17, a verdadeira face
SARAH CAMERON NÃO SE considerava paciente, apesar de nas últimas horas ter se descoberto um pouco mais flexível do que o esperado. Quando abrigou Claire em seu apartamento durante a noite esperava algum desabafo, alguma informação... Mas tudo o que ganhou foi a garota se enrolando num cobertor no sofá e se recusando a conversar.
Foi bem difícil dar um pouco de espaço. Ainda estava sendo... Claire se arrumava calmamente pela casa enquanto ignorava os olhares ansiosos de Sarah. Nem mesmo ouvir a voz de Nick havia a deixado menos sedenta por informações. Conhecendo seu irmão, ela tinha certeza que ele tinha aprontado algo.
— O Nicholas disse que vai vir só depois do almoço — Sarah comenta, se sentando na beirada de sua cama.
Ela observa com a atenção a expressão preocupada que se forma no rosto de Claire enquanto a mesma se encarava no espelho. Sua mão nervosa aperta com violência o pingente em seu cordão.
— Certo, eu vou daqui há alguns...
— Claire, isso não foi uma expulsão — Sarah a interrompe, fazendo com que Claire se vire pra ela.
Claire sorri sem mostrar os dentes, tentando disfarçar seu humor um tanto melancólico. Ela odiava o que estava sentindo agora, toda essa ansiedade e esse... Medo. Ela não era uma garota de sentir medo.
— Claro que não — concorda, voltando a se olhar no espelho. Parecia haver alguma coisa errada com seu próprio reflexo.
— Por que não me diz o que houve? Rafe fez alguma coisa com você?
— Não, ele... — Claire se interrompe, pensando se realmente deveria falar a respeito do Rafe. — Eu só precisava pensar e eu não consigo fazer isso com ele por perto.
— Ele pode ser bem irritante quando quer... — Sarah concorda, num tom brincalhão. — Acredite, eu sei disso.
As duas se encaram por alguns segundos. Os neurônios de Claire pareciam funcionar de uma maneira esquisita, a impedindo de pensar com clareza antes de abrir a boca. Ela sentia que precisava conversar com alguém e apesar de não estar acostumada a ter conversas profundas com Sarah, talvez se abrisse uma exceção, pudesse entender um pouco mais do que se passava em seu cérebro.
— Eu não sei o que fazer a respeito do que estamos fazendo — Claire admite, com a voz baixa. Era quase como se a garota sentisse vergonha por dizer essas palavras em voz alta. — Não sei se posso confiar nele, não sei se vale a pena.
É nesse momento, vendo sua amiga desviar os olhos dos seus enquanto falava sobre seu irmão, que Sarah entendeu tudo. Agora havia ficado um tanto óbvio.
— Oh! Você está apaixonada por ele! — a loira exclama, abrindo um sorriso.
Isso era divertido afinal de contas. Frenchie, a riquinha de Paris, filha da sua madrasta, estava apaixonada por seu irmão. Um enredo como esse poderia até mesmo resultar em um filme!
— Não diga bobagens Sarah — Claire resmunga, sentindo vontade de vomitar só de imaginar essa possibilidade.
— Você está sim e nem mesmo consegue admitir.
— Não estou.
— Você é teimosa igual a ele. São o casal perfeito.
— Sarah! — Claire grita, atirando o travesseiro em cima de Sarah.
A mais nova gargalha, se deitando na cama com sua barriga pra cima. Claire se aproxima e se deita ao lado dela, tentando acalmar seu estômago que parecia um tanto revirado. Se essa é a sensação de estar apaixonada então Claire queria que passasse imediatamente. Ela odiava se sentir assim, fraca.
— Certo, tudo bem. Não vou mais fazer piadas com isso — promete Sarah.
Isso deixa Claire satisfeita.
— Obrigada.
— Você sabe... É o Rafe — Sarah diz, se sentindo na obrigação de dizer algo a respeito disso, algo que pudesse ajudar de alguma forma. — Ele não teve muitas namoradas ao longo da vida mas bem... As poucas que teve não pareceu ser algo sério. Uma vez uma tal Samantha quebrou a janela do quarto dele com uma pedra e ele nunca mais olhou na cara dela. Foi o máximo de sentimento romântico que já vi ele ter por alguém.
Isso não era empolgante para Claire.
— É, não vou esperar muito dele — diz, se sentando na cama. Toda essa enrolação estava lhe fazendo mal, então talvez fosse a hora de enfrentar o que quer que a estivesse esperando.
