𝙥𝙧𝙤𝙡𝙤𝙜𝙪𝙚

O PRÓLOGO


━━━━━ you chose
power.






















O AMOR É FRÁGIL. ELE É INCONSTANTE E LIMITADO. O amor te deixa fraco. O amor não é nada comparado ao poder. O poder faz com que você sobreviva. Poder é a única coisa em que você pode confiar.

Essas foram as palavras que Amara cresceu escutando. Quando ela era criança, ela não entendia o que essas palavras significavam. Ela não entendia porque Baghra as repetia constantemente.

E, o motivo de ela não entender, era porque, naquela época, Amara não sabia o que era amor. Com apenas cinco anos de idade, ela foi abandonada por seus pais em um acampamento Grisha em Ravka, após demonstrar seu poder pela primeira vez.

Ela foi adotada por Baghra, mas, depois de alguns anos, entendeu que a mulher não a adotou por amor e, sim, pelo poder único que Amara possuía ─ assim como Baghra e seu filho.

Assim, amor nunca foi algo presente na vida de Amara. Era um sentimento que ela lia em seus livros, via nos atos de outras pessoas, mas foi ensinada que não era algo a ser almejado.

Mas, naquela época, Amara já amava alguém, ela só não sabia ainda.

Crescer sendo uma Grisha não foi fácil. Todo dia, a jovem costumava olhar para as estrelas e desejar ser qualquer outra pessoa. Uma pessoa que pudesse ser livre, que não precisasse fugir a todo momento. Uma pessoa que não precisasse se esconder.

Em razão de seu poder único e da linhagem de Baghra, eles estavam constantemente se mudando. Não poderiam dizer seus nomes verdadeiros e nem se aproximar de outras pessoas.

Mas, o motivo de Amara nunca ter se sentido sozinha, era Aleksander.

Aleksander e Amara cresceram lado a lado. Eles treinavam juntos, aprenderam a dominar seus poderes juntos e, com o tempo, entenderam que só tinham um ao outro naquele mundo.

Ele era a escuridão e ela era a luz. Ele controlava as sombras e ela, o Sol. Eles eram opostos que se completavam. Um não existia sem o outro.

E, aos 13 anos de idade, Amara descobriu o quão importante o Conjurador das Sombras era para ela.

Eles estavam residindo em um acampamento perto da fronteira de Fjerdan, quando Aleksander quebrou uma das principais regras de Baghra: ele permitiu que uma das crianças o tocasse.

Quando perceberam que Aleksander era um amplificador, o grupo de crianças Grishas, temendo por sua segurança, tentaram afogá-lo em um lago congelado.

Amara se lembrava perfeitamente daquele dia.

Ela estava procurando por Aleksander quando escutou algumas crianças dizendo que ele estava no lago. Ela se lembrava da do aperto que sentiu em seu coração quando cogitou a possibilidade de ele estar em perigo.

Quando ela se aproximou do lago e viu o que estavam fazendo em Aleksander, algo dentro dela mudou. Ela queria matá-los, mas antes que ela atacasse, uma escuridão os cortou no meio ─ foi a primeira vez que ela presenciou O Corte.

Mas Amara não se importou com os corpos daquelas crianças no chão. Ela não se importou que Aleksander havia os matado. A única coisa que ela se importava era que ela não havia o perdido.

Quando ele saiu da água, Amara correu para abraçá-lo. ─ Você está bem, Aleksander. ─ Ela disse, tirando seu casaco e colocando em volta do corpo do jovem. O menino estava em choque, olhando para os cadáveres a sua volta.

─ Olhe para mim. ─ Amara pediu, passando a mão pelo rosto dele. ─ Só olhe para mim. ─ Ela encostou sua testa na cabeça de Aleksander, sentindo seu cabelo molhado tocar sua pele.

Seus olhos se encontraram e, lentamente, a respiração ofegante de Aleksander começou a diminuir.

Naquele dia, Amara descobriu que Aleksander era seu lar. E Aleksander descobriu que Amara significava tudo para ele, porque, a única coisa que ele viu embaixo d'água, foi o rosto da jovem.

