𝐢𝐱. 𝘵𝘩𝘦𝘺 𝘸𝘦𝘳𝘦 𝘭𝘪𝘬𝘦 𝘧𝘪𝘳𝘦 𝘰𝘯 𝘧𝘪𝘳𝘦

CAPÍTULO NOVE
ELES ERAM COMO FOGO EM CHAMAS

━━━━━ we need to fight.
all of us.   











 







SUA RESPIRAÇÃO OFEGANTE, SEUS BATIMENTOS ACELERADOS, as gotas de suor que haviam começado a escorrer pela sua face, seus músculos que gritavam por descanso, nenhuma dessas coisas fizeram com que Amara parasse.

Seus olhos estavam fixados no alvo à sua frente. Sua atenção estava presa em todos os movimentos que ele fazia. Ela acompanhava tudo detalhadamente, esperando o melhor momento para atacá-lo. Seu poder queria sair, Amara conseguia sentir ele se espalhando sob sua pele. Mas ela não permitiria. Não agora.

O homem se aproximou rapidamente, tentando desferir um soco em sua face. Muito lento, ela pensou. Ela se defendia com seus braços, enquanto ele continuava tentando atacá-la com os punhos. Seus pés recuaram alguns centímetros. Ele era mais forte, isso era óbvio, mas ela podia usar sua força contra ele mesmo.

A morena o chutou, fazendo com que seu corpo caísse para trás. Habilidosamente, ele ficou de pé mais uma vez, um sorriso de lado se formou em seus lábios. Ela já esperava isso, afinal, ela conhecia todos os seus passos. Ele sacou sua espada, arrancando uma gargalhada de Amara.

─ Já? ─ Ela questionou, sua risada ressoando pelos ouvidos do homem.

A resposta dele veio na forma de um novo ataque. Ela sentiu a lâmina passar raspando em sua bochecha. Ele era bom, mas ela era melhor. Amara continuou desviando, observando a face de frustração de seu adversário. Era divertido para ela.

Quando ele ergueu seu braço mais uma vez, se preparando para avançar, a morena segurou seu punho. Ela chutou sua outra mão, fazendo com que sua espada caísse no chão. Amara jogou o peso do corpo dele em suas costas, o derrubando e colocando o joelho em seu peito.

O homem tentou se mexer, mas era tarde demais. A morena já tinha sua faca em seu pescoço, esbajando um grande sorriso em seu rosto. Ele a olhou, os raios solares iam de encontro com sua pele, os cabelos negros caiam delicadamente em seus ombros e o sangue escorria de sua bochecha esquerda ─ ele havia a cortado.

─ Você está melhorando, Aleksander. ─ Ela disse, guardando sua faca, mas se mantendo em cima do corpo do Conjurador.

Ele passou seu dedo pela ferida na face de Amara e ela fechou os olhos quando sentiu seu toque. ─ Não o suficiente. ─ Ele respondeu.

─ Você conseguiu me atingir dessa vez. ─ Amara afirmou e viu os olhos do moreno se entristecerem. ─ Foi só um corte, é para isso que estamos treinando. Não precisa se preocupar. ─ A morena aproximou seus lábios da boca de Aleksander, o beijando. Ele segurou seus cabelos e eles se afastaram, mantendo seus narizes encostados.

Amara se levantou, esticando sua mão para ajudar o Conjurador. ─ Não entendo porque precisamos treinar todos os dias e não podemos usar nossos poderes. ─ Ele disse, parando ao lado dela.

De longe, ela conseguia enxergar o pequeno vilarejo de Grishas. Eles se mantinham em uma cabana mais afastada, já que era mais seguro não se aproximar. Nunca deixe eles te conhecerem, Baghra dizia.

─ Não podemos depender sempre dos nossos poderes. ─ Amara afirmou, mantendo seu olhar no vilarejo. ─ Precisamos lutar. ─ Ela disse, soltando um suspiro. ─ Todos nós.

As rodas da carruagem iam de encontro com o solo pedregoso. O vento estremecia os galhos das árvores delicadamente enquanto os primeiros raios solares apareciam em seu campo de visão. Pela janela transparente do veículo, ela observava como a paisagem ia lentamente mudando na medida que se aproximava de Os Alta.

Anastasia estava voltando para casa mais uma vez. Casa. Ela se perguntava se o Castelo ainda era seu lar, mas a pergunta certa era se algum dia aquele lugar pareceu um lar para ela. Depois de tudo que aconteceu, ela não sabia responder. Ou, talvez, estivesse com medo da resposta.

─ Você deveria tentar descansar, Princesa. ─ A voz séria de Ivan quebrou o silêncio que havia se instalado desde o início da viagem.

