26. Em outra vida...

Coloquem a música quando Aurora estiver entrando no altar.

Música: 1000x - Jarryd James ft. Broods.

Aurora respirou, deslizando os dedos pela renda em sua cintura, e a saia lisa e delicada que descia por suas pernas, a cauda que suavemente tocava o chão, seus braços estavam cobertos por renda e transparência, e o decote ia de um ombro a outro, deixando sua clavícula exposta. Ela não conseguia abrir os olhos, não saberia se conseguiria mesmo quando Alice deixasse. Ela sentia que Rose ainda mexia em seu cabelo, e não sabia ao certo o que acontecia, porque todas as vampiras no cômodo estavam em silêncio absoluto.

— Está bem. — Rose murmurou, ajudando Aurora a se virar, e depois ajeitando o vestido ao redor dela. — Abra os olhos. — Aurora suspirou por força do hábito.

E ela abriu os olhos, que automaticamente se pousaram sobre o vestido, que caia perfeitamente bem nela, delicado e elegante. Seu tom de pérola constrastava bem com a pele pálida da vampira. Ela subiu os olhos, analisando o trabalho de Rose em seu cabelo. Os fios ruivos foram presos em um coque baixo que valorizava o corte do vestido, e as mechas soltas emolduravam seu rosto. E em seu rosto, a vantagem de ser vampira era não precisar nunca mais de maquiagem, porque estava sempre impecavelmente bonita. Mas Alice a conhecia bem, e isso era nítido quando se via os lábios de Aurora, pintados por seu adorado batom vermelho.

Se ainda pudesse chorar, ela já estaria tremendo e soluçando feito uma criança. Mas seus olhos apenas brilhavam, enquanto ela tocava a si mesma, quase não acreditando que era real.

— Você está linda. — Rose sorriu brilhantemente.

— Deslumbrante. — Kate disse, sorrindo orgulhosa. Ela tinha motivos para estar, afinal, ela e Alice haviam sido suas fadas madrinhas. Aurora sorriu, sem palavras, por dentro ela estava sentindo-se tremer.

Batidas na porta desviaram seus pensamentos, e ela foi aberta, revelando a figura de Jackson, que entrava vestindo um smoking, e com as mãos sobre os olhos.

— Digam que ela está vestida. — Ele falou divertido. Aurora riu.

— Estou. Pode olhar. — Ela disse. Jackson tirou as mãos do rosto. Mas ele não foi capaz de dizer nada quando olhou para Aurora. Há  alguns meses, quando recebeu o convite, ficou tão surpreso que Jasper fosse se casar, que apenas sentiu que precisava conhecer a mulher que permitiu esse milagre.

Nunca, nem em um milhão de anos, ele achou que se tornaria melhor amigo daquele ser teimoso, mandão e irritante. Mas aconteceu. E ele não hesitou quando teve que transformá-la para salvar sua vida. Porque Jasper passaria sua eternidade sofrendo, mas ele também não sentia que seria o mesmo se Aurora morresse.

Ela foi a primeira e única pessoa que ele transformou. Até então, ele não tinha nenhum conhecimento sobre a ligação entre um criador e um recém-criado. Era como se o sentimento que ele tinha por ela houvesse se intensificado. Aurora era a melhor amiga que ele não pediu, a irmã que ele nunca teve, e a filha que nunca poderia ter.

Agora ela estava ali, deslumbrante em um vestido de noiva, pronta para se casar com o homem que amava, e que a amaria incondicional e eternamente.

E tudo o que Jackson conseguia dizer era:

— Uau. — Ele nem sabia que sua voz poderia falhar após a transformação, mas também aconteceu.

— Vamos esperar vocês lá embaixo. — Alice disse antes de beijar a bochecha de seu namorado e sair pela porta, seguida de Rose e Kate, que sorriram para Aurora antes de sumirem pelo corredor.

Jackson notou, atrás sorriso brilhante, dos olhos dourados alegres e emocionados, o fio de nervosismo que parecia puxar Aurora. Ele se aproximou, pegando a flor branca sobre a penteadeira, a mesma que havia no buquê, e colocando no bolso de seu paletó.

— Sabe, se quiser eu posso distrai-los enquanto você corre. — Ele brincou, sabendo que isso arrancaria uma risada, e provavelmente aliviaria a tensão. Estava certo. Mas além disso, também levou um tapa no braço. — Brincadeira. — Ele sorriu. — Está magnífico. Se Jasper ainda chorasse, seria a primeira vez em séculos. — Ambos sorriram.

— Eu nunca te agradeci. — Ela disse, recebendo um olhar confuso. — Você estava lá comigo naquela noite, e eu teria morrido se você não estivesse. — Esclareceu. — Eu vou me casar, pude adotar uma criança maravilhosa, e vou ter a eternidade com minha família de verdade... obrigada por não ter desistido de mim. — Era um dos sorrisos mais carinhosos que alguém já havia lhe dado. Jackson a abraçou, com cuidado para não estragar nada.

Ele tinha muito a agradecer, talvez mais do que ela. Mas aquele era o dia dela, e ele deixaria a gratidão para o seu discurso.

— Está bem. — Ele disse, se afastando e pegando o buquê sobre a mesa, estendendo para a ruiva. — Precisamos descer, você precisar se tornar a Sra. Hale, ou Whitlock, ou sei lá. — Aurora riu, apanhando o buquê. — Pronta?

Ela suspirou, se fitando uma última vez no espelho, e então olhando para a mão estendida em sua direção.

— Pronta. — Ela segurou a mão de seu criador.