Eles culparam uma vila próxima de Otkazat'sya pela morte das crianças Grishas, contando a verdade apenas para Baghra.

─ Eu não os culpo. ─ Baghra disse, falando sobre as crianças mortas. ─ Não culpo nosso povo por tentar se proteger. Eles estão desesperados para se manterem escondidos. O medo faz com que as pessoas façam coisas irracionais.

As palavras de Baghra ficaram presas nos pensamentos dos dois jovens. Naquela noite, eles prometeram que construíram um lugar seguro para os Grishas. Eles construíram um futuro para seu povo. Juntos.

Conforme os anos se passaram, Amara e Aleksander se tornaram poderosos e o sonho que dividiam de proteger seu povo os unia cada vez mais.

─ Eu costumava ter medo do escuro. ─ Aleksander afirmou, olhando para ela. Eles estavam deitados na grama, observando o céu noturno enquanto as estrelas o iluminavam. Eles costumavam fazer isso na maioria das noites. Eles fugiam do olhar rígido de Baghra e passavam horas conversando. ─ Eu lembro que quando eu era criança, você iluminava o quarto até eu conseguir dormir.

Amara sorriu, lembrando da memória que compartilhava com Aleksander. ─ Me dê a sua mão. ─ A morena pediu, se sentando e estendendo sua mão para o homem a sua frente.

Quando suas mãos se tocaram, as sombras rapidamente cercaram os dois e, depois de alguns segundos, algumas luzes começaram a se formar naquela escuridão. Ambos sorriam, maravilhados com a cena ao seu redor.

─ Você só não sabia da beleza que existe na escuridão, Aleksander. ─ Amara contou, encontrando os olhos do Conjurador de Sombras.

Eles lentamente se aproximaram, não soltando a mão um do outro. ─ Você e eu vamos mudar o mundo, Amara. ─ Ele disse.

No momento que seus lábios tocaram os lábios de Aleksander, Amara soube que havia quebrado todas as regras. Ela amava ele. Ele a tornaria fraca, mas ela não se importava.

Ele era tudo.

Ela havia sido treinada para ser uma guerreira. Ela não podia se apaixonar. Mas se apaixonar por Aleksander foi inevitável. Ela só não sabia, naquela época, que ele seria seu fim.

Para tentar realizar o sonho de tentar criar um lugar seguro para os Grisha, Aleksander, agora conhecido como o Darkling, se tornou o conselheiro militar do Rei Anastas.

Amara permaneceu no pequeno vilarejo dos Grishas, protegendo seu povo. A Conjuradora não acreditava que servir a família real faria com que o preconceito chegasse ao fim.

O Darkling resolveu os problemas do Rei, mas seu poder e sua ambição o tornaram uma ameaça para o trono. E, assim, o Darkling e qualquer Grisha que o apoiasse começaram a ser perseguidos.

O Darkling venceu uma guerra para o Rei e, como consequência, uma guerra começou contra as Grishas.

─ Amara. ─ Ele gritou, descendo de seu cavalo e correndo na direção da Conjuradora. Quando ela escutou sua voz, rapidamente se virou, encontrando seus braços a envolvendo. ─ Você está bem. ─ Ele afirmou, soltando um suspiro.

As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto de Amara enquanto o Darkling a abraçava. ─ Eu cheguei tarde demais. ─ Amara sussurrou. ─ Eles mataram todo mundo. ─ Ela disse em meio as suas lágrimas.

Quando o Darkling olhou em volta, todas as casas estavam destruídas. O Rei havia massacrado mais um lar de Grishas. ─ Eu sinto muito... Eu deveria ter vindo antes. ─ Ele disse, limpando as lágrimas do rosto de Amara.

─ Eu não aguento mais. ─ Ela confessou. ─ Eu não aguento mais enterrar nosso povo e não poder fazer nada.

─ Eles não podem descobrir sua existência, Amara. ─ O Darkling afirmou. ─ Não agora. Você se tornaria um alvo para eles.

