9. Armadilha
Pré-revisado, boa leitura.
Armadilha
Por Endeavor,
O semblante de Shoto está abatido, e pela primeira vez, desde que Yuka começou a frequentar a minha casa, comecei a questionar qual é a relação dela com o meu filho.
-- Como está se sentindo em relação a isso? -- Ele pareceu confuso com a minha pergunta. -- Me refiro à sua amiga ter sido ferida.
-- Ela está bem. -- Shoto voltou a encarar a janela, e respirei pesado.
-- Escuta, filho, eu...
-- Não precisamos conversar, a não ser a respeito do trabalho. Está claro que a liga vem se preparando há bastante tempo, e que não conseguimos prever os seus passos.
-- Na reunião de amanhã falaremos sobre isso. -- Estacionei o carro na garagem, e Shoto saiu de uma vez sem me olhar ou sequer me dar tempo de dizer algo. Prefiro respeitar o seu espaço. Está difícil me aproximar dos meus filhos, e sei que a culpa é completamente minha.
Preferi seguir para o local mais silencioso de todos, aquele que me faz deixar qualquer pensamento de lado ao adentrar, e após acender dois incensos e me sentar devidamente, olhei para sua pequena foto.
-- Olá, filho.
[...]
Já passava das quatorze horas, e Yuka teria alta em menos de vinte minutos. Meu filho está todo arrumado e até mesmo comprou doces para a garota. Ofereci carona para ele, mas ele negou. Segui para o hospital, parando na vaga dos funcionários. Liguei para o médico que conheço e pedi um favor, e agora estou aqui esperando, já que Yuka ficará aos meus cuidados.
Por Yuka,
Eu tive uma noite terrível, primeiro que o fato de ter deixado aquele vilão escapar fica voltando na minha mente como um flashback e depois quando eu finalmente relaxava vinha imagens de Enji na minha cabeça.
A porta do quarto foi aberta e por ela minha irmã passou sorrindo.
-- Vou te levar para casa, vou ficar grudada em você.
-- Não vai não. -- E nem pode, eu quero grudar em um certo armário duplo. -- Sei que tem seus trabalhos.
-- E Hawks vai me cobrir, minha agência está tranquila.
-- Rumi... Eu sei dos acontecimentos, estava lá, esqueceu? Porque não me deixa na casa dos Todorokis e está tudo bem. -- Sorrir para ela que me deu um cascudo. -- Hei!
-- Porra pirralha, você quer me trocar por pica? Eu sou a sua irmã!
-- Não fala besteira! Eu não estou te trocando, apenas não quero que fique sobrecarregada!
-- Yuka, quando a esmola é demais o santo desconfia. Sei que tem um caso com o Shoto então é só admitir que eu paro de te perturbar. -- Cruzou os braços com um sorriso vitorioso.
-- Fica quieta, eu não estou tendo um caso com ninguém! Shoto é só meu amigo, a única tendo um caso aqui é você e poderia assumir logo esse lance com a Fuyumi!
Antes que pudéssemos continuar, a porta foi aberta e vi meu amigo nos encarar.
-- Achei que teria mais tempo. -- Falou friamente e Rumi me olhou com malícia.
-- Vou deixá-los a sós, mas não se acostumem. -- Saiu e Shoto se aproximou me entregando a caixa de doces.
-- Te devo uma, obrigada. -- Sorri para ele, que me encarou meio receoso.
-- Foi arriscado e imprudente. -- Afirmou e limpei minhas mãos antes de tocar em seus cabelos.
-- Somos heróis Shoto, só por esse motivo já vivemos na imprudência. Enquanto vilões virão com tudo para nos matar, sempre devemos prendê-los. Acredite quando digo que estou bem, na verdade, muito bem.
-- Você é teimosa, então não me espanta, agora que história é essa de que minha irmã e a sua estão ficando? -- Olhei para ele incrédula e o bicolor se apressou em trancar a porta do quarto.
