CHAPTER EIGHTEEN - Chess



CAPÍTULO DEZOITO -
Xadrez

"Clary, quem não teria nariz?"





POV. NARRADORA








Os dias seguintes se desenrolaram com uma monotonia cuidadosamente calculada, especialmente por Hermione, que estava determinada a dedicar cada segundo ao estudo. Clarissa, embora sempre relutante em seguir o cronograma rígido da irmã, dessa vez não reclamou. Os exames finais estavam se aproximando, e embora sua mente estivesse uma tempestade de pensamentos conflitantes, ela sabia que precisava se concentrar. Pelo menos, era o que o lado racional lhe dizia.

Mas Clarissa não conseguia ignorar os sussurros do seu lado emocional, que insistia em dizer que havia algo de errado, algo mais sombrio que rondava os corredores de Hogwarts. Desde os eventos na Floresta Proibida, ela não conseguia afastar a sensação de que algo estava prestes a explodir. Seu coração palpitava sempre que pensava no que viram — ou melhor, no que sentiram — naquela noite aterrorizante. Havia algo que eles ainda não tinham desvendado, e o mistério parecia roer as bordas de sua sanidade.

No entanto, as semanas se transformaram rapidamente em dias, e logo o calor se fez presente, substituindo o frio intenso que havia envolvido o castelo por semanas. Clarissa estava grata pela mudança de clima. O sol parecia ser uma bênção, mas ao mesmo tempo, havia uma inquietação no ar. Algo que ela não conseguia explicar.

Finalmente, o último exame chegou — História da Magia. A sala de aula abafada parecia sufocá-los enquanto o professor Binns, em seu costumeiro tom sonolento, repetia os fatos que pareciam se arrastar por séculos. Clarissa mal prestou atenção. Sua mente estava em outro lugar, focada em questões que nenhum livro poderia responder. Quando o exame finalmente terminou, o alívio foi notável entre os alunos. Eles praticamente saíram da sala como prisioneiros libertos de uma longa sentença.

— Foi muito mais fácil do que eu pensei! — comentou Hermione animadamente, enquanto o grupo se acomodava na grama verde e quente do jardim de Hogwarts, próximo ao Lago Negro. Ela abriu um sorriso satisfeito, seus olhos brilhando com o sucesso acadêmico que certamente alcançaria.

Clarissa, por outro lado, estava distraída. Sentada ao lado da irmã, seu olhar estava fixo em um ponto distante, as palavras de Hermione mal registrando em sua mente. Ela assentiu vagamente, como se estivesse concordando, mas na verdade não ouvira uma palavra. O mundo ao seu redor parecia embaçado, suas preocupações fervilhando em sua mente, gritando por atenção.

— Clarissa? — Hermione a cutucou gentilmente. — Você me ouviu?

— Hã? Sim, claro... mais fácil do que pensei. — A resposta saiu mecânica, e Hermione franziu a testa, claramente percebendo que algo estava errado.

Antes que ela pudesse pressionar mais, Harry esfregou a testa, interrompendo a conversa.

— Eu gostaria de saber o que isso significa — murmurou, sua mão pressionando a cicatriz em forma de raio. — Minha cicatriz não para de doer... já senti isso antes, mas nunca com tanta frequência. — Ele olhou para os amigos, sua preocupação visível.

Hermione imediatamente ficou alerta, seu olhar se voltando para Harry com seriedade.

— Isso é estranho, Harry. Talvez devêssemos procurar Dumbledore...

Clarissa finalmente ergueu o olhar. Sua expressão estava pálida, e seus olhos, que normalmente brilhavam de vitalidade, agora pareciam cansados, como se ela carregasse um peso invisível.

— Eu também não me sinto bem — murmurou, quase num sussurro. — Deve ser o choque... de tudo o que passamos. — Mas sua voz falhava, traindo o fato de que nem ela acreditava nisso.

Harry e Hermione trocaram olhares, preocupados. Harry sabia que Clarissa estava tão abalada quanto ele pelos eventos recentes, talvez até mais. O encontro com a figura encapuzada, o ataque ao unicórnio, a sensação de que algo maior estava em jogo... nada disso parecia ter uma explicação.

Hermione, sempre prática, tentou oferecer algum conforto.

— Pode ser só o estresse... todos passamos por muita coisa ultimamente. Entre os exames e... bem, aquilo, não é surpresa que você não esteja se sentindo bem, Clary. Mas temos que acreditar que as coisas vão melhorar.

— Vão? — Clarissa perguntou, sua voz vacilante. Ela sentia um nó crescente em seu estômago, uma sensação de que algo terrível estava à espreita. — Porque parece que quanto mais o tempo passa, pior fica. Não consigo parar de pensar naquela coisa... naquela criatura. O que vimos... não foi só um ataque. Foi algo mais profundo, mais maligno. — Ela respirou fundo, tentando se recompor. — E eu sinto que ainda estamos no meio disso.

— Estamos juntos nisso, Clary — Harry disse firmemente. — Não importa o que aconteça, vamos enfrentar isso. Não estamos sozinhos.

Clarissa o olhou nos olhos e, por um breve momento, sentiu um fio de esperança. Mas logo foi suprimido pela dor constante em sua mente, um eco sombrio da noite na floresta... Da dor arrebatadora em seu peito, cabeça...

Hermione suspirou, puxando um tufo de grama e jogando-o de lado.

— Talvez seja melhor tentar descansar. Todos nós precisamos de um pouco de paz, nem que seja por algumas horas.

— Paz? — Clarissa repetiu com um sorriso amargo. — Acho que faz tempo que não sabemos o que é isso.

O grupo ficou em silêncio por um momento, até que Hermione, com os olhos brilhando de determinação, praticamente saltou da grama, como se tivesse sido atingida por uma inspiração repentina.

— Temos que ir ver o Hagrid imediatamente! — exclamou, agitando os braços como se quisesse que todos saíssem correndo naquele exato segundo.

— Como é que é? — Ronald ergueu uma sobrancelha, olhando para Hermione com uma mistura de confusão e cansaço.

Clarissa também a olhou com uma expressão de perplexidade. Ela estava exausta, tanto física quanto emocionalmente, e agora Hermione estava propondo mais uma corrida contra o tempo.

— Hermione, do que você está falando? — Clarissa perguntou, sua voz soando hesitante, mas intrigada.

— Vocês não acham um pouco estranho... — Harry começou, pegando o fio da ideia que Hermione lançara. Seus olhos estreitaram-se enquanto ele refletia, e de repente tudo começava a fazer sentido. — Que o que Rúbeo mais quer na vida é um dragão, e, do nada, aparece um estranho que por acaso tem ovos de dragão no bolso? Ainda mais quando isso é contra as leis dos bruxos? E esse "estranho" dá o ovo justamente para Hagrid, que mal consegue resistir a uma criatura mágica? Que sorte ele teve de encontrar Hagrid, não acham? Por que não percebi isso antes?

Clarissa piscou, e subitamente uma lâmpada se acendeu em sua mente. Ela sentiu o estômago se revirar ao perceber o que aquilo significava.

— Ai, Meu Merlin! Isso foi tudo planejado! — Clarissa falou inesperadamente, sua voz carregada de surpresa e indignação.

Ronald olhou para o grupo, ainda tentando processar tudo aquilo.

— Esperem, esperem. Vocês estão dizendo que... Hagrid foi enganado?

— Exatamente, Ron! — exclamou Hermione, já andando de um lado para o outro, seu cérebro claramente funcionando a mil por hora. — Quem quer que tenha dado aquele ovo ao Hagrid sabia exatamente o que estava fazendo. Sabia que ele não resistiria a um dragão! — Hermione parou abruptamente, olhando para os outros com os olhos arregalados. — E se isso estiver ligado à Pedra Filosofal? E se quem deu o ovo soubesse que o Hagrid falaria sobre as criaturas guardando a pedra?

Clarissa sentiu o coração disparar. Tudo estava começando a se encaixar, e de repente, o perigo parecia mais real do que nunca.

— Então... isso significa que alguém está realmente tentando... — Harry começou a falar, mas foi interrompido por Clarissa, que completou o pensamento.

— Roubar a Pedra. E eles podem estar mais perto do que imaginamos. — Ela passou a mão pelos cabelos, a inquietação tomando conta de seu corpo. Não podiam perder tempo.

— Não podemos deixar isso acontecer — disse Harry, sua voz determinada.

Sem dizer mais nada, os quatro saíram correndo em direção à casa de Hagrid, o vento soprando contra seus rostos enquanto atravessavam os terrenos de Hogwarts. Cada segundo parecia contar, e a ansiedade no peito de Clarissa crescia a cada passo que davam. Ao chegarem à cabana, eles bateram na porta com força, mas não houve resposta.

— Onde ele está? — Ron perguntou, olhando ao redor nervosamente.

— Só tem um lugar que ele poderia estar — disse Hermione, apontando para a Floresta Proibida.

