28, um novo início

RAFE DÁ UM SORRISO DE lado ao ver Claire lutar com o fecho do capacete. Ela ainda estava se adaptando ao novo meio de locomoção, era radical demais para seu gosto e a maneira com que Rafe pilotava não ajudava muito. A garota tenta mais uma vez tirar aquele trambolho da cabeça, sem sucesso, e um suspiro impaciente escapa de seus lábios.

Rafe se aproxima e desabotoa o capacete com facilidade, para o alívio de Claire e sua completa diversão. Ela não gosta do sorriso convencido nos lábios dele mas mal consegue pensar nisso, se apressando em arrumar os cabelos. Rafe usa sua mão para ajuda-la e em seguida deposita um beijo no topo de sua cabeça. Isso faz com que o humor de Claire fique mil vezes melhor.

Os dois entram apressadamente em casa, vendo Nicholas e Sarah sentados no balcão da cozinha.

— Onde você estava? — Nicholas pergunta, antes mesmo que eles pudessem se sentar.

Claire abre um sorriso apaziguador. Ela sabia o quanto seu amigo odiava atrasos.

— A gente tinha uma reunião, atrasou um pouco — se explica enquanto se senta. — O Fred Carlson da imobiliária estava desabafando sobre os problemas com a esposa. Acho que ele pensa que somos amigos.

— Ele não tirava os olhos das suas pernas — Rafe resmunga, se posicionando atrás de Claire numa postura excessivamente protetora.

Ele ainda não vai assimilado que o senhor Carlson não estava mais por perto.

— E eu tive que acalmar essa ferinha aqui — Claire prossegue, usando o dedão para apontar pro namorado.

Apesar de Nicholas se manter impassível isso faz com que Sarah abra um sorriso divertido.

— Bom, já estamos de saída — Nicholas anuncia, ficando de pé.

Claire fica em pé também.

— Podemos ajudar em algo?

— Eu não... — Rafe começa mas é silenciado apenas com um olhar. Ele sabia muito bem o que significava.

— Vai sim.

— Tá, tá bem — o garoto concorda, não escondendo a insatisfação. — Mas você vai trocar essa saia.

— Combinado.

A expressão divertida de Sarah desaparece.

— Vocês me dão nojo sabia? — ela comenta, fazendo careta.

Claire revira os olhos enquanto Rafe parece satisfeito. Pelo menos a pequena implicância faz com que Nicholas sorria.

— Rafe! — Wheezie exclama, entrando pela cozinha como um tiro. — Até que enfim você chegou.

Instintivamente Claire e Rafe se afastam.

— Que recepção mais acalorada — Rafe diz, passando o braço pelo ombro de sua irmã mais nova.

— É, eu não aguentava mais segurar vela.

Sarah revira os olhos, se aproximando mais de Nick apenas para provoca-la.

— Posso falar? — Nicholas pergunta, cruzando os braços. Ele queria logo acabar com isso para finalizar os preparativos pra hoje.

Claire abre um sorriso.

— Fala Nick.

— Minha mãe está mandando os barris de cerveja e o buffet pra casa do Kelce. A única coisa que eu preciso é que peguem as bebidas no Joe's e estejam lá daqui uma hora. Acham que conseguem?

— Claro — Claire concorda.

Nicholas se vira para Rafe fazendo com que Claire automaticamente chame sua atenção. Uma rusga surge na testa do garoto ao ver todos olhando para ele.

— Claro — ele concorda.

— E o que eu faço? — Wheezie pergunta, querendo ser incluída.

— Você vai com eles e tenta não beber nada escondido. Você sempre acaba vomitando — Sarah responde, passando pela irmã.

Isso faz com que Rafe abra um sorriso.

— Nisso eu vou ter que concordar.

— Eu vou tomar um banho — Claire anuncia, pegando sua bolsa.

— Te vejo daqui uma hora — Nicholas enfatiza, com a chave do carro em mãos. — Não se atrasa pelo amor de Deus.

É Wheezie quem responde.