Sarah também se senta, olhando nos olhos de Claire.
— Claire... Acho que tem que olhar pra dentro de si mesma e pensar se realmente conseguiria fazer isso.
A resposta? Ela não sabia. E no momento, em sua concepção, não havia nada mais aterrorizante do que isso.
— Vou pra casa — Claire diz, se pondo de pé. — Te vejo a noite ok?
— Tá bem.
Várias opções surgiram pela cabeça da garota enquanto ela seguia seu caminho de volta a Tannyhill, algumas boas e outras nem tanto, mas o medo crescente em seu estômago a impediu de encarar seus sentimentos de frente. Era da natureza humana sentir medo, e ativar seu instinto de fuga parecia inevitável. Não dava pra continuar assim.
Rafe estava sentado na varanda, tentando ler alguns documentos enquanto fumava um baseado. Ele estava ansioso. Pela festa na noite de hoje, por toda a movimentação de empregados dentro de casa e por Claire ainda não ter voltado. Era quase impossível ler uma linha sequer e a discussão dos decoradores no salão externo não ajudava nem um pouco. Claire o encontra com facilidade, respirando fundo antes de avançar até ele.
— Ei — ela murmura, chamando a atenção de Rafe. Os dedos do garoto fraquejam, fazendo com que seu baseado caísse no chão. Ele é rápido em se abaixar e pegar.
— Oi — murmura, pigarreando em seguida enquanto coloca o cigarro no cinzeiro. — Você voltou.
Rafe tentava manter o tom de voz ameno e conservar seus batimentos cardíacos num ritmo moderado. Ele estava nervoso sobre o rumo da conversa.
— É. Podemos conversar?
— Claro.
A garota dá alguns passos a frente, segurando com força o pingente de seu cordão. Era preciso colocar logo o remédio na ferida... Iria arder mas... Curaria.
— Eu acho que... A gente devia dar um tempo.
— Ah — Rafe murmura em resposta, colocando seus papéis de lado.
Com certeza era isso que aconteceria, é claro. As pessoas tinham uma facilidade tremenda em sair da vida dele como se ele não fosse nada e por que agora seria diferente? Paixão... Dá e passa certo? Isso o frustra de certo modo, afinal, o quanto vale tentar agir como um bom homem se no final era só isso que ele ganhava? Desprezo.
— Você sabe, não tem como levar isso adiante e não acho que vai ser bom ficar alimentando o que quer que seja isso.
— Legal — murmura, cruzando os braços enquanto volta a encarar a garota a sua frente.
Rafe não consegue pensar em algum momento de sua vida onde tenha sido mais difícil controlar seus sentimentos do que esse. Mas ele estava conseguindo... Talvez isso signifique que ainda havia alguma esperança para ele.
— Legal?
Certo, Claire sabia que talvez fosse um pouco de egocentrismo imaginar que ele não aceitaria tudo tão bem mas apenas legal? Legal? É sério?
— É. O que quer que eu diga?
— Qualquer coisa — argumenta, sentindo estar perdendo um pouco de seu autocontrole. — Nós não sabemos como isso pode afetar nossas vidas nós... Sarah e Nicholas não parecem se importar nem um pouco, talvez nem mesmo nossos pais liguem mas podemos acordar um dia e ter arruinado o nome dos Cameron. Ou pior, acordar um dia e ter mil fofocas incestuosas espalhadas pela internet arruinando a joalheria que meu pai deu a vida pra manter. Isso pode acontecer. Da mesma maneira que ninguém pode dar a mínima pra tudo isso.
— Eu não acho que esse seja o problema — Rafe admite, ficando de pé.
Imediatamente todo o corpo de Claire se arrepia, imaginando até onde ele iria, avançando como um animal cerca sua presa. Provavelmente eles acabariam na cama, se conseguissem chegar até lá.
— O que mais seria?
— Você tem medo de mim.
— De você? — indaga, erguendo seu nariz. — Eu te garanto que não há nada que você tenha feito que eu não possa fazer pior, Cameron.
— Você não sabe o que diz, não sabe as coisas que eu fiz.
— Sei bem mais sobre você do que pensa.