Sem pensar duas vezes, o grupo se dirigiu para a floresta, onde as sombras das árvores pareciam se estender como mãos ameaçadoras, embora ainda fosse dia. Eles não se intimidaram; precisavam encontrar Hagrid e descobrir o que ele sabia.

— Ali! — gritou Clarissa, apontando para uma figura familiar entre as árvores. Era Hagrid, ajoelhado no chão, cuidando de uma criatura pequena e ferida, suas enormes mãos gentis enquanto tratava dos machucados do animal. Canino estava ao seu lado, observando atento.

— Hagrid! — Hermione chamou, ofegante após a corrida.

Hagrid levantou a cabeça ao ouvir o nome, seus olhos se arregalando ao ver os quatro amigos correndo em sua direção.

— Mas o que vocês tão fazendo aqui? — ele perguntou, sua voz grave carregada de surpresa. — Não deviam estar estudando?

— Preciso lhe perguntar uma coisa. Sabe aquela noite em que você ganhou o Norberto? Que cara tinha o estranho com quem você jogou cartas? — Harry nem mesmo responde a pergunta de Hagrid.

Hagrid piscou, visivelmente surpreso com a abordagem direta, e coçou a barba espessa enquanto tentava se lembrar.

Clarissa, ainda com a respiração entrecortada, soltou de repente:

— Por acaso ele tinha... nariz?

Hermione, que estava ao lado de Clarissa, revirou os olhos com a pergunta aparentemente absurda.

— Clary, quem não teria nariz? — ela murmurou baixinho, mas Clarissa manteve o olhar fixo em Hagrid, esperando por uma resposta.

— Nariz? — repetiu Hagrid, confuso. Ele coçou a cabeça, pensativo. — Pra ser honesto, não lembro se vi o rosto dele direito. Ele não quis tirar a capa... mas que tipo de pessoa não tem nariz?

Harry franziu a testa, impaciente, e perguntou rapidamente:

— O que foi que você conversou com ele, Rúbeo? Chegou a mencionar Hogwarts?

Hagrid passou a mão pelas suas vestes, visivelmente desconfortável com o interrogatório súbito. Ele respirou fundo, e sua expressão ficou pensativa.

— Talvez... — começou ele, falando devagar, como se estivesse revirando suas memórias com dificuldade. — É... ele me perguntou o que eu fazia, e eu respondi que era guarda-caça aqui... Depois perguntou de que tipo de bichos eu cuidava... então eu disse... — Hagrid parou por um segundo, parecendo se lembrar de algo importante, mas hesitou. — E disse também que o que eu sempre quis ter foi um dragão...

Clarissa cruzou os braços, inclinando-se para frente, sua voz baixa, mas cheia de curiosidade.

— E então, o que ele fez depois disso?

— Não me lembro muito bem — respondeu Hagrid, suas sobrancelhas se juntando enquanto ele tentava se recordar. — Porque ele não parava de me pagar bebidas... — Ele riu, como se fosse algo comum, mas logo seu rosto voltou ao tom sério. — Ah, sim! Então ele disse que tinha um ovo de dragão, e que podíamos disputá-lo num jogo de cartas se eu quisesse... mas precisava ter certeza de que eu podia cuidar do bicho, não queria que ele fosse parar num asilo de velhos, disse ele... — Hagrid deu uma risada abafada, mas logo se calou quando viu os olhares tensos dos amigos. — Então respondi que depois do Fofo, um dragão seria moleza...

Hermione, que estava observando atentamente, soltou um suspiro audível, e antes que pudesse falar, Ron murmurou:

— Ai, não! Ele parecia estar interessado demais no Fofo, não acham?

Harry fez uma careta ao ouvir o comentário, mas Hagrid parecia completamente alheio ao impacto de suas palavras.

— Bom... parecia que sim... — disse Hagrid, com um toque de nervosismo. — Quantos cachorros de três cabeças uma pessoa encontra por aí, mesmo em Hogwarts? Então contei a ele que Fofo é uma doçura se a pessoa sabe como acalmá-lo. É só tocar um pouco de música e ele cai no sono... — Hagrid sorriu como se estivesse contando uma simples história, sem perceber o que havia acabado de revelar.

A reação foi instantânea. Hermione arregalou os olhos e deu um passo à frente, sua voz explodindo de frustração e choque.

— Hagrid! Você não poderia ter dito isso a um estranho!

Clarissa, que até então estava em silêncio, sentiu um frio na espinha e franziu a testa, seu coração disparando ainda mais rápido. A magnitude do que Hagrid havia revelado bateu nela como uma onda de pânico. Era como se Hagrid tivesse dado ao estranho um manual detalhado de como passar pelo gigantesco cachorro de três cabeças que protegia a Pedra Filosofal. O pensamento a fez sentir um peso enorme no peito.

— Você... — começou Clarissa, sua voz vacilante de incredulidade. — Você basicamente contou como adormecer o Fofo. Isso significa que... que o ladrão agora tem a chave para chegar à Pedra.

O rosto de Hagrid ficou instantaneamente pálido. Sua expressão relaxada se transformou em puro horror quando a compreensão finalmente o atingiu. Ele deu um passo para trás, como se o chão tivesse se aberto sob seus pés.

— Eu... eu... não devia ter dito isso! — Hagrid gaguejou, levando as mãos gigantescas ao rosto. — Ah, Merlin, eu fui um idiota! Eu não sabia! Não fazia ideia de que ele tava atrás da Pedra...

Harry balançou a cabeça, seu semblante grave.

— Hagrid, temos que ir contar ao Dumbledore. Agora.

— É isso mesmo! — Hermione concordou, apressada. — Não há tempo a perder. Quem quer que esteja por trás disso já sabe como passar pelo Fofo. Eles podem estar prestes a agir!

— Mas... mas eu juro que não sabia! — Hagrid repetiu desesperadamente, parecendo cada vez mais aflito. Ele olhou para os alunos com uma expressão de quem estava prestes a chorar. — O que eu fiz?

Clarissa se aproximou de Hagrid, tentando acalmá-lo.

— Não é culpa sua, Hagrid. Você foi enganado. Eles sabiam exatamente como te manipular. Agora, o que importa é que precisamos parar isso antes que seja tarde demais.

Hagrid assentiu freneticamente, a expressão de culpa ainda marcada em seu rosto.

— Certo, certo... vocês têm razão. Vão rápido! Contem tudo ao Dumbledore!

— Vamos! — Harry gritou, já se virando para correr de volta ao castelo, seguido de perto por Hermione, Clarissa e Ron.

Os quatro amigos saíram correndo da cabana de Hagrid, suas mentes em turbilhão. O tempo estava se esgotando, e cada segundo que passava fazia a tensão aumentar. Eles precisavam encontrar Dumbledore antes que fosse tarde demais.

— Onde é a sala de Dumbledore? — perguntou Harry, ofegante, ao parar abruptamente no corredor. Ele se deu conta de que nunca havia estado na sala do diretor, e a falta dessa informação importante fez seu estômago revirar.

Hermione e Clarissa, que haviam corrido lado a lado, apontaram quase ao mesmo tempo, como se tivessem ensaiado aquele movimento.

— É para lá — disse Hermione, o rosto vermelho pelo esforço da corrida, mas a determinação clara em seus olhos. As duas irmãs Granger tinham estado naquela sala antes, em suas investigações sobre a misteriosa Amélia Bennett, embora nunca tivessem resolvido o enigma.

Eles mal haviam virado a esquina quando quase colidiram com a professora McGonagall. A figura alta da professora de Transfiguração os fez parar imediatamente, como se tivessem sido congelados no lugar. O rosto de Minerva estava severo, sua expressão cheia de desaprovação.

— Para onde os quatro estão correndo desse jeito? — A voz da professora era afiada, seu olhar penetrante indo de um a outro como se estivesse tentando decifrar suas intenções. — Estão aprontando alguma coisa, por acaso?

Hermione foi a primeira a falar, sempre rápida com uma resposta — especialmente quando a situação envolvia autoridades.

— Queremos ver o Professor Dumbledore — disse ela, erguendo o queixo, a determinação presente em cada palavra, mas Minerva não parecia inclinada a deixá-los passar tão facilmente.

— E por que exatamente desejam falar com ele? — Minerva arqueou uma sobrancelha, seu olhar desconfiado. Claramente, ela sabia que algo estava errado, mas não estava disposta a entregar qualquer informação antes de saber o que os estudantes estavam tramando.

Harry abriu a boca para responder, mas hesitou. As palavras escapavam dele, como se não conseguisse encontrar uma forma de explicar a urgência da situação sem revelar demais. Ele sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros, mas o que dizer? Como dizer?

Foi Ronald quem, inesperadamente, tomou a frente. Ele sabia que algo precisava ser dito, e rápido.

— É uma espécie de segredo — murmurou, tentando parecer casual, mas a tensão em sua voz era clara.

Clarissa sentiu o estômago afundar ao ver a expressão de McGonagall. Era uma mistura perigosa de ceticismo e irritação. Não era nada amigável. A professora apertou os lábios, seu olhar endurecendo enquanto olhava para cada um deles, como se estivesse tentando decidir qual seria o próximo movimento.