A morena já havia notado algumas coisas sobre Ivan ─ conhecido como o braço direito do Darkling. Sua feição nunca mudava, seu kefta vermelho com bordados pretos sempre estava impecável e, em alguns instantes, ela conseguia ver um pouco de curiosidade em seus olhos.

Ao lado do Corporalki estava Fedyor com uma expressão um pouco mais alegre, entretanto, Anastasia ainda encontrava preocupação em sua face. O Sangrador costumava conversar com a Princesa, sempre arrancando um sorriso da mesma, mas, dessa vez, parecia que todos estavam receosos de se aproximarem dela.

Anastasia ajeitou o kefta vermelho com bordados cinza ─ que Kirigan havia pegado de algum Curandeiro ─ e respirou fundo. ─ Não estou cansada. ─ Ela afirmou, colocando uma mecha de seu cabelo escuro atrás de sua orelha.

Sua frase era, claramente, uma mentira. Seus momentos de descanso eram breves, nunca longos demais. Ela sabia que se dormisse por muito tempo, seus pesadelos a atormentariam.

Ela passou o dedo pela sua mão, relembrando o toque de Kirigan. O modo como ele havia a beijado há algumas noites, a maneira como ele dormiu ao seu lado, agarrado à seu corpo. As memórias fizeram com que um sorriso discreto surgisse em seu rosto.

Anastasia se lembrou de como ela o abraçou, se despedindo, sentindo os braços dele em volta dela. Ela se lembrou de como ele disse que logo estaria indo para Os Alta também, procurando confortá-la.

Desde o primeiro dia, desde o momento que seus olhos se encontraram, Anastasia soube que havia algo a mais que os conectava. A energia que sempre a puxava para perto dele. A necessidade que surgia dentro dela de não sair do lado do Conjurador. Era possível ter sido o seu poder todo esse tempo? A única coisa que Anastasia tinha certeza era que ansiava cada vez mais por Kirigan.

A Princesa sentiu o olhar de Fedyor sobre si e se pronunciou. ─ Você pode me perguntar o que quiser, sabia? ─ Ela olhou para o Sangrador que tentou disfarçar sua expressão de surpresa. ─ Eu consigo sentir sua curiosidade desde que entramos nessa carruagem, Fedyor.

O Corporalki suspirou. ─ Você realmente não sabia? Não sabia que era a Conjuradora do Sol? ─ Ele questionou, recebendo um olhar de desaprovação de Ivan.

Anastasia negou com a cabeça. ─ Não. ─ Ela respondeu. ─ Eu não sabia. A família real não é testada, a linhagem Lantsov não produz Grishas. ─ Ela confessou, abaixando seu olhar. ─ Mas acho que vocês já estavam cientes disso.

A Princesa voltou sua visão para a paisagem, enquanto Ivan repreendia Fedyor em silêncio, demonstrando pelos seus gestos que o Sangrador deveria ficar quieto. Anastasia não se importava, ela repetiu para si mesma várias vezes que não se importava. Ela sabia que as pessoas falariam disso. A bastarda.

Talvez, se ela repetisse o suficiente, se tornaria verdade. Ela não se importaria de verdade. Ela cogitou perguntar quem era seu pai, o porquê de sua mãe ter mentido, mas essas não eram as respostas que ela queria. Era por isso que seu pai a odiava tanto? Ao mesmo tempo que a única coisa de errado que ela fez foi amá-lo?

─ Têm mais soldados do que da última vez. ─ Anastasia comentou, notando a quantidade de indivíduos que os seguiam em seus cavalos, alguns eram Grishas e outros membros da Guarda Real.

─ As notícias se espalham rápido, Princesa. ─ Ivan afirmou. ─ Você não é mais só a Princesa de Ravka, agora todo o Reino depende de você. ─ O Sangrador continuou. ─ Todos os nossos inimigos virão por você.

"Ótimo." A morena pensou. O alvo em suas costas só aumentava, ela não tinha ideia de como conjurar o Sol e, definitivamente, ela não se sentia como uma heroína.

Bruscamente, a carruagem parou. A única coisa em volta era uma floresta densa. Um Grisha com o kefta azul bateu na porta, recebendo um olhar furioso de Ivan.

─ Por que paramos? ─ Ele perguntou, encarando o soldado.

─ Existe uma barreira na frente, talvez a tempestade de ontem tenha derrubado as árvores, vai levar alguns minutos para liberarmos o caminho. ─ O Grisha disse, sua feição deixava evidente que temia o Sangrador.

O Corporalki fez um sinal para Fedyor e, quando os dois começaram a fazer seu caminho para fora, Anastasia tentou segui-los, mas o braço de Ivan a parou. ─ Não saia daqui. ─ Ele disse, em um tom de ordem.

A feição da Princesa deixou evidente que ela não gostou da atitude do Sangrador. ─ É para o seu bem, Ana. ─ Fedyor afirmou com um sorriso simpático, dando as costas para a morena.

