10.Passado corrompido


With the lights out it's a little less dangerous
Even with a stranger never gets painless
Don't be afraid (afraid afraid)


Seu corpo de maneira automática relaxou no peitoral alheio com o tempo e a cavalgada que parecia não ter fim. No fundo, ao fim da travessia, após se afastarem ao máximo, chegaram ao pé da montanha e seu rosto se iluminou com a paisagem tão bonita.

-- Onde estamos? -- Você perguntou um pouco confusa, não conhecia muito ao redor, apesar da floresta chamar sua atenção.

-- Montanha Katsuriwi. -- Ele parou a montaria descendo, em seguida olhou para você esperando que fizesse o mesmo, no entanto, sua habilidade nada para fugir se fazia presente, sendo assim segurou nas rédeas do cavalo e içou, ficando em silêncio por ele não se mover levando o demônio a gargalhar.

-- Itegumori é um cavalo domado, quendo obedece a seu dono, minha dama, mas... -- Ele se aproximou, as garras tão longas que deixavam tudo ao seu redor em alerta, principalmente sua pele se eriçando de maneira ruim por baixo do vestido e o sorriso largo mostrando ambas as presas deixavam claro o quanto estaria encrencada quando voltassem. -- Fico feliz que tenha tentado fugir, será prazeroso te caçar pela madrugada. -- Piscou.

-- Agora vamos.

Não foi sequer uma pergunta, as mãos já estavam em seu corpo te puxando para fora do cavalo que havia se abaixado e não lhe soltou, mantendo seu corpo pressionando ao dele e sua respiração levemente desgovernada pela friagem que acometia a região da cintura através das palmas frias do ser claramente desprovido de bondade.

-- Agora comporte-se. -- Com um falso sorriso bateu na porta de maneira elegante sendo recebido por uma senhora de cabelos grisalhos trançados.

-- Lorde Fubuki. -- A senhora logo abriu a porta com um curto menear.

-- Hima-chan, que bom que continua viva! -- Saldou a idosa que sorriu levemente. -- Deixe-me te apresentar minha dama, Sn Nethuns Amarantis essa é Himara Kojiro. -- Sorriu.

-- É um prazer conhecê-la. -- A idosa passava uma sensação de acolhimento.

-- O prazer é todo meu. -- Você sorriu verdadeiramente e o loiro prestou bastante atenção, já que nunca recebeu esse mesmo semblante vindo de você e olha que já se passaram meses, meses esses aos quais você não fazia a menor ideia.

-- Onde está a minha amada Hashibira? -- A senhora ficou um pouco envergonhada por escutá-lo falar de maneira tão aberta em sua frente.

-- Ela está com o instrutor de piano, quer que eu o leve até lá? -- Douma negou. -- Nesse caso prepararei um chá. -- O sorriso da senhoria era de fato cativante e você ficou sem entender, mas não teve tempo de perguntar, pois, o loiro logo te arrastava pelos corredores do casarão até parar no arco da porta e escutar a música, não ousou interromper e ao finalizar bateu palmas diante da bela melodia e o olho verde da Hashibira o encontrou de primeira, a dama cochichou algo no ouvido do professor antes de se levantar arrumando de leve a frente do vestido amassado e andar em sua direção. Douma sempre exaltou a sua beleza, mas... Nossa, a dama a sua frente era irresistível e inegavelmente bela trajando um vestido branco rendado pouco ornamentado, os cabelos escuros estavam trançados caindo sobre o lado direito do homem ou de notar que a franja cobria o olho e o disponível apresentava o mesmo tom de verde aceso da floresta por onde passaram, os lábios naturalmente em tom coral pareciam ter sido tocados por um pêssego.

-- Não esperava por sua visita Douma. -- Só assim para o loiro te largar e segurar a destra da morena levando até os lábios deixando um beijo e sorrindo antes de a abraçar.

-- Está tão linda como todos os dias Kotoa-san. -- Ela sorriu minimamente, mostrando que não se incomodava com os gracejos.

-- Não estamos sozinhos, não vai me apresentar a sua dama? -- Ela inquiriu.

-- Ah, claro, essa é Sn Nethuns Amarantis. Sn essa é a lady Kotoa Hashibira, minha amada ex-esposa.

Ela fechou os olhos no semblante calmo:

-- Não diga besteiras, sabemos que amor não é algo que lhe convém.

-- Oh, meu bem, está tão enérgica! O divórcio lhe fez bem. -- O loiro riu de leve, atraindo a sua atenção.