— Relaxa Nick.

O aniversário de Nicholas era daqui a cinco dias, mas a comemoração seria hoje por motivos técnicos. Ele queria usar a piscina da casa de Kelce, que era bem maior que a dele — ou que a de qualquer um na ilha — e seus pais haviam viajado anteontem então a festa meio que foi arranjada as pressas. Piscina não era o tipo de passatempo favorito de Claire mas ela tinha decidido não fazer nenhuma cara feia ao longo do dia, ela amava Nicholas demais pra isso.

Não haviam nem cinco minutos que ela estava no chuveiro quando a porta de seu banheiro é aberta, revelando um Rafe completamente nu.

— Ei, esse é o meu banheiro — Claire resmunga, fingindo irritação.

Rafe dá um sorriso de lado, entrando no box e se aproximando o suficiente para que o jato do chuveiro também o atinja. A garota perde o ar por alguns instantes enquanto observava as gotas de água escorrendo por seu tronco.

— Vim me assegurar de que você esteja bem... — Rafe faz uma pausa, parecendo pensativo sobre qual palavra usar. — Limpa.

Ela com certeza conseguia pensar em um lugar ou outro para que ele limpasse.

— Acho que tem um lugar que não consigo alcançar — murmura, virando as costas pra ele.

Um suspiro escapa da boca de Rafe ao vê-la se virar pra ele, seus cabelos molhados grudando em suas costas e chamando atenção para sua bunda redonda e perfeita. Seu pau fica duro na hora, novamente fantasiando com ela de quatro. Rafe ergue sua mão até os cabelos da garota, os afastando de seu pescoço enquanto se encaixava atrás dela. Para ele era delicioso ver seu colo ganhando uma cor avermelhada, mais ainda ouvir o gemido de surpresa que escapa por sua boca quando ele toca seu seio esquerdo.

A respiração de Claire automaticamente fica pesada.

Rafe se inclina pra frente, roçando seus lábios contra o pescoço molhado da garota, arrancando suspiros que quase faziam com que ele perdesse a razão. Claire fecha os olhos com força, sentindo os lábios de Rafe contra sua pele e o calor se acumulando entre suas pernas. Era delicioso. Ela empurra seu quadril pra traz, sentindo o membro de Rafe contra a parte inferior de suas costas e ouvindo seu gemido rouco contra seu ouvido.

Claire observa enquanto a mão de Rafe se afasta de seu seio, descendo por sua cintura e barriga até o meio de suas pernas. Ela geme quando os dedos do garoto entram em contato com sua intimidade, sentindo suas pernas bambearem com seu simples toque. Só ele a deixava assim e só ele conseguia fazer com que isso passasse.

Rafe usa sua mão livre pra envolve-la pela cintura, a segurando firme no lugar enquanto seus dedos circulam sua entrada. Claire geme de novo e nesse exato momento eles ouvem um estrondo vindo da porta do quarto.

— Claire! — Wheezie grita, a voz distante. — Me empresta aquele vestido azul?

Claire fica tão alarmada que nem ouve a extensa lista de xingamentos que sai da boca de Rafe. Ela automaticamente de recompõe, se afastando do garoto.

— Louise?! — indaga, olhando para Rafe com sua expressão mais preocupada.

Ele não parece se importar com a situação.

— A Sarah é mais alta então os dela não me servem. — Wheezie continua, a voz se tornando perigosamente mais próxima. — Eu realmente preciso comprar roupas novas!

É nesse momento que a maçaneta se mexe e a porta é aberta. Rafe puxa a toalha para se tampar enquanto Claire pula pra fora do chuveiro.

— Não, não, não — ela grita, tentando alcançar a porta.

Para seu alivio Wheezie para, deixando a porta entreaberta.

— O que foi? — a mais nova pergunta, tentando espiar por entre a fresta. Seus olhos só conseguiam enxergar os azulejos claros do banheiro. — Isso agora é um problema?

