando para que eu me deite com você. – As palavras foram ditas encarando a face do demônio que não enxergou em seus olhos o costumeiro ódio ou sequer rancor. O que Douma viu foi o mais puro e digno ar de superioridade, algo que ressoou da ponta do seu dedo do pé até o último fio de cabelo, e ele gostou disso. Ah, como gostou. O demônio ousaria dizer que, se você mandasse ele se curvar, o faria com prazer.

– Minha dama... – Se aproximou mais, prendendo seu corpo de vez. – Não me tente desse jeito ou vou acabar sucumbindo aos seus encantos. – Riu de canto.

– Se sucumbir, será sozinho. Agora me solte. – Ordenou, sendo ignorada por ele, que apenas te apertou mais.

– Posso até lhe obedecer, mas só se me beijar.

– Quem pensa que é para fazer uma exigência como essa?

– Seu marido, querida. Agora mostre pra mim como é ter esses lábios a meu favor. – Você revirou os olhos; afinal, nunca o beijou por escolha, e é exatamente isso que ele estava exigindo.

Sn fechou os olhos, relembrando das palavras de Nefira. A mão esquerda estava livre e, com ela, utilizou toda a força que possuía no momento para acertar o rosto alheio. Mas o demônio percebeu, segurando sua mão.

– É tão difícil assim cumprir uma simples tarefa, minha dama? Que trágico para você. – Ele se afastou, voltou a caminhar na sua frente, e por mais que estivesse confusa, você o seguiu sem pestanejar. Saíram do castelo e deram a volta para ter acesso à área encoberta pelo jardim. Quando finalmente atravessaram tudo, para sua surpresa, havia muitas pessoas ali.

– Douma, o que é isso? Que lugar é esse? – Você o questionou.

– Não tive tempo de te dar seu presente de casamento antes. Muito obrigado a todos, passem na sala dos pedidos. Daki-chan vai lhes receber, sim? – As pessoas que ali estavam se curvaram e, aos poucos, saíram. Você achou estranho; não tinha visto Daki pelo castelo, mas, se bem que Gyutaro estava lá, então é provável que ela esteja aproveitando alguma das dependências. – Agora, voltando ao seu presente, minha Washi no miko, eu pensei em um pesadelo, mas você é tão desobediente que ainda não pode sair por aí sozinha. Então, preparei isso. – Ele abriu os braços à sua frente, te mostrando o local.

Um belo jardim pessoal, com uma fonte só sua.

– E então, gostou? – Em outras situações, você teria ficado feliz, talvez se fosse um presente de alguém por quem nutre sentimentos estimáveis.

– Está tentando amenizar seus feitos?

– Claro que não, pelo contrário. Quero passar essa tarde bem aqui.

– Então passará sozinho. Não vou fazer os seus joguinhos e ainda estou ocupada com a leitura dos livros a respeito do seu mundo. E o que você pensa que está fazendo? – Você desviou o olhar instantaneamente, já que o demônio, completamente despudorado, ficou nu, foi até a terma, adentrou o local e prendeu os cabelos.

"Pelos sete infernos, esse demônio é realmente uma perfeição."

Havia desviado os olhos para contemplar os braços apoiados na parte de pedra da terma enquanto ele mantinha os olhos fechados. Após um "hmpf" de insatisfação, você ergueu a barra do vestido e retornou para dentro do castelo. Precisava entender o que estava acontecendo em sua mente e por que o via de uma maneira não odiosa, já que isso claramente te causava repúdio.

...


Daki revirava os olhos a cada desejo concedido, odiava tanto estar ali quanto dar felicidade aos humanos. Na concepção da bela demônio, os humanos merecem a mais pura e bela dor ocasionada por suas próprias escolhas. Em sua mente, deveriam pagar por seus atos e não mereciam sequer uma segunda chance, pois, quando foi ela a estar do outro lado, tudo o que lhe deram foi ódio, desprezo e inveja gerada pela beleza de uma mulher que deveria sucumbir.

Sn andava pelos corredores imersa nesses pensamentos quando esbarrou em alguém, e o perfume logo tomou conta de suas vias nasais. Sabia que se tratava da prateada.

– Até onde me lembro, você deveria estar desfrutando da sua lua de mel. – O olhar altivo em nada te desagradou, como se o pouco tempo que passou com ela bastasse para entender que isso fazia parte de sua personalidade.

– Eu prefiro arder no mais puro fogo do inferno do que me deitar com aquele desgraçado!

