18, igual mas diferente

Véspera de Natal, ano passado

NICHOLAS ODIAVA FALAR SOBRE seus sentimentos e Claire odiava sua falta de detalhes, tornando a comunicação entre eles um tanto quanto cansativa. Após muitas insistências de um lado e concessões de outro, Claire finalmente consegue entender o que havia acontecido, pelo menos em partes. Não parecia fazer muito sentido quando se via do lado de fora...

Espera... O quê? — ela indaga, completamente incrédula, desistindo de pendurar o pequeno boneco de neve na árvore de Natal.

Desde quando o garoto havia chegado de viagem, na tarde do dia anterior, eles estavam focados em enfeitar a enorme árvore de Natal que ocupava o centro da sala de estar do apartamento dos Bertrand. Uma cobertura de dois andares, é claro, no bairro mais nobre de Paris... Nicholas nunca conseguiria se acostumar ao luxo daquele lugar, que fazia com que ele se sentisse um pobretão vindo de um fim de mundo.

— É sério? — ele questiona, descendo da escada.

Eles precisavam de escada para encaixar os enfeites nos lugares mais altos...

— Eu que te pergunto. A Sarah e o Topper? É alguma piada?

Nick balança a cabeça em negação.

— Eu não brincaria com isso.

— Isso explica porque você finalmente tomou vergonha na cara pra vir me visitar — a garota ironiza, tentando arrancar um sorriso de seu melhor amigo.

Não funciona, é claro.

— Não começa.

Claire dá de ombros, se sentando no tapete felpudo de sua sala. Ela enrola a manga de seu moletom com os dedos, num gesto inquieto. Como arrancar mais informações do garoto sem deixa-lo a beira da loucura?

— Eu só não sei o que dizer, não faz sentido pra mim — admite, sendo bastante sincera.

Nunca, em toda sua vida, a garota poderia imaginar Sarah e Topper como um casal.

— Nem pra mim. Mas o que eu devia fazer?

— Devia ter falado com ela.

— O quê? — o garoto questiona, se sentando ao lado de Claire. — Que ela não devia ter feito isso? Que foi a pior escolha da vida dela? Que não foi justo comigo? Sempre fomos amigos e apenas isso, aquilo... Foi só o momento. E convenhamos que o Topper é uma pessoa bem melhor que eu.

— O ponto não é esse! — Claire insiste, aumentando o tom de voz. — Você gosta dela desde... Sei lá, os doze?

Nicholas faz careta, se recusando a pensar nisso.

— E ela gosta do Top!

— Eu não acho que goste! — a garota exclama, cruzando os braços.

Apesar de tudo, não fazia muito o estilo da Sarah beijar seu melhor amigo apenas por diversão. Ela tinha uma certa dificuldade em se comprometer e parecia sempre estar confusa a respeito do que realmente queria mas não o suficiente para tirar uma com a cara de Nicholas. Claire não conseguia acreditar nisso...

— Então pode ligar e avisar porque eu não vou ser o portador das más notícias — Nicholas rebate, erguendo as mãos como se anunciasse sua rendição.

Claire pega mais um dos pequenos enfeites de Natal, o apertando com os dedos enquanto tentava pensar em algo que fosse realmente ajudar. Sarah e Topper namorando... Como um casal!

— Mas tem certeza disso? — ela questiona, fazendo careta. Nicholas só podia ter entendido errado...

— Ele usou a palavra namorada, com todas as letras — o garoto confirma, cruzando as pernas. — Até levou ela pra escola todos os dias na semana passada... Tive que convencer o Paul a me buscar e você sabe como ele é. Ficou enchendo minha cabeça de perguntas.

— E você respondeu alguma delas?

— Claro que não! Só você sabe dessa história então vê se não abre a boca.

Isso faz com que Claire sorria.

— E pra quem eu contaria? Pro papai e pro Marcus?

— Pra aquela sua amiga baixinha da bunda grande... Como ela chama mesmo?

A garota revira os olhos, já sabendo aonde Nick queria chegar. No meio das pernas de Maya, definitivamente.