Primeiro, ela escutou o som da porta se fechando. Depois, o barulho das botas dos soldados se movimentando rapidamente. Por último, ela escutou quando alguém gritou "Druskelle". Ela reconhecia esse nome. Eles eram caçadores de Grishas. Era uma armadilha.

Os sons de tiros só aumentavam. Anastasia procurava algo para se defender, mas não havia nada. E, mesmo se tivesse, ela não saberia o que fazer. A morena sentou no chão, encolhendo suas pernas. Ela queria correr, mas seu corpo não a obedecia.

Gritos. Tiros. Ela parecia estar no meio de uma Guerra. Uma guerra que ela nunca havia feito parte e, agora, era o centro dela. Uma bomba de fumaça quebrou a janela e ela deitou, seus pulmões buscando por ar.

A porta foi arrebentada com força e a primeira coisa que ela viu quando a fumaça se dispersou foi um Druskelle. Ela reconhecia os traços Fjerdanos. Os olhos azuis, a longa barba, os cabelos claros. Ela tentou se afastar, mas não tinha para onde fugir.

O homem a puxou pelas pernas enquanto ela gritava, esperando que alguém a ouvisse. Mas todos estavam ocupados lutando suas próprias batalhas. Ela tentava chutá-lo, agarrar suas mãos em algo, mas nada adiantava. ─ Por favor, me solte! ─ Ela pediu. ─ Sten! ─ Ela disse, dessa vez, em fjerdano.

─ Drüsje. ─ Ela escutou a voz do homem que soltou sua perna, retirando uma faca de suas vestes. Ela começou a se afastar, mas o Druskelle foi mais rápido e enfiou a lâmina em sua coxa direita.

Ela pôde sentir a dor que se espalhou em sua perna. Ela soltou um gemido, continuando a se arrastar pela grama. O Fjerdano a virou, prendendo-a com seu corpo.

Ela implorava pelo seu poder. Implorava por qualquer coisa. Mas nada respondia. As lágrimas começavam a escorrer pelo seu rosto, enquanto o homem retirava a faca de sua coxa e se preparava para atingí-la no coração.

De longe, em um cavalo negro, o Darkling se aproximava. Quando viram sua presença, a maioria dos Druskelle fugiu, menos aqueles que ele conseguiu matar. Entretanto, ele não encontrava Anastasia. Até que, no meio de tanto barulho, ele conseguiu escutá-la.

O homem ergueu seu braço, reunindo suas forças para atacá-la. Era assim que ela morreria? Sozinha, assustada e sem poder nenhum? Mas, antes que ele pudesse cumprir seu objetivo, a mão de Anastasia segurou seu punho, o torcendo, fazendo com que sua faca caísse no chão.

Ela não tinha ideia de como estava fazendo aquilo, mas, em um movimento rápido, ela segurou o braço do homem, colocando seu peso em suas costas e o derrubando no chão. Seu joelho estava em seu peito e a faca ─ avermelhada em razão de seu sangue ─ estava apontada na garganta do Fjerdano.
Kirigan conhecia aquele golpe. Era o golpe de Amara. Ela estava lá, em algum lugar, dentro de Anastasia.

Anastasia precisava matá-lo. Ele faria o mesmo com ela. Entretanto, quando ela olhou para os olhos claros do Druskelle, tudo que ela viu foi medo. Não havia raiva, nem rancor. Só o medo. Ele tinha medo dela.

Então, sua mente a levou de volta para aquela cabana. Para o homem que ela matou. Os mesmos olhos. A Princesa largou a faca e se afastou, suas mãos sentindo a grama que a cercava e seus batimentos cardíacos acelerados eram a única coisa que ela escutava.

Ela não viu quando o homem se levantou, preparado para atacá-la de novo. Ela levantou seu olhar, se deparando com o Druskelle e, em questão de segundos, uma sombra apareceu, cortando-o no meio. O sangue do Fjerdano escorria pela sua face. Quando Anastasia encarou suas mãos, tudo que ela viu foi sangue.

─ Ana, você está bem?! ─ Ela sentiu o toque de Kirigan em seus braços, sua voz rouca repleta de preocupação. Ela mantinha seu olhar em suas mãos e, quando teve coragem para encará-lo, encontrou seus grandes olhos escuros a encarando.

O kefta preto dele estava intacto, sua capa escorregava pelo chão da floresta. Anastasia apenas fez "sim" com a cabeça, porque ela realmente não sabia dizer se estava bem. O General a ajudou a se levantar, mantendo seu braço em volta dela até chegarem em seu cavalo.

─ Você vem comigo agora. ─ Ele afirmou, a colocando no cavalo e subindo logo em seguida.

