𝐢𝐯. 𝘩𝘪𝘴 𝘥𝘢𝘳𝘬𝘯𝘦𝘴𝘴 𝘤𝘢𝘭𝘭𝘦𝘥 𝘧𝘰𝘳 𝘩𝘦𝘳

CAPÍTULO QUATRO
❝ A ESCURIDÃO DELE CHAMAVA POR ELA ❞

                                    ━━━━━ she wanted all
                                                         of him.



















DESEJO. ATRAÇÃO. PODER. Esses foram os sentimentos que Anastasia sentiu quando seus lábios foram tocados pela boca de Kirigan. Ela ainda podia sentir o toque dele em sua pele, o caminho que sua mão percorreu, como se colocasse em chamas a extensão que seus dedos trilhavam.

A energia que ela sentiu. A eletricidade que explorou cada canto de seu corpo. Nada seria o mesmo depois daquele beijo, ela sabia disso. Era como se ele tivesse deixado sua marca nela. A escuridão dele chamava por ela. E algo dentro de Anastasia desejava aquela escuridão.

Quando os dois se separaram, lentamente, em meio a respirações ofegantes e ainda mantendo suas testas unidas, uma leve risada escapou dos lábios de ambos, enquanto mergulhavam um no olhar do outro.

Kirigan passou sua mão pela face de Anastasia, que fechou os olhos ao sentir o toque do General em seu rosto. ─ Talvez... ─ A princesa disse, quase como um sussurro, ainda tentando recuperar o ar que seus pulmões pediam. ─ ... Talvez nós devemos ir um pouco mais devagar.

O efeito que Kirigan causava em Anastasia era novo para ela. Na primeira troca de olhares, o Grisha ficou preso em seus pensamentos e, mesmo que ela tentasse expulsá-lo às vezes, ela percebeu que pensar nele era inevitável.

Havia algo nele. Algo que ela não entendia. Algo que a puxava para ele. Mas tudo estava indo tão rápido. Anastasia não o conhecia, não como queria. As pequenas conversas que compartilharam, apesar de boas, não permitiram que ela soubesse quem ele era.

E Anastasia o queria. Ela tinha certeza que queria. A atração era inegável. Mas ela também queria mais que isso. Ela o queria por inteiro. Ela queria conhecê-lo, desvendá-lo, se perder na imensidão que era o General Kirigan.

─ Sim. ─ O Conjurador respondeu com um sorriso de canto em seu rosto. ─ Talvez. ─ Ele disse, afastando seu toque de Anastasia e oferecendo seu braço à ela. ─ Vou te acompanhar até o seu quarto.

Depois que Kirigan a deixou em seus aposentos, se despedindo em sua porta, depositando um delicado beijo em sua testa, dormir ─ que já era algo difícil para a princesa ─ tornou-se impossível.

Seu coração acelerado, seus pensamentos conturbados, seus dedos que tocavam seus lábios se relembrando daquele momento. Tudo impediu que ela dormisse. E a princesa não se importou. Ultimamente, seus sonhos haviam se tornado pesadelos e passar a noite revivendo uma memória boa pareceu melhor do que sofrer com um sono inquieto.

Agora, enquanto ela sentia a brisa do inverno de Ravka ir de encontro a sua pele e o som dos pássaros preenchia os seus ouvidos, os acontecimentos da noite passada ainda perambulavam pela sua cabeça.

─ Ana, por que está tão distraída hoje? ─ A voz de seu irmão a puxou de seus pensamentos, fazendo com que ela voltasse sua atenção para Vasily.

Seu irmão havia a convidado para um café da manhã, próximo ao lago do Pequeno Palácio. A mesa estava repleta de suas comidas favoritas, de longe ela conseguia observar o treino de alguns Grishas e a natureza em volta do edifício fazia com que ela se sentisse em casa.

─ Aconteceu alguma coisa? ─ Vasily perguntou. ─ Você parece cansada.

─ Eu estou bem, Vasya. ─ Anastasia respondeu, sorrindo para seu irmão. ─ Você precisa parar de se preocupar tanto comigo. ─ Ela segurou a mão do príncipe.

─ Você sempre diz que está bem, Ana. ─ O loiro afirmou. ─ E eu nunca vou parar de me preocupar com você. Você é minha irmã. ─ Vasily confessou. ─ Falando nisso, eu conversei com nosso pai e ele disse que você pode voltar para o seu antigo quarto quando quiser.

Anastasia o olhou desconfiada, cruzando seus braços. ─ Eu não acho que ele disse isso.

─ Ele não disse com essas exatas palavras. ─ Vasily contou. ─ Mas estava implícito.

