29. Estilhaços.
A primeira pessoa a recebê-los quando retornaram à casa dos Cullen foi, previsivelmente, Alice, que vinha seguida de Jackson e Rosalie. Pelo canto do olho, Aurora viu Emmett e Carlisle carregando bancos de madeira rústica para o pátio na lateral da casa.
Ela prendeu uma risada, imaginando que Alice devia tê-los deixado perto da impaciência com aquele casamento.
— Que bom que voltaram. — Alice disse antes de puxar Aurora e Jasper para abraços afobados.
— Alice, amor, eles só voltaram porque amanhã é o casamento. Se dependesse dos dois, passariam mais uma década em lua-de-mel. — Jackson sorria divertido, e Aurora riu antes de abraçá-lo. — Graças a Deus vocês voltaram, eu não aguento mais carregar flores. — Alice apertou os olhos na direção do namorado.
— Estou te ouvindo. — Ela disse.
— E eu estou dizendo que te amo. — Ele desconversou, se soltando de Aurora e cumprimentando Jasper. Alice balançou a cabeça em descrença com a cara de pau de seu companheiro.
— Como foi a viagem? — Rosalie perguntou, abraçando o irmão e a cunhada.
— Incrível. — Aurora sorriu.
— Estávamos no Texas, na fazenda onde cresci. — Jasper contou.
— Sério? — Jackson perguntou com certa empolgação. — Como conseguiu aquele lugar de volta? Já fazem alguns séculos. — Jasper riu.
— Não fui eu. — Ele lançou um olhar sugestivo à Aurora, que sorria inocente.
— Eu só precisei falar com as pessoas certas. — Ela deu de ombros.
— Ela vai fundar um país um dia. — Jackson brincou, olhando para a namorada. Alice riu.
— Tá legal, agora vamos. Temos um casamento para terminar de organizar. — Rosalie rolou os olhos, lançando um olhar entediado para Aurora, a ruiva deu de ombros, compreensiva. Jackson possuía uma expressão meio aterrorizada.
— Ah, isso nunca acaba? — Ele resmungou.
— Acaba depois que eles se casarem. — Alice respondeu. Aurora olhou para Jasper, que parecia prestes a rir do drama de Jackson. A ruiva ouviu James balbuciar no banco de trás do carro, e sorriu internamente, sabendo que esse era seu álibi.
— Vou levar James pra dentro e dar banho nele. Se precisarem de algo... peçam ao Jack. — Ela disse, recebendo um olhar indignado de Jackson, e risadas por parte de Rosalie e Jasper. A ruiva beijou os lábios do marido rapidamente e depois deu a volta no carro para pegar o filho.
— Ela escapa do movimento de arrumação matrimonial, e nós aceitamos facilmente? — Ele perguntou, tentando soar sério.
— Quando você tiver um bebê pra cuidar, também vai escapar de qualquer "movimento de arrumação". — Rosalie argumentou, dando tapinhas no ombro do mais alto.
Jasper riu da expressão de Jackson, que parecia muito uma criança emburrada agora. Alice beijou a bochecha do namorado antes de começar a arrastá-lo de volta ao pátio.
— Ei, Major. — O loiro se virou, fitando Aurora, que sorria maliciosamente. — Se levar as malas pra dentro lentamente, também vai fugir do furacão Alice. — Jasper riu, balançando a cabeça.
— Ainda posso ouvir. — Eles escutaram a voz de Alice, e riram juntos.
Com a audição apurada, Aurora podia ouvir James ressonando no andar de cima, provavelmente nos braços de Jasper, que minutos antes lia "Alice no País das Maravilhas" para o filho. A casa dos Cullen havia sido tomada pelo silêncio característico dos vampiros. Aurora sentia a calma, ou quase.
Ela sentia que Edward, no último andar, exalava algo muito próximo de ansiedade. Não era para menos. Ele estaria se casando no dia seguinte.
