PROLOGUE




THE LONG-AWAITED VACATION








POV NARRADORA ON



Os dias das férias de Clarissa arrastavam-se como uma poção mal mexida, sem emoção ou propósito. Para uma jovem acostumada às emoções intensas de Hogwarts, o retorno à casa trouxera uma monotonia sufocante. Era estranho como o mundo trouxa parecia tão pequeno agora.

Entre uma ou outra leitura de livros de magia — os quais Hermione censurava dizendo que eram repetitivos demais —, Clarissa passava o tempo inventando formas de não quebrar o decreto que proibia bruxos menores de idade de praticar magia fora da escola. Hermione, por outro lado, preenchia os dias ajudando sua mãe na cozinha, encantada por aprender receitas caseiras, como os famosos biscoitos de mel. Clarissa até tentou uma vez, mas o resultado foram torradas de mel queimadas... que Hermione também abominou.

— Definitivamente, eu não nasci para isso. — resmungou Clarissa ao observar o desastre na cozinha. Hermione, rindo de leve, deu um tapinha no ombro da irmã.

— Talvez seja melhor você se dedicar à leitura... ou às cartas que insiste em escrever para o Harry.

Clarissa apenas revirou os olhos e fugiu da cozinha, sabendo que Hermione não deixaria de provocá-la sobre o assunto.

Mais tarde, no quarto que dividiam, Hermione estava sentada diante da penteadeira, cuidadosamente alisando os cabelos com uma escova que ajudava a domar os fios volumosos. Clarissa, deitada de barriga para baixo na cama, observava a irmã com curiosidade.

— Sabe, acho que o seu cabelo está lindo assim. — disse Clarissa com sinceridade, rompendo o silêncio.

Hermione parou, observando o reflexo no espelho. Seus cachos estavam mais definidos, as ondas bem marcadas, mas havia hesitação em seus olhos.

— Será que vão comentar muito? — perguntou ela, tocando os fios com leveza.

Clarissa levantou-se e caminhou até ela, apoiando os braços nos ombros da irmã.

— Não importa o que eles vão pensar. Você está linda, e quem tem que gostar é você. — declarou ela, com firmeza.

Hermione sorriu pela primeira vez desde que começara a arrumar o cabelo. Era um sorriso tímido, mas sincero.

— Eu gostei. — murmurou ela, quase como se falasse para si mesma.

Clarissa sorriu, satisfeita, e deu um abraço apertado na irmã, selando o momento com carinho.

Após se afastar do abraço e sentar-se na cama, Clarissa parecia inquieta. Ela mordeu o lábio inferior, e após alguns segundos de silêncio, finalmente falou:

— Você acha que o Harry está bem? Ele não me mandou nenhuma carta. Estou começando a me preocupar.

Hermione virou-se para olhar a irmã, seu semblante assumindo um ar compreensivo.

— Harry é forte, Clary. Ele já passou por tantas coisas. Mas... considerando os tios dele, acho que a preocupação é válida. — Hermione hesitou, mas tentou tranquilizá-la.

— Eu vou enviar outra carta. — declarou Clarissa, com determinação.

Hermione arqueou as sobrancelhas, um sorriso divertido surgindo em seus lábios.

— Outra? Já é a quarta da semana! Não acha que ele vai achar estranho?

— Não me importo. — Clarissa respondeu, categórica. — Ele é meu amigo, e eu preciso saber como ele está.

Ela caminhou até sua escrivaninha, pegou papel e pena, e começou a escrever com intensidade. Hermione observava, apoiada no batente da porta, com um olhar que misturava diversão e curiosidade.

— Você gosta dele? — perguntou Hermione de repente, o tom casual, mas a pergunta carregava algo mais.

Clarissa parou por um instante, levantando os olhos para a irmã, e revirou-os com exasperação.

— Claro que gosto. Ele é meu amigo, Hermione.

"Querido Harry,

Eu sei que posso estar parecendo um pouco exagerada, considerando que já é a quarta carta que te mando esta semana, mas eu realmente preciso saber como você está. Desde que voltamos de Hogwarts, não recebi nenhuma notícia sua, e isso está me deixando preocupada.

Sei que não é fácil conviver com os seus tios — você já me contou o suficiente para que eu saiba disso —, mas espero que esteja aguentando firme. Eles ainda estão te fazendo dormir naquele armário? Se estiver, Harry, me avise. Eu juro que dou um jeito de ir até aí.

A propósito, como você está lidando com tudo o que aconteceu? Eu não paro de pensar no que enfrentamos no fim do ano. Sei que você carrega muitas responsabilidades, mas, por favor, não tente carregar tudo sozinho. Você pode contar comigo, sempre.

