20. Pequena mudança de planos.

— Assine aqui, aqui e aqui, Srta. White. — O homem lhe estendeu os papéis e sua caneta, que Aurora aceitou. Ela deixou sua rubrica em cada um dos espaços indicados, e depois largou a caneta. — Não se preocupe com os preparativos do enterro, o seguro de seus pais cobria isso, e nossa empresa já está cuidando de tudo. — Aurora assentiu, lembrando-se de piscar algumas vezes, como alguém normal faria.

— Obrigada, Sr. Hausson. — Ela agradeceu polidamente, apertando a mão do homem. Ela se ergueu, segurando suas cópias dos documentos, e saiu da sala, deparando-se com Rosalie no corredor, a esperando.

A ruiva lhe estendeu a mão e a guiou para fora do prédio, descansando a mão sobre as costas da amiga de maneira reconfortante.

— Preciso ir até a casa. — Ela disse simples.

— Não acabou? — Rose perguntou surpresa. Aurora balançou a cabeça.

— Tem alguém lá que eu ainda não conheço. — Foi a única coisa que Aurora disse antes de entrar no carro com Jasper, dessa vez ela estaria dirigindo. Rosalie entrou no de trás com Emmett, e no último estava Jackson.

Todo o caminho fora em silêncio até a no re mansão dos White, na parte mais nobre de Londres. Aurora não se surpreendeu com a quantidade de paparazzis acampados na entrada. Todos pareciam esperar por qualquer micro furo para escrever uma matéria.

Aurora usou o antigo controle do portão para abri-lo, e todos ficaram eriçados na porta. Ela passou com o carro, vendo os jornalistas se espremerem para tentar ver através do vidro escuro de seu carro. Quando todos entraram, ela voltou a fechar o portão, e dirigiram pela pequena estrada íngrime até verem a mansão surgir entre as árvores e jardins.

— Uau, extravagância define bem. — Ela ouviu Jackson dizer do último carro.

— Espere até conhecer a família pesadelo. — Foi a resposta de Aurora.

Todos os carros pararam enfileirados perto da fonte de Afrodite, e Aurora suspirou ao ver algumas pessoas saírem da mansão, parando nas escadas e olhando curiosamente para os carros. Jasper segurou sua mão.

— Estamos bem aqui. — Ele disse.

— Eu sei. — Ela disse. — E lamento pelo que vão presenciar. — Ela sorriu envergonhada antes de sair do carro. Alguns dos olhares eram incrédulos, e haviam poucos surpresos. Ela começou a andar com sua habitual postura confiante, uma das poucas coisas que se orgulhava em ser uma White. Jasper vinha logo atrás dela, como todos os outros.

— O que veio fazer aqui? — Lorelai, sua tia que morava em Port Angeles, era uma das pessoas mais egocêntricas que Aurora conhecia, não se davam nada bem.

— Eu quem devia estar perguntando o que você faz na minha casa. — Ela deu ênfase na palavra "minha" se deliciando com a expressão de sua tia. — Mas eu vou ignorar sua presença, assim como faria com qualquer pessoa insignificante, e vou entrar. — E sem falar mais nada, passou para dentro da casa.

— Essa casa não é sua. — Lorelai veio atrás dela, como um búfalo raivoso. — Ela pertencia ao meu irmão.

— Exato. — Aurora se virou, encarando sua tia sem se deixar abalar nenhum pouco. — Era. Se está tão preocupada com isso, deveria ter aparecido na leitura do testamento. — Pela expressão chocada da mulher mais velha, Aurora soube que havia pegado no ponto exato. — À menos que você nem soubesse do testamento dos meus pais, certo? — Aurora enfiou a mão no bolso e puxou um cartão de visitas com um número estampado. — Ligue para o advogado, ele vai te explicar tudo. — E sem mais, ela se virou para as escadas, subindo os degraus rapidamente em direção aos quartos. Ela abriu a primeira porta logo depois de passar pelo que costumava ser o seu quarto.

O ambiente que se deparou era claro, como todos os outro, completamente branco e sóbrio, os móveis eram confortáveis e delicados, e havia uma suave música ambiente tocando. Em um dos cantos, havia uma poltrona confortável ao lado de uma estante de livros infantis. No outro, havia um berço. E bem ali havia uma mulher uniformizada, segurando um embrulho nos braços, e cantarolando.

