34. Você é louca!
Aurora deslizou os dedos pelas têmporas, respirando cansada antes de se levantar e, sem se incomodar em calçar os sapatos, se dirigiu para as escadas.
Ela não precisava explicar onde ia ou porque, todos sabiam. Todos os dias, algumas vezes por dia, Aurora se juntava a Rosalie ao lado de Bella, segurava uma de suas mãos entre as suas, e fazia uma das coisas mais bonitas que seu poder lhe permitia fazer: mantinha Bella viva, equilibrando a luz em sua aura, permitindo que ela aguentasse com menos sofrimento. Ela precisava admitir, Bella estava sendo muito forte em se manter viva por aquela criança.
E aquele foi o primeiro momento onde Aurora simpatizou realmente com Bella. Porque, tal como Bella fazia por aquele bebê, Aurora sabia que também estava disposta a morrer por James, por seu filho.
O rosto cinzento de Bella tomou um levíssimo tom de rosa, e ela respirou profundamente em seu sono, um som quase aliviado saindo de seus lábios secos e pálidos. Aurora acariciou suavemente a palma de sua mão, em um discreto ato carinhoso. Ela se importava.
— Obrigado. — Edward agradeceu, como fazia absolutamente todas as vezes que Aurora ajudava.
E como todas as vezes, Aurora apenas assentiu, como se não fosse nada demais, porque não fazia nada daquilo esperando agradecimentos.
— Qualquer coisa me chamem, não vou estar longe. — Ela informou simplesmente.
Depois saiu do quarto, se dirigindo até o quarto de Jay, que a esse horário já estava acordado, revirando-se no berço. Ela pegou o filho, aconchegando-o em seus braços.
— Vamos lá, amorzinho. Hora de tomar um sol. Não queremos que você fique pálido como tio Jack. — Jay balbuciou, como se realmente entendesse o que sua mãe dizia, e concordasse totalmente.
— Eu estou te ouvindo. — Jackson resmungou do outro quarto. — E você não é exatamente bronzeada, queridinha. — Aurora riu.
— Querem companhia? — A ruiva olhou sobre ombro, encontrando Jasper encostado no batente da porta, os braços cruzados sobre o peito, um sorriso ladino no rosto.
— Se for a sua, sempre. — Aurora respondeu, piscando um dos olhos para o marido.
Jasper riu, balançando a cabeça.
Já haviam chegado à percepção de que, algumas vezes, era difícil para Aurora estar em meio a muitas pessoas. Tal como para Jasper e Edward no início, aprendendo a lidar com a bagunça que era seus dons, para Aurora, mesmo com seu inegável autocontrole, era tão ruim quanto. Os pulsos irregulares de tantas auras diferentes, batendo e empurrando em seus sentidos, silenciando seus próprios pensamentos, lhe causando algo muito próximo de dor, que ela nem achava ser possível sentir depois de "morta".
Em anos de prática, Jasper era capaz de compartimentar, afastas as emoções intrusas para longe das suas, afunda-las de forma que não voltassem a incomodar. Era mais fácil para vampiros experientes. Aurora iria aprender, com o tempo.
— O que está te incomodando? — Aurora perguntou, o olhar intenso preso sobre Jasper. Bem, talvez ele não escondesse tão bem quando se tratava de Aurora.
— Apenas uma ideia que nem vale à pena ser dita em voz alta, porque você jamais concordaria. — Aurora estreitou os olhos.
— Algo sobre eu ir embora com James antes que as coisas fiquem feias? — Ela sugeriu. Jasper soltou uma breve risada pelo nariz.
— Está aprendendo com o Edward? — Ele perguntou. Aurora sorriu inocente.
— Só funciona com você. Não pode me esconder nada, Major. — Ele se aproximou, abraçando-a cuidadosamente por causa de James em seu colo, e beijando sua testa.
