15.Matrimônio infernal
I've made mistakes, the Lord struck me down
Caught in a landslide, lost underground
I hear them gates, swing open wide
Come close to midnight, hell sent me down
Um casamento é algo sério, são votos de amor, felicidade e respeito que devem ser compartilhados com aquele escolhido para compartilhar a vida. Sua mente ingênua esqueceu por um momento que, desde os primórdios, casamentos são moedas de troca, onde filhos são obrigados a seguir com planos de pais infelizes em prol de misturar linhagens e aumentar riquezas. Uma vez foi por pedaços de terra, hoje em dia são por sistemas de clãs e tesouros, mas nunca por amor.
Foi assim com sua mãe, sua avó e toda a linhagem que veio antes de você, então por que na sua vez seria diferente? Quando se vive em um mundo onde demônios demandam contratos cada vez mais extensos e enriquecidos, dando aos humanos tudo o que querem em troca de suas almas, onde a vida passa a valer tanto quanto um pedaço de terra ou uma pilha de ouro ou joias? Um mundo cercado pela cobiça que se perde cada vez que dá um "sim" para um demônio ambicioso.
E agora você estava ali contemplando seu vestido branco no cabide, com as mulheres da casa te ajudando e Daki opinando em cada ponto de costura.
— Não, a cintura dela deve ser mais fina, o vestido tem que cair com graça. — A demônio falou, dando voltas pelo ambiente.
— Desfaçam a barra, ela não é uma freira! Douma odeia esse tipo de roupa. — Isso ficou gravado na sua mente.
— Coloquem mais renda, menos tule e mais aberturas. Coloquem esses seios mais expostos. — Aqui, você interferiu, compreendendo que deveria tomar posse da sua vida:
— NÃO! Se vou me casar com aquele demônio, ao menos escolherei meu traje.
Daki sorriu antes de se aproximar, passando a mão em seus ombros.
— Sabe, você até que demorou para reagir, a outra eu nem cheguei a tanto. — Tais palavras chamaram sua atenção.
— E como era o relacionamento dele com a Lady Hashibira? — Você arqueou a sobrancelha.
— Olha só, pelo visto ele te levou para visitar a musa, sabe... — Rodeou seu corpo — De todas as mulheres que ele teve, aquela foi a que mais me irritou. Afirmavam ser mais bela do que eu, fora que nunca precisou da minha ajuda e Gyutaro a adorava. — Daki revirou os olhos, detestava a perfeição da Hashibira por simplesmente sentir ciúmes, muito ciúme.
— Já você é como um filhote de coelho adorável e é tão bela quanto eu. Sobre a convivência deles, vejamos... — Encarou seu vestido de noiva, que agora recebia mangas e um espartilho estruturado. — Kotoa era doce e Douma nunca sequer fez um contrato com ela, vivendo pacificamente. Uma pena que a Hashibira o tenha recusado por descobrir sua verdadeira natureza, mas sem isso você não estaria aqui, não é mesmo, querida?
— Como assim? Não compreendo quando dizem que ele não estaria comigo. Por acaso há brechas no contrato?
— Sua ingenuidade vai acabar te matando... — Daki contornou seu queixo com as unhas pontiagudas e sorriu.
— Quando uma Lua se casa, deve permanecer unida ao escolhido para sempre. Kotoa conseguiu escapar, mas a um preço muito alto. Me pergunto o que você vai perder quando tentar, já que está claro que não o quer.
— E há como querer um demônio? Só sendo burra.
— Então se olhe no espelho, querida, pois você o quis no momento em que aceitou o contrato. Agora seja esperta e o coloque em uma coleira, não precisa de muito esforço para isso, afinal estamos falando do Douma. — Piscou se afastando. — Bom, vou me aprontar e algumas servas virão lhe arrumar. A decoração está incrível e, se não gostar, é evidente que tem um péssimo gosto. — A prateada saiu mexendo o quadril com graça e você suspirou. Apesar da personalidade narcisista, ela havia lhe dado vários toques e, agora sozinha, refletia sobre suas escolhas. Desde o começo foram péssimas, onde estava com a cabeça ao tentar dialogar com um demônio sozinha e fora de seu território?
