𝐱𝐯𝐢𝐢. 𝘵𝘩𝘦 𝘱𝘳𝘪𝘯𝘤𝘦𝘴𝘴 𝘢𝘯𝘥 𝘵𝘩𝘦 𝘰𝘳𝘱𝘩𝘢𝘯
CAPÍTULO DEZESSETE
❛ A PRINCESA E A ÓRFÃ ❜
━━━━━ he found love in
Anastasia.
AMOR ERA UM SENTIMENTO QUASE DESCONHECIDO, ERA UMA EMOÇÃO ESQUECIDA, ERA COMO UM LAPSO DE MEMÓRIA que implorava para dominar seus pensamentos. Mergulhar nele era como navegar em mares desconhecidos, era como se todos os seus caminhos te levassem para uma única pessoa, era como se você estivesse adormecido, até que alguém te trouxe de volta à vida.
Ele sempre pensou que o amor fosse algo que ele não teria o luxo de sentir mais uma vez. Ele sempre acreditou que seria mais fácil enterrar essa emoção, deixando-a presa como um eco em suas memórias. Mas, inevitavelmente, ele havia buscado por esse sentimento por centenas de anos.
Ele o buscou em Amara, se tornando um vício que ele consumia diariamente. Depois, ele o procurou na admiração de seu povo, tornando seu dever protegê-los e criando o lar que eles nunca tiveram. Por fim, ele o buscou nos olhares dos ravkanos, transformando suas batalhas nas dele, dedicando todos os seus anos em terminar suas Guerras.
Mas tudo que ele encontrou foi medo. Ele lutou batalhas que não eram dele, ele sacrificou seu povo para ajudá-los e, mesmo assim, eles o viam como o monstro de suas histórias. A aberração da qual eles precisavam fugir e os Grishas eram suas armas. Enquanto um Lantsov se sentasse no trono, seu povo continuaria morrendo por suas Guerras. Enquanto um Grisha não fosse Rei, eles nunca estariam realmente a salvo.
Ele buscou o amor até mesmo em sua solidão ─ que havia o acompanhado durante toda sua trajetória, a sombra que ele não conseguia controlar ─, se agarrando ao passado, mas tudo que ele achou foram os resquícios de quem ele havia sido um dia. Vivendo em silêncio, abaixando sua cabeça para Reis covardes, assistindo suas ruínas, observando como eles ficavam sentados em seus tronos enquanto Ravka era massacrada.
Ele não o procurou em Anastasia. Quando ela chegou, ele já havia aceitado que medo seria tudo que ele encontraria e que o medo seria seu escudo. Ele não o buscou no olhar da Princesa, mas o encontrou em seus braços, o encontrou na maneira como seus olhos brilhavam quando se deparavam com sua escuridão, o encontrou na forma que seus dedos tocavam sua pele. Ele passou tanto tempo preso em sua noite, mas, depois de Anastasia, o dia parecia não ter fim.
Mas ele havia cruzado tantas barreiras, havia ultrapassado tantos limites. Ele havia tentado quebrá-la, apenas para perceber que ela estava o reconstruindo. Ele encontrou o amor quando não o procurava, só para não ser merecedor dele. Ele a machucou quando tentou salvá-la, a magoou quando mostrou a farsa que era sua família, a viu chorar quando as memórias de outra pessoa a atormentavam.
Ele tentou lutar, tentou apagar o que sentia por ela, tentou ignorar o que ela causava nele, mas toda vez se encontrava desejando vê-la, ansiando pelo seu toque, implorando para tê-la cada vez mais perto. Ele acordava todas as noites com ela em seus braços, começava todos os seus dias olhando para seu sorriso.
E, nesses momentos, não havia Guerra, não havia milhares de pessoas dependendo dele, não havia insegurança. Havia só ela. Apenas Anastasia. E tudo dentro de si implorava que fosse sempre assim, mas ele sabia que isso era impossível, sendo quem ele era, tendo feito o que ele fez, carregando o que ele carregava.
A primeira viagem do novo esquife deveria ser um sucesso. Sua presença deveria ser apenas uma formalidade, mostrando a confiança que Os Alta havia depositado na mais nova criação dos Fabricadores. Mas, quando seus soldados voltaram feridos, quando ele ouviu os sussurros sobre a cartógrafa que havia os salvado, quando ele sentiu uma nova luz surgir, ele entendeu.
Quando ele conheceu Alina Starkov, ele entendeu o que sempre parecia estar faltando. Ele entendeu o porquê do poder de Anastasia sempre aparentar estar pela metade. Ele entendeu o que os pesadelos da Princesa estavam buscando. O poder de Amara havia sido dividido.
