38. Lista de prioridades.



Aurora levantou o olhar da bagunça de giz de cera coloridos espalhados sobre a mesa de centro, apenas para encontrar Renesmee, em sua aparência de pouco mais de três anos, ajoelhada no carpete e desenhando linhas desformes em folhas brancas. Apenas algumas poucas semanas haviam se passado, e Aurora sempre se assustava com o quão rápido sua sobrinha envelhecia comparado a crianças humanas.

Ela já se parecia consideravelmente mais velha que James, mesmo que esse estivesse perto dos dois anos de idade agora. Renesmee parecia não ter muito tempo, e isso os apavorava. Cada momento com ela se tornava único, memorável, e Aurora apreciava todas as vezes que a pequena se sentava com ela para coisas tão simples como desenhar.

— Aqui, querida. — Aurora estendeu a caixa de giz pastéis que Nessie procurava sob as almofadas. O sorriso doce de Renesmee foi seguido de um suave "obrigada" enrolado e atropelado.

A menina se aventurava em algumas palavras, mesmo que não fossem seu método de comunicação preferido, e era sempre adorável vê-la dizer frases inteiras agora. Uma pequena alegria para Aurora, que tudo o quê teve de James até então foram alguns "mãe" e "mamãe" por aí. Realmente, a ruiva não estava reclamando disso.

Aurora sorriu afetuosamente, uma mão voltando para o lápis de cor esmeralda, e a outra segurando James sentado entre suas pernas cruzadas. O interesse de James nos giz de cera foi completamente esquecido quando ele encontrou os potes de tintas guache. Ele soltava gritinhos cada vez mais alegres conforme mergulhava suas mãozinhas nas tintas, batendo-as nas folhas brancas e deixando suas impressões por toda parte em uma bagunça de mistura de cores.

Se ele estava sujando a roupa de sua mãe no processo, ela definitivamente não ligou. E se Rose os fotografou da porta da sala, Aurora também não se importou em checar. Mas ela teria aquela foto mais tarde.

— Aurora, chegou algo aqui pra você. — Jackson entrou na sala, uma caixinha de madeira entalhada nas mãos e as sobrancelhas franzidas em uma expressão um pouco mais seca do que seu bom humor natural permitiria.

Aurora apenas estendeu a mão que não estava ao redor de James, o rosto franzido em confusão enquanto pegava o objeto que seu irmão lhe estendia. Nessie limpou o excesso de tinta laranja das mãos de James, e então entregou o pote aberto de tinta lilás, incentivando silenciosamente sua bagunça.

— Eu não estou esperando nada. — Aurora divagou calmamente, ignorando a balburdia das duas crianças. Jackson torceu o nariz para a informação, cruzando um olhar suspeito com Alice, que os observava da porta.

— Bella também recebeu um. — Alice mencionou simplesmente, cruzando as mãos na frente do corpo que ela mexia ansiosamente.

Aurora ergueu o olhar depressa, alternando-o entre Alice e Jackson, que pareciam ter uma conversa muda pelos olhares. O vampiro repuxou os lábios em um sorriso tipicamente provocador, e murmurou:

— Aro não é muito sutil, é? — Havia alguma diversão perversa em seu rosto conforme ele curvava um olhar insinuativo para Aurora, esperando até que ela percebesse o óbvio.

— Está brincando. — Aurora grunhiu com desgosto, largando a caixa sobre a mesa e abrindo o fecho rapidamente, apenas para se deparar com um cartão de visitas pálido, elegantemente decorado com um "V".

E quando tudo o que Aurora esperava era um colar Volturi, como todos os outros exibidos nos pescoços pálidos e mortos da guarda e dos três reis, em sua caixa não havia nada disso. No lugar, um belo diadema dourado foi colocado sobre uma almofada preta de veludo, e seus rubis reluziam como poças de sangue contra as luzes da sala dos Cullen.

Aurora girou o cartão de visitas em sua mão, e o estrago estava feito, bem ali, na grafia sofisticada feita à mão: "Pesada é a cabeça de quem usa uma coroa".

— William Shakespeare. — Aurora murmurou para si mesma, negando suavemente com a cabeça em descrença muda.

— Legal. — Jackson soprou uma risada seca. — Sinto que o Jasper vai gostar de arrancar a cabeça de um Volturi.

— Jack! — Alice engasgou com seu tom de surpresa. Jackson deu de ombros, não achando ter dito nada demais.

— Mas ele vai.