Ignorando a possibilidade de que seu cunhado estava se isolando propositalmente do resto deles, em um piscar de olhos ela se encontrava sob o batente da porta, fitando as costas de Edward, que encarava a floresta atrás da casa como se fosse a coisa mais interessante de sua eternidade.
Ela caminhou pelo cômodo, devagar, se sentando no banquete à frente do piano. Em silêncio, dedilhou lentamente algumas teclas, tocando o refrão de uma música que ela gostava. Tinha a suspeita de que, naquele momento, Edward precisava ouvir, e talvez música fosse melhor que palavras.
Edward não conhecia a música, mas quando Aurora começou a cantar, com sua voz melodiosa e agradável, e a letra alcançou os ouvidos do vampiro, ele sentiu as palavras perfurarem sua pele, alcançando uma parte de si que ele nem sabia que ainda podia existir: sua alma.
E um refrão em especial, ficou marcado em sua memória:
"Eu me rendo para quem você é
Nada me faz mais forte do que seu coração frágil
Se eu apenas tivesse sentido como é ser seu
Bem, eu teria sabido para que eu tenho vivido por todo esse tempo
Para que eu tenho vivido"
Ele sabia que Aurora não se dava ao trabalho de ser sutil. Se ela achava que alguém precisava ouvir algo, ela diria, com toda sua sensatez e delicadeza, mas não pouparia palavras.
— Você nem mesmo gosta dela. — Ele soprou quando sua cunhada tocou a última nota. Aurora se virou para ele com suavidade, pousando as próprias mãos sobre o colo.
— Isso não é verdade. — Ela disse, recebendo os olhos dourados do mais alto em sua direção. — Não somos amigas, eu não concordo com muitas coisas que ela diz ou faz, e somos um tanto incompatíveis em muitos aspectos. — Edward ergueu as sobrancelhas, como se aquilo comprovasse o que ele havia dito. — Mas... — Ela também ergueu as sobrancelhas. — não é porque uma mulher foi criada de maneira diferente da minha, e tem uma personalidade ou moral diferente, que significa que eu precise odiá-la. Isso seria reforçar um padrão, e eu desprezo padrões. Seria um tanto ignorante eu odiar algo só porque é diferente de mim. — Ela sorriu levemente, satisfeita por ter provado seu ponto. Edward parecia pensativo. — Você a ama, e escolheu passar o resto de sua vida com ela. Entende o peso disso, não é? — Ele franziu os lábios, um tanto desgostoso.
— Eu, sim. — Ele murmurou. — Mas ela não parece achar que tenha um peso tão expressivo. — Aurora assentiu, compreensiva.
— Eu também não achava. — Confessou, recebendo um olhar curioso do cunhado. — Quando Jasper me contou sobre todo o conceito de companheirismo, eu achei que fosse ser simples. Afinal, já parecia explícito que ficaríamos juntos pela eternidade. — Ela sorriu sem emoção. — O resto era apenas um borrão de possibilidades. — Murmurou. — A parte em que eu deveria morrer para me tornar uma imortal, que eu perderia minha alma, minha vitalidade, e centenas de possibilidades... era um tanto irreal. — Ela suspirou, mesmo que não precisasse, sabendo que todos os Cullen, inclusive Jasper, ouviam seu primeiro desabafo real sobre sua transformação. Pelo menos ela sabia que eles teriam a decência de fingir não ouvir. — Foi assim até o acidente. Eu estive inconsciente durante todo aquele tempo, mas eu senti. Não era só o veneno queimando em minhas veias, ou todos os meus órgãos parando de funcionar, meu corpo todo se remoendo em uma dor tão excruciante que eu realmente desejava estar morta... — O olhar no rosto de Edward era suave, vazio, como se conseguisse visualizar o que a ruiva dizia. — Eu sentia como se perdesse uma parte imensa da minha humanidade. Eu senti minha alma... se estilhaçando, quebrando em um milhão de pedaços, partículas tão pequenas que facilmente desapareciam. Bem diante dos meus olhos, eu perdia minha alma. — Edward via as lágrimas se acumulando nos cantos dos olhos de Aurora, mas ainda havia um sorriso em sua feição delicada, um sorriso triste. — Dentro de mim, eu começava a me desesperar com a possibilidade de acordar e não ser mais eu mesma, de não ser mais quem o Jasper amava, quem vocês conheciam. Foi a primeira vez que eu me deparei com a possibilidade de acordar e desejar apenas uma coisa: sangue. Eu estava com tanto medo de perder tudo o que eu era, o que eu sentia. Talvez eu não confiasse mais em vocês, talvez não respeitasse mais a vida humana, talvez não amasse Jasper como eu costumava fazer. — Edward sentia seus olhos queimarem, incomodado com as lágrimas que nunca derramaria. — E eu estava tão apavorada com essa possibilidade, que realmente desejei morrer. — Ela limpou as lágrimas, coçando a garganta antes de sorrir para Edward, se uma maneira controlada e gentil. — Ela vai saber.