Deixou-se levar pelas emoções e agora passaria o restante da vida pagando. Seu curto lamento acabou quando viu o vestido mais uma vez, tão lindo que preferiu se concentrar nisso.
— Senhorita, trouxemos os acessórios. Prefere flores brancas ou de outra cor? — Você balançou a cabeça e uma ideia terrível lhe ocorreu. Não estava se casando por amor ou sequer por uma obrigação com seu clã, então por que ser tudo perfeito?
— Na verdade, quero que façam uma coisinha para mim e preciso que seja agora! — As mulheres lhe encararam surpresas enquanto um pequeno sorriso se formava em seus lábios.
Todos teriam uma grande surpresa.
...
O som orquestral soou pelo salão enquanto os Luas entravam em ordem:
Kokushibo vinha acompanhado de sua mulher, raramente sem véu, usando um vestido azul intermediário com flores no cabelo, e ele seguia com a mesma cor, só que mais escura. Akaza vinha sozinho, utilizando um terno marsala. Nakime utilizava um belo vestido de baile marrom, a franja estava presa para o lado, possibilitando ver parte de seu olho. Zohakuten (Hantegu) utilizava um traje roxo e Gyutaro vinha acompanhado de Daki, ambos usando tons de verde diferentes. Enquanto ela vestia verde folha com detalhes dourados, ele utilizava um tom mais escuro, o que é no mínimo engraçado, já que quando se pensa em demônios, principalmente na corte infernal, espera-se roupas pretas em um ambiente hostil e não um salão de baile onde estão vestidos formalmente.
Todos se posicionaram, três de cada lado. As portas foram novamente abertas e, por elas, o demônio loiro passou, usando um traje vermelho com curtos detalhes em preto. Conforme ele andava, o gelo se formava em seus pés, tornando o ambiente frio. Foi então que notaram a bela companhia ao lado dele. Kotoa tinha os fios trançados e presos em um coque alto, onde algumas mechas caíam pela face serena. No corpo, um belo vestido carmesim para ornar com a roupa do noivo. Ambos andaram pelo salão tranquilamente, passando pelo meio dos Luas até estar no centro, onde ela se afastou e ficou mais atrás, ao lado da loira que até então não havia sido notada.
"Essa garota não sabe onde está se metendo", pensou, referindo-se à loira sorridente vestindo rosa.
As portas foram fechadas e, quando voltaram a abrir, a imagem que deveria desagradar a todos simplesmente os surpreendeu. O loiro sorria com graça, impressionado com a visão à frente:
Lá estava você, vestida de preto, em um vestido um pouco cheio que ornava com o véu de renda, renda essa que estava presente em suas luvas. Seus cabelos trançados com ornamentos de flores e em suas mãos um buquê de rosas tradicionais. Caminhando pelo salão, observava através do véu os olhares de cada um sobre você, como se escutasse os pensamentos dos Luas.
Nakime, por exemplo, criticava a escolha do gosto e ao mesmo tempo aplaudia pela afronta. Daki queria te matar por não ter feito isso antes, enquanto Kotoa tentava conter o sorrisinho de satisfação ao te ver caminhando até a Lua e de cabeça erguida, pois sabia que você seria o verdadeiro fim para ele. Quando finalmente parou de frente ao demônio que desposaria, sentiu um grande alívio por seus pais não estarem ali, mesmo que no fundo de seu coração magoado torcesse para que ambos passassem por aquela porta e dissessem que esse pesadelo estava no fim.
Douma se aproximou, levantando seu véu e tendo a visão perfeita dos seus lábios tingidos de vermelho, como uma pintura intocável ao qual ele adoraria macular.
— Minha Washi no miko está divina. — Fitando seus olhos, percebeu a falta de brilho, e isso o incomodava. Veja bem, desde que esteve em posse do demônio mais despudorado da corte, passando por poucas e boas, sempre se agarrava ao pensamento de que tudo ficaria bem, mas depois dos últimos acontecimentos, não tinha como. Perdera totalmente a esperança e ele passou a sentir.
