﹙⠀XIII.⠀﹚ pizza night


ᰍ ׂ 𝓦𝘦𝘭𝘤𝘰𝘮𝘦 !! ۟ ࣭ ⊹
★ ۫ ݂﹙DAG TORRANCE ﹚ㅤׅ ۫ㅤ݂ ५
𝐂αpítulo: "Noite de pizza"

EU OBSERVAVA DE LONGE, meus olhos fixos em Ethan enquanto ele fazia Astrella rir, como se fosse uma obrigação. A maneira como ela inclinava a cabeça para trás e ajeitava a blusa de forma desleixada me provocava náuseas. Não era apenas o fato de que ela estava rindo, mas quem a fazia rir. Ele. Aquele idiota. E o pior é que ela permitia, como se eu não estivesse ali.

Quando Ethan apontou para a blusa e ela riu, senti o sangue ferver. Aquele som leve e despreocupado me exasperava. Ele não tinha o direito de vê-la assim. Ela não era para ele.

Avancei um passo e, instantaneamente, Ethan percebeu a mudança no ambiente, como se a atmosfera ao redor tivesse esfriado. Astrella ainda não tinha me notado, mas ele sim. Seu sorriso desapareceu, suas mãos tremiam levemente enquanto tentava manter a compostura.

Ridículo.

Meus olhos não se desviaram dos dele, e não precisei dizer uma única palavra para que ele entendesse. Eu queria que ele se lembrasse de quem era o verdadeiro dono daquele espaço e, mais importante, de quem era a mulher que ele ousava tentar distrair.

— Vou... deixar vocês a sós — murmurou Ethan, fugindo com um olhar temeroso. Patético.

Finalmente, Astrella se virou para mim, seus olhos brilhando com raiva. Ela cruzou os braços, tentando se proteger, mas eu a conhecia o suficiente. Ela podia me desafiar com olhares e palavras afiadas, mas no fundo sabia onde realmente pertencia.

— Você precisava fazer isso? — perguntou ela, a frustração evidente em sua voz.

Eu a observei, o rosto dela tentando provocar minha irritação. Mas nada importava mais do que protegê-la, nem mesmo sua resistência infantil. Ela era minha, e eu não permitiria que ninguém se aproximasse o suficiente para esquecer disso.

— Ele precisa lembrar seu lugar — respondi, com uma frieza calculada. Cada palavra carregava o peso da verdade que ela tentava negar.

Astrella suspirou, cansada, como se a minha presença fosse um fardo. Mas eu sabia que, por mais que tentasse, não conseguiria me afastar. O ambiente ao nosso redor ficou mais pesado, tenso, enquanto ela lutava contra o que sabia ser inevitável.

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio, como sempre fazia quando estava à beira de ceder. Esse era o problema com Astrella: ela podia lutar o quanto quisesse, mas no fundo sabia que me pertencia. Sabia que, no fim, era para mim que ela voltava, por mais que tentasse escapar. E isso, essa possessão, era algo que ela nunca conseguiria negar.

Eu avancei um passo, invadindo seu espaço, o que fez ela erguer os olhos para mim. Ela sabia o que estava por vir. Sabia o que eu queria. E eu queria tudo.

Me aproximei.

Ela continuava de braços cruzados, tentando manter uma postura desafiadora, mas eu podia ver o leve tremor em suas mãos, o nervosismo nos olhos. Tudo o que eu queria era derrubar essa fachada de resistência e deixá-la encarar a verdade: ela era minha, e nada mudaria isso.

Toquei seu queixo, forçando-a a me olhar. O contato foi suave, mas a intensidade da minha presença fez seu coração acelerar.

— Você sabe que não gosto disso — murmurei, minha voz um sussurro carregado de possessividade.

Ela tentou manter a firmeza na voz.

— Não gosto do jeito que você age, Dag. Não gosto de como acha que pode controlar tudo e todos ao seu redor.

Inclinei-me um pouco mais perto, o calor da minha respiração misturando-se com o dela.

— Não é uma questão de achar, Astrella. Eu simplesmente faço.

O olhar dela vacilou por um instante, mas logo retornou com a mesma determinação que eu conhecia bem. Ela sempre teve essa força, essa necessidade de lutar contra o que não podia mudar. E eu amava e odiava isso ao mesmo tempo.

— Isso não é saudável — sussurrou ela, sua voz tingida de exaustão. — Você não pode continuar sufocando tudo ao meu redor.

