𝐢𝐢. 𝘵𝘩𝘦 𝘴𝘶𝘯 𝘢𝘯𝘥 𝘵𝘩𝘦 𝘮𝘰𝘰𝘯
CAPÍTULO DOIS
❝ O SOL E A LUA ❞
━━━━━ where was
her power?
EXISTIA UMA LENDA CONTADA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO. Um conto que retratava um romance impossível. Uma estória de como o Sol amava tanto a Lua que morria todas as noites, apenas para deixá-la respirar.
"Não se atreva a abandonar sua bênção de luz pela minha escuridão" A Lua pediu. Mas o Sol não poderia cumprir o seu desejo. Afinal, não existia luz sem escuridão, assim como não existia o dia sem a noite.
─ Prestem atenção. ─ Baghra começou, olhando para a jovem menina à sua frente. ─ Aqui você é Irina. ─ A garota assentiu e a mulher voltou seus olhos para o menino. ─ E você é Dimitri. Repitam em suas cabeças até se tornar o único nome que vocês lembram.
Baghra ajeitou suas vestes ─ amassadas e sujas devido a longa viagem ─ e fez seu caminho para fora da cabana, indo se encontrar com os chefes do acampamento Grisha.
Outro acampamento, outro nome. Amara já havia perdido a conta de quantos lugares ela tinha morado e de quantos nomes já teve. Eles nunca passavam mais de um mês em um lugar. Era perigoso.
Grishas como eles valiam mais como prêmios do que como soldados. Até mesmo para seu próprio povo.
Amara olhou em volta, observando o lugar que seria seu lar pelos próximos dias. A cabana era antiga, suas paredes desgastadas e seu teto com alguns buracos ─ que permitiam que a neve entrasse ─ revelavam a idade e a fragilidade da casa.
O cheiro era estranho e nada agradável. Ela não sabia descrever aquela cheiro sem lembrar do odor de um animal morto. Mas Amara se acostumaria. Ela sempre se acostumava.
Aleksander estava no canto do cômodo, sentando em uma cadeira de madeira, mantendo sua cabeça baixa e seu olhar concentrado em suas botas pretas gastas.
Apenas pela feição em seu rosto, Amara sabia o que ele estava fazendo ─ ela conhecia todas as expressões faciais de Aleksander e, depois de tantos anos, lê-lo se tornou algo fácil para ela e, também, sua leitura favorita.
Ele estava fazendo o que Baghra havia mandado. Tentando, com todas as suas forças, fixar aquele nome em suas memórias, até os outros nomes se tornassem apenas poeira.
─ Às vezes, eu esqueço meu nome verdadeiro. ─ Amara confessou, se sentando ao lado de Aleksander, fazendo com que seus olhos se voltassem para ela. ─ Quando isso acontece, eu fico tão assustada. ─ Ela contou, soltando um suspiro. ─ Eu sinto que quando eu esquecer ele completamente, eu vou esquecer quem eu sou de verdade.
Aleksander a observou por alguns instantes. Seu semblante triste enquanto falava, suas mãos trêmulas devido ao frio que entrava dentro da cabana e seu olhar, olhando para o nada, mas dizendo tanto.
O Conjurador tirou seu casaco, colocando-o em cima do corpo de Amara. ─ Eu também tenho medo. ─ Ele disse, quase como um sussurro, encontrando a profundeza do olhar dela. ─ Tenho medo de esquecer meu nome.
─ Eu prometo sempre me lembrar do seu nome, Aleksander. ─ Ela afirmou, repousando sua mão na mão do jovem. Quando ela disse seu nome, uma energia percorreu pelo seu corpo. Ele não escutava seu nome sair dos lábios de Amara há tanto tempo.
Ele queria pedir para que ela falasse de novo. Havia algo no jeito que ela falava o seu nome, algo que ele não sabia explicar. ─ E eu prometo nunca esquecer seu nome, Amara.
Naquele momento, sentindo o toque de Amara e se perdendo em seu olhar, ele entendeu que, talvez, sua eternidade não fosse uma maldição. Ele não estaria sozinho.