— Eu nem estava tentando, madame. — Admitiu. — Só achei uma ideia estúpida no momento em que pensei sobre ela. Você nunca faria.
— Tem razão. — Ela concordou. — Sinto muito. — Lamentou sinceramente.
— Foi por isso que eu me apaixonei por você, não foi? — Ele perguntou retoricamente. Aurora sorriu.
— Juntos na saúde e na doença, lembra? — Ela disse. — Considerando que nenhum de nós vai adoecer nunca, acho que podemos substituir por: juntos na paz e na guerra. — Jasper assentiu, sorrindo de canto. — Vou ficar bem aqui, protegendo nossa família, com você.
Jasper e Aurora nunca haviam precisado conversar depois da primeira e única discussão, havia uma leve percepção de que não havia mais nada a ser dito. Nada havia mudado realmente, ainda eram os mesmo um com o outro, como se aquele problema nem lhes pertencesse, como se não os pudesse afetar. Podiam perfeitamente bem conviver com suas diferenças, Aurora havia percebido.
E então ela sentiu-se uma tola por ter tido tanto medo. Seu medo já não fazia sentido agora, Jasper nunca seria nem próximo de alguém que lhe fizesse sofrer.
— Tem outro deles. — Aurora mencionou em algum momento quando o dia raiou. Deitada em um dos sofás, acolhida entre os braços de Jasper, ela apenas ergueu o olhar para as janelas, seus olhos dourados encontrando um relance das árvores. — Outro lobo. — Ninguém questionou como Aurora poderia saber disso, sem vê-los ou ouvi-los, presumiam apenas que ela os podia sentir, ou suas auras.
Ela ouviu Rosalie rosnar do andar de cima, em todo seu ódio e desprezo por lobisomens.
— É Leah. — Edward, também no andar de cima, ambos fazendo a "guarda" de uma Bella desacordada, informou.
— Ela faz parte do bando? — Aurora perguntou interessada. Ela nem fazia ideia, até o momento que um dos lobisomens da reserva é uma garota.
— Agora não faz mais. — Foi a única coisa que Edward disse. E Aurora entendeu. Tal como Jacob e Seth, a garota, Leah, havia deixado o bando.
Jasper aninhou Aurora em seu peito, beijando suavemente sua testa. As vozes de Carlisle e Jacob do lado de fora eram mais presentes que os sons das máquinas no andar de cima, que mostravam os batimentos inconstantes de Bella. Aurora não se deu ao trabalho de ouvir a conversa, não lhe interessava, além de ser falta de educação. Ela beijou o rosto de seu marido, segurando sua mão e o puxando para cima enquanto se levantava.
— Vem comigo? — Perguntou, apesar de já saber a resposta. Jasper repuxou o canto dos lábios em um sorriso ladino, deixando que sua esposa o puxasse pela porta de vidro na lateral da casa.
— Onde vamos, madame? — Jasper perguntou quando a casa já estava muito longe.
— Espairecer. — Ela respondeu. — Lá dentro está ficando sufocante. E sei que isso te incomoda também. — Ela deu ombros, sorrindo docemente. Ela continuou, sem se dar conta do olhar de adoração que Jasper mantinha sobre ela enquanto andavam: — Podemos andar por aí, talvez até anoitecer, eles não vão se importar...
Jasper calou Aurora quando a puxou contra si com pouca delicadeza, pressionando seus lábios com força. Aurora ofegou, fechando os olhos quando as mãos grandes e fortes deslizaram por suas costas, e os lábios se moveram nos seus com certa pressa. Em segundos, ela praticamente derreteu nos braços de Jasper, seus sentidos se tornando nublados, sem forças para absolutamente nada que não fosse beijá-lo.
Dedilhando os dedos pela lateral do corpo de Aurora, Jasper apertou sua cintura, girando seu corpos e pressionando o corpo da garota contra o tronco de uma árvore. Se ela fosse humana, aquilo teria doído. Mas tudo que fez for ofegar, tendo um gemido abafado pelos beijos de Jasper.