O demônio que não sente nada tentava driblar o pequeno incômodo que reside dentro de si toda vez que é ignorado e desprezado por você, uma mistura de raiva, fúria e mais uma emoção até então desconhecida ao qual ele não vê a hora de matar.
Uma cerimônia demoníaca não é como um casamento religioso. Logo, o responsável por fazer a união foi a Lua Superior 1, que, em curtas palavras, deixou claro todos os termos principais de seu contrato. Para finalizar, as luzes de vela do recinto se apagaram:
— Uma união deve ser selada com sangue, imortalizada pela dor que seguirá se não obedecerem as regras. — Essa última frase foi dita mantendo o olhar em Douma, que apenas sorriu.
— Esqueceu que não sinto nada, dono?
Seu olhar pesou e, em uma determinação sem igual, pegou o punhal que estava preso na cintura do loiro e, num movimento rápido, atravessou a destra dele.
— Se não sente nada, eu farei com que arda até que me peça perdão. — Você cortou a própria mão, gemendo baixinho pela dor. As gotas de sangue pingavam no vestido preto em uma cena e tanto para os orbes arco-íris. Kokushibo revirou os seis olhos. Segundo o demônio mais forte, a união de vocês estava mais dramática do que a dele. Ele puxou sua mão para que as gotas caíssem no cálice e depois deu a Douma, que de bom grado perfurou a pele novamente, pingando no cálice enquanto olhava para você.
— Damas primeiro. — Sorriu abertamente ao lhe oferecer. Seu semblante expressava o mais profundo nojo, mas teria que fazer. Respirando fundo, aceitou a peça de ouro vinda das mãos alheias e gentilmente encostou seus lábios no metal frio, virando de leve até ingerir bem pouco. — Beba direito, querida. — Com o indicador, ele apoiou na base, virando mais, fazendo com que uma gota escorresse por seus lábios. Você simplesmente entregou o cálice a ele, limpando a boca com a manga direita e ofegando no processo. Te encarando vorazmente, a Lua 2 bebeu e consumiu todo o líquido.
— Uma verdadeira iguaria. Vou adorar te consumir aos poucos, Sn-chan. — Sorrindo de lado, entregou o cálice a Kokushibo, que apenas prosseguiu.
— Uma união de sangue é mais forte do que qualquer contrato e, de hoje em diante, estão unidos até o fim da vida mortal dessa mulher.
— Então, de agora em diante, ela é toda minha. Posso beijar minha noiva? — Douma demonstrava uma empolgação que jamais lhe alcançará.
— Faça como quiser.
Sem pensar se você sequer gostaria de ser beijada, o loiro te pegou pela cintura, envolvendo-a, tomando seus lábios, onde foi capaz de sentir o gosto de sangue. Com muito custo, conseguiu empurrá-lo e plantar a mão no rosto perfeito.
— Se a cerimônia já acabou, vou me retirar! — Você se virou de costas.
— Descanse, minha dama. Te vejo mais tarde.
Você respirou pesado e, com a cabeça erguida, saiu do salão ouvindo as vozes dos Luas. Foi capaz de perceber a voz de Daki dizendo que esse casamento estava cada vez melhor e Kotoa e Nefira dizendo que poderia ter batido mais e que ambas iriam até o jardim.
Se pudesse, arrumaria uma espada e cravaria no estômago dele, mesmo sabendo que não faria efeito. Ainda assim, sentiria prazer simplesmente por vê-lo sangrar, e tal pensamento te deixou intrigada. Nunca desejou o mal ou sequer fartou-se com ele para querer ver Douma passando por isso. No entanto, o demônio despertava as piores sensações.
Sn Nethuns Amarantis não existia mais, agora renasceria como a Lady Fubuki, mesmo que, para isso, tivesse que aprender a se portar contra o demônio e o domar.
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Pré-revisado
Música: Used to the Darkness - Des Rocs
https://youtu.be/7MrRi-2nokM
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