— Você tem medo de mim — ele repete, encarando-a. — Medo do que sente toda vez que eu te toco... — Claire acompanha as mãos de Rafe e arrepia, de um jeito ridículo, no exato momento que seus dedos tocam sua bochecha. Não era sexual, era carinhoso... O que tornava tudo pior. — Bem aqui. Sente minha falta quando não estou por perto... Eu sei que gosta de mim, mesmo fingindo que não.
Claire dá dois passos pra trás, se afastando de Rafe e tentando pensar com clareza. Sem sentimentos as coisas já era difíceis e agora... Pareciam impossíveis. Claire e Rafe indo ao cinema? Claire e Rafe comemorando o aniversário de namoro? Isso soava estranho, quase irreal. A garota dá de ombros, focada em marchar até seu quarto.
— Você pode pensar o que quiser — murmura, passando pela porta. — Já chega disso.
— O que você quiser, princesa — Rafe murmura em resposta, voltando ao seu baseado.
Hoje era um dia importante e a última coisa com a qual ele queria se preocupar era isso. Ele podia pensar nisso depois ele só... Tinha que manter a calma.
O humor de Claire não estava o melhor, o que acabou resultando em um pouco de grosseria de sua parte aos funcionários que tentavam a todo custo deixar tudo ao seu gosto. Ela se desculpa quando eleva o tom de voz — o que assustou um dos floristas que ajeitavam os arranjos do lado de fora — e decide se retirar para não acabar perdendo a cabeça de vez. A garota come alguma coisa e tenta se distrair em suas redes sociais, quando uma das empregadas lhe diz que seu pai havia chegado e estava a esperando no escritório de Ward.
Pelo menos com ele ela poderia gritar sem remorso.
— Papa — ela diz, correndo em sua direção.
Jacques a toma em seus braços, apertando a filha e a tirando do chão, como sempre fez desde quando ela era apenas uma criança. Claire amava o pai, é claro, e sabia que sua presença agregaria muito ao nome da Cameron Development — por isso havia o convidado — mas o momento parecia péssimo para tê-lo por perto. Seu pai a conhecia muito bem e junto com ele sempre havia aquela pressão enorme por conta da joalheria... Como se a garota fosse proibida de pensar em algo além de diamantes.
— Princesse! Comment-vas tu?
— Estou bem, estou ótima — ela responde, tentando sorrir com alguma porcentagem de verdade.
Isso obviamente não convence Jacques, que ergue o rosto da filha pelo queixo, de modo a olhar em seus olhos.
— Parece triste.
— Não — Claire nega, imediatamente dando de ombros. — Estou preocupada na verdade, quero que tudo seja perfeito hoje.
— É bem legal o que está fazendo por esse garçon, o ajudando assim... — Jacques comenta, se aproximando do sofá.
— É — a garota concorda, indo atrás do pai. Ele não tinha a mínima ideia do que estava acontecendo embaixo desse teto, a maneira como os sentimentos de Claire estavam expostos de um modo nunca visto antes. Para Jacques o amor não passava de um contrato, você tinha que escolher o que fosse te beneficiar mais, e era difícil pensar em algum benefício ao se envolver com seu irmão postiço.
— Sua mãe me ligou — Jacques comenta, se sentando no sofá.
Isso interrompe os devaneios de sua filha.
— É obvio que ligou.
— Ela está preocupada e você sabe... Se ela está preocupada é porque eu deveria estar mil vezes mais.
— A mamãe exagera — Claire resmunga, cruzando os braços. — Vocês dois tem isso em comum.
Claire já tinha quase vinte anos e essa suposta preocupação de seus pais estava beirando o ridículo. Até porque, não existia preocupação, e sim uma vontade sobrenatural de exercer controle. Era difícil se libertar.
— Eu prefiro que não cite as características que compartilho com la défunt — Jacques rebate, com desdém.
A falecida. Os dois já terem sido casados um dia é realmente uma surpresa e tanto, até hoje nada disso parece fazer sentido.
— Ah papa, pare de chama-la assim.
Jacques revira os olhos, desprezando o comentário de sua filha. Ele não queria perder seu precioso tempo discutindo sobre a ex esposa.
— O que pretende com tudo isso? — questiona, gesticulando para o ambiente em volta de si. Dava pra ouvir de longe toda a movimentação por conta da festa, fazendo com que Claire imediatamente entenda o que ele quer dizer.
— Eu quero ajuda-lo. Depois de tudo que aconteceu... Acho que ele precisa disso. E quero ficar aqui, pelo menos por enquanto. Mais alguns meses talvez.