Ele teria ela. E era só isso que ele precisava.
Os músicos continuavam tocando. Os Grishas continuavam fazendo suas apresentações. O mundo continuava girando. Mas por que ela sentia como se o tempo tivesse parado?
O único som que ela escutava era o das botas escuras tocando o chão enquanto caminhavam em sua direção. A única coisa que ela via era o kefta preto se aproximando dela.
A cada passo que ele dava, ela sentia seu coração acelerar a batida. Sua respiração falhava, era como se seu corpo tivesse esquecido que precisava de oxigênio.
No momento em que seus olhos encontraram os olhos dele, ela não conseguiu mais deviar o olhar. Uma energia estranha percorria pelo seu corpo. Era como se algo dentro dela gritasse para sair. Gritasse por ele. Gritasse pelo o Darkling.
─ Me concede essa dança, Princesa Anastasia? ─ Ele perguntou, fazendo uma reverência e estendendo a mão em sua direção.
Sua voz era rouca. Ela queria escutá-la de novo. Ela não sabia explicar, mas a sensação de escutá-lo dizendo seu nome foi diferente. Foi novo. Um novo que ela queria explorar.
Anastasia aceitou a mão dele e, quando seus corpos se tocaram, ela sentiu mais uma vez a energia que arrepiou sua pele. ─ Bem vinda de volta a Os Alta, Princesa. ─ Ele afirmou, repousando sua mão na cintura da princesa.
─ Obrigada. ─ Ela respondeu, seus olhos ainda presos na escuridão do Darkling. ─ É bom estar de volta.
Ele a rodopiou, depois trouxe seu corpo de encontro ao dele novamente. ─ Sou o General Kirigan. É um prazer conhecê-la. ─ Ele afirmou com um sorriso em seu rosto.
─ Eu sei quem você é. ─ Anastasia declarou e ela notou o olhar do General mudar junto com sua postura séria. ─ Todo mundo sabe quem você é. O General do Segundo Exército. Contavam várias histórias sobre você no vilarejo. ─ Ela explicou e, não sabia ao certo, mas pensou ter flagrado uma pontada de decepção em seus olhos.
─ Entendo. ─ Ele respondeu, respirando fundo e trazendo seu sorriso de volta. ─ E que histórias você ouviu sobre mim, Princesa?
O Darkling. O Conjurador das Sombras. O segundo em comando depois do Rei. O Grisha mais poderoso. Ele servia seu pai antes mesmo de ela ter nascido, mas olhando em seu rosto, ele não aparentava ser nem um ano mais velho que ela.
Ela tinha lido que Grishas poderosos viviam mais tempo. "Ele não é humano." Ela se lembrou da fala de uma das criadas da Duquesa. Mas, olhando para o Darkling, ela soube que a maioria das estórias que havia ouvido eram mentiras.
─ Eu posso te contar, mas com uma condição. ─ Anastasia respondeu, arrancando um olhar curioso do General. ─ Só me chame de Anastasia.
Ele assentiu, um pouco surpreso. Antes que ele pudesse continuar a conversa, um Grisha de kefta vermelho com bordados pretos interrompeu a dança, sussurrando algo no ouvido do general.
─ Eu sinto muito, mas eu preciso ir. ─ Ele declarou e o olhar de desapontamento na face da princesa não passou despercebido. ─ Mas estou ansiosa para ouvir suas estórias, Anastasia.
Ele fez um reverência e beijou a mão de Anastasia. A princesa ficou assistindo ele partir, a escuridão sumindo no meio da multidão. Uma escuridão que chamava por ela. E ela, chamava por ele.
As luzes vindas do Grande Palácio iluminavam todo o cômodo. Ele conseguia ouvir os barulhos vindos da festa, enquanto observava o edifício de sua varanda.
Ele havia a encontrado. Depois quatro séculos, ela havia voltando para ele. E, por muitos anos, ela esteve ali, bem na sua frente, mas ele não tinha a enxergado.