-- Me diga de uma vez o que quer e você menina, sinto muito por ter sentenciado sua vida a dele.

-- Como é ótimo ver minhas damas se dando tão bem.

-- Não somos suas damas. -- Ambas responderam em uníssono.

-- Como eu adoro mulheres, vou deixá-las, assim poderão se conhecer melhor. -- Ironizou antes de se retirar, a morena olhou para ti com um sorriso tão amável que foi inevitável não se lembrar de sua mãe.

-- Diga-me Lady Sn, como tem sido os seus dias ao lado dele? -- Você a observou se aproximar e suspirou antes de segui-la até o sofá acolchoado e sentar.

-- Exaustivos. -- Você confessou.

-- Ele é um demônio cruel e aficionado por mulheres, não deixe que controle sua mente. -- A voz dela lhe encheu de perguntas e por esse motivo resolveu as satisfazer:

-- Sei que não nos conhecemos, mas... Se diz isso por que se tornou esposa dele?

Kotoa suspirou, não havia como lhe explicar que viera de um lar extremamente agressivo onde o marido bêbado e rico a espancava praticamente todos os dias mesmo durante a gestação, muito menos que o encontro com o demônio se deu dessa mesma forma, enquanto fugia das garras de um verdadeiro algoz, um demônio humano simplesmente por seus atos e que em meio a tudo isso encontrou o paraíso eterno, onde não só foi acolhida, como tratada de forma digna. Um lugar pertencente a um demônio de sangue que se mostrou mais benevolente do que um ser que respira, todos no antigo lar de Kotoa sabiam o que Inoji Hakujiro fazia e ainda assim se negavam a ajudá-la, afinal de contas ela era uma mulher casada e pertencente ao seu marido como uma mera posse, tratada como um objeto pelo homem que deveria a amar e isso faz com que seja completamente compreensível a escolha, Kotoa viu em Douma a bondade que nunca recebeu pelas mãos de um homem, ele realmente fora honesto em seu tratamento, entretanto nunca lhe revelou quem de fato era. Um demônio sádico e louco para possuir cada traço genuíno das almas humanas.

O casamento de Kotoa veio um ano depois, onde a mesma recebeu uma carta avisando que toda a família Hakujiro fora brutalmente assassinada e apesar de tudo sentiu pena. A morena logo deixou de ser uma Hakujiro para se tornar uma Fubuki e partilhando uma vida com um demônio.

Kotoa foi a única a não assinar um contrato e a primeira a ser caçada por ele ao descobrir o que ele é, amarrando assim suas vidas eternamente. O dourado a deixaria escapar e infelizmente como penitência perdeu um olho. Agora estava livre, segura e acima de tudo amparada, afinal de contas Douma ainda a adora, uma alma tão pura que chega a ser doce, uma beleza tão ampla que conquistou verdadeiramente a cabeça incompreensível do Lua superior dois. Após o divórcio, Kotoa voltou a ter seu sobrenome de solteira, assim, sendo chamada de Hashibira.

-- Não tem problemas lady. Douma foi o meu mal necessário. -- Comentou sorrindo. -- E você?

-- Ele e apenas um mal do qual quero me livrar. -- Ambas riram e algo passou por sua mente, se ela era a ex esposa significa que sabia de mais coisas relacionadas não só a mansão, como a espécie ao qual está amarrada. Tomando coragem após apertar o tecido da saia em seus dedos, você respirou fundo e olhou nos olhos:

-- Há como quebrar o acordo sem morrer? -- Ela lhe fitou e caminhou até a estante da sala que estavam, os olhos brilhantes de Kotoa não tardaram a encarar um livro escuro em tom Borgonha com letras desenhadas em dourado.

-- Se e somente se cumprir o que está em seu contato. -- Ela lhe encarou antes de estender o livro.

-- E se eu não souber o que foi acordado? -- Aqui ela se espantou sentando ao seu lado e puxando suas mãos para o colo.

-- Menina, não me diga que aceitou a proposta de um lua de maneira tão inconsciente?

Você mostrou toda a confusão que perambulava por sua mente e ela suspirou, a mão delicada foi até os fios que tapam o olho direito e ao acariciar a face revelando o local, você tentou não demonstrar a surpresa que lhe percorreu:

-- Isso é o que acontece quando não se sabe dos termos. -- Foi inevitável, você levou a destra seus lábios tampando os seus pontos e ela sorriu.