Escreva de volta, Harry."

( . . . )

A casa dos Granger era, por natureza, acolhedora. As paredes estavam decoradas com fotos antigas, lembranças de uma vida mais tranquila. Clarissa sempre se sentira confortável ali, mas, naquele momento, a sensação de solidão era enorme. Era como se ela estivesse em um lugar onde as perguntas não tinham respostas. O que realmente acontecera com ela naquela noite, no castelo? Por que tinha se sentido diferente, como se uma parte de sua vida tivesse sido alterada para sempre, de uma forma que ninguém parecia entender?

— Clarissa! — A voz de sua mãe, Diana, ecoou da cozinha. — Venha almoçar!

Ela se virou, arrancada de seus pensamentos, e forçou um sorriso. Não que não gostasse da companhia de sua mãe, mas havia algo em sua vida que ela ainda não conseguia compartilhar. Algo dentro de si que a fazia sentir que havia mais a ser revelado, algo que ela não entendia completamente.

Na cozinha, Diana a deu um prato de sopa caseira, com pedaços de pão quente ao lado. Clarissa se sentou à mesa, absorta nos próprios pensamentos, tentando esconder a ansiedade que a dominava.

— Como foi seu dia, querida? — Perguntou Diana.

— Tranquilo. — Respondeu Clarissa, distraída. — Apenas li um pouco.

Diana sorriu, satisfeita com a resposta.

Ela terminou o almoço rapidamente e foi para o quarto, decidida a tentar distrair sua mente. Puxou a gaveta de sua escrivaninha, onde guardava uma pequena coleção de cartas.

Sentando-se diante de sua escrivaninha, Clarissa olhou para o papel em branco por um momento, sem saber exatamente o que escrever e em dúvida se realmente devia escrever a milésima carta. A dúvida pairava no ar, mas, então, algo a impulsionou. Ela pegou a pena e, com a tinta escorrendo, começou a escrever, quase sem pensar:

"Querido Harry,

Espero que esteja bem. Sei que já enviei muitas cartas, mas acho que preciso de mais uma. Sei que você provavelmente está ocupado com seus tios, e você deve estar querendo aproveitar as férias da maneira que puder, mas eu... eu estou preocupada com você.

Acho que estou sentindo sua falta, mais do que deveria. Você tem estado em meus pensamentos, e me sinto estranha por não saber o que está acontecendo com você. Não é como se estivéssemos longe, mas ao mesmo tempo, tudo parece diferente.

Eu queria poder fazer mais, Harry. Eu... eu não quero te pressionar, mas preciso saber se você está bem.

De qualquer forma, me mande notícias quando puder. Estou aqui, esperando, como sempre.

Com carinho,
Clarissa"

Ela terminou de escrever a carta e ficou olhando para o papel por alguns segundos. Sentiu um leve peso em seu peito, como se cada palavra que escrevera fosse uma tentativa de atravessar a distância que os separava.

Clarissa suspirou e, antes de deixar a carta na coruja que ela já sabia que viria buscar, olhou pela janela mais uma vez, sentindo o peso da saudade misturado com a incerteza do que estava por vir.


( . . . )



A sala dos Granger estava mergulhada em uma escuridão suave, pontuada apenas pelo brilho fraco da televisão, que projetava sombras dançantes nas paredes. Era uma noite comum na casa dos Granger, com o calor do lar substituindo as preocupações e a ansiedade que constantemente rondavam a mente de Clarissa.

Ela estava com a manta vermelha, macia e acolhedora, enrolada sobre os ombros, a manta que ela tanto amava — sendo ela o território inexplorável para todos da casa, a Granger mais nova tinha um apego enorme a ela — enquanto se preparava para sair em busca de mais uma das tradições da família: os filmes de sábado à noite.

— Que tal uma pipoca? — Disse Clarissa com um sorriso travesso, se afastando da cadeira onde estava sentada.

Adam, que estava recostado no sofá, deu de ombros.

— Só se você fizer. Você é a mestre das pipocas da casa. — Disse ele de forma irônica, dando uma piscada para a filha, que se virou para a cozinha com um olhar determinado.

Diana, que estava deitada, parecia um pouco cansada, mas ainda sorria com carinho para Clarissa.

— Acha que vai conseguir acertar dessa vez? — Perguntou, uma expressão levemente zombeteira nos lábios, mas seu tom era afetuoso.

Clarissa fez uma careta, lembrando-se das inúmeras vezes em que, na tentativa de fazer a pipoca, ela acabara por queimar o milho e transformar a cozinha em um campo de fumaça.