Aurora olhou para o irmão brevemente, com alguma concordância, mas guardou para si mesma qualquer comentário minimamente cruel que poderia tecer sobre isso. Se havia uma coisa que não estava em pauta de brincadeiras, eram os instintos de proteção de Jasper, que definitivamente não seriam tratados como menos do que perigosos.

— Princesa. — Nessie cantarolou, apontando o diadema com seus giz enquanto saltitava alegremente. Aurora acenou com a cabeça, graciosamente guardando o cartão de volta na caixa antes de fechá-la, sequer tocando no diadema no processo.

— Sem princesas, querida. — Ela brincou com a mais nova, tocando seu nariz com o dedo sujo de tinta azul. Nessie riu baixinho, esfregando o nariz com os dedos.

Ainda sorrindo, Aurora fitou Alice, e meneou com a cabeça.

— Guarde isso, Alice. — Ela pediu suavemente. — Não quero voltar a vê-lo.

— Quer devolver? — Jackson questionou, acenando em direção à caixa como se ali tivesse um monstro guardado.

— Seria rude da minha parte devolver um presente. — Aurora respondeu polidamente, voltando a dividir os lápis com sua sobrinha casualmente. — Talvez eu deva agradecer pessoalmente. — Ela sorriu com uma doçura perigosa para o irmão, que retribuiu com uma leve risada divertida.

— Eu quero estar por perto pra ver isso. — Ele mencionou. Aurora estalou a língua no céu da boca, cantarolando como quem fala com uma criança.

— Não se preocupe, irmão, lhe dou minha palavra de que eu terei mais de uma oportunidade. — Ela sorriu afiada.

Alice assentiu, se aproximando apenas para pegar a caixinha novamente, o olhar distante e fosco de uma visão pairando sobre ela. Se ela pensou em contar o que viu, isso não transpareceu em seu rosto.

— Ela vai combinar com você. — Foi tudo o que Alice disse, um sorriso conhecedor crescendo em seus lábios quando ela saltitou para longe, para guardar o diadema. — Um dia.



— Vai lá, diz logo. — Emmett esbarrou no braço de Aurora com o seu propositalmente, instigando-a a falar. A ruiva rolou os olhos, empurrando-o de volta da mesma forma.

— Não tenho o que dizer. — Ela murmurou, saltando as próximas rochas depressa, o irmão em seu encalço.

— Você não engana ninguém. — Emmett sorriu petulante, enfiando as mãos nos bolsos de seu moletom esportivo. — Eu sei que está cheia de ideias homicidas pra lidar com os Volturi.

— Meus pensamentos pra eles são muito menos viscerais do que parece. — Ela admitiu seriamente, mordendo um sorriso mais cruel do que pretendia. — Eu apenas não vejo sentido em me curvar para uma autoridade que eu não acredito.

As sobrancelhas de Emmett se uniram em uma expressão de entendimento e zombaria, e sua risada de trovão ecoou pela trilha.

— Acabou de dizer que não respeita a dinastia vampírica. — Ele acusou, fazendo Aurora sorrir carinhosamente.

— Nem ela, e nem seus ditadores. — Ela confessou com simplicidade. — Tenho uma lista de prioridades, e eles não estão nela.

— Somos dois, irmã. — Emmett espalmou uma mão no ombro dela pesadamente. — Só estou esperando uma oportunidade de arranca-los do trono.

Rindo, Aurora sacudiu a cabana com carinho para o irmão adotivo. Mesmo que Em estivesse certo, ela não o deixaria saber. O mundo não precisava do ego ainda mais inflado de seu irmão.

— Bem, me conte quando surgir o rei ideal. — Ela zombou presunçosamente. Emmett a encarou com incredulidade, gargalhando em seguida.

— Você é hilária, Aurora.

E se Emmett já tinha em mente o líder perfeito, ele escondeu bem essa informação.

— É importante ficar em silêncio enquanto caçamos, sabia? — Ela provocou em um tom afiado. Emmett apenas riu.

— Então devia ter vindo com Jasper. — Ele rebateu, um sorriso perverso brilhando em seu rosto. — Embora eu acredite que vocês fariam qualquer coisa, exceto caçar.

Aurora o empurrou, um pouco mais de força, mordendo um sorriso de satisfação quando ele cambaleou para fora da trilha.

— Você tem muita coragem... — Ela reclamou. — e é muito estúpido.