Quando se afastaram, Jasper deslizou as mãos a cintura de Aurora, apoiando sua testa contra dela, seus olhos nublados e escuros. Aurora engoliu seco.
— Eu... — Ela sussurrou, atordoada. — esqueci o que estava falando.
Jasper soltou uma risada rouca.
— Que queria espairecer.
A ruiva arfou, mesmo que não precisasse, quando Jasper traçou uma linha de beijos por sua mandíbula, descendo até o pescoço.
— Nós dois temos definições diferentes de espairecer. — Aurora riu baixo, deslizando as mãos pela nuca de Jasper e enroscando os dedos nos cabelos loiros. — Sua ideia é melhor!
— Você fala demais. — A voz rouca e baixa soprou contra a pele sensível de seu pescoço, ao mesmo tempo em que as mãos se espalmavam em suas coxas, puxando-a para que entrelaçasse as perna no quadril dele.
Aurora estremeceu. Sim, definitivamente Jasper sabia como espairecer.
Mesmo antes de sua transformação, antes que as auras tivessem cores, e ninguém mais conseguisse esconder nada dela, Aurora já era boa em identificar sofrimento. Ela passou muito tempo se escondendo e mascarando a própria dor por trás de sorrisos bonitos, sabia dizer quando alguém fazia o mesmo.
Bem, naquele caso, a pessoa nem fazia questão de mascarar com sorriso algum. Sua amargura era óbvia e estampada em seu rosto, em sua voz, em suas atitudes. Seu olhar apagado se iluminava apenas com desprezo e uma fúria quase assassina. Não havia a menor preocupação em fingir que estava bem. O que, para Aurora, foi meio admirável.
A pessoa em questão era Leah Clearwater. Aurora se lembrou de ter visto ela durante a luta contra os recém-criados. Ela estava em sua forma de lobo, mas ainda era ela.
Era um pouco mais fácil para Aurora reconhecer a aura dela, mesmo entre os outros quileutes, porque Leah tinha a opacidade de uma aura ressentida, sofrida. Mas Aurora pôde sentir a vibração quase imperceptível de esperança. Esperança de dias melhores, de mudanças, de possibilidades. Ela entendia aquele sentimento.
De uma forma irônica, e bastante improvável, Leah fazia Aurora se lembrar de si mesma.
Talvez tenha sido por isso que, após alguns dias, Aurora se viu caminhando até a divisa, em uma de suas mãos carregava um sanduíche feito por Esme, embrulhado em papel filme.
Leah, sentada em uma rocha, percebeu a presença de Aurora antes mesmo que ela estivesse muito próxima, o cheiro adocicado de sua espécie incomodou o olfato da Clearwater. A quileute se levantou, um olhar carregado de desconfiança e desprezo, a postura rígida, como se estivesse preparada para saltar sobre Aurora e rasgá-la ao meio, ou morrer tentando.
A ruiva apenas ergueu a mão livre, sorrindo inabalada.
— Eu venho em paz. — Ela anunciou em um tom de voz descontraído.
Claramente, Leah era a única ali ansiosa por uma briga. Aurora não parecia nem perto de provocar uma.
Leah franziu o rosto, um tanto surpresa que aquela vampira parecesse tão... humana. Aurora não lhe olhava com repulsa, nem mesmo com pena ou ressentimento. Era apenas um olhar tranquilo e amigável, um sorriso doce demais para o próprio bem.
Humana até demais para a opinião de Leah.
— O quê quer? — Leah perguntou com a voz arrastada pelo mau humor. Aurora se aproximou um pouco, estendendo a mão com o embrulho para Leah.
— Achei que estaria com fome. — A ruiva explicou. — Seth está lá dentro devorando um frango, e Jacob foi rondar do outro lado depois do almoço. Mas você ficou aqui a manhã toda, então não deve ter comido nada. Então... — Ela deu de ombros, repuxando os lábios em um sorriso ladino, esperando que Leah não rejeitasse a comida, como havia feito noutro dia, quando Esme fora levar.
