CINCO.
Lições sobre a Terra.

TERRA

Quando Meredith acordou naquela manhã, teve que se controlar para não quebrar alguma coisa ao perceber que aquilo não era um pesadelo.

Se revirou na cama mais alguns minutos, milhões de coisas passando por sua cabeça. Foi tirada de seus pensamentos por um som alto vindo do andar de baixo. A garota se levantou e procurou por algo que pudesse usar para se defender caso fosse um invasor.

Acabou pegando um taco de golfe que estava jogado em um canto do quarto, mesmo que não soubesse que objeto era aquele. Silenciosamente abriu a porta, as luzes do corredor estavam apagadas e o quarto no fim do corredor estava com a porta fechada, ela sabia que era o quarto de Will e pensou em acorda-lo mas optou por resolver sozinha.

Desceu as escadas devagar e caminhou até a cozinha. Assim que chegou lá viu um homem de capuz e quando Meredith levantou o taco para bater nele, ele gritou.

— Meu Deus Meredith! – Scott exclamou. – Você quase me matou de susto, por que está segurando isso?

Ela olhou para o taco de golfe em sua mão e o jogou no chão, era só Scott.

— Eu ouvi um som alto vindo da cozinha. – Ela explicou. – Vim ver o que estava acontecendo.

— E veio com o taco de golfe? – Ele apontou para o taco. – Você não brinca em serviço.

— De onde vem esse som irritante? – Ela perguntou entrando na cozinha.

Meredith viu Hope mexer em um aparelho esquisito, ela nunca tinha visto aquilo. Scott saiu correndo para não deixar os ovos que estavam na frigideira queimarem.

— É esse o som! – Exclamou Meredith apontando para o objeto. – O que é isso?

— Um liquidificador. – Disse Hope. – Não se preocupe, ele não causa nenhum mal.

— O liquidificador não causa mas esse suco que a Hope está fazendo, com certeza causa vários males. – Scott comentou.

— Eu não encostaria em ovos feitos pelo Scott se fosse você. – Hope disse.

Scott deu um beijo na cabeça da esposa, recebendo um tapa e um sermão sobre não estragar os ovos. Mas quando Scott se afastou, Meredith viu que Hope sorria, pelo que a Quill havia notado, os dois eram um casal atrapalhado mas era óbvio que se amavam.

— Então Meredith, vai querer comer o que? – Scott perguntou.

— Acho que exageramos na quantidade de pratos. – Hope comentou com o marido. – O que você costuma comer de manhã Meredith?

Meredith gostou do esforço dos Lang para a agradarem e serem bons anfitriões, eles sabiam que ela não estava bem e queriam ajudar. A garota se aproximou da mesa e observou os pratos, não reconhecia nenhum.

— Eu não costumava comer nenhuma dessas coisas em casa. – Disse Meredith.

— Eu te disse que deviamos perguntar para ela antes. – Scott disse.

— Não, fui eu que disse isso, você riu e disse que todo mundo gosta de panquecas. – Retrucou Hope.

— O que é isso? – Meredith perguntou apontando para um dos pratos.

— São ovos com bacon. – Hope disse. – Já que não conhece nada pode experimentar e descobrir o que gosta.

— Contanto que não encoste no suco da Hope, sério, é tóxico. – Scott disse.

— Bom dia.

Todos se viraram ao ver Will entrando na cozinha com cara de quem tinha acabado de acordar, cabelo bagunçado e escovando os dentes.

— Se cair uma gota de pasta de dente no tapete, eu acabo com você William. – Hope ameaçou.

— Ok mamãe linda do meu coraçãozinho. – Disse tentando tranquiliza-la e voltou para o banheiro.

Meredith puxou uma cadeira e se sentou, Hope e Scott fizeram o mesmo e começaram a se servir. Meredith optou por colocar um pouco de tudo em seu prato para experimentar.

Minutos depois Will estava de volta, se sentou ao lado de Meredith e se serviu. Ela observou a familiaridade que eles faziam as coisas, as conversas e as provocações entre a família, estava perdida no mundo deles.

— Isso é muito bom. – Ela comentou com a boca cheia.

— Acho que me enganei sobre seus ovos, Scott. – Hope disse observando a empolgação de Meredith diante dos ovos mexidos.

— Você me subestima muito, esposa querida. – Scott disse, beijando a bochecha dela.

— Você dormiu bem? – Will perguntou se virando para Meredith.

— Dormi sim. – Ela disse. – É uma cama muito confortável.

— Meredith quase me atingiu com um taco de golfe hoje. – Scott disse e Will riu.

— Ela me atacou no dia que nos conhecemos também. – Ele disse.

— Uma mulher forte que sabe se defender, eu gosto dela. – Hope disse e Meredith sorriu para a mulher.

Por alguns segundos Meredith se perdeu observando a casa e todas as coisas que haviam ali que ela não conhecia, era como estar em um outro mundo.

— Conseguiram consertar o comunicador? – Meredith perguntou.

— Ainda não, talvez leve um tempo, tem muitas peças que eu nunca vi e não sei para que servem. – Scott explicou. – E preciso encontrar peças que possam substituir as que foram quebradas.

— Nós vamos falar com meu pai sobre o comunicador hoje. – Hope disse.

— Isso é bom, eu precisa mesmo falar com o vô. – Comentou Will e tomou um gole de suco.