─ Eu já sou um alvo, Aleksander. ─ Ela disse, se afastando do toque dele e olhando em seus olhos. ─ Nós todos somos.

Quando a dupla chegou no Santuário ─ um local que Amara e Baghra escondiam Grishas sobreviventes ─ Amara foi para a ala dos feridos e o Darkling foi em direção ao quarto de sua mãe.

─ Filho. ─ Baghra afirmou quando viu Aleksander passar por sua porta.

─ Estou aqui. ─ Ele disse, sentando-se na cama de sua mãe, que segurou sua mão. ─ Mas precisamos sair. Os soldados estão vasculhando o Oeste. Estão punindo os Grishas.

─ Por sua causa. ─ Baghra respondeu. ─ Você o deixou com medo. Agora ele quer que você tenha medo dele. ─ O Darkling se levantou, dando as costas para a sua mãe. ─ Onde está Amara?

─ Com os feridos. ─ Ele respondeu e sua mãe gargalhou.

─ Uma guerreira cuidando de feridos. ─ A mulher disse. ─ Ela devia estar lutando ao seu lado. Talvez assim nós teríamos uma chance.

─ Não. ─ Aleksander afirmou. ─ Eu não vou perder ela. Eu não posso perder ela.

─ Mas você vai. ─ Baghra confessou. ─ Não vamos vencer essa guerra. Eu ensinei vocês a lutarem para se protegerem, não para proteger Grishas fracos. Mas vocês não me escutaram. Talvez agora você me escute. ─ O Darkling a olhou. ─ Vá. Fuja para o Oeste com Amara. Para Kerch. Espere o Rei morrer e depois volte com outro nome. Um nome de nobre. Espere até ter um problema que só um Grisha consiga resolver e o Rei nos aceitará.

─ E os que estão em perigo agora? ─ Aleksander perguntou. ─ Precisamos proteger todos os Grishas. Eu e Amara podemos ensiná-los a lutar.

─ A maioria não luta. ─ Baghra respondeu. ─ Eles consertam coisas, fazem coisas.

─ Faremos um exército. ─ Aleksander disse, fazendo com que os olhos de sua mãe se arregalassem. ─ Morozova fez um. Forjar vida para amplificar o poder. Somos da linhagem dele. Ele nos fez.

─ Quer usar o merzost? ─ Bagha perguntou, se levantando. ─ Praticamos a pequena ciência. Não magia!

─ Os diários dele estão aqui. Nos arquivos. ─ Darkling afirmou. ─ Eu vou proteger os Grishas. Eu vou proteger a Amara. Ninguém mais do nosso povo vai morrer. Eles não vão conseguir vencer nós dois juntos.

O Darkling deixou para trás sua mãe com um olhar de medo em seu rosto. Ela sabia o que seu filho queria fazer e ela não podia permitir isso. Ela sabia que não conseguiria pará-lo, mas existia uma maneira de não permitir que ele tivesse tanto poder.

Baghra procurou pelo livro escondido embaixo de sua cama. O livro que havia herdado de seu pai. Ela precisaria praticar a magia para conter a ambição de seu filho.

─ Baghra. ─ Amara exclamou, entrando no quarto da Conjuradora. ─ Você me chamou? ─ Ela perguntou, tentando achar a mulher.

─ Eu sinto muito. ─ Ela ouviu a voz de Baghra e uma dor a atingiu. Quando olhou para baixo, Baghra havia enfiado uma faca em seu coração. ─ Ele não pode ter o seu poder.

Quando tentou falar, o sangue começou a escorrer pela sua boca, enquanto Baghra repetia alguns dizeres em uma língua antiga. A Conjuradora das Sombras retirou a faca do coração da jovem e, em alguns segundos, a ferida começou a cicatrizar.

─ O que você fez?! ─ Amara perguntou, com uma expressão assustada e colocando suas mãos em frente ao seu corpo para se proteger.

─ Aleksander quer usar o merzost. ─ Baghra confessou. ─ Ele está disposto a matar qualquer um em seu caminho, eu não posso permitir isso, Amara. ─ Ela disse. ─ Você é o ponto fraco dele.