— Eu vou tentar! Prometo que não vou queimar. — Respondeu com confiança, se dirigindo para a cozinha.

Ela retirou o milho da prateleira e pegou a pipoqueira com um toque certeiro, movimentando-se com o ritmo familiar. Estava quase tudo pronto quando, de repente, uma voz baixa e misteriosa sussurrou atrás dela, fazendo Clarissa pular de susto.

— Olá, senhorita Clarissa Granger.

Clarissa se virou, o coração disparando, e deparou-se com uma visão completamente inesperada. Diante dela estava uma criatura que ela nunca imaginara encontrar fora de Hogwarts: um elfo doméstico. Ele tinha orelhas grandes e pontiagudas, como as de um morcego, e seus olhos verdes eram tão grandes que pareciam quase desproporcionais ao rosto pequeno. Ele usava uma espécie de farrapo, uma fronha velha transformada em um vestuário improvisado.

Clarissa arregalou os olhos, completamente atônita.

— Pelo Merlin! Um elfo! — Ela exclamou, engolindo em seco. Estava tão surpresa que não sabia se deveria correr ou simplesmente perguntar o que estava acontecendo. — Como você... o que está fazendo aqui?

O elfo deu uma pequena reverência, a cabeça tocando o chão com um estalo exagerado. O movimento parecia quase mecânico, uma ação instintiva de respeito que ele não conseguia evitar, como se estivesse programado para isso.

— Dobby, senhorita Clarissa Granger, é um prazer conhecê-la! — Ele disse com um tom grave e solene, os olhos brilhando de um verde vívido. Ele se endireitou e olhou para ela com uma expressão de profunda reverência.

— Você quer alguma roupa? — Murmurou Clary, aproximando-se e abaixando-se para ficar à altura do pequeno ser.

O elfo virou o rosto levemente para o lado, demonstrando hesitação. Subitamente, começou a bater na própria cabeça freneticamente e, ao cessar, falou:

— Obrigado, senhorita Clarissa Granger, mas eu não posso aceitar. — Respondeu de forma educada.

— O prazer é meu, Dobby. — Clarissa estendeu a mão para cumprimentar o elfo. Ele, confuso, aceitou e apertou a mão dela, tremendo ligeiramente, deixando-a incerta se era de frio ou nervosismo. — Se não se importa de eu perguntar, o que faz aqui na minha casa? Por favor, não leve isso como grosseria, só estou curiosa.

— Dobby veio... libertar a senhorita Clarissa Granger. Avisar-lhe sobre o perigo que está se aproximando.

— Libertar? Perigo? — Ela repetiu, tentando entender. — Mas... quem são seus donos? E o que você quer dizer com isso? — Clarissa estava começando a ficar confusa, seus olhos se estreitando enquanto ela tentava captar qualquer pista no comportamento do elfo.

Dobby pareceu hesitar por um momento, batendo com força em sua própria cabeça, como se tentasse tirar os pensamentos da mente. Seus olhos se desviaram brevemente de Clarissa, antes de ele voltar a encará-la com uma intensidade inquietante.

— Não posso, senhorita. Não posso falar... — ele murmurou para si mesmo, como se estivesse lutando com algo interno. Clarissa ficou ainda mais intrigada. Ele parecia estar tentando encontrar as palavras certas, como se fosse difícil dizer o que precisava ser dito. — Dobby não pode falar sobre os senhores, mas tem um dever... um dever de alertar a senhorita. Não posso deixar que o mal chegue até ela. Não posso permitir que ele a machuque, senhorita.

Clarissa franziu a testa, sentindo que havia algo mais profundo acontecendo, algo que não conseguia ver, mas que certamente estava ao seu redor.

— Dobby, o que você está tentando me dizer? — Perguntou ela, um pouco mais dura desta vez. A sua paciência estava começando a se esgotar, e ela precisava de respostas claras. — Por que está dizendo que há perigo? Isso tem a ver com Harry, não tem?

Dobby olhou para ela com um brilho de alívio nos olhos, como se finalmente ela tivesse compreendido algo importante. Ele acenou rapidamente com a cabeça, seus grandes olhos se alargando.

— Sim, senhorita. O amigo de Clarissa Granger está em grande perigo. O mal está vindo atrás dele, muito mais forte do que antes. Dobby ouviu os rumores, ouviu os sussurros do vento... coisas ruins estão acontecendo na escola. E não apenas na escola, mas também fora dela. As sombras se aproximam, e Dobby teme por todos. O senhor Harry, ele não está seguro. — Dobby balbuciou, sua voz tremendo com o peso das palavras.