-- Eu escutei Yuka. Desembucha de uma vez.
Respirei pesado.
-- Elas ainda não assumiram, mas tá rolando há um tempo. Então fica quieto. -- Ofereci um doce e ele negou se sentando na poltrona ao lado.
-- Por isso que ela tem passado tanto tempo com a sua irmã. -- Shoto riu de leve. -- E meu pai achando que Fuyumi finalmente arrumou uma amiga.
-- Olha, errado ele não está, Rumi é incrível.
-- Transar com a minha irmã é diferente de ser amiga dela, Yuka.
-- Sinceramente eu não sei em que ponto estão, acredito que seja uma amizade com benefícios e veja pelo lado bom, se der certo viramos famílias. -- Sugeri e ele balançou a cabeça negativamente.
-- Meu velho é um quadrado, não sei como vai reagir a isso e imagino que negativamente. -- Arqueei a sobrancelha, duvido muito que Enji seja homofóbico, por via das dúvidas vou tirar essa história a limpo.
-- Creio que seu pai não seja assim, mas ele é seu pai então quem sabe é você. -- Desconversei.
-- Pelo menos a sua paixão por ele não te deixou cega. -- Revirei os olhos.
-- Sinceramente, eu não sou apaixonada pelo seu pai -- mentira sou sim. -- Apenas aprecio um homem mais velho e bonito, só isso.
Shoto riu e cruzou os braços enquanto ofereci um chocolate, de primeira ele negou e depois aceitou tranquilamente, dei espaço para que se sentasse na cama e ele o fez depois de eu reclamar.
-- Me conta como estão as coisas com a Liza. -- Ele desviou o olhar.
-- Indo.
-- Porra Shoto, que explicação ruim. -- Coloquei os chocolates na bancada e ele respirou pesado.
-- E quer que eu diga o quê Yuka, que estamos bem? Eu nem sei se ainda tenho namorada. -- Passou a mão pelos cabelos os jogando para trás e o encarei.
-- E o que foi que você fez?
-- Por que sugere que tenha sido culpa minha e não dela?
-- Bom... Pelo simples fato de que se foi ela, deve estar com a razão, ou você se esqueceu de como agiu após as últimas discursões que teve com sua família? Tratou a garota que nem um nada e depois ficou todo desesperado e um Shoto desesperado é literalmente um cara azedo que não fala com ninguém e olha para todo mundo como se desejasse sumir.
Ele pressionou os lábios e desviou o olhar.
-- Tem horas que você é uma amiga de merda, sabe disso né? -- Dei um leve risinho e o puxei para deitar ao meu lado.
-- Sou a melhor pessoa que poderia estar em sua vida meu bem. Agora fala de uma vez! -- Depois que fechou so olhos, ele finalmente se abriu. Shoto me contou que Lizayumi está passando por uma crise com o próprio poder e as vezes acaba ferindo os outros e em meio a mais uma discursão ele brigaram de novo dessa vez por que aparentemente o Todoroki não está sabendo lidar com o ciúme que sente dela, uma vez que Liza tem tido ajuda praticamente integral de outro aluno da UA e uma coisa leva outra quando viu já estava um culpando o outro por coisas indevidas e por ai vai.
-- Meu deus, Shoto. Você com ciúme é pior que a minha irmã. Já tentou pedir desculpas?
-- Ela não aceitou.
-- Flores?
-- Ela jogou fora.
-- E... Sexo? -- Ele me encarou incrédulo. -- Quê? Geralmente funciona, é só se acertarem antes.
-- Yuka só... Para ok? Liza estava certa quando disse que eu sou um idiota e que quanto mais tento não parecer com meu pai, em certos aspectos não tenho pra onde correr, mas ela está errada em afirmar que estou brincando com ela, simplesmente para satisfazer as más línguas que ficam esperam tanto pelo casamento das nossas famílias. Merda, eu não sou mais uma criança e a única coisa boa que o velho fez foi deixar claro que nenhum de seus filhos passariam pela mesma união desastrosa que ele e minha mãe se sujeitaram.