-- Não se preocupe o contrato faz ele agirem como verdadeiros animais e até acredito que se ele tivesse escolha ele ainda se teria feito, pois, faz parte da natureza cruel daquele demônio que diz tanto apreciar as mulheres no fim das contas o que ele mais gosta é devorar suas almas beirando a loucura e em meu caso o casamento fez o mesmo papal. -- Involuntariamente seu corpo tremeu de medo imaginando o quão vil era o monstro ao qual sua vida estava ligada e tudo o que fez foi rezar, rezou silenciosamente para que não passasse de um pesadelo, para que pudesse se libertar das amarras que agora lhe colocavam em um sistema que poderia beirar a escravidão de seu ser dependendo de suas escolhas e para piorar não fazia a menor ideia do que estava descrito no contrato. Kotoa percebeu seu aparente nervosismo, um leve desmanche na personalidade de uma dama que deve manter-se intacta diante a sociedade, seja ela qual for e assim resolveu ajudá-la. Ainda segurando em suas mãos trouxe seu rosto de encontro a face delicada com o olho direito tapado:

-- Respire calmamente e tente se controlar, demonstrar esse nervosismo não vai te levar a lugar nenhum. Lembre-se com quem você está lidando e conseguirá tudo que você tanto almeja, principalmente ficar longe desse demônio. -- Seu corpo pareceu obedecer enquanto encarava todo aquela sensação de alento materno presente em Kotoa, seus olhos desviaram para o livro em seu colo e após pousar a mão em seu peito e alisar a capa de couro abriu a sua próxima fonte de conhecimento.

-- Nefilins. -- Você sussurrou atraindo atenção da morena e comprimindo os lábios continuou:

-- Se souber, poderia me explicar o que são nefilins?

Nesse exato momento Douma parou no arco da porta aberta sorrindo por vê-las tão próximas.

-- Minha querida Kotoa, você precisa ensinar bons modos para aquele pirralho. -- Riu jogando uma maçã para cima e pegando novamente. -- Acredita que ele tentou passar a espada no meu pescoço? Uma verdadeira audácia!

Os seus olhos se alarmaram e Kotoa respirou fundo.

-- E o que você fez Douma?

-- Nada, minha linda dama, apenas pedi para Himara cuidar dele após atirar uma faca que passou bem longe. -- Tais palavras fizeram com que a morena ficasse séria ao ponto de se levantar e o encarar.

-- Se machucar o meu filho sofrerá as consequências.

Teve a mão segurada pelas dele que levou até os lábios, deixando a maçã sobre o aparador à direita da sala.

-- Eu jamais vou contra um contrato e apesar do fedelho ter me acertado, tudo o que ganhou foi uma bronca de Himara.
A morena revirou o olho antes de voltar a lhe encarar e ignorar a existência do demônio:

-- Você queria saber sobre nefilins e eu ficarei feliz em lhe passar o que lady Ayla me contou.

-- Ayla sempre disseminando o conhecimento -- respondeu de forma tediosa -- Por que não aparece aqui minha demônio favorita?

-- Pare de interrompê-la -- Sua voz ecoou, detestava esse tipo de comportamento e um sorriso largo ecoou no rosto dele antes de proferir palavras das quais você agora compreendia.


-- अहो या शप्ता, अहं त्वां आह्वयामि।मम रक्तेन चिह्नितं तत् शंखं गृहीत्वा मम आह्वानं पालस्व, तस्य शुद्धात्मानस्य स्वादनं कुरुत यस्य अहं दूषणं कर्तुं न शक्तवान्।मम समीपम् आगच्छ, मम प्रस्तावे आनन्दय, मम आज्ञापालनं कुरुत!

(--Oh dama que foi amaldiçoada, eu lhe convoco. Se aposse dessa casca marcada com o meu sangue e obedeça ao meu chamado, prove dessa alma tão pura ao qual não fui capaz de corromper.
Venha até mim, deleite-se com minha oferta, obedeça-me!)


O corpo de Kotoa se desestabilizou e não demorou muito para que a morena fechasse os olhos, quando abriu não era mais o verde que estava estampado em sua pupila esquerda e sim o mais profundo branco.

-- Quem ousa me invocar? -- A voz te deixou receosa já que era para ti que olhava, no entanto, a mão grande do demônio loiro virou a face trazendo o rosto até ele e contornando os lábios com os dedos, o que veio a seguir lhe deixou um pouco em paz, um barulho de um tapa forte ecoando e a face angelical daquele ser de puro mal cortada. -- O mestre mandou informar que cortará sua cabeça se me chamar em vão novamente.