Ri, um som seco e sem humor.

— Não estou sufocando, Astrella. Estou protegendo você. Ninguém mais pode fazer isso como eu.

Ela tentou se afastar, mas eu segurei seu pulso com firmeza, não a ponto de machucar, mas o suficiente para deixar claro que não havia escapatória. O corpo dela estava tenso, e eu percebia a luta interna dela, o conflito entre querer resistir e ceder à necessidade que sentia por mim.

— Você me controla, Dag. Não é proteção — disse ela, a voz quase quebrando sob a pressão.

Abaixei a cabeça, meus lábios roçando seu ouvido.

— Eu te protejo de todos. Até de você mesma.

Houve um breve momento em que eu a senti ceder, um pequeno suspiro de resignação. Só um segundo, mas o suficiente para eu saber que ela sabia, no fundo, que não havia como escapar.

— Eu não vou deixar ninguém te tirar de mim — sussurrei, a possessividade na minha voz inconfundível.

Ela abriu a boca para responder, mas eu a calei com um beijo rápido e firme, um lembrete do meu domínio, do fato de que, por mais que ela tentasse, eu sempre estaria lá, controlando, possuindo. Ela não era apenas uma parte da minha vida; ela era tudo para mim.

O beijo foi breve, mas intenso, como uma chama que acende e se apaga em um instante. Astrella estava claramente aturdida, seus olhos ainda piscando, enquanto tentava processar o que acabara de acontecer. Não dei tempo para que ela reagisse, pois, ao me afastar, uma leveza tomou conta do ambiente.

— Vamos pedir uma pizza — anunciei, quebrando o silêncio que havia se instalado.

A expressão de Astrella mudou instantaneamente. O olhar de raiva e resistência deu lugar a uma animação infantil que eu raramente via. Era como se ela tivesse deixado para trás todas as preocupações e se permitisse um momento de simplicidade.

— Pizza! — exclamou ela, quase pulando de alegria.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ela já estava pegando o telefone e ligando para a pizzaria, enquanto a empolgação em sua voz contrastava com a tensão que acabara de criar.

— E você precisa convidar o Ethan para jantar com a gente — disse ela, com um sorriso travesso. — Acho que ele vai se divertir com a pizza também. Ah, posso chamar a Evie?

Levantei uma sobrancelha, surpreso com a ideia, mas apenas acenei com a cabeça em concordância, sabendo que não havia como mudar sua mente quando ela estava assim. Ela se virou para mim, a animação ainda visível em seus olhos.

Enquanto Astrella fazia o pedido na pizzaria, meu celular vibrava incessantemente.

Uma.

Duas.

Três vezes.

Meu pai. As mensagens sobre Tio Kai se acumulavam como uma onda esmagadora, seguidas pelos apelos desesperados da tia Banks. Podia sentir o peso da culpa me rondando, mas algo maior me ancorava ali. Astrella. Ela era meu ponto fixo agora, o centro do meu universo turbulento. Se Maevie era tudo para ela, então protegeria a Vecchi.

Com um movimento firme, desliguei o celular. Que eles lidassem com seus próprios monstros. Nesse momento, eu tinha outros pensamentos.

Astrella se virou para mim, um brilho suave nos olhos, como se nossa pequena bolha de caos e calmaria fosse a única coisa que importasse.

— Pedi de peperoni, calabresa, e uma metade batata, metade quatro queijos. Lembro que você gostava de calabresa...

— Menos a cebola — completei, minha voz saindo mais suave do que eu pretendia. — Pediu sem cebola, né?

Ela sorriu e acenou com a cabeça, seus olhos encontrando os meus, uma cumplicidade silenciosa entre nós. Ela sabia o quanto detestava cebola, e por um instante, aquilo pareceu importar mais do que todo o caos lá fora.

— Boa garota — murmurei, minha voz macia, sem deixar de carregar aquela intensidade velada. E então, sem resistir, estendi a mão e toquei sua bochecha, o carinho escapando pela fenda que ela sempre conseguia abrir em mim.

Astrella retribuiu com um sorriso pequeno, mas genuíno, e naquele instante, senti uma estranha mistura de escuridão e conforto. O tipo de contraste que me fazia querer mantê-la perto... e nunca soltar.

— Já chamou a Maevie? — perguntei, esperando que ela tivesse se adiantado.

— Ah, sim! Ela já está a caminho — respondeu Astrella, despreocupada.

— Então podemos manter o Ethan fora disso? — insisti, esperando algum milagre dessa vez.