São longos os segundos que se passam até Jacques esboçar alguma reação.
— Pourquoi?
— Papa... — Claire começa, se aproximando de seu pai. — Eu quero fazer algo bom, algo real, só dessa vez.
Antes que Jacques possa responder, Lavinia se aproxima do batente da porta, a expressão um tanto esbaforida após vir correndo da cozinha.
— Senhorita Claire... — ela começa e então percebe que havia interrompido algo. — Perdão.
Claire dispensa as desculpas com a mão, se aproximando da empregada. Ela não queria ter essa conversa com seu pai antes da festa de qualquer maneira, ela sabia muito bem como ele pode ser inflexível. Se ele quisesse fazer disso um show, ele faria.
— Tudo bem Lavinia, pode me dizer — Claire diz, entrelaçando seu braço com o da senhora e a guiando para fora daquele escritório, ela queria sair logo dali. Antes de fechar a porta, Claire vira sua cabeça em direção ao pai. — Vou pedir para te acompanharem até o quarto.
Jacques revira os olhos e se senta no sofá, ficando entediado no instante em que percebe a decoração simplista que o cercava... E esse povo ainda tinha a coragem de se dizer rico, mon Dieu!
Quando a festa começa, Claire tem a absoluta certeza que seu dia está tendo bem mais do que vinte e quatro horas. Ela alisa seu vestido, se admirando em frente o espelho, era vermelho bem escuro de tecido leve e um tanto brilhante, tinha alças finas, uma fenda e suas costas eram abertas. Seu cabelo castanho estava ondulado, preso por grampos apenas do lado direito. Em suas orelhas grandes brincos de diamante, da mais nova coleção da Bertrand Jewelry, vindos direto de Paris para serem usados com exclusividade por ela. Não podia deixar de agradecer mais uma vez a maquiadora que definitivamente havia feito um ótimo trabalho ao encobrir qualquer feição cansada em seu rosto.
A garota espera seu pai estar pronto para descer até a área externa acompanhada dele. Eles cumprimentam animadamente todos em volta de si, acalmando o coração de Claire ao ver Jacques se comportando bem após sua proibição de qualquer tipo de falta de educação.
Os decoradores haviam conseguido resolver muito bem a questão das flores e das luzes. Tudo estava iluminado por uma luz laranja, até mesmo a piscina, e algumas luzes menores saiam do chão em direção as estruturas de madeira que passavam por cima da pista, enroladas cuidadosamente junto as flores, dando ao ambiente um ar quase mágico. Havia comida a vontade, bebidas circulando o tempo todo e uma boa múscia. Parecia correr tudo muito bem.
Jacques entra numa conversa animada com um dos grandes empresários do ramo imobiliário dos Estados Unidos e parecia estar se dando bem com ele, o que conforta Claire para deixa-lo sozinho por alguns instantes. Ela precisava achar o Rafe... Não haviam se visto desde de manhã, o que é esquisito pra quem divide a mesma casa. Claire só queria ter certeza que ele estava bem, apesar de suspeitar que sim já que seu pai afirmou ter fumado um charuto com ele enquanto a cabeleireira ajeitava seu cabelo.
Os Thornton, acompanhados de Elena Reedy, a encontram primeiro. Fazendo que sua procura por Rafe tenha que ser adiada.
— Olha só, está linda frenchie.
Claire sorri, abraçando seu amigo pela lateral de seu corpo. Nicholas cheirava a perfume caro e se encontrava perturbadoramente lindo em seu terno preto. Todos em volta olhavam, é claro, naquele típico efeito que apenas Nick Thornton possuía.
— Obrigada Nick — a garota agradece, se virando para o casal a sua frente. — Oi Top, oi Elena.
Topper usava camisa social branca e calça de alfaiataria. Seus cabelos loiros por conta do mar e do sol estavam cuidadosamente penteados para trás. Elena Reedy contrastava com o visual clássico de Topper, com um vestido rosa que apesar da cor chamativa era muito elegante e combinava com os cabelos escuros da garota.
— Está tudo tão lindo e chique! — Elena comenta, o entusiasmo palatável em cada sílaba que saía de sua boca.
— Que bom que gostou.
Gostar era uma palavra um pouco rasa para a empolgação de Elena. Apesar de Kook, a garota não estava acostumada a lugares assim tão refinados e não condizia com sua personalidade esconder suas reações ao fingir costume. Ela era uma garota espontânea.