— Maya.

— Isso, me passa o telefone dela — ele pede, tirando seu celular do bolso.

— É sério?

— Mal não vai fazer.

— Estamos conversando sobre seus sentimentos! — Claire exclama, exalando incredulidade.

— Eu não vou fazer nada Claire. Ela escolheu o Topper e ele gosta dela, está apaixonado e já deixou isso claro várias vezes. Eu quero que ele seja feliz... Ele merece ser feliz e se a Sarah o faz feliz então... Não tem nada a ser feito.

Isso deixa Claire carrancuda.

— Você não pode fingir indiferença — murmura, não apoiando nem um pouco a escolha dele.

E Nicholas não podia ligar menos para a opinião de Claire.

— É exatamente o que eu vou fazer — rebate, dando um sorriso. — Agora qual o telefone da Maya?

— Vou te mandar aí.

Antes que os dois possam voltar a decoração, Jacques desce as escadas, entrando na sala. Ele vestia um roupão marrom e felpudo e tinha seu rosto coberto por máscara facial, um passo importante antes de fazer sua barba. A festa de Natal era hoje a noite e Claire sabia que seu pai estava um tanto preocupado por ela ter assumido a responsabilidade de decorar a árvore.

Claire e Nicholas se entreolham quando o veem, se comunicando telepaticamente. É, era mesmo bem engraçado vê-lo assim.

Hé, vous deux! É Natal, não carnaval — ele diz, franzindo o nariz.

Claire revira os olhos.

— Nós lutamos por igualdade então não vou sucumbir as suas ordens, majesté.

É a vez de Jacques revirar os olhos.

— Vão se trocar, quero os dois prontos antes do primeiro convidado chegar. Entenderam?

Oui papa.

Oui.

Eles observam Jacques se afastar, subindo as escadas em direção ao segundo andar. Nicholas e Claire se encaram em silêncio e quando ouvem a porta fechando caem na risada. Eles não tocam no nome de Sarah Cameron novamente.

Atualmente

Sarah observava o olhar de Nicholas, que apesar de fixo na janela parecia estar em um lugar bem mais distante que o lado de fora. A luz do sol invadia o quarto da garota e iluminava a cama onde os dois estavam deitados, cobertos por um fino lençol de algodão.

— Ei. No que está pensando? — a garota pergunta, se virando para ele.

Nicholas piscou, saindo de seu devaneio, e respondeu com um suspiro quase resignado.

— No Natal.

Ele então se levantou, colocando sua cueca em seguida. Sarah o observa enquanto ele anda pelo quarto, vestindo sua calça, camiseta, calçando os sapatos e se preparando para sair. Ela não pronuncia uma única palavra.

— Vou pra casa antes que minha mãe perceba que não passei a noite lá e me encha de perguntas — Nicholas diz, sentindo-se um tando evasivo após suas lembranças do Natal passado.

Sarah franziu o cenho, cruzando seus braços por cima do lençol que cobria seu corpo.

— E o Topper? — perguntou.

O garoto suspirou, claramente desconfortável. Sarah não podia evitar se questionar sobre isso. Até onde Topper sabia sobre eles? Eles haviam se acertado, é claro, mas ainda tinha bem mais a ser dito. Ela não queria se esconder.

— O que tem ele?

Sarah arqueou uma sobrancelha, como se o desafiasse.

— Ainda não conversaram, né?

Ele desviou o olhar, as mãos nos bolsos.

— Eu não sou a pessoa favorita dele no momento.

A expressão de Sarah se amacia, ela sabia o quanto esse assunto podia ser delicado para Nicholas. Ela se ergue na cama, segurando o lençol contra seu peito, e com uma ternura que ele não esperava, respondeu de forma simples:

— Mas é a minha.

Isso faz com que um bolo se crie na garganta do garoto. Ele ainda não havia se acostumado aos gestos de carinho um tanto espontâneos de Sarah, todo esse afeto sempre acabava o deixando sem palavras.

— Sarah...

Ela o olhou, determinada.

— Por que não pode só... Acreditar em mim?