— É que... Eu... — Claire gagueja, tentando buscar alguma ajuda com Rafe. Ele estava mais preocupado em segurar a risada.

— Está conseguindo me ouvir?

— Estou, eu só... Eu estou menstruada.

São longos os segundos até que Claire obtenha uma resposta.

— E?

— E o banheiro está todo sujo. Eu tive um problema e... Eu não quero que você veja.

Isso faz com que Rafe tenha que cobrir sua boca com as mãos.

— Tá, tá bom. Posso pegar seu vestido...?

— Pode — Claire a interrompe, soando um tanto esbaforida. — Está no closet.

Wheezie franze o cenho, encarando o outro lado da porta.

— Você nem esperou eu dizer qual eu queria.

— Não importa Louise... É só pegar, entendeu?

— Entendi. Então tá bom.

Rafe e Claire se encaram enquanto ouvem os passos de Wheezie pelo quarto. Eles só voltam a respirar normalmente quando a porta é fechada em um baque, arrancando de Rafe as risadas que ele vinha segurando. Claire resmunga e tranca a porta do banheiro, voltando para dentro do box só para bater no ombro do garoto. Ele faz careta, o tapa doeu mais que o normal graças a água.

— Está fazendo barulho — Claire o censura, franzindo o cenho.

Rafe joga um pouco de água na cara dela, que fica ainda mais fechada.

— Ela deve ter imaginado que isso aqui está igual uma cena de crime — diz, com um sorriso divertido nos lábios.

— Qual outra desculpa eu iria dar?

Ele revira os olhos, puxando a garota pela cintura e juntando seus corpos embaixo do jato do chuveiro. O humor de Claire automaticamente fica melhor.

— Vocês entram no banheiro uma da outra assim? — Rafe pergunta, usando sua mão para afastar o cabelo de Claire de seu rosto.

Ela o segura pelo quadril, sentindo seu membro contra sua barriga. Ele ficou animado bem rápido.

— É uma coisa de garota — murmura em resposta.

Rafe se inclina pra baixo, só para encostar a ponta de seu nariz no dela. Ele amava como seus olhos ficavam grandes quando ele a olhava desse ângulo.

— Você pode me tratar como garota então — ele brinca, levando outro tapa no braço.

Claire se ajoelha na frente dele, desviando do jato quente do chuveiro e segurando seu membro com as duas mãos.

— Eu não faço isso com uma garota.

O sorriso de Rafe fica gradativamente maior quando ele percebe o que viria a seguir. Ela o leva a boca, só a pontinha, apenas para sentir seu gosto em sua língua.

— Porra — Rafe xinga, jogando a cabeça pra trás e segurando Claire pelos cabelos.

Esse era o incentivo que ela precisava para engoli-lo até a base. Quando ele entra mais em sua boca, um gemido uníssono escapa dos lábios dos dois.


Nicholas caminhava com passos firmes ao redor da piscina, ajeitando os óculos escuros no rosto tentando não pensar em seus convidados passando o resto da tarde sem bebidas graças ao atraso de seus amigos. É realmente um alívio quando eles chegam, quinze minutos atrasados, mas com todos os barris de cerveja na camionete. Rafe, Claire e Wheezie surgiram pelo portão com caixas de bebidas quentes equilibradas em suas mãos, enquanto Sarah vinha logo atrás com um sorriso no rosto. Ela estava feliz por eles terem chegado, pensando que talvez assim o humor de Nicholas ficasse um pouco melhor.

Kelce é o primeiro a correr em direção a camionete, junto com mais alguns garotos, prontos para descarregarem os barris.

— Vocês se atrasaram — declarou, com a impaciência evidente em seu tom.

Claire franziu o cenho, ajustando a alça da bolsa no ombro.

— Por que está assim tão nervoso? — questionou, colocando a caixa que carregava na mesa.

Sarah se aproximou com um leve sorriso, tentando aliviar a tensão.

— Ele tem o jogo no fim de semana — explica.