— Não queria que você tivesse passado por isso, e não quero que ela tenha. — Ele soprou. As palavras de Aurora ainda rasgavam o coração morto de Edward. Para ele, era cruel a forma como a transformação os marcava pelo resto da eternidade.
Aurora se levantou, caminhando na direção de Edward e segurando as mãos dele entre as suas. Talvez, a maternidade tivesse aflorado seu sentido de paciência e compreensão. Em outra época ela estaria sendo mais dura.
— Escute... se não for você a transforma-la, será outra pessoa. Não apenas porque está marcado no destino de vocês, mas porque agora ela está marcada, e os Volturi deixaram isso muito claro. — Ela o viu abaixar o olhar. — Se não quer que tudo seja ainda pior... não a abandone. Acima de qualquer coisa, quando ela acordar, sem alma, sem vida... você tem que estar lá, tem que ser a primeira pessoa que ela vai ver. Porque essa é a única forma de ela saber que ainda tem um parte de si mesma, que ainda te ama. — Ela se lembrava de ver Jasper quando acordou, e de todo o alívio que sentiu em saber que ainda o amava.
Edward estendeu as mãos, secando as lágrimas que voltavam a escorrer pelo rosto de Aurora. Ele a abraçou com certa hesitação, percebendo que era a primeira vez que fazia isso. Aurora retribuiu o abraço.
— Obrigado. — Ele murmurou contra os cabelos ruivos.
— É pra isso que serve a família. — Ela sorriu consigo mesma. O mais alto separou o abraço e deixou um beijo na testa de Aurora antes de se afastar em passos certos. — Vai até ela? — Ela perguntou. Edward olhou sobre o ombro, encontrando a ruiva com um sorriso quase vitorioso no rosto. Ele sorriu de volta.
— Sempre. — Ele respondeu antes de correr para fora, deixando apenas uma brisa suave por onde passou. Suspirando, um tanto satisfeita, Aurora voltou a se sentar ao piano.
Ela ouvia a respiração tranquila de James no andar de baixo, mas também ouviu um sussurro de Jasper, soprado contra o vento, chegando diretamente ao seus ouvidos.
— Eu te amo.
Ela sorriu, soprando de volta:
— Eu também.
Finalmente consegui atualizar. Misericórdia, já estava entrando em desespero por não conseguir escrever nada aqui. Mas agora foi.
E eu fiquei bem tristinha escrevendo esse capítulo. Sei lá, tô bem sensível, e o sofrimento da Aurora me fez sofrer também.
De qualquer forma, o que importa é que, como devem ter notado, de acordo com a linha do tempo, já estamos em Amanhecer (parte 1), no próximo capítulo será o casamento de Bella e Edward. E depois disso vocês já sabem: acabou a paz, de novo.
Estou aproveitando o pouco momento que me resta de paz, porque daqui pra frente é surto atrás de surto.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top