É meio difícil quando se foi trocado por seu irmão e depois por um bando de Pogues... Nicholas tenta tirar isso da cabeça, se sentando na cama em frente a Sarah.

— Eu realmente quero acreditar — murmura em resposta, a olhando nos olhos.

Só Deus sabe o quanto ele tentava, com todas suas forças, confiar na garota sentada em frente a ele.
Sarah segurou a mão dele e respirou fundo, buscando as palavras certas.

— Você, Nick Thornton, é a pessoa mais bonita que eu conheço. É meu melhor amigo, meu primeiro amor e minha pessoa favorita no mundo. Muitas coisas na minha vida mudaram, mas isso... Isso nunca mudou.

Nicholas a observou, surpreso e profundamente tocado mas incapaz de se entregar da maneira que deveria. Ele então, como se tivesse tomado uma decisão, murmurou:

— Nós devíamos sair.

Ela piscou, surpresa.

— O quê?

— Eu nunca te levei pra sair.

— Tipo um encontro?

Nicholas assentiu, se colocando de pé.

— É. Isso aí.

— Você já teve um encontro? — ela questiona, curiosa.

— Bem... Na verdade não.

Sarah o olhou com um ar de desconfiança.

— Mas e todas aquelas garotas...?

— Quer mesmo que eu explique?

Sarah nega com a cabeça, sentindo o gosto amargo do ciúme queimar o fundo de sua garganta. Definitivamente, haviam coisas que ela não gostaria de saber sobre Nicholas.

— Melhor não — admite, com um sorriso mínimo. — O que vamos fazer?

— Pensei em talvez dar uma volta de barco. Pra bem longe — ele sugere, com um sorriso malicioso.

Os olhos de Sarah brilham com a ideia.

— Parece ótimo.

— Eu vou pra casa pegar as coisas e passar no mercado enquanto você... Faz o que garotas fazem.

Sarah riu, balançando a cabeça.

— Vou me arrumar.

— É. Isso.

Ela o segurou pela mão, e ele parou, surpreso com o toque suave e firme.

— O que foi? — perguntou, intrigado.

Sarah o olhou, os olhos cheios de sinceridade.

— Eu amo você — ela disse, sentindo o gosto doce dessas palavras que deviam ter sido ditas a tanto tempo. Palavras que eram verdade a muito tempo.

Nicholas mal consegue olhar nos olhos da garota, paralisado pela declaração inesperada e amargurado por tudo que haviam passado. Ele a amava demais, é claro. Mas nenhuma única palavra consegue ser dita por ele nesse momento.

— Eu te busco em uma hora.

O garoto troca suas roupas por uma bermuda e uma camisa branca. Calça seus chinelos, coloca o óculos de sol na cabeça e assalta a geladeira e a dispensa, pegando biscoitos, suco e um bando de cervejas. Assim que ele sai da cozinha é recebido pelo olhar rígido de sua mãe, que mantinha seus braços cruzados enquanto o estudava. Ele coloca a mão no peito, se assustando pela presença súbita da mulher e odiando saber que provavelmente teria que se explicar pela noite fora de casa.

— Onde você estava? — ela perguntou, a voz carregada de reprovação.

Nicholas sorriu, tentando quebrar a tensão e ganhar um pouco de tempo.

— Oi, mãe. Está bonita.

Ela revirou os olhos, impassível.

— Já falei que não quero você dormindo na casa dessas garotas por aí. O que os pais delas vão pensar da nossa família? Provavelmente que você é um animal.

Ele soltou uma risada, levantando as mãos em um gesto despreocupado. O garoto passa por ela, não querendo ficar encurralado.

— Ou que as filhas deles têm um ótimo gosto porque eu sou bonitão.

Sua mãe não gosta da piada, estreitando os olhos para ele.

— Nicholas...

Ele respondeu no mesmo tom.

— Cristina.

Ela respirou fundo, a paciência se esgotando enquanto se questionava sobre o por que das coisas nunca serem simples com Nicholas.

— Não me faça ligar para o seu pai.