Clarissa se afastou, sentindo um nó se formar em seu estômago.

— Mas... — Clarissa começou, tentando controlar a sensação de pânico que estava crescendo dentro dela. — Como eu posso ajudar? O que posso fazer?

Dobby pareceu lutar com a resposta. Ele balançou a cabeça, claramente desconfortável.

— Dobby não sabe tudo, senhorita. O futuro é difícil de ver, mas... há algo em você, algo que está ligado ao destino de Harry... eu presumo.

Clarissa olhou para Dobby, completamente absorvida pela gravidade das palavras que ele havia acabado de dizer. Ela ainda não conseguia processar tudo o que ele estava tentando comunicar, mas o medo em sua expressão e o tom urgente em sua voz indicavam que algo muito sério estava acontecendo.

— Dobby ouviu falar que a Senhorita Clarissa Granger encontrou o Lorde das Trevas pela segunda vez, junto de seu amigo, o Senhor Harry Potter, o visitei em sua casa hoje. — As palavras de Dobby pareciam pesar como pedras sobre o silêncio da cozinha. Ele falava com a mesma ansiedade de sempre, mas havia algo mais profundo por trás de sua aflição.

Clarissa arregalou os olhos, um calor subindo por seu rosto, e ela se mexeu desconfortavelmente. Estava tão surpresa que as palavras saíram apressadas e desordenadas:

— Pelo Merlin! Por que ele não responde minhas cartas? E como ele está? O que aconteceu? — Ela falou rapidamente, sua voz tingida de uma preocupação visível, mas logo se deu conta de que estava interrompendo o elfo, e se calou com um suspiro, envergonhada.

Dobby deu uma leve tossida, parecendo ajustar sua postura antes de responder, quase como se estivesse pesando cuidadosamente suas palavras.

— O Senhor Harry Potter está... está bem, senhorita Clarissa Granger. — Ele hesitou por um momento, e Clarissa notou a falta de certeza na voz do elfo. Algo não parecia certo, mas ela não teve tempo de questionar mais, pois Dobby continuou, com mais urgência em sua voz agora. — Mas há algo mais. Algo... que pode afetá-la diretamente. Algo que... não posso deixar de avisá-la.

Dobby parecia incapaz de ficar parado, seus pequenos dedos mexendo-se sem parar enquanto ele tentava reunir coragem para continuar. Ele olhou diretamente para Clarissa, os olhos grandes e cheios de temor.

— Dobby ouviu falar da Senhorita, Dobby veio avisar para a Senhorita Clarissa Granger não voltar nunca mais a Hogwarts... eles a querem. — O elfo falou, sua voz mais baixa agora, quase um sussurro, mas Clarissa pôde ouvir a intensidade do que ele dizia. — Eles a querem, senhorita. Não é só o Senhor Harry Potter... não, é você também. Eles sabem o que você tem. E isso é perigoso.

Clarissa congelou. Não conseguia entender, o que ela tinha? O que seria tão importante para os seguidores do Lorde das Trevas? E por que ela, que sempre se sentiu tão pequena comparada a Harry, agora era o alvo? Ela estava prestes a perguntar mais, mas de repente, foi interrompida por um som familiar vindo da sala.

— Calma aí que eu estou terminando de fazer a pipoca. — Ela murmurou, olhando em direção à sala, onde seus pais estavam imersos em uma sessão de filme. Eles não pareciam notar a conversa tensa que se desenrolava na cozinha. Apenas um murmúrio vago veio de Adam e Diana, como se nada estivesse acontecendo. Eles estavam mais concentrados no filme do que em qualquer outra coisa, imersos em sua própria rotina tranquila.

Clarissa balançou a cabeça, tentando afastar as preocupações e focar no momento. Correu até a sala e pegou um cobertor que Hermione tinha deixado de lado no sofá. Ela o levou para a cozinha, tentando esconder o tremor nas mãos.

Quando voltou, ela o enrolou cuidadosamente em torno de Dobby. O elfo fez um movimento involuntário, como se estivesse prestes a chorar, mas Clarissa o interrompeu antes que ele começasse a soluçar. Ela não queria que ele se perdesse novamente no próprio medo. Ela precisava de respostas agora.

— Dobby, que tal ir direto ao ponto? — Clarissa disse, tentando controlar sua própria ansiedade. Ela se abaixou para ficar à altura dele, segurando-o de maneira gentil, mas firme. — O que está acontecendo? O que você quer me dizer?

Dobby respirou fundo, e por um momento, Clarissa imaginou que ele pudesse recuar, que ele não fosse capaz de revelar mais. Mas então ele começou a falar, sua voz agora mais carregada de um tom sombrio.