Aurora se aproximou a passos suaves, inspirando o cheiro de talco, flores e sabonete. O quarto todo cheirava assim.

— Oi. — Ela murmurou, chamando a atenção da moça, mas sem assusta-la.

— Posso ajudar? — A outra perguntou gentilmente. A ruiva assentiu.

— Sou Aurora... — A moça sorriu.

— Filha dos senhores White. — Ela interrompeu, vendo Aurora assentir silenciosamente, sem tirar os olhos do bebê adormecido. — Quer pegá-lo? — Aurora a olhou hesitante. Mas ao ouvir o resmungo do bebê, ela aceitou.

O bebê foi passado para os seus braços. E Aurora se sentiu segurando a coisa mais delicada e frágil do mundo. Ele usava um macacão amarelo, luvas e sapatinhos brancos, e estava coberto por uma manta azul cheia de nuvens. Aurora deslizou os dedos frios pela pele macia e fina da criança, e depois pelos fios de cabelo ralos e loiros que ele tinha na cabeça.

— Como ele se chama? — Ela perguntou baixo, vendo a expressão da babá se tornar surpresa demais com sua pergunta.

— James. — Foi sua resposta.

— Oi, James. — Aurora murmurou, ninando James com toda a delicadeza que sua nova condição permitia. A babá, notando que era um momento pessoal, saiu do quarto, deixando Aurora com o bebê. — Eu sou a Aurora. Lamento por seus pais... e lamento que essa seja forma que estamos nos conhecendo. — Ela disse sinceramente, mesmo que ele sequer estivesse ouvindo, ou que sequer fosse entender se estivesse. — Você vai ficar bem... vai ficar melhor que eu, eu prometo.

Aurora beijou de maneira terna os cabelos do garoto, que dormia serenamente.


Aurora desceu as escadas, com o rosto coberto por uma máscara de seriedade, e nem se dignou a olhar os parentes de seus pais adotivos, que a acompanhavam com o olhar durante todo o tempo.

— Jas, pode vir comigo? — Ela chamou o noivo, que assentiu prontamente, e a seguiu pelo corredor ao lado da escada. Aurora abriu a porta do escritório e entrou, Jasper veio em seguida, fechando a porta atrás de si. Aurora abraçava o próprio corpo, e mordia a unha, olhando pensativa para o chão. Jasper a abraçou, apoiando seu queixo no topo da cabeça da mulher, que deslizou os braços por sua cintura. — Acho que sinto saudades de chorar. — Ela murmurou. Jasper assentiu.

— Seria um alívio, certo? — Ele afagou seus ombros, sentindo toda a angústia que tomava sua companheira. Ele não a tranquilizou. Não dessa vez. Às vezes, era necessário sentir a dor, era preciso sofrer para seguir em frente.

— A primeira coisa que eu pensei quando soube que teriam outro filho, foi que essa criança teria tudo o que eu não consegui. Atenção, carinho, e amor. Tudo o que eu precisava me esforçar para ter, ele já tinha. — Ela contou. — Agora, ele é igual à mim. — Seus olhos se encheram de dor e tristeza. — Ele é órfão, talvez seja adotado um dia, talvez por uma família boa que o ame, talvez por pessoas como as que me criaram. Talvez ele nunca saiba o quanto foi amado em seus poucos quatro meses de vida. — Ela sorriu triste. — Tinha que ter visto... quando ele abriu os olhos e olhou pra mim. Eu nem acho que ele realmente me enxergava. Mas eu o via.

— E você não quer parar de ver, certo? — Jasper perguntou, já sabendo a resposta. Aurora ficou em silêncio, fechando brevemente os olhos e balançando a cabeça. Jasper entendeu. — Então, não pare. — Ele disse, vendo-a abrir os olhos dourados e fixa-los nele, confusa. — Vamos levá-lo conosco. Cuidaremos dele. Você e eu. — Aurora cogitou que Jasper estivesse brincando. Mas seu tom não deixava dúvidas. Era sério.

— Está dizendo... como se... — Ele assentiu.

— Como se fosse nosso filho. — Ele concordou. — Se quiser, ele não precisa saber de toda a tragédia que envolvia a família. Construiremos nossa família, e nossa vida. E tudo que ele precisar, terá em nós. — Aurora sentiu seu lábio inferior tremer.