─ Pediu para me chamar, General? ─ Ele se virou para encontrar o homem de vestes Corporalki.
─ Sim, Fedyor. ─ Ele respondeu. ─ Eu soube que você veio na carruagem da Princesa Anastasia.
O Grisha assentiu, mantendo a postura ereta e as mãos atrás de seu corpo. ─ Sim, General.
─ É como ela é? ─ O Conjurador das Sombras perguntou e uma expressão confusa se formou na face do Grisha.
─ Desculpe, General, eu não entendi. ─ Fedyor respondeu. O Darkling o lançou um olhar sério, se aproximando do soldado.
─ Eu perguntei como ela é. ─ Ele repetiu, claramente irritado por ter que pedir novamente.
─ Ela é... ─ Fedyor pensou em como poderia descrevê-la. Eles tiveram algumas conversas e ele gostou da companhia da princesa. ─ ...diferente.
─ Diferente?
─ Sim. ─ Fedyor assentiu. ─ Ela é diferente de sua família. Gentil, engraçada e inteligente. Muito inteligente. ─ Ele contou, lembrando-se de Anastasia.
─ Está dispensado, Fedyor. ─ O Darkling afirmou e o soldado fez uma reverência, saindo do escritório do General.
Ele caminhou em direção ao seu quarto, se aproximando de uma porta grande e escura. Retirou a chave de suas vestes e a colocou na fechadura.
Anastasia. Gentil, engraçada. Muito inteligente. Diferente de sua família. Ele até pensou em como era irônico que o nome dela significasse reencarnação.
A princesa frágil. Ele sabia que era assim que ela era conhecida. Tinha sido mandada embora para cuidar de sua saúde debilitada. O motivo era óbvio para ele.
Grishas que reprimem seu poder se tornam fracos. O poder é que alimenta um Grisha. E, quando ele a tocou no baile, ele sentiu uma luz o chamar, mas era tão fraco que parecia um sussurro.
Onde estava Amara? Onde estava seu poder?
Ela se lembraria dele. Ela se lembraria de seu poder. Ele faria ela lembrar. Não importa quanto tempo levasse. O Darkling retirou um tecido de cima do quadro, observando a grande tela. A pintura era de Amara.
Ele tinha várias delas. Uma para cada época. Retratavam como ela poderia se parecer, quando ele ainda não havia desistido de procurá-la.
O Darkling passou a mão pelo quadro, repousando seus dedos no rosto da mulher. "Eu nunca vou esquecer seu nome, Amara. E você vai se lembrar do meu."
Escuridão. Isso era tudo que ela via. Ela tentava enxergar, mas a imensidão do escuro não permitia. Seu coração batia rápido e sua respiração estava ofegante.
Ela tentava sentir algo com suas mãos, encontrar um caminho para um lugar seguro. "Você faria qualquer coisa por ele." Ela escutou repetidamente.
Quando a luz apareceu, era uma pequena esfera a iluminando. Então, ela sentiu a dor no seu peito. Olhando para baixo, o sangue escorrendo e uma faca presa em seu coração.
Ela acordou ofegante, sentindo o ar fugir de seus pulmões. Ela passou a mão pelo seu peito, fechando seus olhos, buscando se acalmar. Foi só um sonho, ela dizia para si mesma. Mas foi tão real.
Anastasia se levantou, abrindo suas cortinas e deixando a luz invadir o ambiente. A princesa observou o quarto a sua volta. Seu novo quarto.
O Rei havia a mandado para o Pequeno Palácio, usando a desculpa que ela estaria mais seguro rodeada pelos soldados Grishas e por Curandeiros disponíveis para cuidar de sua saúde.
Ela sabia que era mentira. Ele só queria mantê-la longe. Queria distância de sua saúde frágil. Distância de sua filha fraca, sua maior vergonha.
Uma batida em seus aposentos a retirou de seus pensamentos. Quando ela abriu a porta, Genya a estava esperando, segurando uma linda cesta de palha branca.