— O professor Dumbledore saiu há alguns minutos — informou Minerva, seu tom agora mais grave e sério. — Ele recebeu uma coruja urgente do Ministro da Magia e partiu imediatamente para Londres.

A notícia atingiu o grupo como um soco no estômago. Harry sentiu as pernas fraquejarem por um instante, e Ron engoliu em seco.

— Não acham estranho ele sair de Hogwarts justo na hora em que a Pedra Filosofal está em ris... — Clarissa começou a falar, mas antes que pudesse terminar a frase, Hermione reagiu rápido, cobrindo a boca da irmã com a mão, impedindo que ela revelasse o segredo.

Minerva McGonagall, no entanto, já havia ouvido o suficiente. Seu rosto, que já era severo, ficou ainda mais tenso. Seus olhos se arregalaram, e ela deu um passo em direção ao grupo, sua expressão se transformando em uma mistura de surpresa e preocupação.

— Como... como vocês sabem sobre a Pedra Filosofal? — ela perguntou, agora com uma seriedade que fez o ar parecer mais pesado. Clarissa, sabendo que o segredo havia sido revelado, suspirou.

— Já que já falei... — murmurou Clarissa, decidida a não esconder mais nada. — Alguém está tentando roubar a Pedra, e temos quase certeza de que isso está prestes a acontecer. Não temos tempo a perder!

A professora McGonagall olhou para eles por um longo momento, sua mente trabalhando rapidamente. Era claro que ela não sabia se deveria acreditar nas palavras dos alunos ou se tratava de mais uma travessura deles. No entanto, a ansiedade nos rostos deles, especialmente nos de Harry e Hermione, parecia genuína demais para ser ignorada.

— O Professor Dumbledore só estará de volta amanhã de manhã — disse ela finalmente, com um tom calmo, embora a preocupação estivesse escondida em sua voz. — Ninguém está tentando roubar a Pedra. Está bem segura, e Hogwarts é o local mais protegido do mundo bruxo.

Clarissa queria acreditar, queria desesperadamente aceitar as palavras tranquilizadoras de McGonagall, mas algo dentro dela, uma inquietação constante, não a deixava descansar. O perigo era real, e ignorar aquilo parecia insuportável. Os olhares trocados entre seus amigos confirmavam que eles também não estavam convencidos.

— Está mesmo segura? — Clarissa murmurou para si mesma, quase inaudível. Seus pensamentos corriam mais rápido do que seus pés haviam corrido momentos antes. "Segura" não era uma palavra que confortava quando havia tantos mistérios e ameaças pairando sobre eles.

Enquanto se entreolhavam, processando as informações, Minerva se afastou com passos decididos, aparentemente convencida de que tudo estava sob controle. O quarteto permaneceu parado no corredor, como se o peso do mundo estivesse sobre eles. Sabiam que a situação estava longe de ser resolvida e que, com Dumbledore fora, talvez fossem os únicos a impedir que algo terrível acontecesse naquela noite.

Harry, com um olhar atento, verificava ao redor, garantindo que ninguém os ouvisse.

— É hoje à noite — ele murmurou com firmeza, quase como se estivesse afirmando o destino ao invés de apenas constatá-lo. Seus olhos passavam rapidamente pelos corredores desertos. — Snape vai entrar no alçapão hoje. Ele já descobriu tudo que precisa saber e conseguiu tirar Dumbledore do caminho. Foi ele quem mandou aquela carta. Aposto que o Ministro da Magia vai ficar chocado quando Dumbledore aparecer.

O som da voz de Harry, apesar de baixo, parecia ecoar nas paredes do castelo, fazendo o coração de Clarissa acelerar. Ela sentia a gravidade da situação se fechando ao redor deles.

— O que vamos fazer a respeito? — sua voz saiu um pouco mais hesitante do que ela pretendia.

Antes que alguém pudesse responder, Hermione puxou a manga de Clarissa, apontando discretamente para a figura que se aproximava. Eles mal haviam notado a presença de Severo Snape, que agora caminhava com uma confiança sombria pelos corredores. Havia algo sobre a maneira como ele andava, uma quietude predatória que fazia o quarteto se encolher.

— Boa tarde — Snape disse, sua voz fria e arrastada, mas desta vez, um sorriso - um sorriso! - distorcia o rosto dele. A visão era tão perturbadora quanto a ideia de um vampiro oferecendo um aperto de mão amigável. Ele passou por eles com um ar de superioridade, deixando para trás um rastro de sarcasmo que quase parecia um aviso silencioso.

Clarissa engoliu em seco, perplexa.

— Snape sorrindo? — ela murmurou, seus olhos ainda fixos na silhueta distante do professor. — Algo muito estranho vai acontecer...

Assim que se afastaram o suficiente de onde Snape estivera, Harry retomou o plano, sua voz mais baixa, mas ainda carregada de urgência.

— Certo, isto é o que vamos fazer — começou, inclinando-se para mais perto. — Um de nós tem que ficar de olho no Snape. Alguém precisa esperar do lado de fora da sala dos professores e segui-lo se ele sair. Hermione, você deveria fazer isso.

Hermione, que estava visivelmente tensa desde a aparição de Snape, parecia prestes a concordar, mas antes que ela pudesse responder, Clarissa ergueu a mão, sua expressão indecifrável.

— Espera aí. Vocês não acham que isso tudo é... estranho? — Ela olhou para cada um deles, sua voz carregada de uma dúvida profunda. — Como quatro crianças que mal sabem o que estão fazendo vão derrotar dois bruxos poderosos? — O tom de Clarissa era desafiador, mas também refletia a lógica fria e realista que, até aquele momento, havia sido abafada pelo pânico.

Ron bufou, cruzando os braços.

— E o que você sugere, então? — Ele soou quase sarcástico, a frustração e o medo claramente começando a tomar conta dele.

Clarissa respirou fundo, sua voz soando mais calma e convicta do que antes.

— Eu vou pegar a Pedra antes deles.

Os outros três a encararam, boquiabertos. Ron foi o primeiro a se manifestar, sua voz mais alta do que deveria.

— Você ficou maluca! — Ele exclamou, as orelhas ficando vermelhas com a intensidade do momento.

Hermione, sempre a irmã protetora, balançava a cabeça em descrença.

— Clarissa, você perdeu o juízo? Não tem como! — Havia uma mistura de medo e pânico nos olhos de Hermione. Ela estava mais preocupada com a segurança da irmã do que consigo mesma.

Clarissa ergueu uma sobrancelha, sua decisão já tomada.

— Eu não disse que vocês iriam comigo. Vou sozinha. — Suas palavras eram simples, mas carregadas de uma firmeza inabalável. Ela sabia que essa era a única maneira de impedir que algo pior acontecesse.

O rosto de Hermione transformou-se em uma expressão hilária de choque e incredulidade, seus olhos arregalados e a boca aberta em um perfeito "o".

— Até parece que vou deixar você ir sozinha! — A voz dela era firme. — Se você for, eu vou. — A determinação estava clara em seu rosto, e quando Hermione tomava uma decisão, nem mesmo Clarissa conseguia fazer com que ela mudasse de ideia.

— E eu também — disse Harry, cruzando os braços. — Vamos juntos, é a única forma de darmos conta disso.

Clarissa revirou os olhos, mas por dentro, sentia-se aquecida. O apoio dos amigos, especialmente de Hermione, era algo que ela sabia que sempre poderia contar. Mesmo que soubesse o quão perigosa a situação era.

— Harry — disse ela, mudando de assunto, seu tom mais suave agora —, poderia nos emprestar sua Capa da Invisibilidade? — Clarissa fez uma expressão pidona, com olhinhos suplicantes e um pequeno beicinho, claramente tentando aliviar a tensão no ar.

Harry deu um meio sorriso e deu de ombros.

— Claro, mas não sei se vai caber nós quatro...

Clarissa sorriu de lado, um sorriso carregado de adrenalina e empolgação.

— Não importa, vamos dar um jeito. — Ela olhou para os outros, agora com uma certeza renovada. — Então, estamos todos de acordo? Vamos pegar a Pedra antes de Snape e Voldemort.

Rony, ainda claramente nervoso, deu de ombros.

— Malucos, todos vocês. Mas acho que eu também sou, então... vamos nessa.

E assim, com os corações acelerados e um sentimento de unidade os unindo, o grupo se preparou para a maior e mais perigosa aventura de suas vidas até aquele momento. Cada passo os levava para mais perto do desconhecido, e da decisão que poderia salvar ou condenar o mundo bruxo.



( . . . )





Depois do jantar, o quarteto estava no salão comunal, o clima pesado, a sensação de que algo estava prestes a acontecer, deixava todos nervosos e impacientes. O fogo na lareira estalava de forma irregular, mas nem mesmo o calor aconchegante conseguia dissipar a inquietação. Eles trocavam olhares discretos, sabendo que o momento se aproximava, e que logo teriam que colocar o plano em prática.