— Vamos Top, quero tirar fotos naquele arranjo — ela diz, puxando a mão do namorado.
Topper sorri para Claire e seu irmão antes de sair, um sorriso de quem pedia socorro mas também de quem se divertia com isso. Elena trazia a tona um lado não convencional de Top.
— Então, os irmãos Thornton estão de volta? — Claire pergunta, pegando uma taça de champanhe quando o garçom lhe oferece.
Nicholas também pega uma.
— É. Eu acho que sim.
— Frenchie! — Sarah grita, fazendo com que os dois se virem imediatamente em direção a ela. — Você está tão linda!
Já é a segunda vez que Nicholas engasga ao ver Sarah bem na sua frente. Ele não conseguia fingir costume ao vê-la assim tão linda, como uma atriz de cinema, num vestido azul egípcio com aquela fenda enorme. Claire também se surpreende com o resultado final da preparação da garota, parece que uma vez Kook para sempre Kook.
— Sarah Cameron! Você está... Eu mal tenho palavras — Claire murmura, se perguntando se alguma vez já havia visto a garota assim tão deslumbrante.
Seu cabelo loiro caia em ondas por cima do vestido de um ombro só, a choker de diamantes que Claire havia lhe emprestado deu ao visual a imponência necessária. Estava perfeita.
— Foi exatamente assim que eu me senti — Nick comenta, bebendo o resto do champanhe.
— Vê se controla a bebida, dá última vez que se empolgou acabou no hospital — Sarah o provoca, entrelaçando seu braço direito com o do garoto.
Dá pra ver uma luz se acender no olho de Nicholas no momento em que ele sente seu toque.
— Isso não vai acontecer dessa vez — o garoto garante, arrancando um sorriso das duas.
— Eu estou tão feliz que você está aqui e tenho certeza que o Rafe também vai ficar — Claire comenta, ainda focada no seu plano de reaproximar os irmãos.
O sorriso de Sarah some.
— Estou aqui por você.
— Não seja tão inflexível Sarah!
— Você que está sendo flexível demais.
— Olha aí, parece que o senhor Cameron resolveu dar as caras — Nicholas diz, pegando mais uma taça de champanhe.
Imediatamente as duas se viram em direção ao palco, cessando sua pequena discussão. A música havia parado e Rafe caminhava lentamente em direção ao microfone, um copo de whisky em sua mão. Claire prende a respiração enquanto o observa, gostando da maneira que o terno caro e azul marinho cobria seu corpo. É claro que ele não usava a gravata, e nem ao menos precisava, seu tamanho já trazia a seriedade necessária para a ocasião. Os dois cruzam olhares, parecendo ter muito o que dizer um ao outro, mas o contato visual não dura muito.
— Está dando bandeira, frenchie — Sarah provoca, arrancando uma risada nasalada de Nicholas.
— Cala a boca — a garota rebate, virando o resto de champanhe em sua boca.
É claro que a risada fica mais forte.
— Boa noite — Rafe diz, ao microfone, sua voz soando ao longo de todo o ambiente. — Há vinte e cinco anos meu pai fundou essa empresa, construindo não só o próprio sonho como o de várias pessoas através da mais variada gama de imóveis da região. A Cameron Development abriu as portas para vários projetos inovadores, fez a magia acontecer tirando rascunhos do papel e com muita perseverança e dedicação conseguiu construir um legado que dominou não só Outer Banks como toda a Carolina do Norte. Em homenagem aos vinte e cinco anos dessa empresa que representa não só a mim e minha família, mas toda Outer Banks, viemos por meio dessa comemoração apresentar o mais novo projeto da Cameron Development. Um lugar paradisíaco, o paraíso na Terra como entitulado, merece em suas terras um local a altura para recepcionar nossos convidados. Quantos de vocês estão tendo que se abrigar na casa de amigos ou se enfiar em pousadas que mal tem espaço pra suas malas? Quanto a ilha deixa de faturar por não ter a estrutura adequada para receber os turistas mais abastados? E isso não só vale para Kooks como para Pogues. Imaginem quantos empregos podem ser gerados, quanto dinheiro pode ser movimentado ao nos arriscarmos numa empreitada como essa. O Hotel Paraíso, com poucos andares e projetado de modo a ocupar mais horizontalmente o terreno, preservando o recorte da ilha e a estética da nossa vegetação. Spa, academia, piscinas, lavanderia. Quartos e quitinetes disponíveis por diárias ou alugueis semanais e mensais. Imaginem só passar o mês aqui, com sua família, tendo o conforto de uma casa mas todos os luxos que um hotel pode proporcionar? É isso que nós planejamos para Outer Banks. É o paraíso na Terra.