— Há uma trama. Uma trama para fazer coisas terríveis acontecerem na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts este ano. — Sua voz tremeu ligeiramente, e Clarissa percebeu que ele estava realmente assustado. Ela ouviu atentamente, seu coração batendo mais forte com cada palavra. — Eles têm planos... planos para controlar tudo. E a senhorita Clarissa Granger... a senhorita... você está no meio disso tudo.

— Dobby, Hogwarts é meu lugar, meu lar. Eu... eu não posso simplesmente deixar tudo para trás. — A jovem bruxa respondeu. Era difícil entender o que estava acontecendo, mas ela sabia que não podia simplesmente fugir. Hogwarts era seu refúgio.

Dobby observou Clarissa por um momento, e então murmurou:

— A senhorita fala que nem o Senhor Harry Potter. — Ele fez uma pausa, seus olhos verdes se fixando nela. — Dobby sabe disso a meses, senhorita. A Senhorita Clarissa Granger não deverá voltar a Hogwarts.

Clarissa tentou entender, mas a ideia de deixar Hogwarts parecia absurda. Ela não queria ir embora. Não podia. Seus amigos estavam lá. Ela precisava de respostas, não de mais perguntas.

— Quais perigos que estarão em Hogwarts? — Ela perguntou, tentando manter a calma. Seu coração acelerava, mas ela precisava saber. Não podia mais ignorar o que estava sendo dito.

Dobby parecia hesitar por um momento, sua expressão se tornando ainda mais tensa. Ele olhou para o chão, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas para dizer.

— A Senhorita Clarissa Granger não deverá acender... — A voz de Dobby era baixa, quase um sussurro, como se ele tivesse medo de dizer mais. Clarissa não entendeu a palavra, seu rosto se contorcendo de confusão. — E se continuar indo a Hogwarts, isso vai acontecer com a senhorita em algum momento... Quase aconteceu no ano passado.

— Como assim eu não posso acender? Acender o que? — Clarissa perguntou, o pânico começando a tomar conta dela. O que Dobby estava dizendo? O que era isso?

Dobby se desenrolava do cobertor lentamente, suas mãos agora tremendo enquanto ele dobrava o tecido de forma distraída.

— Eles a querem mais que tudo... — Ele falou em um tom baixo e tremendo, os olhos de Dobby fixos em Clarissa como se ela fosse a única coisa que importava. — Fariam de tudo para ter o que a senhorita Clarissa Granger tem. Dobby já alertou a senhorita... Dobby espera que a senhorita Clarissa escute o sinal...

— Me querem? — Questionou confusa. — Dobby, espera! — Clarissa interrompeu, aproximando-se dele com o coração batendo acelerado. — O que você quer dizer com isso? "Eles a querem mais que tudo"? Quem são "eles"? E o que significa "acender"? Eu preciso entender, por favor!

O elfo hesitou, sua expressão se contorcendo em preocupação, e ele olhou para ela como se quisesse lhe contar mais, mas não pudesse. Finalmente, ele suspirou e falou, a voz baixa e cheia de tensão.

— O que a senhorita tem, eles querem, e não é algo bom. Você... você tem algo em sua alma que os atrai, e se você continuar em Hogwarts... não estará segura. O Senhor Harry Potter tem medo de que isso aconteça com você também.

— Eu... o que eu tenho? — Ela falou, sua voz agora tremendo com a intensidade da situação. — O que você está dizendo, Dobby?

— Não posso dizer tudo, senhorita. Não posso... Mas eu vou tentar. — Dobby olhou ao redor da cozinha, como se verificasse se alguém estava ouvindo, e depois se aproximou um pouco mais de Clarissa, falando em um sussurro. — A senhorita tem algo em sua essência, algo que poucos têm, algo que ultrapassa décadas... e... isso chama a atenção deles. Eles não podem resistir. Se a senhorita continuar em Hogwarts, vai acabar se tornando o alvo deles... na verdade, já se tornou.

Clarissa ficou em silêncio, absorvendo suas palavras, mas sua mente ainda estava cheia de dúvidas. O que ele estava dizendo fazia sentido? Ela tinha alguma coisa que atraía as trevas? Ela não conseguia entender como, mas o tom da voz de Dobby e o medo que ele demonstrava eram impossíveis de ignorar. Clarissa pensou por um momento, tentando juntar as peças de tudo o que sabia.