A Princesa e a órfã de Keramzin.
ELA PODIA SENTIR O VENTO IR BRUSCAMENTE DE encontro com sua pele. As mãos trêmulas da jovem assustada à sua frente se agarravam em seus braços, buscando se manter firme em cima do cavalo. Luka se mantinha a alguns metros de distância, se certificando de que não estavam sendo seguidos.
─ Podemos parar? Por favor. ─ Ela escutou o pedido de Alina, assentindo e parando próximo à uma árvore.
A garota desceu rapidamente, se afastando de Anastasia. Seu olhar estava cheio de medo, sua respiração ofegante, sua face marcada pelo sangue do homem que tentou atacá-la, seu kefta vermelho parecia ser a única coisa intacta. O Hidro se aproximou lentamente, parando ao lado da Princesa.
A Lantsov tentou se aproximar, mas a Starkov recuou. Ela retirou um lenço de suas vestes, o oferecendo para Alina que, mesmo claramente desconfiada, aceitou. ─ Você... ─ Ela começou, voltando seu olhar para Anastasia, analisando as cores de seu kefta quase completamente escondido por sua capa. ─ Você é a Princesa. Você também... ─ Ela olhava para suas mãos, mas o sangue deixado no lenço tomou sua atenção. ─ O que aconteceu lá atrás?
─ Drüskelle. ─ Luka a respondeu. ─ Eles são soldados de Fjerda treinados para matar Grishas.
─ Você matou ele. ─ Alina declarou, voltando seu olhar para a Princesa.
─ Ele ia te matar, Srta. Starkov. ─ Anastasia afirmou. ─ Preferia que eu tivesse deixado?
─ Não. ─ Alina disse, sua voz fraca. ─ Me desculpe, eu... ─ Ela continuou, soltando um suspiro. ─ Como eles descobriram sobre mim?
─ Não é como se você tivesse sido discreta na Dobra. ─ Luka confessou, recebendo um olhar repreendedor da Lantsov, dando de ombros como resposta.
─ Vai ser assim agora? ─ Ela perguntou. ─ Vou ser caçada onde quer que eu vá?
─ Não vou mentir para você, Srta. Starkov. ─ Anastasia afirmou. ─ As coisas não vão ser fácies, mas você vai aprender a se defender, a usar seu poder e, depois que destruirmos a Dobra...
Alina a interrompeu. ─ Destruirmos? Não! ─ Ela exclamou. ─ Eu não quero nada disso. Por que você não a destrói?
Anastasia abaixou seu olhar. ─ Eu não consigo fazer isso sozinha.
─ Então não pode usar alguma ciência Grisha 'pra transferir isso 'pra você? ─ Ela perguntou, mostrando suas mãos.
A Princesa se aproximou, mantendo seu olhar preso em Alina. ─ Você entende o que está pedindo? Abriria mão de uma parte sua? ─ Anastasia questionou. ─ Abriria mão de seu dom?
─ Dom?! ─ Alina exclamou. ─ Eu tive que abandonar meus amigos, vou ser um alvo o resto da minha vida. ─ Ela confessou. ─ Por favor, só me deixe voltar para o Primeiro Exército.
Naquele momento, vendo o medo no olhar de Alina, escutando seu pedido, assistindo seu desespero, Anastasia pensou em como já esteve no seu lugar uma vez. ─ Eu não pediria sua ajuda se não precisasse, Alina. Se Ravka não dependesse disso. ─ A Princesa confessou. ─ Eu sei que não pediu por isso, mas você nunca sentiu como se algo estivesse faltando? ─ Ela pediu. ─ Como se você nunca estivesse realmente completa? ─ Alina continuou em silêncio, desviando seu olhar. ─ Não abra mão de quem você é, Srta. Starkov, você já fez isso por tempo demais.
DEPOIS QUE OS GRISHAS SOBREVIVENTES DO ATAQUE CAUSADO PELOS DRÜSKELLE CHEGARAM em Os Alta, sem a nova Conjuradora do Sol, alegando que a Princesa havia a salvado, Kirigan percorreu os corredores do Pequeno Palácio, apenas para encontrar o quarto de Anastasia vazio e para descobrir que, aparentemente, ela havia fugido durante a madrugada.
Ele respirou fundo, tentando afastar todas as possibilidades de ela estar em perigo de seus pensamentos. Seu semblante sério assustava seus soldados que atenderam seus pedidos apressadamente, preparando os cavalos e reunindo os Grishas para saírem em busca da Conjuradora.