Os convidados batem palmas enquanto as projeções sobre o projeto do hotel são exibidas no telão. Claire se sentia orgulhosa pelo o que estava vendo e não só por si mesma, mas por Rafe. Ela sabia o quanto isso era importante para ele e de alguma maneira, fazer parte disso, alimentava mais seu coração do que qualquer pedra preciosa. Talvez tudo que ela precisasse para ser feliz fosse um pouco de amor pelo o que faz.
— Nossos engenheiros e arquitetos estarão disponíveis durante toda a festa para sanar qualquer dúvida. E eu também vou responder as que tiverem ao meu alcance, é claro. Eu espero que se divirtam nessa noite!
Mais palmas preenchem o lugar e Nicholas é ligeiro ao assoviar como um maníaco, assustando todos os convidados próximos a ele. Rafe respira profundamente antes de se virar para Claire, temendo esquecer o que deve falar ao vê-la naquele vestido tão lindo.
— Agora, para dar início a nossa noite, Claire Bertrand vai assumir o piano por alguns instantes.
Claire parece esquecer como movimentar suas pernas no momento em que as pessoas em volta dela se afastam, abrindo espaço como um corredor para que ela siga até o palco. Rafe está no final do corredor, é claro. É necessário um pequeno empurrão de Sarah para que a garota avance, segurando os dedos gelados de Rafe para subir as escadas em direção ao piano.
Nesse segundo ela se pergunta o por que havia topado isso. Provavelmente pelo momento oportuno que Rafe havia lhe feito o convite — ele estava com a cabeça entre suas pernas — ou talvez por acreditar que dava conta do recado. Talvez ela não desse. Claire não estava acostumada a tocar na frente de outras pessoas, só de seus pais, seus amigos ou de Rafe. Ninguém mais. E agora, aqui nesse salão com centenas de pessoas — 327, ela mesma havia revisado a lista — ela se sentia como um criança acanhada.
Claire esfrega uma mão contra a outra enquanto se senta em frente ao piano, tentando livrar seus dedos de toda a rigidez. Ela posiciona sua mão acima das teclas e graças ao tremor de seu corpo acaba fazendo um baita barulho desafinado. Há um pequeno burburinho pelo local, o que faz com que a garota comece a suar frio. Ela tenta mais uma vez começar a música, apertando a primeira tecla, mas nada vem a seguir.
Os pensamentos de fracasso se tornam inevitáveis para Claire que agora duvidava ser capaz até mesmo de se levantar e sair correndo. A garota quase não percebe quando Rafe se senta ao seu lado. Eles se olham por alguns instantes, parecendo conversar sem nem precisar dizer uma única palavra. Claire observa com atenção enquanto Rafe leva seus dedos até o piano, tocando perfeitamente as primeiras notas da canção. Claire o encara, boquiaberta e um tanto perplexa por ele saber o que fazer. O garoto repete as notas novamente, tentando encoraja-la a continuar.
— Claire, eu só sei isso — ele murmura, chamando a atenção dela. — Precisa me ajudar.
A garota respira profundamente e encara seus olhos azuis, tão claros, e tão capazes de transmitir paz mesmo seu dono sendo um desastre ambulante. O burburinho fica inaudível nesse momento, fazendo com que Claire esqueça completamente as 327 pessoas em volta dela. Tudo que ela via era ele, Rafe Cameron, novamente tocando as primeiras notas de sua canção.
Claire o acompanha dessa vez, fazendo com que a música finalmente crie forma. Seus dedos deslizam pelas teclas com delicadeza e firmeza, demonstrando seu domínio sobre cada nota. A garota semicerra os olhos, relaxando sua expressão e absorvendo cada nuance da melodia que ela criava. Era como se nada mais existisse ao seu redor, nada além de Rafe Cameron cujo perfume invadia seu nariz e cuja imagem não saía de sua cabeça. Ela conseguia vê-lo sem nem mesmo olhar pra ele.