Harry estava no dormitório, movendo-se com cautela para não chamar atenção. Ele abriu o baú ao lado da cama, tirando de lá a capa da invisibilidade. Seus olhos percorreram o ambiente, certificando-se de que nenhum dos colegas havia visto. O coração batia acelerado, e ele sabia que um passo em falso poderia colocar tudo a perder. Desceu as escadas com a capa enrolada sob o braço, tentando parecer o mais natural possível.

No salão comunal, Hermione folheava um dos seus livros pela última vez. Ela revisava mentalmente todos os feitiços que poderiam ser úteis, os olhos correndo rapidamente pelas páginas. "Não podemos errar", pensou, mordendo o lábio inferior em nervosismo. Clarissa, ao seu lado, fitava o fogo da lareira, repassando o plano em sua mente, inúmeras vezes, buscando qualquer falha, qualquer detalhe que pudesse comprometer tudo. Seus dedos batiam contra a perna, denunciando sua ansiedade crescente.

— Ei, vamos! — Harry sussurrou ao descer as escadas, interrompendo ao momento de ansiedade de todos. Ele se aproximou rapidamente, a capa de invisibilidade já pronta em suas mãos.

Rony, que havia vindo junto com Harry, estava também visivelmente tenso.

Clarissa e Hermione se levantaram de imediato, prontas para embarcar na arriscada missão.

O quarteto começou a se posicionar debaixo da capa, tentando se ajeitar da melhor forma, quando uma voz repentina quebrou o silêncio.

— O que é que vocês estão fazendo? — A voz de Neville soou atrás de uma poltrona. Ele apareceu com o sapo Trevo em suas mãos, e seu rosto exibia uma expressão de preocupação genuína.

Clarissa arregalou os olhos, tentando pensar rápido em uma desculpa, mas sua mente estava uma bagunça.

— Nós... estamos só... — começou, mas sua voz falhou, incapaz de inventar uma mentira convincente.

— Vocês não podem sair! — Neville interrompeu, a voz dele subindo de tom, desesperada. — Vocês vão ser pegos! Grifinória já está com pontos negativos suficientes, e isso só vai piorar!

Ele olhava para eles com olhos arregalados, a ansiedade pulsando em suas palavras. O semblante de Neville era o de alguém genuinamente preocupado.

— Neville... — Hermione começou, a voz suave, como se tentasse acalmá-lo, mas ele a interrompeu novamente.

— Não! — disse ele, balançando a cabeça com determinação. — Vocês não podem fazer isso! Vocês vão acabar colocando todos nós em problemas... mais uma vez!

— Neville, não temos escolha! — Clarissa disse com firmeza, mas Neville parecia cada vez mais resoluto.

— Claro que têm! — retrucou ele, seu rosto agora endurecido com uma expressão de raiva que raramente mostrava. — Vocês sempre têm uma escolha! Vocês acham que isso é um jogo? Grifinória já está encrencada o suficiente, e vocês só estão piorando as coisas!

— Não é sobre os pontos de Grifinória! — Harry explodiu, finalmente se intrometendo, a voz carregada de frustração. — Se fosse, nós nem estaríamos aqui! Isso é muito mais sério do que você imagina, Neville. Muito mais.

Neville o olhou, incrédulo.

— O que pode ser tão sério assim? — Ele apertou o sapo Trevo contra o peito, como se aquilo lhe desse algum conforto. — O que vocês podem fazer que valha a pena arriscar tudo?

Hermione respirou fundo, olhando para o garoto com empatia. Ela sabia que ele não estava entendendo a gravidade da situação, mas também não podia contar a verdade.

— Neville, por favor, confie em nós. Não estamos fazendo isso por diversão. Tem algo muito perigoso acontecendo, e nós... nós precisamos agir.

— Agir como? — Neville insistiu, sua voz ainda trêmula. — Vocês são só... estudantes! O que podem fazer contra... seja lá o que for isso? Vocês vão acabar machucados!

Rony se adiantou, cruzando os braços com uma expressão decidida.

— Não vamos deixar isso acontecer, Neville. Acredite, se houvesse outra maneira, a gente escolheria. Mas agora... não tem outra escolha. É isso ou... — Ele parou, não querendo terminar a frase. O que quer que viesse depois "ou" era algo que nem ele queria imaginar.

Neville olhou de um para o outro, ainda hesitante. Sua lealdade aos amigos e a grifinória era evidente, mas ele não podia ignorar o medo que sentia por eles.

— Vocês vão se machucar... — disse ele, sua voz agora soando mais como um pedido do que uma afirmação. — Vocês não podem... eu... eu vou impedi-los se tentarem!

Clarissa deu um passo à frente, sua expressão suave, mas firme.

— Neville, não faça isso. — Ela o olhou com ternura, tentando fazer com que ele entendesse a seriedade da situação sem assustá-lo ainda mais. — Eu entendo que você quer nos proteger, mas essa é uma daquelas vezes em que não podemos parar. Se não fizermos nada, algo muito, muito pior vai acontecer.

— Pior do que serem expulsos? — ele rebateu, os olhos marejados.

— Sim — Clarissa respondeu sem hesitar. — Muito pior.

Neville olhou para ela, seus olhos piscando rapidamente, como se estivesse tentando processar o que ela disse.

— Vocês são loucos... — murmurou ele, mais para si mesmo do que para eles.

— Talvez sejamos — Hermione disse suavemente, colocando uma mão no ombro dele. — Mas, por favor, confie em nós. Vai ficar tudo bem.

— Não... vocês não vão sair — disse ele, a voz trêmula, mas firme.

O grupo congelou, sem acreditar no que estavam vendo. Clarissa trocou um olhar rápido com Hermione, que mordeu o lábio, visivelmente incerta sobre como lidar com a situação.

— Neville, você não sabe o que está fazendo — Harry alertou, dando um passo à frente, a voz firme, mas não rude. Ele sabia que Neville estava tentando proteger Grifinória, mas não tinha ideia da gravidade da situação.

Neville deu um passo para trás, mas manteve os braços estendidos, bloqueando a saída. Seus olhos estavam arregalados, quase implorando para que eles desistissem.

— Eu não me importo! — Neville respondeu, a voz falhando levemente, mas ainda cheia de determinação.

Ronald soltou um suspiro frustrado, passando a mão pelos cabelos vermelhos desordenados. Ele olhou para Hermione e Clarissa, claramente esperando que uma delas tivesse uma solução rápida.

— Façam alguma coisa! — ele pediu. Ele não queria machucar Neville, mas sabia que não tinham tempo para discutir.

Hermione, que até aquele momento parecia relutante, respirou fundo, já com a varinha nas mãos. Clarissa, ao seu lado, observou a irmã com uma expressão preocupada, sabendo que o que estava por vir seria difícil.

— Neville... — começou Hermione, sua voz suave, quase suplicante. — Eu realmente lamento muito. Mas... não podemos deixar você nos parar agora.

Os olhos de Neville se arregalaram em confusão e medo quando percebeu o que estava prestes a acontecer. Ele abriu a boca para protestar, mas Hermione já estava agindo. Com um movimento rápido e preciso, ela apontou a varinha diretamente para ele.

Petrificus Totalus! — ela disse, com a voz firme e decidida.

O efeito foi instantâneo. Neville se enrijeceu no mesmo momento, seus braços colados ao corpo, e ele caiu para trás, completamente petrificado, com um baque surdo no chão. Seus olhos estavam arregalados, a única parte do corpo que ainda podia se mover, cheios de surpresa e tristeza.

Clarissa se aproximou rapidamente, ajoelhando-se ao lado de Neville. Ela suspirou profundamente, a culpa a invadindo por ter que machucar o amigo, mesmo que temporariamente. Delicadamente, ela começou a empurrá-lo para o lado, colocando-o sobre o tapete próximo à lareira para que ele ficasse mais confortável.

— Nos perdoe, Neville — sussurrou Clarissa, enquanto ajeitava o corpo dele com cuidado, para garantir que ele não se machucasse ainda mais. — Mas não tínhamos outra escolha.

Ela olhou para o rosto petrificado de Neville, sentindo um peso esmagador no peito. Ele tinha agido por lealdade, tentando proteger os amigos e a grifinória, mas agora estava indefeso no chão. Ela sabia que eles não tinham tempo para se arrepender ou hesitar, mas isso não tornava a situação menos dolorosa.

— Vamos logo — Harry sussurrou, a urgência em sua voz trazendo o grupo de volta à realidade. Eles estavam com pouco tempo.

Clarissa olhou uma última vez para Neville, o arrependimento estampado em seus olhos, antes de se levantar e seguir Harry em direção à porta. Rony, por outro lado, balançava a cabeça, ainda incrédulo com o que acabara de acontecer.

— Ele vai nos odiar por isso — murmurou Rony, lançando um olhar rápido para o corpo enrijecido de Neville antes de seguir os outros.

