06. Quase uma de nós.

Após seu período de atestado, Aurora havia aceitado a companhia de Jasper para ir e voltar do colégio, já que era desconfortável dirigir com o pulso naquele estado. Então, pela manhã ele já estava em sua casa, ela lhe entregava a chave de seu carro e iam o caminho todo conversando. E isso passou a ser tão recorrente, que nenhum deles se importou se o pulso de Aurora já estava bom, se ela já conseguia dirigir sozinha. Apenas continuaram dessa forma.

Então era comum que Jasper estivesse dirigindo o Bugatti de Aurora todos os dias, na ida e na volta, e estacionando ao lado de seus irmãos. No começo, os cochichos sobre isso eram insuportáveis. Mas nenhum deles ligava de verdade. E depois de três semanas, não era uma cena tão extraordinária assim. Era simplesmente aceitável que Aurora tivesse sido a primeira e única pessoa a ser incluída na "rodinha" dos Cullen.

— Seu aniversário está chegando. —Foi a primeira coisa que Aurora ouviu quando saiu do carro, ao mesmo tempo em que era quase sufocada em um abraço por Alice, que agora a arrastada para perto dos outros.

— Na verdade não está, não. Foi há três meses. — Aurora comentou.

— Eu sei. Mas precisava achar um jeito exagerado e estranho de começar essa conversa. Assim você não fica tão chocada quando te chamarmos pra ir até nossa casa. — A mais baixa disse, arrancando uma careta confusa de Aurora. Jasper riu enquanto se aproximava e abraçou Aurora pelos ombros.

— Alice, o que você bebeu? — Aurora perguntou meio preocupada.

— Nada. — A mais baixa deu de ombros. — Só acho que vai ser legal você conhecer o resto da nossa família, considerando que você está sozinha na cidade, e agora é nossa amiga. — Ela explicou alegremente. Aurora olhou para os outros irmãos como se pedisse ajuda, o que os fez rir.

— O que acham disso? — Ela perguntou, realmente curiosa com as respostas. Todos se entreolharam.

— Vai ser legal, ruivinha. — Emmett disse empolgado. — Tecnicamente você já conhece nosso pai, só falta uma pessoa agora.

— E Esme está louca pra te conhecer. — Alice apontou.

— Sim, possivelmente ela vai considerar adotar você também. — Emmett brincou, arrancando risadas.

— O que acha? — Edward perguntou, lhe encarando em dúvida. Aurora olhou para Jasper, como se buscasse nele a resposta. Ele apenas sorria imperceptivelmente. Ela assentiu.

— Claro. — Sorriu amarelo. Alice saltitou.

— Perfeito! — Ela exclamou alegre. — Vamos arrumar tudo, não tem com o que se preocupar. — Aurora olhou para Jasper com um pouco de receio. Ele sorriu de canto em resposta. — Vou avisar Esme, e te digo quando vai ser. — O furacão Alice beijou a bochecha de Aurora e saiu saltitante dali, arrastando Rose e Emmett consigo enquanto falava sem parar, Edward ia logo atrás, fingindo que não ouvia.

— Sabe que Alice está praticamente adotando você, certo? — Jasper sussurrou em seu ouvido. Aurora riu.

— Vai ser divertido. — Aurora disse otimista.

— Preciso falar com você. — Ele disse um tanto sério.

— Tem algo errado? — Ela perguntou tocando o rosto frio dele com as pontas dos dedos.

— Depois da aula. — Ele disse. — Vou te deixar em casa, e conversamos lá. — Ela concordou com a cabeça, deixando o sentimento de preocupação inundar seus pensamentos. — Vamos. — Jasper beijou o rosto da ruiva antes de segurar sua mão e andarem juntos para dentro da escola.

Aurora estava incomodada. Foi assim o dia todo após o que Jasper disse no estacionamento. Ela estava ansiosa, e com um leve pressentimento ruim. E aquilo a perseguiu o dia todo, tornando seu dia na escola pouco produtivo, e bem desagradável. Melhorava apenas quando Jasper estava por perto, e uma calma inexplicável lhe invadia.

Agora, ela estava incomodada novamente, mas ele estava por perto. Jasper dirigia o Bugatti enquanto Aurora estava no banco do carona, alternando seu olhar entre o loiro, e a estrada. Jasper parecia tenso. Não como ficava na escola, onde ele praticamente ficava rígido, parecendo de fato sofrer por estar lá. Não. Agora a tensão era incômoda a ponto de ele não conseguir parar de mexer os dedos, ou sequer olhar para Aurora. Isso triplicava o desconforto da ruiva.

Quando o carro parou na porta de sua casa, Jasper desceu, deu a volta rapidamente e abriu a porta para Aurora. E fizeram todo o caminho para dentro da casa silenciosamente, quase como se ele não estivesse lá. Aurora destrancou a porta, sentindo seus dedos formigarem de leve. Ela deixou sua mochila no sofá enquanto ouvia Jasper fechar a porta. Aurora não conseguia ouvir nem a respiração dele. Com um suspiro frustrado, ela se virou e encarou Jasper, que permanecia embaixo do portal da sala, rígido feito uma estátua.

— Jas, o que está acontecendo? — Ela perguntou sem rodeios, como sempre. Aurora sabia que não precisava disso com Jasper.