— Meu filho comemorando para ver o Hank, que coisa estranha. – Disse Scott.

— Você não vai Will. – Disse Hope. – Você vai ficar com a Meredith, acho que precisa ensinar ela algumas lições sobre a Terra, ajudá-la a se adaptar por enquanto.

— Vamos comprar um celular para ela também, precisamos manter contato. – Scott disse. – Hoje é sábado mas quando a semana começar eu e Hope voltamos a trabalhar.

— Minha mãe é dona de um laboratório  e meu pai tem uma empresa com o tio Luís. – Will explicou. – Acho que o tio Luís gostaria dela.

— Ele iria ficar louco com o cabelo dela. – Scott disse apontando para o cabelo roxo.

— O seu cabelo é lindo. – Will disse. – Não que eu esteja dando uma cantada nem nada, é só um elogio, por que seu cabelo é bonito, parece hidratado e.. Eu vou parar de falar.

Meredith arqueou as sobrancelhas mas logo riu diante da confusão do garoto.

🌌

Scott e Hope já haviam saído a algumas horas. Will e Meredith estavam sentados na varanda enquanto ele respondia todas as perguntas dela sobre a Terra.

— E o que é aquilo? – Ela perguntou apontando para um poste.

— É o poste de luz, ele é que trás a luz para cá. – Will explicou. – E aqueles ali trazem internet.

— Vocês não tem um gerador de luz? – Arqueou as sobrancelhas. – O que é internet?

— Seu pai realmente não te falou muito sobre a Terra. – Will comentou.

— Ele não é grande fã da Terra. – Meredith diz. – Foi aqui que ele viu a mãe dele morrer.

— Eu sinto muito por isso.

— Já faz muito tempo. – Meredith comentou. – Mas ele sente muita falta dela, o nome dela era Meredith, me deu esse nome em homenagem a ela.

— Não sei por que meus pais me chamaram de Will. – Ele disse e deu de ombros. – Acho que só achavam um nome legal.

— Eu gosto do seu nome. – Ela disse. – Soa bonitinho.

— Bonitinho? Esse é um péssimo elogio. – Ele disse e riu.

— Você já recebeu um elogio, o que mais quer? Uma raiz de inhame? – Ela perguntou ironicamente.

— Aqui não comemos raiz de inhame. – Ele esclareceu.

— As coisas são muito diferentes aqui. – Ela disse. – Não consigo imaginar meu pai sendo criado nesse lugar.

— E eu não consigo imaginar ninguém sendo criado fora desse lugar. – Will disse.

— Mais uma pergunta sobre a Terra. – Começou Meredith. – Onde estão os outros heróis?

— Eles estão em várias partes do mundo. – Ele respondeu. – Os Vingadores, por exemplo, estão em Nova York.

— De onde vem aquela bebida maravilhosa que eu tomei de manhã? – Ela perguntou.

— Café? – Ele perguntou. – Vem dos grãos torrados de uma planta chamada cafeeiro.

— Como algo assim pode vir de uma planta? – Ela perguntou impressionada. – Como é o céu noturno visto daqui?

— Eu posso te mostrar hoje a noite. – Ele disse. – É mais fácil do que explicar.

— Tenho mais uma pergunta. – Meredith anunciou.

— Sério? Já me perguntou sobre cada aparelho eletrônico da casa. – Ele disse.

— Meu pai tem um walk man, era da mãe dele e ela presenteou ele com uma playlist incrível. – Explicou Meredith. – Eu amo a playlist, conheço todas as músicas de trás para frente, eu sonhava em vir para Terra para ter um walk man. Você tem um?

— Não. – Ele disse. – Poucas pessoas tem isso hoje em dia, mas se você quer ouvir música, eu tenho algo mais prático.

Will se aproximou da mesma e tirou seu celular do bolso.

— Essa coisinha mágica aqui se chama celular e você consegue ouvir qualquer música aqui.

Meredith passara a tarde encantada com o aplicativo de música no celular, ela ouvira todas as músicas de Will, gostou de umas, detestou outras.

Ele a ensinou a pesquisar por músicas e agora ela lhe mostrava as músicas que crescera ouvindo.

— Chato. – Ele disse enquanto Hooked On A Feeling tocava.

Meredith pegou uma das almofadas do sofá e atirou no garoto.

— Não vou mais falar com você, como ousa insultar essa música? – Ela perguntou. – Vou deixar tocando até você aprender a apreciar.

— Você é chata, meu Deus. – Ele reclamou.

— Me chamou do que?

— Nada.. Eu.. Não disse.. Nada... Eu – Ele se enrolou e ela riu.

— Você fica engraçado quando se perde totalmente na frase. – Ela disse.

— Eu não costumo conversar com muitas garotas, travo e acabo fazendo papel de idiota na frente delas. – Ele disse.

— Will não sei se você percebeu mais eu sou uma garota. – Ela disse ironicamente.

— Eu sei mas te conheço a um dia só e você me deixa nervoso ás vezes, com medo também, sabe ser assustadora. – Ele disse.

— Céus, você é adorável, William. – Ela disse apertando uma das bochechas de Will.

— Você é mesmo chata, Meredith.

Os dois passaram o resto da tarde conversando, Meredith fez mais perguntas. De noite, Cassie trouxe lanches para todos e jantaram juntos, finalizando de maneira satisfatória o dia de lições sobre a Terra.