— Eu sei... — Hermione respondeu baixinho, seus dedos tremendo levemente enquanto guardava a varinha. Ela odiava ter que usar feitiços contra um amigo, mas sabia que era necessário. — Mas ele vai entender... um dia.

Clarissa assentiu em silêncio, embora também soubesse que talvez nunca pudessem explicar tudo para Neville da maneira correta. O coração dela estava pesado, mas a determinação de seguir com o plano a impulsionava. Havia muito mais em jogo do que pontos de casa ou as regras de Hogwarts.

Com um último olhar para o corpo imóvel de Neville, o quarteto finalmente saiu do salão comunal, escondidos sob a capa da invisibilidade de Harry.

Os quatro correram pelos corredores de Hogwarts como sombras, suas respirações pesadas abafadas pela tensão do momento. O castelo estava envolto em silêncio, o tipo de silêncio que só se encontra à noite, quando tudo parece adormecido, exceto os corajosos — ou imprudentes — que ousam quebrar as regras. Os passos ligeiros ecoavam fracamente pelas paredes de pedra, cada um deles consciente de que qualquer barulho poderia ser o suficiente para chamar a atenção indesejada de um professor ou de Filch, o zelador.

Clarissa olhava ao redor, o coração batendo forte no peito, mas sua mente ainda estava focada no plano. Era arriscado, sem dúvida, mas não podiam desistir agora. Já tinham ido longe demais. Seus olhos se encontraram com os de Hermione, que mantinha uma expressão determinada, ainda que uma ponta de medo pudesse ser vista nas profundezas de seus olhos castanhos.

Ao virarem a última esquina, o corredor do terceiro andar surgiu diante deles. A porta, entreaberta, os esperava como um convite silencioso para o perigo.

— A porta está aberta... — murmurou Ron, com os olhos arregalados de preocupação. — Eles chegaram antes. Estamos ferrados.

Clarissa, com um movimento rápido e decidido, apontou para a porta, o rosto sério. Eles não podiam parar agora. Sem palavras, todos entenderam o que precisavam fazer.

Lentamente, eles se aproximaram da porta entreaberta. Hermione respirou fundo antes de empurrar a madeira gasta com cuidado, esperando não fazer nenhum barulho. Mas o universo não parecia querer cooperar naquela noite. O rangido agudo da porta ressoou pelo corredor como um grito, e imediatamente o som rouco de um rosnado veio de dentro da sala. Fofo, o gigantesco cão de três cabeças, tinha sido alertado da presença deles.

— Droga... — Rony sussurrou, dando um passo para trás, a mão pronta para agarrar sua varinha.

Clarissa sentiu seu coração acelerar, enquanto olhava para as enormes cabeças da criatura se movendo com inquietação. Os olhos vermelhos de Fofo brilhavam no escuro, ameaçadores e alerta. Eles precisavam agir rápido. De repente, ouviu um som peculiar — um zíper sendo aberto. Virando-se, viu Harry puxar algo do bolso.

— Harry, o que... — começou Clarissa, mas parou assim que percebeu o que ele estava fazendo.

Harry havia tirado uma flauta de madeira simples, a mesma que Hagrid lhe dera de presente de Natal. Sem dizer uma palavra, ele levou a flauta aos lábios e começou a tocar uma melodia suave e hipnotizante. O som preencheu o ambiente, envolvendo tudo ao redor. As cabeças de Fofo se agitaram por um momento, e então, uma a uma, começaram a ceder ao encantamento da música. As pálpebras pesadas do cão tremularam, e em poucos segundos, a enorme criatura estava dormindo profundamente.

— Impressionante — murmurou Hermione, aliviada, mas ainda com os olhos fixos no monstro adormecido. Ela sabia que eles tinham pouco tempo.

Rony, aproveitando a oportunidade, correu até o alçapão e o abriu com um rangido alto. A escuridão debaixo deles parecia infinita.

— As damas primeiro. — Ele falou com um sorriso brincalhão, embora claramente nervoso.

— Pode ir primeiro então, Rony. — Clary diz baixo com um sorriso.

— Como são bobos... — Hermione murmura. — Agora não é hora para você ser cavaleiro, Rony. — Hermione revirou os olhos, apesar da tensão. — Precisamos ser rápidos!

Harry parou de tocar por um breve momento e se aproximou do alçapão, as sobrancelhas franzidas em concentração.

— Se alguma coisa acontecer comigo, não me sigam. — Sua voz era séria, determinada. — Vão direto ao corujal e mandem Edwiges ao Dumbledore, entendido?

Clarissa, que até então estava quieta, imersa em seus próprios pensamentos e lutando contra uma dor de cabeça crescente, se virou para ele bruscamente.

— Pelo amor de Merlin, Harry! — disse ela com um tom de irritação que mascarava a preocupação em sua voz. — Não faça isso! Eu deveria ir primeiro, o plano fui eu que decidi, seu tonto!

Mas antes que ela pudesse impedir, Harry já estava descendo. Ele desapareceu no buraco escuro sem hesitar, deixando os outros no silêncio sufocante da sala.

Por um momento, ninguém se moveu. Clarissa mordeu o lábio, tentando conter a raiva e a frustração. Tudo isso estava fora de ordem. O plano, como ela o havia imaginado, não incluía Harry se sacrificando tão facilmente.

Então, de repente, um baque ecoou de baixo, seguido pela voz abafada de Harry.

— Podem descer! — ele gritou, sua voz reverberando das profundezas. — Aqui embaixo é tranquilo!

Hermione deu um olhar de advertência a Clarissa, como se dissesse "não podemos mais discutir isso agora", e rapidamente fez sinal para que a seguissem. Ela foi a próxima a descer pelo alçapão, os dedos agarrando a borda com força antes de desaparecer na escuridão. Rony deu de ombros e a seguiu logo atrás, claramente desconfortável com a ideia de se jogar na escuridão, mas sem outra escolha.

Clarissa ficou por último, o coração batendo forte, enquanto olhava para o alçapão aberto. Seus instintos gritavam para que não fossem adiante, mas algo mais forte — o desejo de proteger seus amigos e impedir o que estava prestes a acontecer — a forçou a seguir. Ela respirou fundo, fez uma breve oração silenciosa para que tudo desse certo, e então, sem hesitar mais, saltou para a escuridão.

Assim que seus pés tocaram o chão úmido e frio da câmara, Clarissa sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Não era apenas o ambiente, mas a sensação de que algo estava prestes a acontecer. Ela mal teve tempo de pensar em qualquer outra coisa antes de olhar para Harry, com aquele típico olhar de determinação que ele sempre tinha antes de fazer algo perigoso.

— Está maluco? Era pra eu ter vindo primeiro! — disse ela, batendo na nuca de Harry. Em seu tom havia uma pontada de frustração.

Harry deu um sorriso de lado e a puxou para um abraço rápido.

— Vai ficar tudo bem, Clary. — Ele disse baixinho, tentando acalmá-la, enquanto ela resmungava algo que ele não conseguiu ouvir completamente.

O breve momento de paz foi rapidamente interrompido. Assim que se afastaram do abraço, Clarissa sentiu algo frio e pegajoso se enrolando em seus tornozelos. Ela olhou para baixo e seu coração pulou ao ver grossas vinhas escuras começando a subir por suas pernas. Seus olhos se arregalaram de surpresa e, em questão de segundos, tanto ela quanto Harry estavam sendo envoltos por aquelas plantas sinistras.

— Mas o que...?! — começou Clarissa, tentando se debater, mas isso só fez com que as vinhas a apertassem mais.

Ela não precisou olhar para ver que Ronald e Hermione também estavam em perigo.

— Hermione! O que é isso?! — gritou Rony, tentando se soltar das plantas, que agora se enrolavam pelo seu corpo, prendendo seus braços.

Hermione, que era geralmente a mais calma do grupo, desta vez parecia tão apavorada quanto o resto, até que algo em sua expressão mudou. Seus olhos se iluminaram com a lembrança de uma aula de Herbologia, e, em um tom urgente, ela gritou:

— Parem de se mexer! — Suas palavras eram firmes. — Sei o que é isso. É visgo do diabo!

— E daí? Como isso ajuda? — retrucou Ronald, sua voz carregada de sarcasmo, mesmo em meio à tensão. — Só saber o nome dessa coisa não vai nos salvar!

Hermione, no entanto, não se deixou abater pelo comentário de Rony. Ela já estava vasculhando sua memória, tentando lembrar a solução.

— O visgo do diabo... o que foi que o professor Sprout disse...? — murmurou Hermione, mais para si mesma do que para os outros. — Gosta de umidade e escuridão...

Ela olhou ao redor, notando que as plantas não tinham crescido na parte onde o chão parecia mais seco e claro. Então, a resposta veio à tona.

— Fogo! — exclamou de repente, com uma faísca de esperança no olhar. — Ele não gosta de calor!

Ela começou a se debater freneticamente, tentando alcançar sua varinha. O problema era que ela estava presa em um ângulo estranho, e seus movimentos apenas faziam o visgo apertá-la mais.