— Antes de tudo, eu preciso perguntar se você confia em mim. — Se ela estranhou a pergunta? É claro que sim. Por que raios Jasper perguntaria aquilo? E mais importante, ele realmente duvidava que ela não confiasse nele? Aurora franziu o rosto. Mas vendo o olhar sério no lindo rosto de Jasper, ela respondeu:

— É claro que sim. — Seu tom foi um tanto óbvio. E Jasper pareceu relaxar um pouco is ombros.

— Então... preciso que saiba que eu nunca machucaria você. — Aurora não podia estar mais confusa. Ela abriu a boca para questionar, mas Jasper se aproximou e colocou um dedo frio sobre os lábios dela. Aurora se calou e engoliu seco com aquela proximidade. Ela podia ver, muito claramente, os olhos de Jasper em um tom castanho amarelado. — Vou te contar uma coisa que ninguém mais sabe sobre minha família. E a única razão pra eu fazer isso, é porque você é a pessoa mais importante do mundo pra mim. — Aurora mal sentia a própria respiração agora. Seus olhos verdes estavam marejados em emoção pela sinceridade de Jasper. — Então, me ouça, com muita atenção. — Ele pediu muito sério. Aurora assentiu levemente.

— Tudo bem. — Ela concordou baixo. — Estou ouvindo. — Jasper olhou cada traço do rosto de Aurora, como se fosse a última vez que o faria, decorando cada mínimo aspecto daquele ser maravilhoso. Jasper suspirou, mesmo que não precisasse, sentindo o cheiro de Aurora espalhado por todos os lados.

E ele se lembrou do motivo de estar ali. Aurora era sua companheira, e ela seria por toda a eternidade. Porque, sim, Alice havia visto, não uma, mas várias vezes, Aurora como uma deles. Ela dizia que não importava a decisão que eles tomassem, nem a direção para qual fossem, Aurora sempre acabava da mesma forma, como uma imortal, ao lado de Jasper. Então, ele não tinha porque esconder. E quanto antes contasse, mais cedo ela teria a chance de escolher.

Sua família era de acordo. Até mesmo Rosalie, depois de perceber que não havia como lutar contra aquilo. Aurora seria da família, muito em breve, pelo visto. Então, a família estava pronta para acolhe-la.


Aurora olhou para frente, e a primeira cena fez um sorriso caloroso se abrir em seu rosto. Ali estava Alice, ao lado do Sr. Cullen, e da mulher que ela supôs ser a mãe adotiva de seus amigos. Todos pareciam olhar diretamente para ela, com sorrisos gentis no rosto. Ela sentiu a mão fria sobrepor a sua, e olhou para Jasper, que lhe olhava atentamente.

— Pronta? — Ele perguntou. Aurora apenas assentiu, ainda sorrindo. Jasper retribuiu o sorriso e saiu do carro, dando a volta e, como sempre, abrindo a porta de Aurora. Ela aceitou a mão dele ao sair, e entrelaçou seus dedos, deixando que ele lhe guiasse até os outros membros da família.

Se ela iria surtar por estar em uma casa cheia de vampiros? Não. Se ela surtou por saber que seus únicos amigos na cidade eram vampiros? Também não. Mas ela surtou por saber que vampiros eram reais? Sim, com certeza. Mas seu surto foi rápido, indolor, e momentâneo. Jasper não podia ter sido mais paciente, explicando, esclarecendo as dúvidas, e esperando o tempo dela. Todos os Cullen, os que ela conhecia pelo menos, haviam sido muito gentis em lhe dar um pouco de espaço para digerir tudo.

Levou três dias, até que na quinta-feira Aurora voltou para a mesa dos Cullen, pegou o pedaço de pizza de Rosalie, a maçã de Emmett, e o suco de Edward, e começou a comer. Todos lhe encaravam curiosamente. Mas ela apenas deu de ombros, e disse:

— Eu sei que iam jogar fora mesmo. Estou unindo o útil ao agradável. — Foi a única coisa que ela disse. E ela nem notou quando todos na mesa esboçaram sorrisos. Estava tudo bem.

Na verdade, as coisas se tornaram ainda melhores agora que Aurora sabia a verdade. Emmett, muito empolgado, havia lhe contado como foi transformado, e como se tornou da família. Ela adorava o bom humor de Emmett, ele sempre levantava os ânimos da família, e parecia feliz em ter alguém tão bem humorado quanto ele por perto.

Ela sabia sobre os dons que alguns deles tinham. As visões de Alice, a Telepatia de Edward, ou a capacidade de Jasper de ler e manipular emoções. Ela precisou admitir que não perdeu um só oportunidade de encher Edward desde que descobriu que ele não conseguia ler sua mente. Ela e Emmett tinham muitas piadas internas para isso.

E no sábado, Aurora foi conhecer Esme, a matriarca da família. Ela sentia-se sendo incluída ali. E isso a fazia se perguntar muitas coisas. Mas, por enquanto, deixou suas perguntas de lado e aproveitou a sensação de ser desejada em algum lugar.

— Seja bem-vinda. — A mulher, que ela supôs ser Esme, desceu os degraus da varanda, e lhe envolveu em um abraço caloroso. Mesmo frio, o abraço de Esme lhe trazia um conforto inexplicável.

Carlisle lhe sorria de sua maneira sempre gentil, e acenou em cumprimento. Assim como Alice, que tinha um olhar levemente vidrado. Ela estava tendo uma visão. E quando acabou, sorriu para Jasper e assentiu.

Aurora faria parte daquela família, e seria mais feliz do que em qualquer outro lugar do mundo. Para Jasper, aquilo já era o bastante.

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