— Você quer isso? Mesmo? — Ela observou, admirada, as feições de seu noivo.

— Quero ter essa família com você. — Ele respondeu, vendo-a sorrir emocionada. — E, nesse momento, quero conhecer o James. — Aurora riu, balançando a cabeça.

Ela beijou Jasper docemente, e depois segurou sua mão, puxando-o para fora, e para as escadas. Todos os outros pareciam ter se dispersado pela casa, cansados de bisbilhotar sua vida.

De volta ao quarto de James, agora o bebê dormia no berço, deitado de lado e agarrado a um coelho de pelúcia quase de seu próprio tamanho. Ele ressonava baixinho, e seus pés e mãos se contraiam vez ou outra de maneira adorável. Aurora e Jasper se inclinaram sobre o berço, ela mexendo em seus pézinhos, e Jasper afagando suas costas.

— Ele não é adorável? — Ela perguntou, meio encantada. Jasper sorriu, agora passando os dedos pelos bracinho de James. O bebê contraiu os braços, resmungando, e agarrou o que tinha mais próximo.

Para a surpresa dos dois, os dedos gordinhos de James estavam agarrados ao indicador de Jasper. E ele não parecia disposto a soltar.

Jasper riu pelo nariz, repuxando o canto dos lábios em um semi-sorriso emocionado. Talvez, aquela tenha sido a primeira vez que Aurora via ele olhar para alguém daquela forma, alguém que não fosse ela. Ela soube que Jasper protegeria James, com sua própria vida se necessário, assim como ela.

Porque isso era o que a família fazia.


— Sim, Sr. Hausson, eu tenho certeza. — Ela repetiu, pela terceira vez. — Preciso dos papéis ainda hoje, quero arrumar os documentos o mais rápido possível para voltar para casa. — Aurora estava firme em seus novos planos, e nem um advogado experiente como Hausson poderia mudar isso.

Certo, Srta. White, entrarei em contaro antes do fim do dia. — Ela agradeceu, e desligou a chamada.

— O que estão fazendo... é uma decisão importante. — Rose disse, ninando James de um lado para o outro. — Não vou dizer que sou contra, porque seria a maior mentira, eu adoro crianças. — Ela sorriu para o bebê em seu colo. Aurora sorriu também.

— E você será uma tia babona, com certeza. — A ruiva provocou. Rose lhe mostrou a língua.

— É pra isso que as tias servem, certo, Jay? — O bebê balbuciou algo incompreensível, e chutou o ar. — Ele concorda. — Ela sorriu vitoriosa.

— Não. — Aurora discordou. — O que ele disse foi... — Ela começou, se aproximando de Rose e James, e forçando uma voz fina e alterada. — por favor, alguém me salva da minha tia maluca que vai me mimar até eu virar um garotinho insuportável. — Incrivelmente, James começou a balbuciar e sorrir banguela quando Aurora entrou em seu campo de visão.

— Ele gosta de você. — Rosalie disse sorridente.

— Seria preocupante se não gostasse. — Aurora admitiu. Ela se voltou para James e sussurrou, como se contasse um segredo: — É bom mesmo gostar de mim, porque meio que não tem volta, a cegonha não vai aceitar devolução. — James balançou as mãozinhas no ar. — À menos que eu te jogue pra cima. — Ela disse, como se fosse uma ideia brilhante. — Você ia gostar disso, certo? — Ele soprou com a língua entre os dentes. — Vou entender isso como um sim. — Ela o pegou do colo de Rose, e o abraçou, balançando-o enquanto cantarolava e andava pelo quarto.

— Vocês serão bons pais. — Rose disse após algum tempo observando Aurora com o bebê. A mais nova olhou para James, que estava caindo de sono enquanto segurava seus cabelos ruivos.

— Eu espero que sim. — Ela disse.

— Eu tenho certeza. — Rose garantiu, sorrindo confiante para sua nova irmã. — Vamos, vou te ajudar a arrumar as coisas dele para a viagem. — Aurora assentiu.

Ela olhou o rosto de James, que aos poucos fechava seus grandes olhos azuis, e abraçou o pequeno corpo dele contra si. O pequeno ser que havia mudado seus planos.

Ela não se arrependeria disso, tinha certeza.

James White... Hale. Lhe soava mais do que bem.

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