— Droga! Só preciso... pegar... a varinha! — Ela murmurou entre dentes.

— Rápido, Mione! — Rony gritou, a voz agora carregada de pânico. — Isso está começando a me apertar demais!

Finalmente, Hermione conseguiu alcançar a varinha no bolso. Com um movimento rápido e preciso, ela a apontou para as vinhas e murmurou:

Incendio!

Chamas saltaram da ponta de sua varinha, iluminando a câmara com um brilho laranja quente. O visgo do diabo imediatamente começou a se retrair, como se estivesse fugindo do calor, soltando seus braços e pernas aos poucos. Em questão de segundos, as vinhas se desenrolaram completamente, e o grupo se viu livre.

— Bom trabalho, Hermione! — exclamou Harry, ainda respirando com dificuldade enquanto dava uma olhada ao redor.

Clarissa, por sua vez, sentiu seu corpo relaxar, mas o alívio era temporário.

Sem trocarem muitas palavras, o quarteto seguiu em frente. Agora estavam diante de um longo corredor de pedra, frio e úmido, que parecia se estender infinitamente na penumbra. Os sons dos passos ecoavam pela passagem, e o silêncio que os envolvia era pesado, como se o próprio castelo estivesse segurando a respiração, esperando pelo próximo movimento deles.

Ao final do corredor, eles finalmente chegaram a uma câmara bem iluminada. Clarissa piscou, seus olhos se ajustando à mudança repentina de luz. O contraste era gritante — depois do escuro e sufocante corredor, a luz da sala parecia quase acolhedora, mas ela sabia que aquilo era uma ilusão. Nada ali era seguro.

No lado oposto da câmara, uma pesada porta de madeira parecia chamá-los, solitária e imponente. Clarissa engoliu em seco, olhando para os amigos antes de falar, sua voz firme e determinada.

— É o único caminho a se tomar. — disse ela, mais para reafirmar sua própria determinação do que para os outros.

Hermione, ao seu lado, assentiu com a cabeça, os olhos brilhando com a mesma convicção.

— Seja o que for, estaremos juntos. — afirmou Hermione, seu tom tão resoluto quanto o de Clarissa.

Harry deu um passo à frente, encarando a porta de madeira como se estivesse pronto para enfrentar qualquer coisa que estivesse do outro lado.

— Vamos, então. — Ele murmurou.

Clarissa avançou lentamente até a porta de madeira maciça, o coração batendo em um ritmo acelerado enquanto seus dedos trêmulos tocavam a fria maçaneta. Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Mas ao girar a maçaneta, sentiu uma resistência inesperada. A porta não se mexeu.

— Está trancada — murmurou, olhando para os outros com um toque de frustração.

Harry franziu o cenho, aproximando-se para verificar, mas antes que ele pudesse dizer algo, pequenos brilhos chamaram a atenção de todos. No alto, no teto da sala, algo reluzia e se movia com rapidez.

— Espera... O que é aquilo? — Hermione perguntou, estreitando os olhos, forçando a visão para identificar o que cintilava no ar.

— São... chaves? — Ronald disse, descrente, ao perceber a forma das pequenas figuras voadoras. — Mas... são muitas!

Eram de fato chaves, e não apenas algumas. Centenas, talvez milhares delas, ziguezagueando pelo teto, refletindo a pouca luz da sala e enchendo o ar com um suave som de tilintar.

— Como diabos vamos encontrar a chave certa no meio disso tudo? — Clarissa se perguntou em voz alta, a testa franzida em concentração.

Ronald, sempre prático em momentos de crise, aproximou-se da fechadura e observou atentamente.

— Bom, a fechadura é grande — ele disse, apontando. — Deve ser uma chave maior, provavelmente de prata.

Harry, que havia se afastado um pouco, olhava ao redor da sala e, no canto, viu algo que poderia ajudar. Encostada na parede, estava uma vassoura velha, desgastada pelo tempo.

Sem dizer nada, ele pegou a vassoura e a ergueu, testando o peso.

— Acho que temos uma maneira de pegar a chave. — Disse, montando na vassoura com a facilidade de um apanhador veterano. — Rony, você disse que é uma chave grande e prateada, certo?

— Sim! — Ronald confirmou, voltando seu olhar para o teto.

Harry decolou, subindo rapidamente em direção às chaves que voavam como pequenos insetos em todas as direções. Ele precisou de um momento para ajustar seus olhos, até que avistou a chave que procurava. No meio da confusão, voava uma chave prateada, com as bordas ligeiramente amassadas, como se já tivesse sido usada antes em uma tentativa desesperada.

— Ali! — exclamou Harry, inclinando-se para a frente na vassoura, os olhos fixos na chave. Ele voava rápido, perseguindo-a, mas a chave parecia determinada a não ser capturada tão facilmente. Ela ziguezagueava, subia e descia, tentando escapar de Harry.

Os outros três o observavam com ansiedade, seus corações disparando a cada tentativa frustrada.

— Ele vai conseguir... — murmurou Hermione, apertando as mãos nervosamente.

— Ele é o melhor apanhador de Hogwarts, claro que vai — disse Ronald, embora seu tom de voz não soasse tão confiante quanto ele gostaria.

Finalmente, com um movimento brusco, Harry se inclinou para a frente e, com um baque feio, prendeu a chave prateada contra a parede de pedra, segurando-a com firmeza. Ele desceu devagar, com um sorriso de alívio no rosto, e entregou a chave a Clarissa.

— Aí está. — Ele disse, ofegante. — Vamos ver se funciona.

Clarissa, sem perder tempo, foi até a porta novamente e inseriu a chave na fechadura. Por um breve momento, eles todos prenderam a respiração, esperando... até que ouviram um clique alto, seguido de um baque quando a porta rangeu e se abriu.

— Funcionou! — Hermione exclamou, aliviada.

O grupo entrou cautelosamente, mas a escuridão os envolveu imediatamente. Era impossível ver qualquer coisa além do que estava diretamente à frente. Clarissa sentiu o frio da pedra embaixo de seus pés e um arrepio percorreu sua espinha.

— Onde estamos? — Ronald sussurrou, quase como se tivesse medo de falar muito alto e despertar algo escondido na escuridão.

Pouco a pouco, luzes começaram a se acender ao redor deles. Pequenos archotes nas paredes, iluminando o que parecia ser um espaço vasto. E à medida que a sala se revelava, seus olhos se arregalaram.

— Merlin... — murmurou Clarissa, sem conseguir acreditar no que via.

Estavam parados na borda de um enorme tabuleiro de xadrez. Mas não era um tabuleiro comum. As peças eram gigantescas, e o próprio tabuleiro se estendia quase até o horizonte da sala, cada quadrado enorme o suficiente para que alguém pudesse ficar em pé dentro de um deles. As peças eram feitas de pedra sólida, e sua aparência imponente era intimidante.

— Agora o que vamos fazer? — Harry perguntou, a incerteza visível em seus olhos enquanto olhava as fileiras de peças à sua frente.

Clarissa lançou um olhar para ele, como se a resposta fosse óbvia.

— Jogar, é claro. — Ronald respondeu antes que ela pudesse, sua voz agora cheia de um misto de animação e nervosismo.

— Mas... — Hermione hesitou, olhando as peças com um toque de pavor. — Será que realmente temos que jogar? Não podemos apenas... passar despercebidos?

Clarissa balançou a cabeça.

— Não há outro caminho. — disse ela, apontando para a porta no lado oposto da sala. — A única maneira de chegar àquela porta é vencendo o jogo.

Ronald deu um passo à frente, seus olhos agora avaliando as peças como um jogador profissional.

— Essas são as peças pretas — ele disse, quase como se estivesse falando consigo mesmo. — Vamos ter que substituir algumas das peças brancas. Cada um de nós vai ter que ser uma peça no tabuleiro.

— E como sabemos se vai funcionar? — perguntou Hermione, sua voz tremendo levemente.

Ronald deu um sorriso nervoso.

— Bom, só tem um jeito de descobrir, não é?

Harry assentiu, resoluto.

— Então vamos fazer isso. — Ele disse, e com isso, o quarteto se posicionou, prontos para jogar a partida mais perigosa de suas vidas.

Ronald olhava fixamente para o tabuleiro de xadrez gigante, seus olhos se estreitando enquanto ponderava a situação. O silêncio era pesado, cortado apenas pelo som distante de peças de xadrez deslizando sobre a pedra, esperando seus comandos.

— Isso exige reflexão — disse ele, com uma firmeza que parecia um tanto forçada. Ele passou a mão pelos cabelos ruivos, claramente nervoso, mas tentando manter o controle.

Clarissa, que estava ao seu lado, observou o amigo com um sorriso pequeno, mas genuíno. Por mais que os dois brigassem e implicassem um com o outro frequentemente, ela sentia um orgulho silencioso de Ronald. Ele podia ser cabeça dura e impetuoso, mas quando se tratava de xadrez, ele era quase um gênio. Ela admirava isso nele, mesmo que nunca admitisse em voz alta.