A princesa gargalhou, arrancando um sorriso de seu irmão. ─ Eu agradeço, Vasya, mas não quero ficar lá sem ser bem vinda. ─ Ela disse, tentando esconder a pontada de tristeza em seu olhar. ─ Eu gosto daqui e, sinceramente, o jeito que ele olha para mim... eu não suporto. ─ A princesa confessou, segurando as lágrimas que insistiam em se formar em seus olhos.

Anastasia balançou sua cabeça, trocando seu olhar triste por um largo sorriso em sua face. ─ E você deveria estar se preocupando com outras coisas. Você é nosso futuro Rei. Deveria estar preocupado com a Guerra e usando seu tempo livre para procurar uma esposa.

Vasily revirou os olhos. ─ Você também? Nossa mãe não para de me incomodar com esse assunto de esposa. ─ Ele suspirou. ─ Eu não quero me casar.

─ Você pode não querer, mas precisa. ─ Anastasia afirmou. ─ Você vai precisar de uma Rainha quando se tornar Rei.

─ Eu já tenho uma Rainha. ─ O loiro disse, olhando para Anastasia. ─ Você vai governar ao meu lado. ─ Ele falou com seu olhar de sonhador. ─ Eu, você e Nikolai. Na verdade, mais você. ─ O príncipe deu de ombros. ─ Você sempre foi mais inteligente que nós dois.

Vasily tomou um gole de sua bebida, enquanto sua irmã ria escutando os planos do herdeiro. Ela queria realizar o sonho de Vasya, ficar reunida com seus irmãos de novo. Mas Anastasia sabia que seu tempo estava se esgotando.

─ Sobre isso... eu tenho algumas ideias que eu preciso que você diga ao Rei que foram suas ideias. ─ A princesa confessou, vestindo sua expressão mais fofa, usada quando precisava da ajuda de seu irmão.

O príncipe, que aproveitava sua refeição como se tivesse passado fome nas últimas semanas, fez um sinal para que ela continuasse. ─ O Primeiro Exército precisa de mais investimentos. ─ Anastasia declarou.

─ A tecnologia de Shu Han e o armamento pesado de Fjerda estão acabando com nossos soldados. ─ Ela continuou, mantendo uma postura séria. ─ Nossas armas são ultrapassadas e o exército mal tem dinheiro para se alimentar.

─ A maior parte da verba vai para o Segundo Exército. ─ Vasily respondeu e sua irmã concordou com a cabeça.

─ Exatamente. ─ Anastasia disse. ─ Eles recebem os melhores alojamentos, as melhoras refeições e a produção de seus keftas é caríssima. ─ A princesa constatou.

─ Não estou dizendo que devemos tirar isso deles, mas precisa ser dividido. ─ A morena respirou fundo. ─ E os gastos reais também precisam diminuir. É inadmissível que o Rei esbanje com festas e roupas caras enquanto seu povo está passando fome.

─ Eu entendo tudo que você está dizendo, Ana. ─ Vasily afirmou, olhando com admiração para sua irmã. ─ Mas nosso pai não vai me escutar, ele só escuta o General Kirigan. ─ O príncipe disse o nome do Grisha com um tom de desprezo. ─ E eu não acredito que ele vai aceitar que o Rei tire dos Grishas para dar para o Primeiro Exército.

Anastasia ficou em silêncio por alguns instantes, pensando na fala de seu irmão. Talvez se ela conversasse com Kirigan e explicasse a situação ele entenderia. ─ Você conhece ele? ─ Vasily questionou.

─ Sim. ─ Ela respondeu e notou o olhar curioso de seu irmão. ─ Um pouco. ─ Anastasia confessou. ─ Nós conversamos algumas vezes.

─ Eu não gosto dele. ─ O loiro afirmou, tricando seu maxilar. ─ Tem algo estranho nele. Parece que ele tem nosso pai nas mãos dele. Eu não gosto disso. ─ O príncipe suspirou. ─ Fique longe dele, Ana. ─ Ele pediu, segurando a mão de sua irmã.

Mas como ela poderia ficar longe? Como ela poderia se afastar de alguém que, involuntariamente, sempre a puxava para perto? Como ela poderia ficar longe quando o que ela mais queria era estar perto?

Suas botas tocavam nervosamente o chão do Pequeno Palácio. A ansiedade que percorria seu corpo a impedir de andar com calma. Seu longo vestido azul escuro, coberto por uma capa cinza claro, tocava o piso enquanto ela caminhava pelos enormes corredores.

Depois do encontro com seu irmão, Anastasia decidiu que valia a pena tentar conversar com o General e expor suas opiniões. E, no fundo, ela gostaria de vê-lo novamente.

As grandes portas com o símbolo do Darkling estava um pouco abertas e ela aproveitou para entrar. Kirigan estava de costas, observando sua mesa redonda, onde, obviamente, ele organizava suas ações na Guerra.