— Essa é a última coisa que nós dois queremos, pode acreditar — ele resmunga, se aproximando de sua mãe com o sorriso mais dócil possível. — O Paul acabou passando da conta nas cervejas ontem, então achei melhor dormir lá do que deixar ele pegar o barco.

Cristina o observou por um momento, avaliando a veracidade da desculpa.

— Hm... Sei.

— Relaxa, mãe — ele diz, estalando um beijo no rosto dela. Isso é o suficiente para amolecer seu coração, mas ela ainda não havia acabado.

— Ligaram da delegacia, parece que aquele tal John B voltou.

Nicholas congelou por um segundo mas tentou manter o tom despreocupado. Ele odiava John B, essa era a verdade, e não havia nenhum motivo além do fato dele ter levado a Sarah com ele. Ela passou por tudo aquilo, ela fez tudo aquilo... Ela realmente devia ama-lo. Isso o fazia se perguntar se os sentimentos dela por ele eram reais.

— Ah — é tudo que ele diz, engolindo em seco.

— O pai dele está morto.

Nicholas deu um meio sorriso, amargo.

— Ele teve essa sorte — murmura, dando de ombros, se referindo ao fato de seu próprio pai ser facilmente uma das piores pessoas que ele conhecia.

Sua mãe o olhou, se sentindo incerta sobre o que dizer, mas continuou:

— Nós temos que registrar a queixa.

Nicholas balançou a cabeça.

— Deixa pra lá, mãe. Ele levou um chifre e depois o pai dele morreu. Acho que a vida dele já está ruim o suficiente — diz o garoto, ajeitando sua mochila em suas costas. — Eu vou sair de barco com os garotos.

— Nicholas... — Cristina o chama, tentando impedir sua fuga mas em questão de segundos ele já estava na porta, lançando um último olhar despreocupado.

— Não me espera pro jantar.

E antes que ela pudesse responder, ele estava do lado de fora.

Não demora muito para Nicholas estar em frente ao prédio de Sarah. Ela aparece no portão, um boné laranja na cabeça que combinava com seu biquini da mesma cor, shorts jeans e uma camiseta branca de tecido meio transparente. Ela também usava chinelos e uma bolsa de palha.

Ele tinha que falar sobre a morte do pai de John B.

— O que acha? — Sarah pergunta, dando uma voltinha.

É claro que se torna impossível para Nicholas evitar um sorriso.

— Está perfeita... Como sempre.

Sarah franze as sobrancelhas, percebendo o quanto o garoto aparentava estar distante. Ela o conhecia muito bem, desde criança, e podia sentir no ar quando ele não estava bem. Pode chamar de conexão ou até mesmo mágica.

— O que foi? — ela pergunta, dando alguns passos em sua direção. — Aconteceu alguma coisa?

Nicholas prontamente nega com a cabeça, decidindo que a garota não precisava saber disso. Pelo menos não agora.

— Não, nada — garante, pegando a mão de Sarah. — Podemos ir?

Ela também o conhecia bem o suficiente para saber que o garoto precisava de algum tempo para se sentir confortável em expor seus sentimentos.

— Claro.

Quando chegam no barco, Nicholas pilota até uma parte mais afastada no oceano. Não era tão fundo naquele ponto e a água era clara o suficiente para ver vários peixes. Não tinha como ficar ali sem um barco, é claro, já que não se tratava de uma praia, então todo o local era deserto.

— É meio longe mas a água aqui é quase transparente — o garoto diz, colocando seu óculos de sol na cabeça enquanto desligava o motor do barco.

— Dá pra ver vários peixes.

Nicholas franze as sobrancelhas. Como ela sabia que dava pra ver os peixes? Aqui não era uma area que os Kooks costumavam frequentar então só restava uma única opção.

— Você já veio aqui? — ele pergunta, fingindo indiferença, por mais que sentisse que o fantasma de John B estava bem ao seu lado.

Sarah engole em seco, se arrependo do que disse sem pensar. Ela não queria que Nicholas se sentisse desconfortável ou inseguro, ela queria que ele tivesse certeza de que ela o amava mas as vezes parecia impossível. E isso é culpa dela, é claro.