Claire arqueou uma sobrancelha, analisando o rosto de Nicholas como se tentasse decifrar algo. Ela se aproxima e passa a mão pela cintura do garoto, apontando para a imagem na frente dele. Seus amigos animados, música, piscina e um sol de rachar. O que mais ele poderia querer?

— Olha, Nick, você escolheu comemorar hoje pra relaxar e tirar isso da sua cabeça. Vamos aproveitar o sol, toda essa cerveja e os baseados que eu sei que estão no seu bolso — disse, apontando para ele de maneira quase acusatória.

Ele revira os olhos, abrindo um sorriso mínimo. Era difícil não pensar no jogo quando toda sua vida parecia defender dele. Wheezie, com os olhos brilhando de curiosidade, ergue a mão.

— Eu posso também?

Imediatamente, Sarah, Claire e Rafe responderam em uníssono:

— Não.

Wheezie bufou, cruzando os braços e encarando os três com uma expressão de desaprovação. Isso faz com que o sorriso de Nicholas se alargue.

— Vocês são chatos.

Topper surgiu logo atrás, com o típico sorriso despreocupado. Ele acena para que o sigam.

— Vamos arrumar algo pra beber.

Claire, Rafe e Wheezie o seguem em direção à cozinha, enquanto Nick e Sarah ajudavam o resto dos garotos a arrumar um lugar pros barris. Todos pegam uma garrafa de cerveja na geladeira, e para Wheezie, suco de uva.

— E sua mãe? — perguntou Topper, inclinando-se levemente na direção de Claire. — O Nick me disse que ela voltou.

Claire revirou os olhos, claramente incomodada com o assunto.

— Sério, Top, a última coisa que eu quero é falar sobre isso. Mal consigo dormir no mesmo teto que ela.

— Está tão ruim assim? — insistiu ele, sem perceber o desconforto crescente na voz dela.

Ela suspirou, os dedos tamborilando no copo.

— Ela tem estado bastante calada. Isso me preocupa.

A conversa entre os dois foi interrompida quando todos notaram Valerie se aproximando. Claire não a conhecia, tudo o que via era uma garota imponente. Alta, com cabelos ruivos e lisos que balançavam levemente na brisa. Seu sorriso parecia estrategicamente calculado ao cumprimentar os presentes.

Praticamente perfeita.

— Oi, Top. Rafe... Wheezie! Faz tempo que não te vejo — disse, com a voz melódica e um olhar que rapidamente avaliava todos ao redor.

Rafe acenou com a cabeça, mantendo-se distante, enquanto Topper respondeu com seu típico sorriso.

— Valerie, essa é Claire, filha da Rose — apresentou ele, gesticulando casualmente na direção de Claire.

Valerie se virou, avaliando Claire com um olhar que não revelava muito.

— Ah, oi, Claire. É um prazer.

— Oi — respondeu Claire, antes de desviar o olhar.

Mas Valerie não perdeu tempo. Voltou-se para Rafe com uma sobrancelha arqueada.

— Não trouxe a Sofia?

Rafe engasgou levemente, enquanto Claire revira os olhos ao lado dele. Valerie e Sofia costumavam se dar bem, o que não era comum entre Kooks e Pogues.

— Não, não. Nós... Não rola mais nada entre a gente — respondeu ele, tentando soar casual.

Valerie deu de ombros com um sorriso que sugeria mais do que dizia.

— É mesmo? Não posso dizer que fiquei triste com isso.

O silêncio pairou por alguns instantes. Rafe e Topper tentavam ler a expressão no rosto de Claire enquanto a mesma se recusava a encarar alguma coisa além do vazio em sua frente. Ela respira profundamente, visivelmente irritada, e pega Wheezie pela mão.

— Vamos.

Wheezie não tem muita escolha além de acompanha-la, mesmo contra sua vontade. Topper sorri antes de se apressar em ir atrás delas, deixando Rafe e Valerie sozinhos.

— Você disfarça muito mal — comentou ele quando alcançou Claire, a voz cheia de humor.

— Não entendi — ela retrucou, mantendo a postura altiva.