Acho que Shoto nunca falou tanto e isso é bom, pois, significa que realmente está aceitando e aprendendo a lidar com seu lado emocional e isso me deu uma ideia, na verdade uma puta de uma ideia!
-- Shoto mostra pra ela de uma vez que ela não precisa ter esse receio com você! -- Ele me encarou desconfiado. -- Você consegue conversar comigo tão facilmente, tenta com ela também. Sem pensar, só fala.
-- Isso nunca é uma...
Batidas na porta interromperam nossa conversa.
-- Mais que porra! Por que vocês trancaram a porta? Pirralhos se estiverem sem roupa eu vou bater nos dois. -- Encarei o bicolor que revirou os olhos antes de se levantar e ir abrir a porta.
-- Finalmente! Escutem aqui pirralhos eu vou ter que sair, parece que os Big Three e Locked precisam de ajuda no distrito de Sicard. -- Ela respirou pesado.
-- O que aconteceu? Talvez eu possa ajudar
-- Dezoito desastres não naturais, ou seja...
-- A liga. -- Comentei, já me preparando para sair.
-- Onde pensa que vai?
-- Isso não é óbvio, eu quero trabalhar, já estou bem.
Rumi se aproximou e me deu um cascudo.
-- Todoriki irá. Se tiver chamas será capaz de conter. -- A encarei estressada, quero a minha revanche contra aquele cara.
-- Não pode fazer isso comigo. -- Rumi riu.
-- Não só posso com vou. Sou sua irmã e acima disso, sua superior. Agora fica aí e em breve te darei notícias. -- Fo só o tempo dela sair, me levantei e peguei meu telefone na cômoda, abri o aplicativo e vi as mensagens de Enji avisando que estava no estava no estacionamento, outra dizendo que teria de ir embora então liguei para ele:
-- Enji, ainda está aqui?
-- A caminho da agência por que? -- Comecei a catar minhas coisas.
-- Te encontrarei lá. -- Desliguei meu aparelho e prendi meus cabelos, respirei pesado e utilizei minha individualidade, como esperado ainda está bem zoada, pois, fui parar uns seis prédios antes da agência. Tentei de novo e dessa vez consegui só que fui parar na droga do telhado.
Visualizei a sala de Enji em meus pensamentos antes de usar novamente e consegui estar dentro do prédio, senti um pouco de fraqueza e tontura, ainda assim procurei pelas chaves na gaveta e quando encontrei destranquei a porta e saí. Tenho certeza de que ouvi passos, mas antes de retornar o heróis número um estacionou o carro um pouco mais a frente, dei meu melhor sorriso o observando sair do carro e cruzar os braços, além da face séria.
-- Chegou na hora. -- Ele continuou sério.
-- Sabe muito bem que não deveria estar usando seus poderes. -- Me aproximei dele.
-- Eu não resisto grandão. -- Ironizei e ele revirou os olhos.
-- Me espera no carro, preciso pegar algo e depois vou te deixar na minha casa, creio que Fuyumi esteja em casa.
Pisquei diversas vezes.
-- Mas nem pensar Enji ou você me deixar ir nessa missão ou eu vou do mesmo jeito. -- estalei os dedos como se demonstrasse que usaria o meu poder e ele ficou ainda mais sério.
-- Yuka você precisa me escutar, se eu deixá-la participar, ficará no corpo de ajuda aos debilitados. Se usar o seu poder te suspenderei da agência por um mês. -- Pisquei diversas vezes, pela face do ruivo, seria irredutível.
-- Tudo bem. Eu compreendo. -- Assenti, sei que no fim é pelo meu bem, fora que é um saco ser adulta e dar trabalho pros outros por teimosia, principalmente para o heróis que possuem outras prioridades.
-- Nesse caso vamos de carro.