— Dobby sabe que a senhorita é corajosa... mas a senhorita não compreende. O que está acontecendo em Hogwarts é mais perigoso do que pode imaginar. O Senhor Harry Potter e a senhorita, já enfrentaram o maior perigo, mas a senhorita... a senhorita está mais envolvida do que pensa.

Clarissa se aproximou dele novamente, mais determinada do que nunca.

— O que exatamente está acontecendo em Hogwarts, Dobby? O que você está tentando me avisar?

— Eles estão planejando algo terrível, senhorita. A senhorita não deveria estar lá quando isso acontecer.

Clarissa sentiu um nó na garganta ao ouvir as palavras de Dobby, mas ela não podia deixar de se sentir mais perdida do que nunca. A ideia de sair de Hogwarts, de se afastar de seus amigos, parecia impossível. Mas o que Dobby dizia estava carregado de uma urgência inegável. Algo estava acontecendo, e ela precisava saber o que era, antes que fosse tarde demais.

— Dobby, não sei o que fazer. — Ela sussurrou, quase sem fôlego. — Eu quero ajudar, quero estar ao lado de Harry, mas não posso colocar todos em perigo. O que você sugere que eu faça?

Dobby parecia aliviado por ela finalmente ouvir. Seus olhos brilharam com uma mistura de esperança e tristeza enquanto ele dizia:

— Dobby não sabe o que fazer... mas a senhorita Clarissa Granger precisa ouvir o sinal. Dobby agradece pela bondade da Senhorita, mas Dobby precisa ir.

Dobby, com uma última reverência exagerada, desapareceu em uma nuvem de fumaça que logo se dissipou, deixando para trás apenas o silêncio denso da cozinha. Clarissa ficou ali, no mesmo lugar, por um momento, sem saber se ainda estava processando o que havia acabado de ouvir. Ela sentiu o coração bater forte, mas decidiu que não era hora de se preocupar mais com o que não podia controlar naquele instante. Com um suspiro profundo, ela se levantou e voltou para a sala, tentando fazer de conta que nada havia acontecido.

— Cadê a pipoca? — Hermione perguntou sem desviar o olhar da tela, soltando uma risada divertida, ainda assim ela parecia bem ciente de que algo estava estranho com a irmã. Clarissa forçou um sorriso, tentando aparentar normalidade.

— Mudei de ideia, que tal pedirmos uma pizza? — Clarissa sugeriu, sem pensar duas vezes, tentando trazer um pouco de normalidade à situação. Ela sabia que suas palavras teriam o efeito desejado: sabia que sua mãe e irmã iriam adorar a ideia. E, de fato, ao olhar para os olhos de Diana e Hermione, Clarissa viu as faíscas de entusiasmo começarem a brilhar.

Hermione e Diana trocaram olhares cúmplices antes de Diana se inclinar para frente, com os olhos brilhando.

— Ótima ideia! Pizza parece perfeito. — Ela respondeu, e Clarissa sorriu, embora a inquietação ainda a acompanhasse.



( . . . )


O sol já começava a entrar pela janela do quarto de Clarissa, espalhando uma luz suave sobre sua cama. Ela estava coberta pela manta, enroscada como um caracol, e sentia o calor reconfortante do seu cobertor. Mesmo com todas as questões não resolvidas, ela não conseguia evitar o sono que a envolvia com suavidade. Mas antes que pudesse se deixar consumir pelo descanso, algo, ou melhor, alguém, a acordou.

Clarissa sentiu uma leve pressão nas costas, um toque suave, mas persistente. Ela revirou os olhos sem abrir os olhos, tentando espantar a sensação. No entanto, alguém insistiu.

— Aé? Não quer mesmo saber do Harry? — Hermione perguntou de forma travessa, com as sobrancelhas arqueadas e um tom provocativo. Clarissa suspirou pesadamente, não estava pronta para mais conversas, mas as palavras de Hermione a pegaram de surpresa.

Ela imediatamente abriu os olhos, os pensamentos se acelerando. Sentou-se abruptamente na cama, olhando para Hermione com um misto de preocupação e raiva. O nome de Harry parecia ser o estopim para tudo que estava em sua mente. Ela não podia mais ignorar.

— O que foi? O que você sabe sobre ele? — Clarissa perguntou, a voz carregada de uma ansiedade crescente. Ela estava à beira de explodir.

Hermione riu baixinho, tentando esconder o sorriso malicioso, mas Clarissa estava com a mente a mil. Ela olhou para baixo e viu que sua irmã segurava uma carta amassada, aparentemente sem querer que fosse vista.

Clarissa estendeu a mão, pegando a carta de forma rápida e impaciente. Sua raiva aumentava a cada palavra que ela lia.

"Queridos Rony, e Harry, se estiver aí.