— Hm... É — admite, sabendo que não havia pra onde correr. — Mas não foram muitas vezes.

Nicholas assente.

— Claro.

— Eu vou na frente — Sarah diz, começando a tirar suas roupas.


O céu estava completamente azul, sem nenhuma nuvem que pudesse impedir os raios solares de atingir a pele de Nicholas e Sarah além dos bonés que eles próprios usavam. Eles conversavam na borda do barco, com seus pés balançando em cima do oceano, no momento se sentindo despreocupados de qualquer coisa que não envolvesse um ao outro.

Nicholas tira seu boné e balança seus cabelos molhados na direção de Sarah, arrancando uma risada da garota pelas gotas de água gelada entrarem em contato com sua pele quente. É nesse momento o vento bate e leva seu boné para longe, caindo no mar há alguns metros a frente.

Sarah faz careta e imediatamente pula no mar, deixando Nicholas um pouco confuso.

— Espera, aonde você vai? — ele pergunta, observando a garota se afastar em braçadas precisas. Nicholas não sabia que Sarah nadava tão bem.

— Pegar o boné — ela grita em resposta, continuando a se afastar.

— É sério?

— Eu volto rapidinho.

— Sarah! — grita, tentando chamar sua atenção. — Sarah! Que merda... Sarah! — insiste, correndo em direção ao controle do barco.

Ele vira a chave na ignição, sabendo que teria que intervir. A garota estava bem longe agora, quase perto do boné que flutuava para cada vez mais distante e também dos corais repletos de águas-vivas. As queimaduras... Podiam ser fatais dependendo da quantidade.

— Isso é perigoso, aí é cheio de águas-vivas... — grita, virando o barco em direção a ela. — Sarah!

— Prontinho. — Sarah gritou, erguendo o boné laranja em sua mão.

Nicholas para o barco bem ao seu lado, fazendo o sorriso no rosto da garota se desmanchar ao encarar sua expressão carrancuda.

— Mas que merda! O que pensa que está fazendo? — ele praticamente explodiu, a voz carregada de fúria e... Medo.

Ela se encolhe, mesmo enquanto subia as escadas, parecendo um tanto surpresa com a reação dele.

— Eu só fui pegar a bola — se justifica, parando em frente a Nicholas.

— Dane-se essa merda de boné! Isso foi uma puta irresponsabilidade — Nicholas diz, não conseguindo manter a calma. Sarah podia ter se machucado feio... Esse simples pensamento o deixa maluco. — Era só comprar outro!

Ela hesitou, engolindo em seco ao perceber o tom sério dele. Sarah sabia que Nicholas tinha razão. Após viver tantos meses enfiada em aventuras Pogue ela havia se esquecido de que as vezes toda a adrenalina não valia a pena.

— É. É verdade. Claro eu... Foi mal. — Sarah murmurou, sentindo o rosto corar. Ele parecia realmente assustado e isso a deixou envergonhada.
Envergonhada por agir como Pogue.

Um silêncio desconfortável pairou entre eles antes que ela tentasse disfarçar seu desconforto. Nicholas percebe a expressão no rosto de Sarah, tentando acalmar suas mãos trêmulas e seus pensamentos um tanto radicais. Ele sabia que a garota não havia pensado nisso antes de pular na água, sabia que não tinha feito por mal mas... Aquilo foi perigoso, irresponsável e um tanto irritante. A verdade é que Nicholas odiava todas as coisas que Sarah havia aprendido enquanto estava longe dele. E perto do John B...

O fantasma aparece de novo.

Nicholas dá um passo em direção a Sarah, erguendo as mãos para tentar conforta-la mas antes de dizer uma única palavra a garota recua, como se seu toque fosse venenoso.

— Sério, tá tudo bem, eu só... — ela murmura, seguindo em direção a cabine. — Vou no banheiro.

Enquanto Sarah se afasta, Nicholas suspira profundamente, percebendo que tinha exagerado. Ele vai atrás dela, entrando na cabine e a encontrando dentro do banheiro, sentada em cima no vaso sanitário.