— Claire, eu te conheço desde criança. Sei exatamente o que essa sua cara significa.

Wheezie, que ouvia tudo atentamente, interrompeu com um tom de impaciência.

— Acho que vocês esqueceram que eu estou aqui.

— Não, não esquecemos — respondeu Claire, tentando encerrar o assunto.

Mas Wheezie não desistiu.

— Vocês acham que enganam alguém com toda essa conversa em código, mas isso não cola comigo. Já sei que você gosta do Rafe e ele gosta de você desde que tinha doze. Deviam parar com essa gracinha, estão agindo como crianças. E aliás, eu sei que ele estava no seu banheiro. Ele deixou as calças do lado de fora.

Ela deu de ombros e saiu, deixando Claire e Topper parados no lugar. A garota franze o cenho.

— Ela...? — começou Claire, ainda processando o que acabara de ouvir.

— Ela pegou você — completou Topper, rindo, antes de se afastar para deixá-la a sós com Rafe, que se aproximava naquele instante.

— Vou deixar vocês conversarem — murmurou Topper, piscando para Rafe antes de desaparecer entre os convidados.

Claire cruzou os braços, encarando Rafe com uma expressão que misturava irritação e desconforto. Ele gostava da pequena rusga na testa dela e da inclinação de seu lábio inferior, sugerindo toda sua chateação.

— Dormiu com aquela também? — disparou, sem rodeios.

Rafe ergueu as sobrancelhas, claramente surpreso com a acusação. Ele tentava não sorrir.

— Não.

A garota revira os olhos, dando um bom gole em sua cerveja. Pra ela os dois podiam ir pro inferno!

— O que foi? — perguntou ele, ao perceber que ela continuava emburrada.

— Nada — respondeu Claire, desviando o olhar.

Rafe sorriu, inclinando-se na direção dela.

— Tá com ciuminho?

— Não sei, Rafe. Eu deveria?

— Depende do que ela está me oferecendo — brincou ele, automaticamente recebendo um tapa no braço em resposta.

Dessa vez ele gargalha, aumentando a irritação de Claire. Ele sabia exatamente como tira-la do sério!

— Ei, foi só brincadeira — defendeu-se, erguendo as mãos em rendição. — A única coisa que eu quero está bem aqui na minha frente e está uma delícia com esse vestido rosa.

— Sei... — respondeu Claire, mas um sorriso breve ameaçou escapar de seus lábios.

— Se quiser, podemos ir ao banheiro e eu posso te provar — sugeriu ele, com um sorriso de lado.

— Por mais tentador que seja, eu preciso ficar de olho na Wheezie. Ela já sacou tudo.

Isso não é uma surpresa pra ele.

— É claro que já. Ela não perde tempo.

— E não olha pra minha bunda, Cameron — ordenou Claire, apontando para ele enquanto caminhava em direção à piscina.

— Você sabe que isso é impossível.

A festa corria bem. O sol definitivamente não dava folga o que fez com que todos rapidamente ficassem avermelhados por conta do calor. Claire conversava animadamente com Topper, Kelce, Nicholas e Sarah, já um pouco mais alta do que o normal. Eles estavam abrigados embaixo do guarda sol enquanto Rafe estava dentro da piscina, olhando para Claire de maneira pouco disfarçada. A garota sorri pra ele no exato momento em que seu celular toca, o nome de Eric aparecendo na tela.

— Hm, eu já volto — ela diz, cortando a fala de Sarah e se levantando.

Sarah franze o cenho, curiosa do porquê Claire se afastou para atender o telefone. Ela não costumava agir dessa maneira. Claire segue até a sala de estar, fechando a porta atrás de si e abafando a musica e as risadas vindas do lado de fora.

Ela atende a chamada.

Salut. Conseguiu o que eu queria? — perguntou, sua voz baixa e direta.

A resposta veio do outro lado da linha.

— O Javert só pode daqui a duas semanas.

Houve uma longa pausa. Claire apertou o punho livre, frustrada.