— Agora... não vão se ofender — Ronald continuou, erguendo uma sobrancelha. — Mas nenhum de vocês três é tão bom assim no xadrez.

Hermione abriu a boca para protestar, claramente ofendida, mas ao olhar para o tabuleiro e depois para Ronald, ela suspirou, resignada. Ela sabia que ele tinha razão, pelo menos nesse caso. Clarissa, por outro lado, apenas lançou um olhar de deboche, como se dissesse: "Óbvio que você vai falar isso."

— No xadrez, as brancas sempre jogam primeiro — explicou Ronald, voltando sua atenção para o tabuleiro. — E... olhem...

Uma das peças brancas, um peão, deslizou para frente, movendo-se duas casas de uma vez. O som de pedra raspando sobre pedra ecoou pela sala, fazendo os quatro amigos prenderem a respiração por um segundo.

— Eles começaram... — murmurou Harry, como se estivesse saindo de um transe.

Ronald já havia assumido seu papel de comandante do jogo. Seus olhos analisavam as peças com cuidado, e suas mãos estavam ligeiramente tremendo enquanto ele tentava organizar suas ideias.

— Certo, Harry — Ronald disse, sem tirar os olhos do tabuleiro. — Quatro casas para a direita. Agora.

Harry piscou, como se estivesse voltando à realidade. Ele olhou para Ronald, depois para as peças ao redor, e rapidamente obedeceu, movendo-se para o lugar que Ronald havia indicado.

Clarissa observava o ruivo, sua mente trabalhando em diferentes cenários. Cada movimento, cada decisão tinha um peso enorme. Eles não estavam apenas jogando uma partida qualquer — estavam jogando pela própria vida.

— Estamos quase chegando — murmurou Ronald, falando mais para si mesmo do que para os outros. Ele estava claramente sobrecarregado, sua mente correndo a mil. — Deixem-me pensar... me deixem pensar...

O som das peças gigantes se movendo e o rangido da pedra ecoavam pela sala, aumentando a dor de cabeça que Clarissa vinha sentindo há horas. Ela tentou ignorar o latejar em suas têmporas, mas cada movimento das peças parecia amplificar o incômodo. Ela sabia que não podia se distrair agora. Cada segundo contava.

Então, Ronald parou. Seu rosto, que estava tenso com a concentração, suavizou por um momento, como se tivesse chegado a uma conclusão. Ele olhou para o tabuleiro e depois para seus amigos, sua expressão séria.

— É isso... — ele sussurrou, tão baixo que Clarissa quase não ouviu. — Eu preciso me sacrificar.

— O QUÊ? — exclamou Hermione, o choque estampado em seu rosto. Seus olhos se arregalaram e ela parecia prestes a correr até ele, mas algo no olhar de Ronald a fez parar. — Você não pode estar falando sério, Ronald!

— Não! — Clarissa interrompeu, avançando um passo na direção dele, seu corpo tenso. — Isso é loucura! Há outra maneira. Deve haver!

— Isto é xadrez — Ronald respondeu, com uma calma inquietante, como se já tivesse aceitado seu destino. — Sacrifícios têm que ser feitos. Vou avançar, a rainha branca vai me atacar, e isso vai abrir caminho para Harry dar xeque-mate no rei. É a única maneira de vencermos.

— Você está doido? — Clarissa o olhou com incredulidade, a dor de cabeça quase insuportável agora. — A Pedra Filosofal não vale a sua vida, Ron! Você vale muito mais do que isso!

Ronald olhou para ela, com um pequeno sorriso triste nos lábios. Havia um entendimento silencioso entre eles. Ele sabia o risco que estava correndo, mas também sabia que não havia outra opção. Os olhos de Clarissa estavam brilhando, as mãos tremendo ligeiramente enquanto ela lutava contra a ideia de perder um amigo.

— Escuta, Clary... — Ronald começou, sua voz mais suave do que o habitual. — Se eu não fizer isso, todos nós perderemos. E se aquele ladrão conseguir a pedra, todo o nosso esforço será em vão. Nós temos que pensar no quadro maior.

Clarissa engoliu em seco, tentando controlar as lágrimas que ameaçavam transbordar. Ela sabia que ele estava certo, mas a ideia de vê-lo se sacrificar era demais para suportar.

— Então vamos — disse Ronald, olhando para Harry. — Quando eu me sacrificar, não demorem. Terminem o jogo.

E, sem dar tempo para mais protestos, Ronald avançou uma casa no tabuleiro, parando diretamente no caminho da rainha branca.

O silêncio que se seguiu foi aterrorizante.

— Ron, não... — Hermione sussurrou, seus olhos fixos nele, incapaz de mover-se.

A rainha branca, com um movimento rápido e impiedoso, deslizou até Ronald e o atacou, derrubando-o no chão com uma força brutal. O som foi ensurdecedor, um baque que ecoou por toda a câmara. Hermione soltou um grito de horror, levando as mãos à boca, os olhos arregalados de pânico.

Clarissa também estava congelada, as pernas tremendo. Seu coração parecia ter parado por um momento. Mas não havia tempo para lamentar. Eles ainda estavam no meio do jogo.

— Ele está... — começou Hermione, mas Clarissa a interrompeu, sua voz firme.

— Ele vai ficar bem. — Clarissa disse, embora sua própria voz tremesse. Ela respirou fundo, forçando-se a manter o foco. — Precisamos terminar isso.

Harry, ainda abalado pela cena, olhou para Ronald, caído no chão, antes de finalmente se recompor. Ele sabia o que precisava fazer. Potter avançou três casas à direita no tabuleiro de xadrez, sua mente concentrada no objetivo à frente, e finalmente, o jogo terminou.

— Xeque-mate. — Ele disse, movendo-se em direção ao rei branco.

As peças se silenciaram. A vitória era deles, mas a sensação de triunfo foi ofuscada pela preocupação com Ronald.

— E agora, o que fazemos? — Clarissa perguntou, com a voz ainda carregada de preocupação. Ela olhou para os lados, como se esperasse que outro desafio surgisse a qualquer momento. Faltavam apenas mais duas portas.

Hermione olhou para Rony, caído no chão após o sacrifício heroico que ele havia feito. Ele estava desacordado, sua expressão serena apesar do golpe que recebera. Os três se apressaram até ele, checando sua respiração.

— Ele está bem — murmurou Hermione, sua voz trêmula. — Só... desacordado.

Harry e Clarissa compartilharam um olhar de alívio, mas sabiam que o tempo era curto. Com esforço, eles arrastaram Rony para a próxima porta, seus corpos exaustos. Cada movimento parecia mais difícil, o cansaço começava a pesar sobre seus ombros.

Ao abrirem a porta, um fedor forte encheu o ar, fazendo os três recuarem. Um cheiro de podridão, como algo morto e apodrecido, envolvia a sala. Clarissa franziu o nariz, sentindo náuseas.

— O que é isso? — ela murmurou, recuando um passo, olhando em direção à penumbra.

Eles olharam à frente e viram, com olhos arregalados, um trasgo gigantesco deitado no chão. Este não era como o primeiro trasgo que Harry havia enfrentado no banheiro — este era ainda maior, com músculos que pareciam pedras e respiração pesada e ritmada, como se estivesse dormindo.

— Por sorte ele está fora de combate... — disse Harry, puxando Clarissa pelo braço para passar pela enorme criatura o mais silenciosamente possível. Eles tentavam não fazer nenhum som que pudesse acordá-lo.

— Rápido, antes que ele acorde — Hermione sussurrou, empurrando a porta para abri-la ainda mais. Uma corrente de ar frio passou por eles.

Ao entrarem na sala seguinte, a atmosfera mudou abruptamente. Não havia odor, apenas uma quietude que parecia antinatural. No centro da sala, uma mesa de pedra ocupava o espaço, e sobre ela havia sete garrafas, todas de formatos e tamanhos diferentes, enfileiradas em uma ordem quase simétrica.

— O que é isso? — perguntou Clarissa, olhando para as garrafas com curiosidade e desconfiança.

Harry deu um passo à frente, seus olhos percorrendo a mesa, até que algo chamou sua atenção no canto da mesa: um pedaço de papel dobrado cuidadosamente. Ele o pegou e o abriu.

— Olhe, um bilhete! — Harry murmurou.

Clarissa se aproximou, seu interesse crescendo à medida que Harry começava a ler em voz alta:

O perigo o aguarda à frente, a segurança ficou atrás, Duas de nós o ajudaremos no que quer encontrar, Uma das sete o deixará prosseguir, A outra levará de volta quem a beber, Duas de nós conterão vinho de urtigas, Três de nós aguardam em fila para o matar, Escolha, ou ficará aqui para sempre, E para ajudá-lo, lhe damos quatro pistas: Primeira, por mais dissimulado que esteja o veneno, Você sempre encontrará um à esquerda do vinho de urtigas; Segunda, são diferentes as garrafas de cada lado, Mas se você quiser avançar nenhuma é sua amiga; Terceira, é visível que temos tamanhos diferentes, Nem anã nem giganta leva a morte no bojo; Quarta, a segunda à esquerda e a segunda à direita São gêmeas ao paladar, embora diferentes à vista.