Atrás deles, tudo que Anastasia enxergava era um corpo partido no meio e o cenário de uma Guerra. Uma guerra que não chegaria ao fim tão cedo.

A ferida em sua perna ardia. O pano úmido ia de encontro com seu corte e era inevitável um gemido de dor escapar de seus lábios. Kirigan limpava delicadamente o ferimento, fazendo um curativo com alguns utensílios médicos que carregava.

Uma tempestade começou a se formar e eles precisaram buscar abrigo em uma pequena cabana, aparentemente abandonada. Não era incomum encontrar lugares assim em Ravka. Todos estavam fugindo da guerra.

O olhar de Anastasia ainda estava perdido, processando todos os últimos acontecimentos. ─ Quando chegarmos no Pequeno Palácio, os Curandeiros vão cuidar de você. ─ Ele afirmou, amarrando uma faixa em volta de seu machucado.

A Princesa assentiu. O General retirou um lenço de seu bolso e começou, gentilmente, a passá-lo pelo rosto da morena, limpando sua face coberta por sangue. ─ O que houve lá? ─ Anastasia perguntou, prestando atenção no sangue impregnado naquele lenço.

─ Druskelle são treinados para se infiltrar em nossas defesas. ─ Ele começou. ─ Provavelmente, já estavam se preparando para atacá-la há dias. Eu pensei que se eu não viajasse com você seria mais segura, mas eu estava enganado.

─ Eu sei quem eles são. ─ A morena respondeu. ─ Quero saber como você cortou aquele homem no meio. ─ Ela afirmou, olhando para o Conjurador.

─ Há matéria em tudo, Ana. ─ Kirigan disse. ─ Até no Ar. Ou na Sombra. Mas é muito pequena para ser vista. ─ Ele continuou, passando o lenço por sua bochecha. ─ O Corte é algo que um Conjurador consegue fazer, mas reque muita habilidade. Habilidade que você terá quando receber seu treinamento.

─ Não. ─ A voz falha de Anastasia soou nos ouvidos de Kirigan. ─ Eu não faria isso... eu não cortaria uma pessoa no meio.

─ Ele ia te matar. ─ O General respondeu. ─ É algo que eu apenas uso como último recurso, mas eu usaria de novo se fosse preciso. ─ Ele afirmou. ─ Sinto muito que você tenha passado por isso. Mas essa é sua vida de agora em diante.

─ Essa sempre foi a minha vida, Kirigan. ─ Ela confessou. ─ Mas eu nunca fui uma assassina. Não quero ser uma. ─ Anastasia respirou fundo. ─ Aquele homem... ele estava com medo. Ele tinha medo de mim.

─ Todos têm medo de você, Ana. ─ Kirigan contou. ─ Você é uma lenda que se tornou realidade. Você pode acabar com essa Guerra. ─ Ele segurou as mãos da Princesa.

─ Eu não consegui nem salvar minha própria vida e você espera que eu salve a de todos nós? ─ Ela questionou, soltando uma leve risada.

─ Sim. ─ Ele respondeu sério, arrancando um sorriso de Anastasia.

─ Há alguns dias eu estava morrendo e agora, o futuro de Ravka depende de mim. ─ Ela disse. ─ E se eu não conseguir fazer isso?

─ Eu vou estar do seu lado, Ana. ─ Kirigan afirmou, passando a mão pelos cabelos da Princesa. ─ Nós vamos conseguir. Juntos.

"Juntos". A palavra ecoava pelos pensamentos de Anastasia. Ela passou a vida toda cercada pela solidão e, pela primeira vez, ela não estava sozinha. E ela sentia que Kirigan não a deixaria sozinha de novo.

─ Obrigada. ─ Anastasia disse, repousando sua mão no rosto de Kirigan e encostando sua testa na dele. ─ Obrigada. ─ Ela disse, mais uma vez, antes de permitir seus lábios de irem ao encontro dos dele.

A língua do Conjurador explorava cada canto da boca de Anastasia. Ela segurava forte em seus cabelos. Ele a prendia pelo pescoço, a puxando para cada vez mais perto de si.

A mão de Kirigan começou a descer pelas suas costas e seu beijo se aprofundava. Seus beijos se desviaram para o pescoço da Princesa, que jogou sua cabeça para trás, sentindo todo o poder que o toque do General emanava pela sua pele.

Ele a ergueu e ela entrelaçou suas pernas na cintura de Kirigan. ─ Tem certeza? ─ Ele perguntou, recuperando o ar.

A morena sorriu. ─ Sim. ─ Ela respondeu. ─ Nunca tive tanta certeza de algo. ─ Ele sorriu de volta, a beijando mais uma vez.

Naquela noite, Anastasia se perdeu na escuridão e ela não tinha certeza se queria encontrar seu caminho de volta. Naquele noite, eles eram como fogo em chamas.









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