— Não estou com fome. — Leah praticamente rosnou as palavras, virando-se e voltando a sentar na rocha, dando as costas para a vampira ruiva.
Leah sinceramente esperava que ela se desse conta que era indesejada ali, e fosse embora. Ela esperava até mesmo que tivesse ofendido a vampira o suficiente para que essa quisesse arrumar uma briga. Deus sabia como Leah se sentiria melhor em estraçalhar um sanguessuga com seu dentes.
Para sua surpresa, no instante seguinte, Aurora estava ao seu lado, sorrindo pacificamente enquanto depositava o sanduíche ao lado de Leah.
— Vou deixar aqui, caso mude de ideia. — Deu de ombros antes de, para o completo choque da quileute, se sentar no chão há poucos passos de si, a postura relaxada e o rosto tomado por uma feição despreocupada.
Leah piscou, atordoada. A pergunta escapou antes que Leah pudesse pensar sobre isso:
— O que está fazendo?
Aurora olhou para Leah, sorrindo sem graça.
— Companhia.
Leah apertou a mandíbula, meio irritada.
— Eu não preciso de companhia.
— Eu sei. — Aurora respondeu, encarando-a de volta. — Sou eu quem precisa.
As palavras, deixadas no ar por Aurora de maneira tão simples e sincera, acertaram Leah em cheio. Sua expressão, normalmente amarga e seca, transformou-se instantaneamente em um choque quase engraçado. Ela suspeitou que a vampira tivesse pouquíssimo senso de autopreservação, ou que fosse louca.
Aurora tinha uma casa cheia de vampiros a menos de um quilômetro dali, tinha um marido, irmãos e pais adotivos, tinha todos como amigos, tinha inúmeras companhias. Mas ali estava ela, no meio da floresta, buscando a companhia da espécie inimiga.
Esquisita. Leah concluiu.
— Acredite, eu sou a última companhia que você vai querer. — Leah resmungou, desviando o olhar. Aquilo devia ser óbvio para Aurora, Leah pensava, nem mesmo seus irmãos de bando a queriam por perto, ninguém queria, seu sofrimento, seu rancor, e sua dor incomodavam, e ela esperava que isso fosse óbvio para todos.
— Você quer falar sobre a gravidez de Bella? — Aurora perguntou de repente, arrancando Leah de sua autodepreciação.
— O que? — Leah perguntou, franzindo o rosto em desgosto. — Não! Claro que não!
E Aurora sorriu de uma forma que Leah só pôde definir como genuíno alívio. Ela disse:
— Então, sua companhia definitivamente é a que eu quero agora.
Leah a encarou, ainda em suspeita, mas com o olhar um pouco mais suave do que era minutos antes. Depois de longos segundos, ela declarou:
— Você é louca!
Aurora riu alto, assentindo como se concordasse com as palavras de Leah.
Sim, Aurora devia estar louca, mas definitivamente gostaria de poder ser amiga de Leah.
O capítulo tinha ficado muito grande, então dividi em dois. Talvez eu publique o outro hoje à noite, ou amanhã durante o dia. Podem me cobrar.
Está aí, o início da amizade aclamada entre Aurora e Leah, pra acalmar os corações de vocês. Espero que gostem dessa relação tanto quanto eu gosto, porque elas são a coisa mais fofa.
Fugindo um pouco do assunto, eu publiquei uma fanfic que reúne algumas obras de terror clássicas, como Frankenstein, Drácula, e até Van Helsing, do filme, sabe? É uma fanfic de comédia/terror, tipo "A Família Addams", mas com personagens originais. A quem se interessar, está no meh perfil e se chama "Nightmare".
By the way, obrigada pela paciência meu anjos. Amo vocês.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top