Ela cruzou os braços na frente do peito, e sua expressão mudou de uma forma tão previsível que eu quase pude prever o momento exato. A mesma cara que ela fazia todo santo dia desde que chegou. E lá estava eu, acreditando que as coisas estavam melhorando.

— Dag, para com isso. Ethan vai ficar aqui, você querendo ou não. — Sua voz era firme, mas havia aquele olhar... o olhar que me fazia esquecer qualquer argumento racional. — Você mesmo disse: ‘Parece que estou construindo um lar’ — ela me encarou, os olhos faiscando como se estivesse prestes a ganhar um Oscar. — Agora vai colocar ração para os cachorros.

Arqueei a sobrancelha, incrédulo.

— Mas... não temos ração. Eu não comprei nada — retruquei, como se isso fosse resolver o problema.

Ela me olhou como se eu fosse o ser mais inútil do planeta, suspirando teatralmente.

— Então vai comprar. — O tom era de quem estava lidando com uma criança teimosa. — O conselho de tutoria ficaria tão decepcionado com você...

Eu segurei uma risada.

— Ah, sim, claro. O grande conselho de tutoria. Provavelmente vão me mandar uma carta formal, né?

Ela riu, sacudindo a cabeça.

— Com certeza, com papel timbrado e tudo. Agora vai, Dag, antes que os cachorros resolvam comer você.

Eu não sabia se ria ou se acatava a ordem de Astrella. Havia algo naquela brincadeira que, de forma estranha, me aliviava, como se a leveza dela pudesse afastar o peso das mensagens que haviam se acumulado no meu celular.

— Tá legal, vou. Mas só porque você pediu com jeito — brinquei, pegando as chaves do carro que estavam jogadas na mesa ao lado.

Astrella balançou a cabeça, ainda rindo, e voltou a se sentar, esperando pela pizza. Me vi pensando por um momento em como ela conseguia transformar até as coisas mais simples em algo quase normal, mesmo quando tudo à nossa volta estava desmoronando.

Enquanto saía para o carro, o ar frio da noite me atingiu em cheio, trazendo de volta parte da realidade que eu havia deixado de lado naqueles poucos minutos. As ruas estavam quietas, com apenas o som distante de alguns carros passando, mas minha mente estava longe, em Tio Kai, nas mensagens que eu havia ignorado, no caos da minha família.

Entrei no carro e, enquanto dirigia até o mercado mais próximo, pensei nas palavras dela. "Construindo um lar." Era engraçado como, mesmo em meio à confusão, essa ideia começava a fazer sentido. Talvez, por mais que eu quisesse fugir de tudo, estava inevitavelmente sendo puxado para essa nova realidade com ela, com Maevie, com até mesmo Ethan.

O mercado estava quase vazio. Peguei rapidamente a ração e, ao passar pelo caixa, vi meu reflexo no espelho do corredor. Um cara com dois bebês no colo, tentando faze-los dormir. Era estranho, mas me vi quase sorrindo.

De volta à casa, encontrei Astrella sentada no sofá, com a pizza já na mesa e o telefone na mão, provavelmente trocando mensagens com Maevie.

— Conseguiu? — perguntou, sem levantar o olhar, mas com aquele tom de quem já sabia a resposta.

— Claro. Salem e Lando vão me agradecer pessoalmente depois.

Ela riu, e por um momento, o som dela me atingiu de um jeito tão familiar e reconfortante que quase me esqueci de todo o resto.

— Bom trabalho, Dag. Você está finalmente se tornando um bom... tutor — brincou, enquanto eu colocava a ração em um canto.

— Cuidado, ou vou me tornar bom demais nisso — retruquei, me jogando no sofá ao lado dela.

Astrella me lançou aquele olhar afiado, o sorriso dançando em seus lábios como se soubesse exatamente o efeito que tinha sobre mim.

— Eu duvido, Dag. Você gosta de bancar o rebelde demais para ser bom em qualquer coisa.

Revirei os olhos, mas o sorriso que lutei para esconder já ameaçava escapar. Ela tinha um talento especial para me cutucar, me manter na defensiva, e ao mesmo tempo, de algum jeito inexplicável, me trazer de volta ao presente — longe do caos que se acumulava na minha cabeça.

— O Ethan ainda não desceu. —  Afirmou. — Não chamou ele ainda?

— Ah, então não era você quem ia chamar ele enquanto eu estava no mercado?