— Já me disseram isso. — Ele sorriu com falsa inocência, que sumiu no instante em que Aurora disparou na frente, sumindo de sua vista segundos depois. — Trapaceira!



— Ja-as. — Aurora cantarolou repetidamente, saltitando escada abaixo com um sorrisinho de falsa inocência que poderia enganar qualquer um.

Qualquer um, exceto seu marido.

— Estou com medo de perguntar. — Jasper admitiu calmamente, sem erguer os olhos de seu livro.  — Mas qual o motivo do sorriso sociopata? — Aurora franziu as sobrancelhas, contorcendo os lábios em um biquinho quase infantil.

— Você é tão cruel comigo. — Ela pressionou o peito com uma falsa expressão de dor. — Esqueça, vou pedir à Alice. — Abanando o ar com a mão, ela se virou para uma saída dramática. Jasper rolou os olhos carinhosamente para as costas da esposa, abaixando o livro na perna quando percebeu que era uma luta perdida.

— É um dia carente, senhora? — Ele perguntou, recebendo um olhar quase convincente de melancolia. Em outra circunstância, aquele olhar teria tirado qualquer coisa de Jasper. Agora, apenas aqueceu seu peito com a sensação de que tudo o que ela queria era atenção. Sua atenção. — Venha. — Acenando com uma mão, ele indicou para que ela se sentasse em suas coxas, algo que ela fez alegremente e com um sorriso vitorioso. — Melhor?

— Ainda não. — Ela murmurou, se mexendo suavemente para aconchegar suas costas no peito de Jasper, a cabeça apoiada na curva do pescoço dele, — Melhor. — Ela gemeu preguiçosamente, abraçando os braços dele ao redor de si mesma.

Jasper riu um pouco, puxando o livro novamente na altura do rosto e lendo-o apenas alto o suficiente para Aurora escutar, mas ainda tão baixo quanto um sussurro.

— Amor? — Aurora murmurou.

— Hum?

— Estou entediada. — Ela reclamou.

— Eu sei. — Jasper riu.

— Você não está?

— Eu me divirto com seu tédio. — Ele respondeu em provocação.

— Cruel! — Aurora exclamou, falsamente ofendida.

— Quer um abraço?

— Quero assistir filmes de faroeste. — Ela respondeu inocentemente, erguendo o rosto o suficiente para ver Jasper rolar os olhos dourados para o teto bruscamente.

— Eu sabia. — Ele rosnou com exagerada exasperação. — Estava demorando.

Ei, ouça aqui, filho... — Aurora ameaçou começar um discurso em sua pior imitação de Robert de Niro.

— Isso é péssimo, querida.

— Você está com inveja do meu sotaque sulista, garoto. — Ela continuou a provocar, cem vezes menos entediada do que parecia apenas minutos antes.

— Realmente? — Jasper ergueu as sobrancelhas, um sorriso ladino no rosto quando fez uma falsa reverência em seu chapéu imaginário. — Eu sou do sul, madame.

— É por isso que tem uma cobra na sua bota? — Ela apontou, olhos dourados brilhando em uma diversão perversa. Jasper bufou alto.

— Já chega. — Aurora gritou em surpresa quando Jasper a jogou por cima do ombro. Ela gargalhou alto, se agarrando às costas dele enquanto continuava a lançar todas os trocadilhos que conhecia no ar.

— Senhor, de onde eu venho isso se classifica como sequestro.

— Amor, você precisa parar com as referências a cowboys. — Jasper apontou, carregando-a pela casa com certa paciência torturante.

— Esse não é meu primeiro rodeio, garoto. — Ela riu, mas saltou no lugar quando Jasper fingiu derrubá-la. — Que mau humor.

— São 174 de mau humor acumulados, amor. — Sua resposta apenas fez Aurora rir ainda mais alto. Ele sorriu com satisfação. — É o que ganha por se casar com um homem mais velho.

— Eu diria idoso. — Ela retrucou.

— Disse a vampira recém-criada. — Jasper rebateu em uma imitação exagerada do sotaque britânico de Aurora. A ruiva bufou.

— Garoto, você está passando dos limites. — Ela rosnou.

— Só estou educando as crianças.

Aurora bufou alto, o rosto apoiado nas mãos e os cotovelos nas costas de Jasper, ligeiramente arrependida de ter enchido a paciência dele para passar seu tédio. Ela se lembraria desse momento na próxima vez que quisesse a atenção dele, e pensaria duas vezes.

Ela faria de novo, com certeza.





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