─ O que você fez?! ─ Amara gritou mais uma vez e a luz começou a se manifestar em volta dela.

─ Você faria qualquer coisa por ele. E com o seu poder ele vai ser invencível. ─ Baghra contou. ─ Ele te tornou fraca, minha criança. Agora você vai pagar pelos erros dele.

─ Se ele escolher seguir esse caminho... se ele escolher poder, você vai morrer. ─ A mulher continuou. ─ Mas você é única, você vai voltar. Mas se ele te encontrar mais uma vez, seu poder estará dividido, você não vai mais ser a única Conjuradora do Sol.

─ Lembre-se, Amara. ─ Baghra disse, se aproximando da jovem. ─ Se você morrer, foi porque ele escolheu o poder e não você.

─ Você está cercado. ─ O General afirmou quando viu o Darkling. ─ Se me matar, meus soldados acabarão com todos lá dentro.

O Darkling começou a descer as escadas. se aproximando do exército. Inúmeros homens apontavam suas flechas para ele.

─ O Rei quer você preso. ─ O General continuou. ─ Mantenha os braços abertos. Eu sei como a pequena ciência funciona.

O Darkling levantou seus braços lentamente. ─ Se ele mexer os braços, atirem. ─ O General ordenou.

Os soldados começaram a se aproximar para prendê-lo, mas o Darkling começou a recitar as palavras que havia lido nos diários de seu antepassado. Ele protegeria os Grishas. Ele protegeria Amara.

As veias de seu pescoço começaram a aparecer, agora na cor preta. ─ Eu não tenho um exército para lutar contra o seu. ─ O Darkling afirmou e os homens começaram a se preparar para lutar. ─ Então transformarei o seu no meu. Submetam-se a mim! ─ Ele exclamou e as sombras começaram a rodear tudo a sua volta. Ele criou a Dobra.

Amara, que estava correndo na direção de Aleksander, sentiu a dor no seu coração quando atingiu a escada. Ela estava morrendo.

─ Alek... Aleksander. ─ Ela disse, caindo escada a baixo. O Conjurador, quando olhou para trás, encontrou sua amada, lutando para respirar enquanto seu sangue se espalhava pelo chão.

─ Amara! ─ Ele gritou, correndo na direção dela e a segurando em seus braços. ─ Não, não, não. ─ As lágrimas de Aleksander caiam no rosto de Amara enquanto ele tentava segurar seu ferimento.

─ Poder. ─ Amara sussurou. ─ Você escolheu o poder. ─ Ela disse, com uma única lágrima escorrendo de seu olho. E, assim, ela respirou pela última vez.

Abraçado ao corpo de Amara, o Darkling chorava. Ele gritou quando Amara fechou seus olhos e tudo ao redor dele virou escuridão. Sem Amara, não havia beleza na escuridão.

Sem Amara, não havia luz em sua vida.

─ Você fez isso. ─ Baghra afirmou, no topo da escada e o olhar que ela viu nos olhos escuros de Aleksander a assustou.

─ O que você fez?! ─ Ele disse, se aproximando de sua mãe. ─ O que você fez?!─ Baghra sentiu as sombras a rodearem e um corte se formar em seu pescoço.

─ Você matou milhares de pessoas, Aleksander. ─ Baghra disse. ─ Você fez essa escolha e Amara pagou por ela.

─ Traga ela de volta! Traga ela de volta agora! ─ Ele exclamou, sentindo a raiva se espalhar pelo seu corpo.

─ Ela vai voltar um dia. ─ Baghra confessou. ─ Mas ela não se lembrará de quem ela é de verdade, ela não se lembrará de você. ─ Ela contou. ─ Amara morreu e você vai viver com essa dor.

Sua mãe deu as costas para ele e ele caiu de joelhos, tentando respirar em meio as suas lágrimas. Ele esperaria pela Amara. Ele esperaria por ela o tempo que fosse necessario. E todos que os separaram pagariam por sua morte.









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