O som que emerge do piano parece envolver o salão, criando uma atmosfera quase mágica. Rafe estava hipnotizado, sentado ao lado de Claire, escutando cada nota como se fosse um segredo compartilhado apenas com ele. Seus olhos seguem os movimentos delicados das mãos dela, a expressão em seu rosto mistura admiração com um toque de melancolia, como se cada acorde despertasse nele uma memória ou um sentimento profundo. Um sentimento profundo pela garota bem ao seu lado.
É quase triste quando a música acaba, fazendo a realidade da situação atingir Claire com toda força. Ela respira profundamente, tentando conter suas emoções que pareciam um tanto visíveis agora, enquanto escutava as palmas soarem por todo o ambiente junto com o maldito assovio de Nicholas. Rafe ainda estava ao seu lado, a observando com atenção.
Ele resolve não comentar sobre os olhos marejados da garota no momento em que ela olha pra ele. Rafe não tinha certeza se já havia visto algo assim tão... Lindo.
— Como você sabia...? — Claire pergunta, sentindo seus neurônios voltarem a funcionar aos poucos.
— Eu aprendi uma coisa ou outra sobre piano nos últimos anos — Rafe responde, fingindo indiferença no seu tom de voz.
Isso não convence Claire.
— Por que?
— Eu fiquei curioso. Devia ter algo de muito mágico nisso para que você ocupasse tanto tempo do seu dia com ele.
A resposta a deixa sem palavras por alguns instantes. Rafe... ele havia feito isso por ela.
— Descobriu a magia?
Rafe dá um sorriso de canto, erguendo seus olhos até os de Claire.
— Ah, eu descobri. A magia é você.
Demora longos segundos para que ambos finalmente consigam se levantar. Claire se sentia um pouco tonta na verdade, com a boca seca, clamando por mais um gole de champanhe. Felizmente, os músicos voltaram a tocar, o que distraiu os convidados e fez com que eles parassem de prestar atenção nos movimentos dos dois em cima do pequeno palco. Claire rapidamente desce as escadas, tropeçando no último degrau mas se mantendo firme na missão de se afastar de Rafe. Ela vai em direção ao seu pai que conversava — em francês — com Topper, sua mãe e mais alguns convidados, sobre algo que envolvia sua nova coleção de jóias.
Jacques exibe os brincos nas orelhas de sua filha, arrancando elogios de todos ali. Top dá risada, se divertindo com o desconforto da amiga. É preciso duas taças inteiras de champanhe para que a conversa acabe, o que faz Jacques se afastar em busca de mais alimento pro seu ego, deixando Claire e os Thornton numa conversa animada pautada em falar mal do Pogue antigo namorado de Sarah.
O assunto agradável é interrompido quando um dos seguranças vem até Claire, avisando que o chefe gostaria de falar com ela. A expressão da garota se desmancha, um tanto decepcionada por ter sido interrompida logo quando estava começando a se divertir.
— Com licença, gente... — a garota murmura, largando sua bebida na mesa. — Preciso resolver um problema.
Topper franze o cenho, a curiosidade e sua vontade incontrolável de ajudar falando mais alto.
— Está tudo bem? — pergunta.
— Claro, Top. Só coisas da festa... Eu volto logo.
Claire se afasta dos Thornton, indo em direção a lateral da casa. Era um lugar escondido, tomado pelas árvores e no extremo oposto a festa. Cinco dos seguranças — uma cortesia francesa de seu pai — estavam parados ali, entre eles Javert, o chefe de segurança que acompanhou Claire por uma boa parte de sua vida. Não é preciso que ela se aproxime muito para ver Barry, com uma expressão derrotada, cercado por todos eles.
— Javert, ce qui s'est passé?
— Encontrei essa criatura tentando entrar e bem, você me disse pra avisar diretamente a você caso houvesse algum problema — o segurança responde, estendendo uma pistola em direção a Claire. — Ele estava com isso.
— Barry... — Claire praticamente rosna, sentindo o desprezo em casa sílaba que saía de sua boca. — Você enlouqueceu?
Barry abre um sorriso, exibindo seu dente de ouro. Ele gostava bastante do vestido de Claire, realçava bem seus peitos.
— E aí gatinha.
— Acho que não entendeu minha pergunta, você enlouqueceu? — ela repete, aumentando seu tom de voz.
O traficante revira os olhos, já sentindo que seu charme não iria ajuda-lo muito dessa vez.
— Eu ainda tenho uma parte do resto do ouro — explica, fungando.