A garota ergue os olhos até ele.

— Sarah, me desculpa — ele murmura em um tom suave, parando em frente a ela. — Eu exagerei.

Ela balançou a cabeça, forçando um sorriso fraco.

— Não. Você está certo, isso foi irresponsável e idiota. Não tinha porque fazer nada disso, eu só... Eu me esqueci.

Não precisou de mais nenhuma palavra para que Nicholas entendesse o que ela quis dizer. Ela esqueceu. Esqueceu como ser Kook.

— Está tudo bem.

Sarah suspirou, encarando o chão por um momento.

— Eu não sou Kook, mas eu também não sou Pogue. Isso está ferrando com minha cabeça.

Nicholas se agachou, colocando suas mãos nos joelhos de Sarah. Ele olhou no fundo de seus olhos castanhos que pareciam um tanto tristes, até mesmo confusos. Mesmo após tanto tempo, ele odiava vê-la triste.

— Não liga pra isso. O que aconteceu... Eu só fiquei preocupado, eu esqueci como você não tem medo nenhum de nada — se justifica, dando um sorriso de lado. — É a garota mais corajosa que eu conheço. Eu, por sinal...

Ela soltou uma risada curta, interrompendo-o.

— Os covardes vivem mais, é o que dizem.

Ele riu junto, balançando a cabeça.

— Eu não me importo se você é Pogue ou Kook ou nenhum dos dois.

Sarah olhou para ele, levantando uma sobrancelha. Um sorriso mínimo surgiu no canto de sua boca enquanto ela percebia a corrente dourada em volta do pescoço e do pulso do garoto... O óculos de sol intacto no topo de sua cabeça.

— Você é tão Kook — ela o provoca, abrindo um sorriso.

Nicholas sorri também.

— É, eu sou.

Os dois riram juntos, deixando o peso da conversa anterior desaparecer. O bom de conhecer alguém a tanto tempo é que você o entende, mesmo sem que nada seja dito.



Já é final de tarde quando Nicholas e Sarah chegam ao apartamento da garota. Os dois estavam um tanto vermelhos por conta do sol mas também exalavam felicidade. Ninguém no mundo poderia dizer que aqueles dois são estavam apaixonados um pelo outro.

Ele a leva até a porta, segurando com firmeza seus dedos. Sarah passa a mão pelo rosto do garoto, olhando no fundo de seus olhos azuis e tendo certeza de que talvez essa seja vista mais bonita que ela já teve.

— Por que não fica? — ela sugere, odiando a ideia de se afastar dele. — Eu... Não gosto de ficar aqui sozinha. A gente pode ver um filme, pedir uma pizza.

Para Nicholas esse era o programa perfeito. Ele imediatamente aceita o convite.

— Eu vou deixar o barco em casa e inventar algo pra minha mãe — o garoto diz, usando o dedão para apontar na direção do píer. — Você conhece a peça.

— Claro. Eu vou tomar um banho então.

O garoto força um beicinho.

— Não pode ser quando eu voltar? — pergunta, fazendo com que Sarah sorria.

— Vou pensar no seu caso.

Sarah fica na ponta dos pés para beija-lo e é quase doloroso para Nicholas ter que solta-la e ir pra casa. Ele com certeza faria tudo correndo para voltar o mais rápido possível.

Nicholas fecha a porta do apartamento e desce dois andares de escada até a rua. Infelizmente seu bom humor muda drasticamente ao avistar John B vindo na sua direção, andando rápido e com uma expressão desafiadora no rosto. Ele sente aquela vontade crescente de bater naquele miserável tomar conta de si, Deus sabe o quanto ele se segurou para não retalhar o estrago que o Pogue havia feito em seu rosto. Pelo menos pra uma coisa toda a confusão havia servido... Para o afastar de vez da Sarah. Quando os dois param, frente a frente, Nicholas tem a certeza de já que aquela conversa não terminaria bem.

— O Cut é pro outro lado — Nicholas provocou, com um sorriso frio.

John B devolveu o olhar, impassível.

— A sua casa também.