Anastasia deu um toque na porta com sua mão, chamando a atenção do General. ─ Anastasia. ─ Ele exclamou com um sorriso em seu rosto. ─ Não esperava te ver tão cedo.

─ Desculpa desapontá-lo ─ Ela respondeu, fingindo um semblante triste em sua face.

Kirigan sorriu de lado. ─ Estou feliz em vê-la. ─ Ele afirmou, se aproximando dela. ─ Aliás, você está adorável.

Anastasia sorriu com o elogio, sentindo suas bochechas ficarem vermelhas, reunindo todas as forças de seu corpo para que ela não o beijasse. Ela precisava focar no verdadeiro motivo de sua visita. Mas, olhando para ele, vestido em seu kefta preto, ela soube como seu objetivo seria uma missão muito difícil.

─ Você está ocupado? ─ Ela questionou e o General negou com a cabeça.

─ Você chegou em uma boa hora. ─ Ele confessou. ─ Os problemas nas fronteiras estão piorando e..., bom, não quero te estressar com isso.

─ Na verdade, eu vim falar sobre isso. ─ Anastasia contou com um sorriso tímido. O General a olhou com curiosidade. ─ Você é o braço direito do Rei e, talvez, se falar com ele, ele vai te escutar. ─ Ela admitiu, esperançosa.

─ Qual o problema, Anastasia? ─ O Darkling perguntou, ainda não entendendo onde a princesa queria chegar.

─ O Primeiro Exército precisa de mais verba. ─ Ela começou, respirando fundo. ─ Eles precisam de melhor armamento, melhores alojamentos e precisam, principalmente, de comida.

─ Como chegou a essa conclusão? ─ Ele pediu, agora com um olhar sério.

─ Nossas armas são ultrapassadas. Nossa tecnologia está atrasada. Os soldados estão sendo massacrados nos campos de batalha e muitos estão desertando. ─ A princesa afirmou. ─ Eu não os culpo. Por que eles vão lutar se sentem que seu Rei não se importa com eles?

O General suspirou, tentando afastar a raiva que crescia em seu corpo. Como era possível Amara estar defendendo os Otkazat'sya? ─ Infelizmente, isso é impossível. Não temos de onde tirar mais dinheiro. ─ Ele disse e a princesa concordou.

─ Eu entendo isso. Mas se tirarmos algumas despesas do Segundo Exército, isso será possível.

─ Você está propondo tirar do Segundo Exército para dar para o Primeiro? ─ Ele questionou com indignação em seus olhos. ─ O único motivo de estarmos sobrevivendo à essa guerra são os Grishas.

─ Eu sei a importância do Segundo Exército. Mas eles não precisam de alojamentos individuais gigantescos enquanto os soldados do Primeiro dormem amontoados. ─ Anastasia argumentou. ─ Só o estoque de comida do Pequeno Palácio os alimentaria por semanas.

─ Eu agradeço seus conselhos, Princesa. ─ O Darkling a respondeu com raiva em seu tom. ─ Mas, enquanto você estava vivendo sua vida de conto de fadas, eu estava vivendo essa Guerra.

Anastasia o olhou em choque, fechando seus punhos e ignorando as lágrimas que se formaram em seus olhos. ─ Você não sabe nada da minha vida. ─ Ela afirmou, dando as costas para o General e saindo de seu escritório, fechando as portas atrás de si.

Kirigan derrubou o que podia encontrar em seu caminho, tentando acalmar sua raiva. Ele havia notado, pela primeira vez, a diferença gritante entre Amara e Anastasia.

Ela precisava se lembrar. E já estava na hora de ele ajudá-la a se lembrar.

O som de vozes, carroças e cavalos despertou Anastasia de seu sono. A leve luz que invadia seu quarto provava que ainda era cedo. A princesa se arrastou até a janela, tentando achar a fonte de tanto barulho.

Na frente do Pequeno Palácio estavam inúmeras carroças recheadas com diversos alimentos. Todas sendo carregadas pelos criados. Anastasia se trocou rapidamente, descendo as escadas e procurando alguém para lhe explicar o que estava acontecendo.

─ Genya! ─ Ela exclamou quando notou a ruiva de vestes brancas em uma pequena multidão de Grishas. ─ O que está acontecendo?

─ O General decidiu enviar nossos estoques de alimento para os soldados do Primeiro Exército. ─ Ela contou, fazendo com que Anastasia arregalasse seus olhos. ─ Muitos não gostaram disso.

A princesa olhou em volta, buscando a figura do Darkling. Ela o encontrou analisando o carregamento de algumas carroças. Seus olhos se encontraram e, de longe, os olhos disseram o que seus lábios eram incapazes de dizer.

A escuridão dele chamava por ela. E ela desejava aquela escuridão. Mas Anastasia ainda não sabia como era se perder dentro do escuro.

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