— Não! — Ela cruzou os braços de forma exagerada, como se eu tivesse acabado de acusá-la de um crime gravíssimo. — Você que deveria chamar ele. E pedir desculpas por ser tão... inconveniente!

Era só o que me faltava.

— Ele é quem devia pedir desculpas. Se dependesse de mim, já teria demitido ele faz tempo.

Astrella arqueou uma sobrancelha, misturando ironia com uma pitada de ameaça. Antes que eu pudesse dizer mais qualquer coisa, ela retrucou, afiada como sempre.

— Demitir? Ótimo! Faz a carta de demissão dele enquanto eu preparo a sua certidão de óbito. — O sarcasmo gotejava de cada palavra, mas seus olhos brilhavam com aquela faísca travessa. — Vai lá, chama ele e pede desculpas... na minha frente.

— Você só pode estar de brincadeira! — Olhei para ela, incrédulo, enquanto puxava o celular do bolso.

— De brincadeira? Eu tô é perdendo a paciência! Vai lá, chama ele AGORA! — Ela já estava com uma mão na cintura, a outra apontando para o corredor como se estivesse me mandando para a guerra.

— E eu que tenho que chamar? Você que começou com essa história! — Tentei argumentar, mas ela já me empurrava pela sala, decidida.

— Dag, se você não chamar, eu juro que vou gritar tão alto que o bairro inteiro vai achar que tem um exorcismo acontecendo aqui! — Ela gesticulava com uma energia tão dramática que precisei morder o lábio para não rir.

— Tá, tá, tô indo! — Comecei a andar na direção da escada, sentindo o olhar dela me perfurar pelas costas.

Cheguei à porta do quarto de Astrella, onde Ethan estava parado, com a expressão confusa de quem não sabia se deveria se mexer. Eu já sentia o calor da frustração subir pelo pescoço, e lá no final do corredor, Astrella me observava como uma general, de braços cruzados, controlando cada movimento meu com aqueles olhos implacáveis.

Ethan me encarou, ainda mais perdido, enquanto eu tentava arrancar algum resquício de paciência que já havia evaporado.

— Sim, senhor? Aconteceu algo?

Antes que eu pudesse responder, Astrella berrou do corredor:

— DAG! AS DESCULPAS!

Revirei os olhos mais uma vez, suspirei fundo e, com uma voz resignada, murmurei:

— Ethan, desculpa... por sei lá, qualquer coisa.

Ele arqueou uma sobrancelha e, com um sorriso presunçoso, disse:

— Desculpe? Não ouvi direito, Dag.

Minha mandíbula se apertou, e tentei manter a compostura.

— Eu sou seu patrão, Ethan — disse, o tom mais firme.

Ele deu um passo à frente, um brilho malicioso nos olhos.

— A Astrella é minha patroa. — Ele apontou com o queixo para o fim do corredor, onde ela continuava nos observando como uma espectadora ávida. — E, sinceramente, acho que a palavra dela pesa mais.

A tensão no corredor estava tão densa que parecia que o ar estava prestes a estourar. Astrella, com um olhar de satisfação, observava a troca de farpas entre nós. Ethan estava quase se divertindo com a situação, enquanto eu sentia a frustração atingir novos patamares.

— Desculpas, Ethan. Estou te oferecendo minhas desculpas. Apenas isso. — Forçei um sorriso que mal disfarçava o sarcasmo. — Se junte a nós para saborear uma pizza. O que acha?

Ethan ergueu uma sobrancelha, mas o tom dele foi irrepreensivelmente polido.

— Eu acho uma ótima ideia, senhor Torrance.

Um som de aplausos ecoou do fundo do corredor, e a voz de Astrella carregava um tom de sarcasmo que só aumentava o drama da situação.

— Uhll! O bebê pediu desculpas! As primeiras desculpas dele em vida! Uhll.

Revirei os olhos, lutando para conter o riso diante da cena patética que se desenrolava. Astrella continuava a bater palmas, claramente se divertindo com o show, enquanto Ethan se curvava com uma reverência exagerada.

— Vamos logo antes que eu tenha que agradecer pela pizza também.  — Resmunguei.

Enquanto descíamos as escadas, Astrella se posicionou na frente, claramente satisfeita com o desenrolar dos eventos. Ethan e eu trocamos olhares cúmplices de frustração, mas a verdade era que o humor da situação estava começando a nos atingir. Se a noite fosse para ser um circo, pelo menos poderíamos aproveitar o show.

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