Daki segurou a vontade de rir. Não negaria que ver Douma ser rejeitado era um prato cheio, visto que ele sempre, SEMPRE, consegue o que quer. A prateada respirou pesado antes de se aproximar de ti e segurar em seus ombros.

– Você ainda não leu o seu contrato todo, não é?

Você assentiu, e aí sim ela riu de leve.

– Se você lesse, saberia que quanto mais luta e se afasta, pior as coisas ficarão para você. Vai se apaixonar à força e, mesmo com ódio, vai querer cada vez mais dele.

Sua cara de espanto demonstrava confusão a respeito de tal informação, mas será possível que aquele idiota não faz o serviço completo? Você respirou fundo.

– Talvez você mesma possa me explicar. – A demônio andou pelo corredor em direção a uma das salas, e Sn permaneceu parada no mesmo local.

– Está esperando por um convite? Vamos logo. – E assim você andou naquela direção, convicta de que finalmente entenderia o que aconteceu.

Daki sempre foi prática, então não tinha papas na língua. A demônio simplesmente olhou em seus olhos e despejou as palavras que te dariam um pouco de dor de cabeça por pensar em tudo o que teria que lidar.

– Veja bem, Sn, você é uma oferenda, um acordo ou uma simples incubadora. Chame da forma que achar melhor. Houveram outras antes de você e haverá muitas depois, se esse casamento não der certo. E por mais que eu deteste essa porcaria toda, não tenho o que fazer. Por isso, vou te contar o que eu sei.

– E não será punida por isso?

A demônio sorriu levemente.

– Serei sim, mas, se você compreender o que de fato aconteceu, ao contrário do que pensam, serei é muito agraciada. Você foi escolhida para dar à luz um filho de um ser superior. Douma deveria corromper a sua alma para que obtivesse sucesso, mas acho que foi pelo caminho mais difícil. Desde que chegou aqui, sentiu ódio, raiva e guardou rancor, provou de uma súbita paixão e recorreu à traição mediante essa loucura. Então, cara Sn, você já fez praticamente tudo que, ao meu ver, não faz parte de você.

Seu olhar foi de encontro ao dela, e Daki tinha razão. Isso te assustava.

– Eu não quero nutrir nada por ele.

– Mas vai. Veja bem, seu contrato foi de sangue. Há o dele correndo em suas veias e vice-versa. Os sentimentos serão inevitáveis, e se quiser um conselho, brinque com ele. Se torne a verdadeira dona deste castelo. Eu adoraria ver Douma prostrado de joelhos por uma mulher que ele nunca vai ter. Quebre o coração dele em zilhões de pedaços, e talvez assim se sinta bem.

Sua cabeça embaralhou tantos pensamentos: as ideias de Nefira, as palavras de Kotoa e até mesmo as de Nala. Algo dentro de ti gritava para tomar cuidado, enquanto outra parte ansiava por mais dessa loucura, mesmo que não tivesse encanto algum sobre ele.

Douma é apenas bonito, um ser vazio em sentimentos ou motivações, e que aos poucos está te arrastando para o inferno.

– Está sugerindo que eu jogue o jogo dele? Eu não brinco com emoções, Daki. – Foi direta.

– Não, Sn, estou afirmando que você deve ganhar o jogo. E, se isso te faz sentir melhor, ele não tem emoções, então você vai brincar apenas com um ego. E, vai por mim, o dele é gigante. Agora – segurou em seus braços – volte lá e se divirta. Não tem nada a perder e não vai conseguir sair desse casamento, pelo menos não com vida. – E assim a prateada se afastou. – Vou indo, Gyutaro já deve ter terminado. – Olhou para as unhas antes de ver a combustão em seu rosto. – Ah, querida, acha mesmo que eu não sei o que meu irmão e aquela serva estão fazendo? – Ela riu de leve. – Sabe, Sn, eu gostei de você desde o primeiro momento. Por isso, tente se manter viva e sã até o fim, e quem sabe assim possamos ser amigas.

Daki sumiu, te deixando completamente séria. Enquanto pensava em qual atitude tomar, ouviu o barulho de passos e um leve burburinho pelos corredores.

"O lorde está pensando em arrumar outra esposa."

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Pré-revisado.

*Pesadelo é um cavalo infernal.
Não vou negar que gosto das picuinhas leves entre Douma e Sn;
Eu tenho fanfic's com o Gyutaro no meu perfil caso queiram ler é só dar uma passadinha lá ;)

Música: Fight 'til The Bitter End - Black Tide

https://youtu.be/X5hNHxbDtko

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