Isso arranca uma risada de Nicholas.

— É. Pelo menos eu tenho uma.

— Você tá se achando, né? — John B o desafia, dando um passo a frente.

— Não deveria? Comparando nós dois, acho que estou levando a melhor.

— Não foi o que pareceu quando esmurrei você.

Nicholas soltou uma risada sarcástica, sem desviar o olhar. Aquela roupa esfarrapada, o cabelo sujo... O que Sarah tinha na cabeça quando resolveu se meter com esse mendigo? Nicholas nunca iria entender.

— É porque, diferente de você, não costumo me comportar como um animal — retruca, cruzando os braços. — O que quer aqui afinal? Me agradecer por não te botar atrás das grades?

— Preciso falar com a Sarah — o pogue admite, controlando seu tom de voz.

Nicholas balançou a cabeça, satisfeito em ter o controle da situação. Não havia a menor chance dele ver ela, não se o garoto pudesse evitar.

— Perdeu a viagem, ela não está — mente, sem nem pestanejar.

É claro que John B desconfia.

— Então por que você está aqui?

— Isso não é da sua conta.

Antes que John B possa dizer alguma coisa o portão atrás de Nicholas é aberta, revelando Sarah.

— Nick, você esqueceu... — ela começa mas as palavras morrem no momento em que percebe que Nicholas não está sozinho. Os dois a encaram, um chateado e o outro mais envergonhado do que poderia admitir. — John B?

John B dá uma risada sarcástica, entendendo mal a situação. Como se Sarah não quisesse falar com ele.

— Não está né? — ironiza, dando de ombros. — Entendi.

Nicholas e Sarah observam enquanto John B se afasta. A garota desce as escadas em direção a Nicholas, ainda confusa sobre o que havia acontecido.

— Espera, você disse pra ele que eu não estava?

— É, eu disse — Nicholas admite, sem pensar duas vezes.

Mentir não iria tornar tudo mais fácil. Sarah engole em seco, sentindo aquele calor se alastrando por todo seu corpo. Era raiva.

— Por que?

— Ainda tem algo que você precise falar com esse cara?

Sarah balança a cabeça de um lado pro outro, em negação sobre o que Nicholas havia feito. Ela não podia acreditar nisso.

— Você não tem esse direito... — murmura, se afastando.

— Aonde vai? — Nicholas pergunta, mesmo sabendo a resposta.

— Ver o que ele quer.

O humor de Nicholas não é o melhor quando ele chega em casa. Para sua sorte ninguém estava lá, o que evitava a necessidade de qualquer explicação sobre seu mau humor. Ele queria gritar, quebrar algo, chorar... Qualquer coisa que pudesse tirar essa agonia de seu peito. Queria mudar o passado e ter tido mais coragem para expressar seus sentimentos, ter impedido Sarah de jogar sua vida fora, ter feito alguma coisa. Qualquer coisa.

É frustrante saber que ele não podia.

Algo no fundo de sua cabeça insistia em dizer que sua felicidade poderia ser facilmente arrancada de suas mãos caso John B a perdoasse.

O garoto abre a porta de seu quarto, parando com os pensamentos intrusivos no exato momento em que vê sua melhor amiga sentada em sua cama. Ela se põe de pé imediatamente.

— Nick... Até que enfim você apareceu — Claire diz, soando um pouco engasgada.

Nicholas fica preocupado no exato momento em que seus olhos encontram os de Claire. Ela estava chorando. E não um choro qualquer, um choro que deixa seu rosto vermelho e seus lábios inchados. Claire nunca chorava. Nem ouvindo músicas tristes ou em filmes que um cachorro morria, nem mesmo no enterro de sua avó. Ela nunca chorava. O que quer que tenha acontecido, havia de ser sério.

Ele ergue sua mão em direção a ela, se aproximando numa tentativa de conforta-la. Antes que possa abrir a boca ele vê as mãos da garota, tinha uma arma nelas. Nicholas imediatamente para, franzindo as sobrancelhas em confusão.

— Eu... — ela murmura, soluçando. — Eu fiz uma coisa.



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