O primeiro floco de neve tocou a pele de Aurora quando ela pisou no tapete vermelho, ela agarrou o braço de Jackson e olhou para cima, onde a neve passava singelamente entre os galhos das árvores que compunham um arco ao redor de toda a cerimônia, haviam flores por toda parte, flores brancas, luzes brancas, e neve, muita neve. Era frio, como a pele dela. Era lindo.

A melodia suave entrada pelos ouvidos de Aurora. Não a marcha da noiva, como era de costume, mas uma música agradável, tranquila, como se ouvisse a si mesma.

Por um momento, quando começou a caminhar para o altar, Aurora fixou seus olhos em Jasper, que, como se fosse possível, estava ainda mais bonito. Não porque usava um terno branco e caro escolhido por Alice. Mas porque seus olhos pareciam brilhar, e seu sorriso refletia isso. Porque seu rosto era pacífico, sereno. E porque ele emanava amor, para todos ali, e principalmente até ela.

E, naquele momento, Aurora não via mais ninguém, como se eles fossem as únicas pessoas no universo, como se pudesse passar o resto da eternidade revivendo isso em loop, de novo, e de novo, e nunca se cansaria. Porque ela podia jurar que sentiu seu coração voltar a bater dentro do peito.

E quando Jackson lhe deixou no altar, quando alguém pegou seu buquê, quando o cerimonialista começou a falar, ela permaneceu em transe, sorrindo, fitando o rosto de Jasper. E o tempo parecia parado. Tudo acontecia, mas nada importava.

Ela despertou apenas quando Jasper segurou suas mãos.

Rose se levantou, com James no colo, e subiu no altar. Aurora riu ao perceber que seu filho segurava um chocalho dourado, que na ponta tinham duas alianças presas a uma fita prateada. Jasper beijou a testa do bebê e desamarrou as alianças. Aurora acenou suavemente, vendo James sorrir para si enquanto Rose se afastava para o seu lugar.

— Uma vez alguém me disse que se eu encontrasse uma garota que fizesse meu coração parar de funcionar por alguns segundo, não deveria deixá-la escapar. Acho que todos já conhecemos alguém assim. — Todos os vampiros riram do trocadilho. —Mas a garota que eu encontrei... nunca fez eu me sentir menos que vivo. Meu coração, que já não batia há mais de um século, agora constantemente parece querer saltar para fora do peito, toda vez que olho para essa linda mulher. — Ele se aproximou mais, tocando o rosto dela com os dedos. Os olhos dourados se fitaram intensamente. — Você me ensinou a amar a vida, e me sentir vivo. E, se quiser, meu coração sempre será seu. Afinal, ele não seria nada sem você. — Sim, Aurora sentia seus olhos arderem. — Eu te amo. — Ela o viu mexer os lábios, silenciosamente, apenas para que ela entendesse. Ele lhe colocou a aliança, beijando os dedos suavemente em seguida. Ela apertou as mãos dele, transmitindo, através daquele toque, o que havia aprendido com seu poder.

E quando a vez de dizer seus votos, Aurora não pensou nas duas páginas que havia escrito, ou nos rascunhos amassados, ou no pequeno texto decorado. Ela apenas pensou em tudo o que talvez não tivesse dito ainda, mas sentia a cada segundo do dia:

— É o suficiente. — Ela disse, baixo, sabendo que todos os vampiros lhe ouviam claramente. — O amor que temos... é o bastante. Eu seria capaz de qualquer coisa por ele. Eu pararia o tempo, congelaria o mar, apagaria o sol, e criaria um universo inteiro do zero. Porque seu amor me faz sentir que posso fazer qualquer coisa. — Jasper lhe sorria. — Em outra vida, eu nunca mudaria de ideia. Faria tudo de novo, mil vezes, só pra ter você aqui. Eu te amo, e sempre amarei... por toda a eternidade e além disso. — Sussurrou a última parte, vendo seu noivo sorrir de canto. Ela repetiu o que ele havia feito ao colocar sua aliança, sentindo o metal frio em contado com seus lábios.

Ela apenas sorriu quando ele se aproximou, segurando seus rosto entre as mãos e tocando os lábios dela com os próprios. Seus beijos sempre pareceriam o primeiro. Sempre lhe dariam a sensação de borboletas na barriga.

Mas, naquele momento, quando Jasper separou o beijo e olhou em seus olhos, ela descobriu que ele também a podia fazê-la se sentir viva... mas de um jeito diferente.

Aurora... — Ele sussurrou, parecendo confuso, e talvez preocupado. — está chorando.

Ela franziu o rosto, não entendendo ao certo qual o problema de chorar em seu casamento. Então, se lembrou que vampiros não deviam chorar, porque estavam mortos. Ela tocou seu rosto, sentindo os dedos ficarem molhados, e sentiu o gosto salgado das lágrimas.

Ela não estava completamente morta.


Me desculpem por demorar tanto pra postar esse capítulo.
A primeira versão infelizmente foi apagada, por um erro meu mesmo. E eu não queria postar nada escrito às pressas, completamente meia-boca. Esse capítulo, assim como toda a história, precisava ser impecável, e isso é uma exigência minha mesmo.
Mas enfim, aqui está. Espero que tenham gostado.

Aproveitando o momento, vou divulgar minha nova fanfic.
"Nephilim" é um crossover de Teen Wolf e The Originals, com um enredo baseado nos nefilins de Supernatural.
Está disponível no meu perfil para quem quiser ler, e eu adoraria se pudessem dar um pouco de amor lá também.

Obrigada por terem tido paciência. 🤍

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