— Mas que merda! — exclamou, ainda mantendo o tom controlado.

— Por que a urgência? — perguntou Eric, curioso, mas sem perder o tom casual.

Claire suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Eu só quero resolver isso logo.

— Não pode conversar com ele sozinha?

— Eu posso, mas o Rafe me mataria por isso. Acho que ele até esqueceu dessa história — respondeu ela, mordendo o lábio, como se ponderasse as possibilidades.

Eric soltou um breve riso do outro lado.

— E o dinheiro que está aí?

— Nós investimos na empresa. Está indo bem, mas vai ficar preso por alguns meses. O Javert é minha melhor opção. Você sabe que o papai não trabalha com transferências.

— Dinheiro em mãos, é claro — murmurou Eric, quase como se estivesse repetindo um mantra familiar.

Claire assentiu, mesmo que ele não pudesse vê-la.

— Eu só preciso que o Javert traga o dinheiro, entregue ao Barry e o ameace o suficiente para ele nunca mais pensar em vir até o meu lado da ilha.

Do outro lado da linha, Eric suspirou.

— Eu vou ver o que posso fazer.

Merci, Eric.

— Se cuida, Claire.

— Você também.

Ela desligou, respirando fundo, tentando dissipar a tensão que a conversa havia deixado. Parece que os problemas nunca desapareciam e isso a tirava de seu equilíbrio, Claire sempre estava propensa a fazer besteira quando as paredes em volta de si pareciam se fechar. Quando se virou para sair deu de cara com Sarah, que a observava com uma expressão inquisitiva no rosto.

— Ei, o que está fazendo? — perguntou Sarah, o tom casual, mas os olhos atentos.

— Era o Eric. Estamos resolvendo uma coisa — respondeu Claire, tentando soar despreocupada.

Sarah arqueou uma sobrancelha.

— Que coisa?

— Não é nada demais — rebateu Claire, com um leve aceno de mão, como se quisesse encerrar a conversa ali.

— O Rafe sabe disso?

Claire bufou, virando-se para a garota com impaciência.

— É sério?

— Olha, vocês acabaram de se acertar e tudo parece bem agora. Só tenta se lembrar disso — disse Sarah, com um tom que mesclava preocupação e cautela.

Claire estreitou os olhos, claramente incomodada.

— O que está insinuando?
— Nada. Só não quero que vocês voltem à estaca zero.

— Como se eu devesse ouvir conselhos de relacionamento de você — disparou Claire, dando de ombros.

— Pelo menos eu tenho um relacionamento.

— Até trair ele também.

O choque estampou o rosto de Sarah.

— Não acredito que disse isso.

— Não acredito que está insinuando que eu e meu ex-namorado temos algo a esconder do Rafe — respondeu Claire, a voz cortante.

Sarah piscou algumas vezes, mas preferiu não rebater.

— Tá, tanto faz. Eu não vou falar mais nada.

— Obrigada — respondeu Claire, seca, antes de sair, deixando Sarah sozinha na sala.

A música abafada ainda ecoava pela festa enquanto Claire seguia pelo corredor, até que uma mão firme a puxou para dentro do banheiro. Antes que pudesse protestar a porta se fechou atrás dela e Rafe a segurou pela cintura, encostando-a contra a parede.

— Eu não aguento mais um minuto longe de você — murmurou ele, a voz rouca e carregada de intensidade.

Claire ergueu uma sobrancelha, mas não conseguiu esconder o sorriso que surgia em seus lábios.

— Cuidado, Cameron. Posso começar a achar que você é do tipo grudento.

Rafe inclinou o rosto, os olhos fixos nos dela.

— Pode ter certeza disso.

Sem mais palavras, ele a beijou, a urgência em seus movimentos contrastando com o toque suave de suas mãos. Ela tinha gosto de melancia e era perfeito, ele não queria se afastar mas também não via a hora de ficar sozinho com ela.

— Vamos embora — ele pede, seus lábios ainda contra os dela.