Antes que eles começassem sua busca, os dois cavalos se aproximando fizeram com que eles cessassem sua ação. O Hidro Nazyalensky foi o primeiro a aparecer, ao seu lado a Princesa acompanhada da cartógrafa. Ela ajudou Alina a descer e, em seguida, foi auxiliada por Luka que manteve sua mão presa na dela mais que o necessário ─ algo que não passou despercebido pelo General.
Com seu kefta azul com bordados prateados, seus cabelos escuros longos presos em um rabo, seu olhar nada amigável, Zoya mantinha sua postura perfeita ao lado do Conjurador das Sombras, com Genya próxima aos dois.
O olhar do General estava fixo em Anastasia conforme os três se aproximavam do Conjurador. ─ Levem a Srta. Starkov até seus aposentos. ─ A voz de Kirigan soou e seus soldados pararam ao lado de Alina.
─ Espera. ─ Ela pediu. ─ E você? ─ Ela perguntou, olhando para Anastasia.
─ Vou te ver em breve, Srta. Starkov. ─ A Princesa a confortou. ─ Genya, a ajude, por favor. ─ A Lantsov pediu.
─ Eu sou uma prisioneira? ─ Alina questionou, fazendo com que os olhos de Kirigan se voltassem para ela.
─ Toda Ravka é. ─ Ele afirmou. ─ Até que a Dobra seja destruída. ─ Ele fez um sinal para seus soldados, que acompanharam Alina, sendo seguidos por Genya. ─ Eu falo com você depois. ─ Ele disse, olhando para o Hidro, que assentiu e foi até sua irmã. ─ Podemos conversar? ─ O General pediu, voltando seu olhar para a Princesa.
Ela assentiu e sentiu a mão de Kirigan repousar em suas costas, a guiando para dentro do Pequeno Palácio. Durante todo o caminho, o silêncio imperou, o Conjurador permaneceu com sua feição séria, trincando seu maxilar, seus passos sendo o único som que invadia os ouvidos de Anastasia.
Quando entraram pelas portas que continham o símbolo do Darkling, antes que ela pudesse virar para encará-lo, ele encostou delicadamente seu corpo na parede, colocando seu braço na estrutura, repousando sua testa no ombro da Princesa. Ela podia sentir seus cabelos escuros tocando sua pele, sua respiração falha, seus dedos percorrendo seu braço, seu cheiro preenchendo todos os seus sentidos.
─ Eu estava preocupado com você. ─ Ele confessou, sua voz rouca, sua mão a segurando pela cintura, a puxando para mais perto. Ela encostou sua cabeça em seu peitoral, sentindo seus batimentos acelerados.
Anastasia fechou seus olhos, apreciando o toque de Kirigan. ─ Eu... ─ Ela começou, acalmando o ritmo de sua respiração, mas o Conjurador a interrompeu.
─ Eu não estou bravo por você ter fugido, Ana. ─ Ele confessou. ─ Eu sei que você sabe se defender, eu sei que está mais do que pronta para lutar, eu...─ Ele disse, recuando para olhá-la. ─ ... Eu estava sendo egoísta te mantendo aqui. ─ Kirigan contou. ─ Você significa tanto para mim e eu acabei negligenciando o que você quer, o que você precisa fazer. ─ Ele continuou. ─ Eu sinto muito por isso. ─ Ele disse, quase como um sussurro, repousando sua testa na dela. ─ Só o que eu posso pedir, Anastasia, é para que você não fuja de novo.
Anastasia não o respondeu, palavras não eram necessárias, ele conseguia entendê-la através de seu silêncio. Sua boca a poucos centímetros de distância dos lábios de Anastasia. Ela sentiu a mão dele tocar seu pescoço, o poder que ele emanava parecia percorrer suas veias, chamando sua luz sedutoramente. Ela ansiava cada vez mais por Kirigan. Ele a beijou, a prendendo contra a parede.
A luz não poderia existir sem as sombras. E ela nem queria, porque nunca foi tão hipnotizante estar em queda livre em direção à escuridão.
NO DIA SEGUINTE, ANASTASIA ASSISTIU ENQUANTO ALINA STARKOV, a cartógrafa do Primeiro Exército, se apresentava diante do Rei. Ela foi colocada em um uniforme padrão, seu rosto coberto por um véu ─ em razão de uma tradição de seu país ─ e as reações à nacionalidade refletida por sua aparência não poderiam ter sido mais grotescas. Alguns membros da elite ravkana diziam como ela se parecia com o inimigo e outros como ela era exótica. Sua mãe havia até mesmo cogitado que Alina não falava sua língua.