-- Excelente vou pegar meu uniforme e...
-- CUIDADO!
Foi tudo muito rápido, o calor intenso, Enji me puxando e ficando de costas , meu corpo indo de encontro ao carro estrondando os vidros enquanto o barulho e o cheiro de fumaça subia.
-- Yuka você está bem? -- Olhei para Enji com o corpo um pouco suado e ao meu afastar minimamente vi o estrago atrás de nós.
A agência do número um, foi completamente reduzida a escombros e o tom que emanava dessa área era o mais puro azul. Aquele desgraçado...
Sem querer apertei o corpo de Enji e notei uma pequena alteração em sua sobrancelha.
-- Enji, você...
-- Estou bem.
Como não confiei nele, sai de seus braços e fui para trás vendo suas costas completamente machucadas, uma vez que ele não usou o poder dele por que se concentrou em me proteger. Merda... Eu detesto ficar nessa posição de vulnerabilidade.
-- Vamos para o hospital. -- Ele me encarou.
-- Temos trabalho a fazer. -- Enji aqueceu o próprio corpo e notei os cortes sendo cauterizados.
-- Se tiver algum pedaço de vidro, deixa de ser teimoso herói. -- Nem deixei que respondesse, grudei nele e usei minha individualidade parando na sala de raio x do hospital, o médico nos encarou seriamente e me apressei em falar logo saímos da máquina e Enji foi examinado rapidamente, quando comprovaram que não havia nada no corpo dele, enfaixaram e eu aproveitei para sumir rapidinho e ir ao quarto dele buscar uma camisa.
Novamente retornamos a cena onde haviam alguns curiosos e o corpo de bombeiros.
Enji adentrou o local um pouco esmorecido, afinal todo o trabalho de sua vida sucumbiu as cinzas. Não se trata de reputação ou sequer legado e sim de quanto tempo levou para ascender e se concretizar.
--O fogo está controlado. -- O chefe do corpo dos bombeiros informou e eu me afastei, logo alguns heróis de apoio chegaram.
-- Ninguém se feriu? -- O ruivo perguntou e Burnin negou.
-- Eu tinha delegado as ordens que me passou, esvaziei a agência meia hora antes dessa explosão pelo que os bombeiros informaram. A maioria está entre patrulha e ajudando os heróis, fora aqueles que estão dando suporte, então não se preocupe.
Enji continuou sério, encarando os escombros.
-- Haviam outros ao redor?
-- Não, ninguém se feriu e nenhum outro prédio foi avariado. O alvo foi a sua agência e somente ela. -- Tem horas que Burnin é bem direta.
-- Nesse caso, deixem os meios públicos trabalharem. Vamos Yuka, pelo visto isso aqui foi só uma distração, Burnin redirecione todos os nossos para o galpão central e depois procure por Hayato, ele saberá como agir. -- Todos ao redor notaram que apesar da destruição, o herói número um só queria saber se todos estão bem e com isso, mesmo que não venha ao caso, falarão dele pelas próximas semanas.
Partimos de carro e pude notar que Enji não quis conversar, provavelmente está remoendo as perdas da sua agência, o herói parou rapidamente em casa e saiu do carro, demorou alguns minutos e quando retornou estava com seu costumeiro uniforme, já que hoje seria sua folga então não havia necessidade de ter tal vestimenta no corpo, ele abriu a porta do carro e me encarou.
-- Consegue usar a sua individualidade? -- Pisquei algumas vezes antes de assentir e sair do veículo. -- Sabe onde fica a entrada do distrito de Sicard?
Novamente confirmei e ele me puxou em direção aos seus braço, foi rude, nunca me tratou assim e eu gostei.
-- Não faça nada fora do que combinamos Yuka. -- A seriedade dele está me confundindo. Ao meu ver parece que Enji está se segurando para não agir com imprudência, e assim utilizei meus poderes mais uma vez sumindo da frente da casa dele e esperando pelo pior.
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