Claire suspira.

— Eu não quero ir pra casa agora.

Ele balançou a cabeça.

— Não, pra casa não. Vamos pro barco. Passamos a noite lá, bem longe de casa e principalmente da sua mãe.

Claire hesitou por um segundo, mas sabia que a ideia era tentadora demais para recusar.

— Ela vai saber de qualquer maneira.

— Mas não vai poder nos impedir — rebateu ele, com um brilho de desafio nos olhos.

— Certo — respondeu ela, respirando fundo. — Só preciso me despedir de um bando de gente.

Rafe soltou um suspiro exagerado.

— Graças a Deus ninguém espera educação de mim.

— Pois vão começar a esperar agora — alertou Claire, apontando para ele de maneira autoritária. — Trate de se despedir e por favor, não esqueça de desejar feliz aniversário pro Nick.

— É sério isso? — perguntou ele, como se acabasse de ouvir algo absurdamente cansativo.

— É muito sério.

Ele revirou os olhos mesmo sabendo que faria tudo de bom grado. Rafe gostava de vê-la feliz e se pra isso ele tivesse que fazer uma coisinha ou outra não seria um problema. Ela o recompensaria depois.

— Tá bom, mas vou cobrar isso depois.

Claire deu um leve empurrão em seu peito, sorrindo.

— Você não vai cobrar coisa nenhuma.

— Ah, vou sim. Vou marcar toda a sua bun...

— Fala baixo! — interrompeu ela, segurando um riso enquanto o empurrava para fora do banheiro.

Claire caminhou de volta para a área externa, despedindo-se dos conhecidos com sorrisos rápidos e abraços ocasionais. Por último, parou na beira da piscina, onde Nicholas conversava com um grupo de amigos. Ele parecia bem mais relaxado agora que toda a cerveja e a maconha fizeram efeito em seu humor.

— Ei, Nick — chamou ela, interrompendo a conversa. — Eu já vou.

Nicholas se virou, franzindo o cenho.

— Já?

— É. Você conhece o Rafe, a bateria social dele está no limite e não quero que ele arrume confusão com um dos seus convidados — respondeu Claire, com um tom divertido.

Nicholas a encarou, claramente cético.

— É por isso mesmo?

Ela suspirou e confessou com um meio sorriso:

— Vamos dormir no barco, longe dos olhos de águia da minha mãe.

O comentário arrancou um breve riso de Nicholas.

— Isso foi mais convincente.

— Vai lá em casa amanhã? — perguntou Claire, casualmente.

— Não, eu tenho treino. Mas vai no jogo no fim de semana, né?

— Eu não perderia por nada — garantiu ela, antes de sorrir calorosamente. — Feliz aniversário, Nick.

— Obrigado — respondeu ele, retribuindo o sorriso.

Claire se afastou, cruzando o jardim iluminado pelas luzes da festa. Ao longe, viu Rafe a esperando, encostado em sua moto, os braços cruzados e um olhar impaciente. Ela balançou a cabeça, avessa a ideia de subir novamente naquela moto mas mesmo assim se apressou para encontrá-lo. Eles tinham a noite inteira pela frente e Claire não queria perder nem um minuto.

A brisa noturna trazia um aroma salgado do mar, enquanto o balanço leve do barco os mantinha em um movimento quase imperceptível. Claire e Rafe estavam sentados na parte externa do convés, iluminados apenas pela luz da lua e pelos reflexos das pequenas ondas que quebravam contra o casco. Eles tomavam vinho e o braço de Rafe permanecia firmemente ao redor do ombro dela, como se ele temesse que ela pudesse escapar. Ao fundo, uma melodia francesa tocava suavemente, enchendo o ar com a música que Claire tanto gostava. Ela sussurrava baixinho as palavras tão conhecidas.

— Sabe, eu estive pensando... — começou Rafe, quebrando o silêncio.

Claire virou a cabeça levemente para ele, arqueando uma sobrancelha com um sorriso brincalhão.