Ravka estava infestada de pessoas preconceituosas que carregavam títulos importantes. Anastasia se perguntou como teria sido para Alina, sua infância no orfanato, seu papel no Exército, nunca se encaixando. E, talvez, fosse por isso que ela não quisesse ser ainda mais diferente.
Anastasia estava ao lado de trono de sua mãe, junto com a família real, quando Alina encostou sua mão no braço do General, permitindo que sua luz se espalhasse por todo o salão. Quando ela sentiu o poder de Alina tocá-la, algo dentro dela parecia implorar por mais, implorar para ter aquele luz por completo. Uma dor angustiante atingiu sua cabeça, uma dor que ela não sentia há muito tempo.
O Rei estava impaciente, exigiu que Alina fosse treinada o mais rápido possível. Eles viam a Princesa e a órfã como sua arma mais poderosa, esperando ansiosamente o momento que poderiam usá-las. Anastasia acreditava fielmente que Alina era a peça que faltava em seu quebra-cabeça, mas as vezes se questionava se isso seria suficiente.
Agora, de pé ao lado de Luka, ela assistia o primeiro treinamento de Alina com Botkin ─ responsável por treinar todos os Grisha ─, aguardando a oportunidade de poder conversar com a cartógrafa. Ela trajava um kefta azul com bordados dourados, o primeiro que a Lantsov havia usado. Seu rosto já estava diferente, ter usado seu dom havia a deixado mais forte.
Botkin havia pedido que Alina escolhesse um de seus alunos para demonstrar o que sabia fazer e, quando Anastasia viu para quem a Starkov apontou, ela soltou um suspiro.
─ Por favor, me diga que ela não escolheu a Zoya. ─ Anastasia afirmou, olhando para o Hidro.
Ele gargalhou. ─ Ela vai levar uma surra. ─ Luka disse e a Princesa concordou com a cabeça.
─ Ela vai. ─ Anastasia afirmou.
Botkin avisou Alina sobre ter treinando a Nazyalensky desde que ela era uma criança e, assim que a cartógrafa tentou socá-la, Zoya foi mais rápida e a derrubou com o pé, deixando Alina caída no chão.
Luka se divertia com a situação. Alina pediu para tentarem de novo e, dessa vez, Zoya a pegou pelo braço, ficando em cima da nova Conjuradora, sussurrando algo que não foi possível decifrar.
─ Acho que vamos ter que interferir. ─ Anastasia declarou, escutando o murmúrio de frustração do Hidro.
─ Sério? ─ Ele questionou. ─ Zoya sabe que ela é importante, não vai machucar a garota de verdade.
Botkin avisou a Aeros, dizendo para ela pegar mais leve e, assim que ela deu as costas, Alina correu para cima dela, socando seu rosto. Anastasia viu quando os punhos de Zoya se fecharam, quando suas mãos se levantaram e ela lançou a Starkov para longe com seu ar.
─ O que você disse mesmo? ─ Anastasia perguntou ironicamente.
─ Droga! ─ Ele exclamou, indo em direção à sua irmã, mas a Princesa o parou.
─ Ajude Alina, eu cuido da Zoya. ─ A Lantsov disse e o Hidro assentiu.
A Aeros caminhava até Alina, ignorando os protestos de seu professor. Ela levantou suas mãos mais uma vez, mas não os moveu mais quando sentiu os dedos de Anastasia segurarem seu punho. ─ Eu não faria isso se fosse você.
Zoya a afastou bruscamente, seu olhar furioso, mudando seu caminho para a direção oposto de Alina. A Princesa escutou os sermões de Botkin, criticando a Aeros por ter atacado a Conjuradora do Sol.
A visão de Alina estava embaçada. Luka estava ao seu lado, tentando mantê-la acordada. Anastasia se aproximou dela, se abaixando para ajudá-la. ─ Nós sempre estamos nos encontrando assim, Srta. Starkov. ─ Ela confessou.
A Lantsov e o Hidro levantaram a cartógrafa. ─ Consegue ficar de pé? ─ Ela perguntou, recebendo um aceno de Alina. ─ Eu vou cuidar dela, você devia ir conversar com a Zoya. ─ Anastasia contou e o Hidro foi atrás de sua irmã, que havia saído do campo de treinamento irritada.
─ Você tem um bom soco. ─ A Conjuradora afirmou. ─ E, cá entre nós, Zoya mereceu. ─ Anastasia disse, arrancando uma risada da Starkov.
E, no meio de suas gargalhadas, a Princesa e a órfã perceberam que, apesar de tão diferentes, elas poderiam achar conforto em suas semelhanças.
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