— É uma charada — concluiu Hermione, com a voz baixa e ansiosa, seus olhos já brilhando enquanto relia as pistas.

— Charada? — Clarissa repetiu, franzindo o cenho. — Como uma charada vai nos ajudar a atravessar isso?

Hermione balançou a cabeça, seu cérebro já trabalhando freneticamente para entender a lógica do enigma.

— Tudo o que precisamos está nesse papel — ela disse, sua voz cheia de determinação. — Sete garrafas. Três contêm veneno; duas, vinho de urtigas; uma nos ajudará a passar pelas chamas negras e uma outra nos levará de volta pelas chamas roxas.

Harry olhou de uma garrafa para outra, sua expressão confusa.

— Mas como vamos saber qual delas beber? — ele perguntou, franzindo a testa.

Clarissa pegou o papel das mãos de Hermione e o estudou com cuidado, relendo as palavras em voz alta. Ela estreitou os olhos, como se uma ideia estivesse começando a se formar em sua mente.

— Me dê um minuto... — disse, enquanto seu olhar passava de uma garrafa para outra. Depois de alguns momentos de silêncio, ela finalmente falou, com a voz carregada de certeza. — A garrafa menor nos fará atravessar as chamas negras, rumo à pedra.

Harry olhou para as garrafas e viu a menor delas no centro da fila. Ele pegou-a cuidadosamente, pesando-a em suas mãos.

— Só tem o suficiente para um de nós... — ele murmurou, observando o pequeno volume de líquido na garrafa.

Clarissa deu um passo à frente, seu olhar determinado. Ela sabia o que precisava ser feito.

— Eu vou — murmurou, estendendo a mão para pegar a garrafa de Harry.

Mas Harry foi mais rápido. Ele segurou a garrafa com força e se afastou dela, seus olhos sérios. Ele sabia o que Clarissa estava pensando, e não deixaria que ela se colocasse em risco dessa maneira.

— Harry Potter, não se atreva a fazer isso! — disse Clarissa, sua voz saindo mais alta do que pretendia, carregada de frustração.

— Vocês duas precisam levar o Rony — Harry disse, a voz firme. — Voltem e peguem as vassouras na câmara das chaves voadoras. Elas vão levá-los de volta ao alçapão. Vão direto ao corujal e mandem Edwiges a Dumbledore.

Clarissa estava furiosa. Seus olhos brilharam com uma mistura de raiva e preocupação.

— Você não pode fazer isso sozinho, Harry! — ela insistiu, avançando em direção a ele. — O plano todo foi meu, eu deveria ser a primeira a atravessar! Você está cometendo um erro!

Mas Harry já havia tomado sua decisão. Ele sabia que precisava seguir em frente, mesmo que isso significasse deixar suas amigas para trás.

— Não temos tempo para discutir — ele disse, sua voz baixa, mas resoluta. — Apenas façam o que eu disse.

Clarissa cerrou os punhos, seu corpo tremendo de raiva e desespero.

— Prometam que vão direto a Dumbledore.

— Me dê isso! — gritou Clarissa, sua voz estridente ecoando pela sala. Suas mãos tremiam visivelmente enquanto ela avançava em direção a Harry, as bochechas coradas de raiva e frustração.

Harry, com a expressão tensa, segurava firmemente a garrafinha em suas mãos. Ele sabia que Clarissa estava desesperada, mas não podia deixá-la seguir em frente. Ele já tinha tomado a decisão.

— Aqui vou eu — disse ele com firmeza, seus olhos presos nos de Clarissa por um instante. Então, sem hesitar, esvaziou a garrafinha em um único gole.

As chamas avermelhadas que bloqueavam o caminho à sua frente tremeluziram por um momento e, como se reconhecessem o efeito da poção, se separaram, abrindo passagem. Harry lançou um último olhar a Clarissa, um olhar que transmitia tanto um pedido de desculpas quanto uma promessa silenciosa de que ele voltaria. Ele sabia que ela não entenderia, mas isso não importava agora. Ele tinha que seguir em frente.

Clarissa, no entanto, não se conformava.

— Não! — gritou ela, dando um passo em direção às chamas que começavam a se fechar novamente. Num impulso, ela tentou correr atrás dele, mas Hermione, rápida, agarrou seu braço, segurando-a com força. As chamas avermelhadas voltaram a se erguer, bloqueando o caminho como uma barreira intransponível.

— Clarissa, pare! — Hermione falou, sua voz carregada de preocupação. Clarissa se debatia, tentando se soltar, os olhos fixos nas chamas onde Harry havia desaparecido. — Não tem como passar por ali!

— Você não entende, Mione — Clarissa murmurou, sua voz falhando entre a raiva e o desespero. Ela continuava a lutar contra o aperto de Hermione. — Eu posso... eu posso ajudar, eu tenho que ajudar!

Hermione apertou mais os dedos ao redor do braço da irmã, seus próprios olhos também reluzindo com a angústia de quem compreendia o dilema, mas sabia que não podiam simplesmente avançar. Elas precisavam ser racionais. Harry sabia o que estava fazendo. Ou ao menos, era o que Hermione dizia a si mesma.

— Não tem como passar pelas chamas sem a poção! — Hermione repetiu, sua voz mais firme agora, tentando fazer Clarissa ver a lógica da situação.

Clarissa, no entanto, respirou fundo, um tremor visível em seu corpo. Então, num tom mais baixo e hesitante, disse:

— Eu fiz um feitiço protetor em mim.

Hermione parou de falar por um momento, sua expressão cética.

— Fez mesmo? — perguntou ela, seus olhos fixos nos de Clarissa, como se quisesse confirmar a verdade naquelas palavras.

Clarissa evitou o olhar de Hermione, engolindo em seco. Ela sabia que era uma mentira, mas naquele momento, sua mente estava consumida pelo medo e pela urgência. Harry estava sozinho, e ela não conseguia suportar a ideia de não estar lá para ajudá-lo.

— Sim, fiz... — respondeu, sua voz soando vacilante, mas Hermione já havia percebido a mentira. Clarissa, porém, não esperou uma resposta. Com um movimento brusco, ela se soltou do aperto de Hermione e avançou em direção à porta, determinada.

— Clary, pare! — gritou Hermione, mas já era tarde demais.

Clarissa se lançou em direção às chamas, acreditando — ou forçando-se a acreditar — que seu desejo de ajudar Harry seria o suficiente para protegê-la. No entanto, assim que sua pele tocou o fogo, uma dor aguda e insuportável tomou conta de seu corpo. As chamas, implacáveis, começaram a queimar sua pele quase instantaneamente, e a sensação era como se mil agulhas flamejantes estivessem perfurando sua carne.

Ela soltou um grito abafado, o choque da dor a paralisando momentaneamente. Seu corpo inteiro parecia arder, e ela pôde sentir as queimaduras se formando em sua pele. A visão diante dela ficou turva, mas, mesmo assim, Clarissa avançou, seus pensamentos ainda fixos em Harry. Ela não podia deixá-lo sozinho. Ele era seu amigo, e ela estava disposta a pagar qualquer preço para mantê-lo seguro.

— Não... — murmurou, sua voz falhando devido à queimação intensa que consumia seu corpo. Cada passo parecia uma eternidade, a dor era quase insuportável, mas ela continuava. As lágrimas escorriam de seus olhos, mas sua determinação a mantinha em movimento. Se isso significava salvar Harry, então valeria a pena.

Hermione, impotente, assistia à irmã lutando contra as chamas, os olhos estavam marejados e arregalados de horror.

Clarissa ao passar pela porta, caiu de joelhos, sentindo suas forças a abandonarem. A dor era excruciante, e agora, seu corpo inteiro estava dominado pelo fogo que parecia não querer soltar sua presa. Mas ela não gritou mais. Seus olhos, desfocados, tentavam encontrar algum vislumbre de Harry além das chamas. Mas ela não conseguia ver nada.

— Harry... — ela sussurrou, a voz fraca e quase imperceptível. O mundo ao seu redor começou a desvanecer, a dor se transformando em um zumbido surdo.

Logo tudo foi ficando cada vez mais escuro, até ela cair no chão desacordada.

• Trechos tirados de Harry Potter e a pedra filosofal, créditos a autora (JK Rowling).

• O que acharam?

• A parte um da fanfic está acabando!

• Simplesmente 11k de palavras nesse capitulo... Sou exagerada? Talvez um pouco.

• Não sejam leitores fantasmas que só votam ou nem votam e que não comentam nada. Comentem, votem, eu adoro ler o que vocês escrevem, isso me motiva muito a continuar escrever para vocês.

• Espero que tenham gostado.

Ela tem algo de especial que um dia todos irão descobrir...

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