﹙⠀XXVII.⠀﹚Time Flies.

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5 ANOS APÓS.  . .

30 DE SETEMBRO. Há exatos 26 anos, às 23:30, nascia a pessoa mais obcecada por dança que eu conheço: eu. E hoje, esse dia completava mais um ciclo. Vinte e seis anos de altos e baixos, de suor, sacrifícios e, claro, da ausência gritante de quem deveria ter estado ao meu lado o tempo todo.

Deveria ser um dia incrível. Pela primeira vez em séculos, meu pai me enviava presentes. Um gesto simples, mas que carregava um peso emocional gigantesco. Era a prova de que, de algum modo, ele ainda estava vivo e lembrava de mim. Um vislumbre de reconexão que qualquer pessoa em meu lugar teria agarrado com todas as forças, mas não eu. Não hoje.

Qualquer esperança de felicidade foi destruída pela notícia que recebi no mesmo dia: Kai Mori havia sido libertado. Pior, ele saiu ontem... por "falta de provas". Um detalhe que, por si só, deveria ter me feito desmoronar, mas, de algum modo, eu estava ali, intacta por fora, mas com o coração apertado, preso ao passado.

Ontem foi um turbilhão. Kai, o homem que havia lançado uma sombra sobre minha vida, estava livre. Athos, a única âncora que ainda tinha, aparecia agora com um anel de noivado, e Jett... Jett ressurgiu como um fantasma de um passado que eu lutava para esquecer, após cinco longos anos.

Era como se o universo tivesse escolhido meu aniversário como palco para um show de horrores.

E agora, era 30 de setembro. Eu estava deitada na cama, encarando o teto, sentindo o peso do tempo nas minhas costas. A caixa de presente que meu pai enviara estava aberta no chão, esquecida, desinteressante. Nem me preocupei em ver o que ele mandou. Talvez fossem flores murchas, uma joia sem significado, ou algo ainda mais vazio. Quem eu estava tentando enganar? Nenhuma lembrança material conseguiria preencher o buraco que ele deixou quando decidiu sumir da minha vida.

O relógio no celular piscava, impiedoso, marcando 10:00 da manhã. Eu sabia que deveria levantar, seguir com meu dia, talvez tentar fingir que tudo estava bem. Mas como? Como eu poderia viver normalmente sabendo que Kai Mori, aquele que destruíra tantas vidas, estava andando por aí, livre, sem qualquer punição? Enquanto ele desfrutava da liberdade, eu continuava uma prisioneira das minhas próprias memórias. Nada tinha mudado. Não para mim.

Suspirei e levantei da cama, tentando afastar o torpor com um grande gole de café, que parecia ser o único aliado que restava. Sabia que Jett estava na cidade, e algo dentro de mim gritava que ela me procuraria em breve. Depois de cinco anos de silêncio absoluto, ela tinha que ter algum motivo para ressurgir agora. O que ela queria? Ela sumiu como um fantasma, sem deixar rastros, e agora aparecia de repente, como se soubesse que meu mundo estava se desintegrando e quisesse se juntar ao espetáculo.

E Athos... Athos noiva. Talvez a única boa notícia.

Eu estava perdida em meio a esses pensamentos quando ouvi uma batida na porta. Uma parte de mim já sabia quem era antes mesmo de abrir. Aquela batida inconfundível, firme, mas sem pressa. Jett.

Respirei fundo antes de puxar a maçaneta, o coração pulsando com raiva e nostalgia.

— Cinco anos, Jett. Cinco malditos anos — foram as primeiras palavras que saíram da minha boca assim que abri a porta, sem qualquer tentativa de esconder a raiva que fervia dentro de mim.

Ela estava ali, com o mesmo sorriso cínico que eu lembrava tão bem. Aquele sorriso que sempre a acompanhava, como se o mundo fosse uma piada particular.

— Senti saudade também — disse ela, com um tom debochado, como se estivéssemos discutindo algo trivial.

Ela entrou no apartamento como se fosse dona do lugar, sem pedir licença, seus olhos analisando cada detalhe, como se estivesse tentando se reconectar com o que deixara para trás.

— O que você quer, Jett? — perguntei, cruzando os braços, tentando não deixar a irritação transparecer mais do que já estava. Cada segundo ao lado dela fazia minha paciência diminuir.

— Me desculpar? — Ela jogou a frase no ar, casualmente, e eu quase ri de tão inesperada. Meus lábios se entreabriram em um misto de choque e incredulidade. Como se uma simples desculpa pudesse apagar anos de ausência. — Naquela noite, reencontrei alguém especial para mim... e precisei ir. Mas você não tem o direito de estar com raiva, Astrella. — O tom dela endureceu. — Você colocou meu primo na cadeia. Meu pai também.

Meu corpo inteiro gelou ao ouvir o nome de Kai. Ainda era doloroso, como uma ferida que nunca cicatrizou. Saber que ele estava livre era sufocante, mas ouvir Jett falar disso como se fosse um passado remoto, algo com o qual eu já deveria ter lidado... era demais.