Espero que tudo tenha corrido bem com o resgate de Harry, que ele esteja bem e que você não tenha feito nada de ilegal para tirá-lo de lá, Rony, porque isso criaria problemas para o Harry também. Tenho estado realmente preocupada, e como devem imaginar, não somente eu, Clarissa está um poço de mal-humor ultimamente, só fala do Harry e fica se questionando o motivo dele não responder as milhares de cartas que enviou. Se Harry estiver bem, por favor mande me dizer logo, mas talvez seja melhor usar outra coruja, porque acho que mais uma entrega talvez mate essa aí. Estou muito ocupada, estudando, é claro. E distraindo Clarissa do assunto Harry. Então me mande notícias assim que possível, ou a Clary vai me matar e logo irá atrás de vocês também. Iremos ao beco diagonal na próxima quarta-feira, que tal nos encontrarmos lá?

Afetuosamente, Hermione"

Clarissa leu a carta em silêncio, um furor crescente queimando dentro dela. Ela levantou a cabeça e lançou um olhar mortal para sua irmã, que agora parecia estar tentando disfarçar seu nervosismo.

— Como pôde esconder isso de mim? "Distraindo a Clarissa do assunto Harry"? Está falando sério, Hermione? — Clarissa rosnou, cruzando os braços e se aproximando de sua irmã com os dentes cerrados. Seus olhos estavam queimando de raiva, e ela sentiu como se uma onda de frustração estivesse prestes a transbordar.

Hermione se encolheu ao perceber que a carta havia sido descoberta. Ela ficou em silêncio por um momento, tentando montar uma explicação plausível. Mas Clarissa não estava mais disposta a esperar.

— Não era para você ler essa carta... O Rony deve ter enviado de volta junto com essa outra. — Hermione murmurou, apontando para a outra carta que ainda estava na mesa. Clarissa pegou a nova carta com raiva, abrindo-a rapidamente para descobrir mais sobre o que sua irmã havia tentado esconder.

"Querida Clary, e Hermione se ainda estiver viva,

Conseguimos salvar Harry dos tios nojentos dele, ele está muito grato e já nos agradeceu milhões de vezes sobre isso. Ele mandou dizer a vocês que está bem e que não respondeu as cartas de vocês por causa que um elfo interceptou as cartas dele para ele achar que havíamos esquecido dele. Ele já leu as cartas e falou que iria respondê-las. Clary, por tudo que é mais sagrado, não mate a Hermione. Nós guardamos segredo para você não ficar preocupada. Acredito eu que se você soubesse disso, daria um jeito louco de vir para cá, só que sabemos que isso daria errado em diversos níveis. Por isso, não a contamos. Nos encontramos no beco diagonal, até mais.

Com carinho e um pouco nervoso pela vida de Hermione,
Rony Weasley"

Clarissa sentiu uma onda de raiva passar por ela, seu rosto corando de frustração. Ela jogou a carta para o lado e olhou para Hermione com os olhos flamejantes.

— Ótimo, vou matar vocês dois ao mesmo tempo! Por acaso o Fred e George também sabiam disso? — Ela gritou, sentindo uma fúria incontrolável tomar conta de seu corpo.

Hermione, com um olhar desconfortável, assentiu lentamente.

— MALDITOS! — Clarissa explodiu, se levantando furiosamente da cama, indo em direção ao banheiro. A raiva borbulhava dentro dela, mas ela não sabia como lidar com aquilo tudo.

— É... está tudo bem? — Adam apareceu na porta do quarto e colocou o ouvido na porta do banheiro, tentando ouvir alguma reação.

Hermione deu de ombros, sentindo o peso da situação. Ela fez um sinal negativo com a cabeça e murmurou baixinho para Adam.

— Acho melhor deixar ela sozinha por um tempo. — Hermione sussurrou. E logo, ela e Adam desceram para dar um tempo, enquanto Clarissa ainda estava trancada no banheiro, tentando, com toda sua força, acalmar o turbilhão de emoções que a consumia.

Clary solta um grito de frustração... Por ter passado tanto tempo com raiva e preocupada com Harry e por terem bolado um plano sem contar a ela.

Ela se apoiou na pia, respirando fundo, tentando controlar a tempestade de emoções que a tomava. Sua mente estava uma confusão de raiva e frustração.

Ela se forçou a olhar para o espelho à sua frente, com os olhos apertados, tentando reunir forças para acalmar os pensamentos. Mas ao fazer isso, algo chamou sua atenção. As cores em seus olhos estavam mais intensas. Não era apenas o reflexo de uma garota com raiva – o que ela viu foi algo muito mais profundo... foi o que aconteceu em seu primeiro ano.