— Não sabia que costumava fazer isso.

Rafe apertou os lábios, fingindo indignação.

— Muito engraçada. Posso continuar?

— Claro — respondeu ela, recostando-se mais nele, o sorriso ainda brincando em seus lábios.

Rafe se virou na direção dela, seus olhos azuis brilhando com uma intensidade que a fez prender a respiração. Ele parecia mais sério agora, como se estivesse prestes a revelar algo que havia ensaiado em sua mente inúmeras vezes.

— Eu quero isso. Eu e você, juntos — declarou ele, com uma convicção que parecia invadir cada palavra. — Tem menos de três meses que você voltou e eu não consigo imaginar minha vida sem você. E nós vamos construir esse hotel, conseguir mais projetos, investidores... Vamos criar algo sólido. Assim que o dinheiro começar a entrar, podemos nos mudar pra Nova York e...

— Nova York? — interrompeu Claire, inclinando a cabeça em curiosidade.

— Não? — perguntou ele, surpreso.

— O que faríamos em Nova York? — ela questionou, observando-o com os olhos semicerrados.

— Achei que quisesse tocar — explicou ele, como se fosse óbvio.

As palavras deixam Claire um tanto tonta.

— Você se mudaria pra lá? Por mim?

Rafe não hesitou, sua expressão se tornando ainda mais sincera.

— Eu iria a qualquer lugar por você.

— Você é inacreditável — disse ela, sorrindo.

— Eu sou louco por você — respondeu simplesmente, como se isso explicasse tudo.

Claire suspirou, desviando o olhar por um momento antes de voltar-se para ele.

— Mas temos que resolver a situação com a minha mãe primeiro.

— Eu posso falar com ela — sugeriu Rafe.

— Acho que não ia ajudar muito — rebateu Claire. — Eu vou tentar resolver isso da melhor maneira, só estou dando um pouco de tempo pra ela processar as coisas. Ainda tem toda a história do Ward e...

— Ela contratou um detetive — disse Rafe, interrompendo-a com um tom casual.

Claire piscou, surpresa.

— Como sabe disso?

Rafe respirou fundo, parecendo escolher bem as palavras antes de responder.

— Eu meio que contratei um também.

Ela franziu o cenho.

— Que merda.

— Olha, eu paguei o pessoal do hospital que me ajudou com ele. Eles não vão abrir o bico. Tudo que temos que fazer é fingir que não sabemos de nada. Eles não têm nada, Claire. Ninguém viu nada. Meu pai... Meu pai era um homem morto.

Ela ficou em silêncio por alguns instantes, processando o que ele havia dito. Finalmente, suspirou e assentiu.

— Tá... Tá bem.

Rafe inclinou a cabeça, tentando decifrar o olhar dela.

— O que foi?

Claire balançou a cabeça levemente, uma expressão de incredulidade e ternura tomando conta de seu rosto.

— Não acredito que está comigo depois de tudo.

— É porque eu entendi. Eu percebi como me tornei uma pessoa muito melhor desde que ele saiu dessa casa. E também percebi que eu faria qualquer coisa para que você fosse feliz, por mais horrível que seja.

Claire soltou um riso baixo e sem humor.

— Nós devemos ser malucos.

Rafe sorriu, com um ar desafiador.

— Eu não me importo com isso. Só quero ficar com você.

Ela o encarou por alguns instantes, absorvendo cada palavra antes de se inclinar para mais perto dele.

— Eu nunca mais vou deixar você se afastar de mim, Cameron. Isso é uma promessa.

O sorriso dele cresceu, uma mistura de alívio e felicidade.

— Eu gostei dessa promessa.

Claire o beijou, lenta e profundamente, enquanto os dois pareciam esquecer o mundo ao redor.

— Eu te amo — murmurou ela, contra os lábios dele.

— Eu te amo pra caralho — respondeu ele, antes de puxá-la para mais um beijo.



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Feliz ano novo pra todos vocês e obrigada por me acompanharem esse ano. Nos vemos em 2025.
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