— Eu não tinha escolha, Jett — murmurei, minha voz baixa, mas firme. — Ele destruiu vidas. Você sabe disso.

Ela se aproximou de mim, seu olhar fixo no meu, sem nenhum traço de arrependimento.

— Ele é família, Astrella. E não importa o que tenha acontecido, família vem em primeiro lugar. Talvez você tenha esquecido isso enquanto tentava agradar um pai que nunca esteve presente.

As palavras dela me atingiram como um golpe, mas eu me recusei a mostrar fraqueza. Respirei fundo, lutando contra a dor que se alojava em cada canto do meu ser.

— Não é só sobre mim — comecei a dizer, minha voz finalmente retomando o controle. Mas antes que pudesse continuar, o olhar dela já dizia que essa conversa estava longe de terminar.

Jett riu com desdém, aquele riso que me tirava do sério, e eu soube que não havia volta. Essa conversa estava caminhando para um lugar perigoso, e nenhum de nós sairia ileso.

— Você sempre foi tão nobre, tão certa de si, né? — Ela deu um passo à frente, seu rosto agora a poucos centímetros do meu. — Mas olha ao seu redor, Astrella. O que você ganhou com isso? Seu pai te abandonou, papai está livre, e você está sozinha. No final das contas, ninguém liga para suas virtudes ou para suas decisões corretas.

Minhas mãos tremiam de raiva, mas segurei firme. Jett sempre soube onde atacar, conhecia todas as minhas fraquezas, todos os meus medos. Eu sentia vontade de gritar, de fazer com que ela entendesse a dor que eu carregava. Mas havia algo mais urgente, mais forte, que eu precisava dizer.

— Você não veio aqui para se desculpar, não é? — minha voz saiu baixa, quase um sussurro. — Você quer algo. Diga logo, Jett. O que você realmente quer?

Ela recuou um pouco, seu sorriso vacilando por um segundo antes de recuperar a postura confiante.

— Olha, eu vim te chamar pra ver o bebê da Athos. Você vem ou não? — Jett insistiu, a expressão dela mudando, revelando uma faísca de empolgação. O brilho nos olhos dela era inegável, e por um momento, me peguei pensando em como essa nova vida, essa pequena criatura, poderia ser uma luz em meio à escuridão que me cercava.

Mas a ideia de ir até lá, de ver Athos e sua nova vida, era como uma faca cravada em uma ferida aberta. O que eu deveria sentir? Felicidade pela amiga que estava construindo uma família ou dor por saber que ela havia seguido em frente enquanto eu permanecia presa nesse pesadelo interminável?

— Jett, você sabe que não estou a fim de me envolver com isso — respondi, tentando manter a firmeza na voz, mas a hesitação me traía. A verdade era que o pensamento de ver Athos, de vê-la feliz, me deixava dividida.

— Astrella, não se trata só de você. É sobre ele — ela insistiu, apontando para o lado, como se o bebê já estivesse ali, esperando por mim. — O bebê não tem culpa de nada do que aconteceu. Ele precisa de você na vida dele.

A ideia de um bebê inocente, sem conhecimento do que estava acontecendo ao nosso redor, me pegou desprevenida.

— Eu não sou a pessoa certa para isso, Jett. Você sabe que estou lutando com tudo isso. Como eu poderia ir lá e colocar um sorriso no rosto de alguém quando eu mal consigo sorrir para mim mesma?

— Porque você é Astrella — ela afirmou, e havia um toque de sinceridade em sua voz. — Você sempre foi a pessoa que trouxe luz para os outros. A Athos precisa de você agora mais do que nunca. E, honestamente, você também precisa. Ficar trancada aqui só vai fazer com que você se sinta mais presa.

E, de repente, uma onda de desespero me atingiu. A ideia de ficar sozinha, cercada apenas pelas memórias que me consumiam, parecia insuportável. Eu realmente queria me afastar disso, mas o que eu buscava era tão difícil de encontrar.

— Eu... — hesitei, a mente turva de indecisão. — E se eu não conseguir fazer isso? E se eu estragar tudo?

— Você não vai estragar nada. Só vai até lá, conhece o bebê e, quem sabe, sente algo bom. Mesmo que seja apenas por alguns minutos. — A convicção no olhar dela começou a derreter as barreiras que eu havia erguido.

Por fim, suspirei, pesando as palavras. O que eu tinha a perder? Se houvesse uma chance, mesmo que pequena, de sentir algo além do vazio, talvez valesse a pena.

— Tudo bem — respondi, finalmente. — Vou com você, mas não me faça prometer nada além disso.

O sorriso de Jett se alargou, quase aliviado. Enquanto ela falava, uma parte de mim hesitava. O caminho até lá poderia ser complicado, mas, ao menos por agora, eu estava disposta a tentar.

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