Seus olhos, normalmente verdes, agora exibiam um brilho incomum. Um estava dourado de forma quase sobrenatural, como a luz do sol em seu auge, irradiando como se fosse uma chama viva. Mas o que a fez parar foi o azul – um azul intenso, profundo, como o brilho da lua nas noites mais claras, refletindo um mistério que Clarissa não sabia decifrar.

Ela piscou, sem acreditar no que estava vendo... achava que isso havia acabado. O azul parecia se mover, pulsar com uma energia estranha e forte, enquanto o dourado parecia fundir-se com ele, criando uma mistura hipnotizante. Seus olhos estavam brilhando, quase cegantes, como se algo dentro dela estivesse despertando – algo que ela não compreendia.

Clarissa ficou parada, tentando reunir os pedaços de si mesma. Seus dedos ainda estavam trêmulos e, por um momento, o medo quase a paralisou. O que ela tinha visto no espelho não parecia real, mas a sensação em seu peito era indiscutível. Algo estava mudando. Algo que ela não poderia ignorar. Mas, naquele instante, a preocupação de Hermione se fez ouvir novamente, arrancando-a de seus pensamentos confusos.

— Clary, você está me ouvindo? — A voz de Hermione era mais suave agora, carregada de uma ternura que, naquele momento, parecia um pouco desesperada. Clarissa sabia que a irmã estava preocupada.

Ela respirou fundo e tentou retomar o controle sobre si mesma, fazendo o possível para que sua voz soasse normal.

— Estou bem, Hermione. Só... só preciso de um minuto, ok? — respondeu, mais calada do que gostaria, e ainda com a sensação da pressão em seu peito.

Silêncio se seguiu do lado de fora, e Clarissa ouviu o som dos passos de Hermione se afastando lentamente. A jovem Granger fechou os olhos por um momento, tentando se acalmar. Mas, quando abriu os olhos novamente, o reflexo que encontrou no espelho a fez hesitar por um segundo. O brilho dourado e azul já estava diminuindo, mas não desapareceu por completo. Era como se o espelho ainda tivesse traços das cores místicas que haviam dançado em seus olhos.

Ela tocou o espelho novamente, os dedos mais firmes desta vez, tentando entender o que estava acontecendo. O que Dobby queria dizer sobre os perigos de Hogwarts? O que ele quis dizer com "acender"? Sua mente estava a mil, mas ela sabia que havia mais ali, mais do que sua própria confusão poderia compreender.

Clarissa se afastou, determinada a não ceder ao medo. Olhou para a porta do banheiro e se permitiu um último suspiro profundo, decidida a não deixar os acontecimentos a dominarem. Não ainda.

— Eu vou descobrir o que isso significa. — Murmurou para si mesma, como uma promessa silenciosa. Ela não sabia exatamente o que a esperava, mas não podia mais ignorar os sinais, não podia mais fugir.

Com um movimento resoluto, ela abriu a porta do banheiro e saiu para o quarto. Ao olhar para Hermione, que estava esperando com a expressão de quem sabia que alguma coisa estava diferente, Clarissa forçou um sorriso, tentando ocultar o turbilhão dentro de si.

— Vamos descer para o café da manhã? — Ela perguntou com a voz mais leve do que se sentia, mas ainda assim, a urgência estava lá. Algo estava prestes a acontecer, e Clarissa não sabia o que era, mas estava começando a sentir que não podia mais esperar. O futuro, ou o que quer que fosse que estivesse se aproximando, não estava mais tão distante.

Hermione a observou por um momento, a expressão dela ainda cheia de preocupação. Mas, ao ver o sorriso forçado de Clary, a jovem Granger não insistiu. Ela apenas assentiu e caminhou ao lado da irmã, cada uma com seus próprios pensamentos.

O que Dobby havia dito sobre os perigos em Hogwarts? E o que estava acontecendo com ela? Os olhos dourados e azuis não eram um simples reflexo. Eles eram um sinal, e Clarissa estava começando a perceber que seu destino estava prestes a mudar de maneiras que ela ainda não compreendia.




• Sim, aquele prólogo ao qual ninguém pensou que sairia mais, saiu. Sinto muito por fazê-los esperar, mas a vida está muito corrida.

• Meu presente de Natal um pouco atrasado para vocês!

• Nossa queridinha Clarissa Granger está de volta.

• O que acharam desse aviso de Dobby?

• O que acham que vai acontecer nesse ano dela?

• Espero que gostem.


"A criança herdeira do sagrado jamais deverá acender."


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