Douma fez carinho sobre a face marcada:

-- Às vezes esqueço como essa mão é pesada, mas estava com saudade Ayla-chan! -- E assim abraçou o corpo de Kotoa fazendo um carinho nos cabelos.

-- Desgruda! Somente o Lua superior três tem permissão para me tocar! Agora diga de uma vez o que quer. -- Esbravejou.

-- Poderia contar a minha noiva sobre os nefelins? Kotoa-Chan ia o fazer, mas prefiro que saia da sua deliciosa boca.

Seu semblante estava quente de vergonha e raiva, como ele ousa cantar outras em sua frente? Como você pode se importar com isso se o odeia?

Tudo é tão confuso e a demônio que agora possuía o corpo da morena se aproximou de ti, ela não representa um perigo, mas pela natureza alheia você deve se manter em alerta.

-- Eu não deveria, mas não resisto a história e é bom informá-la do que está por vir. -- A dama se sentou e então continuou:

-- Antes da era dos homens existiam apenas dois reinos, aquele que vocês apelidaram dê o reino dos céus e para os pecadores o inferno, em meio a isso tudo uma vasta terra habitada, no entanto, inexplorada. Então consegue imaginar o que ocorreu? Seres nunca vistos antes por duas raças que demandavam grande curiosidade.

-- Eles brigaram pelo domínio? -- A pergunta saiu meio receosa enquanto a dama apertava o tecido de seu vestido Dourado de maneira singelo singela

-- Exatamente! -- Kotoa agora de fios prata como a luz do luar sorriu deixando-a apreensiva.

-- Meus relatos estão um pouco deteriorados, mas em minha biblioteca há registros dos primeiros mil anos de guerra antes que compreendessem que se tratava da raça humana e que grande parte dos habitantes desses mesmos reinos possuía ligação com ambos. -- Aqui, seus olhos se alarmaram, como podem conviver com aquilo que os corrompe diariamente? Como podem suplicar e até mesmo implorar por ajuda aqueles que também almejavam os matar? A cada nova dúvida que surgia em sua mente devastada fazia seu coração bater tão forte que chegava a doer sua cabeça rodeada de pensamentos confusos que insistem em negar a verdade enquanto a dama a sua frente observava cada reação:

-- Ela não está pronta -- ao ouvir tais palavras Douma se aproximou.

-- Por favor abra uma exceção, Ayla-chan -- sorriu descaradamente enquanto a mulher voltava a ter fios pretos, fechou os olhos, você não fazia ideia da relação que possuíam, mas estava claro que pela intimidade se conheciam há anos, na verdade, séculos.

Ela respirou fundo:

-- Não posso fazer mais concessões, se parte da história já deixa em desespero imagina quando finalmente entender seu papel? Não serei eu a cravar uma lâmina no peito dessa jovem, já basta todas as outras que fui obrigada a assistir. -- Aos poucos Kotoa assumia seu lugar.

-- Se o deteriorar das palavras a deixaram em alerta, talvez esteja na hora de conhecer a verdade através dos olhos da bruxa. A única a andar entre os três reinos e permanecer viva. -- Foi assim que Kotoa voltou a si, balançando a cabeça lentamente e encarando loiro que sorria gentilmente.

-- Vamos querida não temos mais nada a fazer aqui, agradeço pela visita querida Kotoa e a comida de Hirawa estava uma delícia.

Ele não te deu tempo para decidir, apenas seguiram para a montaria acompanhada e ainda confusa com tudo o que escutou, subiram no corcel e ele sorriu se aproximando do seu ouvido esquerdo.

-- Ainda pretende fugir?

-- Todos os dias da minha vida. -- Sua resposta automática o deixou encantado e o sorriso terno passou a esboçar uma malícia sem fim.

-- Então será punida por cada uma de suas tentativas. -- Nada mais foi dito, conforme o galope tornava-se recorrente. Você olhou para trás e pode ver o exato momento em que Kotoa lhe sussurrou algo:

-- Tome o controle da situação. -- Essa não foi a primeira vez que escutou esse pedido.

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Pré revisado 

O que Douma conjurou para a possessão: Oh dama que foi amaldiçoada, eu lhe convoco.

Se aposse dessa casca marcada com o meu sangue e obedeça ao meu chamado, prove dessa alma tão pura ao qual não fui capaz de corromper.

Venha até mim, deleite-se com minha oferta, obedeça-me!


Música: The Fantasy - 30stm

Kotoa tocando piano:

https://youtu.be/zHvBPwNUBS8

https://youtu.be/UjCeTuXjl7M

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