─ Vou te levar para tomar café no lago do Pequeno Palácio. ─ A Artesã afirmou e a princesa notou que não foi uma pergunta e sim, uma ordem.
Depois de se trocar, Genya a arrastou pelos longos corredores do Pequeno Palácio. A primeira coisa que Anastasia notou era como a decoração era simples e bonita. Ela se sentia de volta ao vilarejo.
O lago a deixou sem palavras. As águas brilhavam e a floresta em volta era reconfortante. Do outro lado do lago, alguns Grishas faziam seus treinamentos.
─ Então... ─ Genya disse, a olhando com pura curiosidade em seu olhar. Anastasia continuou com sua atenção voltada para os Grishas.
─ Então o que? ─ A princesa perguntou.
─ O que você acha? ─ A Artesã perguntou ironicamente. ─ Você e o General Kirigan! ─ A ruiva exclamou. ─ Eu vi o jeito que você olhou pra ele.
─ Olhei como eu olho para qualquer homem bonito. ─ Anastasia declarou com um sorriso de lado.
─ Então você acha ele bonito. ─ Genya concluiu, esboçando um sorriso malicioso para Anastasia.
─ Talvez. ─ A morena disse, ainda mantendo seus olhos nos Grishas do outro lado do lago.
─ Que bom. ─ Genya respondeu, soltando uma leve risada. ─ Porque ele está vindo na nossa direção agora.
Ela se virou com os olhos arregalados, se deparando com o General Kirigan cavalgando em seu cavalo negro, vindo em sua direção.
Ela olhou para Genya, pedindo ajuda com seus olhos, mas a ruiva deu de ombros, rindo.
─ Princesa Anastasia. ─ Ele a chamou, descendo de seu cavalo. Sua capa ia de encontro com o vento e seu kefta preto fazia com que ele se destacasse.
Ela se levantou, indo ao encontro dele, tentando ignorar as risadas que Genya tentava disfarçar. Por que ela se sentia tão estranha? Por que ele a fazia se sentir daquela maneira?
─ Pensei que me chamaria só de Anastasia. ─ Ela comentou e ele sorriu.
─ Você ainda não contou suas histórias. ─ Ele rebateu. O Darkling estendeu seu braço na direção de Anastasia. ─ Que tal me contar enquanto caminhamos?
Anastasia olhou para Genya, encontrando a ruiva fazendo sinais para que ela fosse. A princesa suspirou. Depois de 14 anos sozinha, ela tinha medo de não saber se relacionar com outras pessoas. Mas seu desejo de se aproximar do General era mais forte.
Ela aceitou o braço do Conjurador, sentindo a eletrizante sensação que o toque dele causava. Enquanto ele a levava para uma entrada na floresta, a princesa o observou mais uma vez.
Sob a luz do Sol, ela conseguiu enxergar melhor suas feições. Ele era lindo. Cada traço dele a atraia. Ela nunca havia visto alguém tão bonito em sua vida e, com certeza, ninguém nunca a fez se sentir daquele jeito.
─ Então, me conte, o que você escutou sobre mim? ─ Ele pediu e ela rapidamente desviou seu olhar, torcendo para que ele não tivesse percebido ela o encarando.
─ Muitas coisas. ─ Ela contou. ─ Mas isso não importa. Eu prefiro conhecê-lo do que acreditar em histórias.
Ele a olhou, surpreso por sua resposta. ─ Poucas pessoas me surpreendem, Senhorita Lantsov. Mas você... ─ Ele sorriu. ─... você continua a me surpreender.
─ Isso é bom, Senhor Kirigan. ─ Ela respondeu. ─ Eu não quero ser como todas as outras pessoas em sua vida.
Sua fala fez com que o General parasse. Ele a observou com um largo sorriso em seu rosto enquanto ela continuava a caminhar. Ela podia ter um nome diferente e um passado diferente.
Mas algumas coisas nunca mudam. Eles sempre encontrariam o caminho de volta um para o outro.
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