Claire sente o sangue invadir seu rosto, amortecendo sua pele com o calor. Era raiva, raiva desse maldito traficante de merda!
— Não acredito... — murmura, tentando se controlar. — O que você já tem é o suficiente pra manter sua vidinha bem confortável por um longo tempo!
— Eu não tô nem ai, eu quero minha parte e eu vou ter minha parte.
— E achou que a melhor maneira pra isso era invadir a nossa festa? — a garota indaga, se aproximando dele. — O que estava querendo? Um escândalo na frente de todo mundo? Achou mesmo que eu não ia pensar nisso?
A expressão de Barry aos poucos se transforma em um sorriso. É claro que ele não havia pensado nisso, em Outer Banks nunca havia sido um problema invadir uma festa de bacanas... Mas vê-la desse jeito, tomando as rédeas... Era algo que ele esperava desde quando arquitetaram o roubo da cruz, em sua cabeça sempre houve algo mais em Claire do que seu sotaque e o péssimo gosto musical.
— Gata... Eu sempre soube que você era pior que o Rafe.
— Some daqui — ela ordena.
— Nem fodendo.
— Você vai ter a sua parte. Some daqui — repete, aumentando o tom de voz.
— E eu devo acreditar em você?
— No momento você não tem muita escolha.
— Você não tem escolha! — Barry rebate, aumentando o tom de voz. Seus movimentos são controlados para não ativar a ira de nenhum dos grandalhões que o cercavam. — Eu posso acabar rapidinho com toda essa merda se você não cooperar. Onde está o Rafe? Ele vai entender perfeitamente o que estou falando.
— Você faz negócios comigo agora — Claire diz, erguendo o queixo. Ela não deixaria que esse momento tão especial para Rafe fosse prejudicado por conta da ralé.
— Então tem coisas que você precisa saber — Barry diz, dando um sorriso triunfante. — Não foi o Ward.
— O que quer dizer?
— Não foi o Ward que matou a Peterkin.
Isso não a abala nem um pouco.
— Você está mentindo — murmura, desprezando a informação vinda de Barry.
— Você sabe que não estou, sabe que ele é capaz disso. Eu sei que sabe.
— Isso não interessa! — Claire grita, sentindo seu autocontrole se esvair.
— Vai defender a porra de um assassino?
A garota se aproxima e com um chute certeiro atinge o meio das pernas de Barry, que se contorce e cai no chão. Ele geme de dor, arrancando risadas dos seguranças.
— Não ouse repetir isso nunca mais na sua vida patética! — a garota berra, se agachando em frente a ele.
A expressão no rosto de Barry fica subitamente sombria.
— Não acredito no que estou ouvindo...
— Você vai levantar sua bunda e se arrastar até o esgoto onde você vive. Vai ficar bem quietinho lá e esperar a porra do seu dinheiro por quanto tempo for necessário — Claire explica, se colocando de pé.
Barry junta suas forças para se erguer um pouco.
— Isso não vai acontecer.
— Ah vai sim! — a garota rebate, alisando seu vestido. — Porque você é um traficante de merda, eu tenho uma arma com suas digitais e a sua casa repleta de pó. Da pior qualidade é claro.
— Acha que sou burro ao ponto de deixar essas merdas na minha casa?
— Acho que é burro ao ponto de pensar que eu não posso plantar quantos quilos de cocaína eu quiser naquele seu barraco sem o mínimo de segurança. Eu sou a porra de uma Bertrand! — berra, perdendo de vez toda sua classe. — Brincar de gato e rato com os Cameron é fácil, vem brincar comigo.
Nesse momento Barry percebe que havia muito mais a temer em Claire do que ele esperava. Como uma face sombria completamente escondida por trás da aparência inofensiva.
— Você é maluca! — ele exclama, se colocando de pé.
— Não, eu sou rica, é diferente. Some daqui antes que mais alguém te veja.
— Mas que...
— Some daqui, Barry! — ela repete, calando Barry apenas com a frieza em seu olhar. — Ou eu juro por Deus que você não vai receber nenhum centavo quando eu der um fim em você.
Claire dá de ombros, se virando para o segurança.
— Javert, fica com a arma — diz, antes de abrir a porta e voltar para a festa.
Ela sorri para os convidados em volta de si que parecem muito entretidos para notar o vinco profundo em sua testa. A garota respira profundamente, tentando afastar seu mau humor, e pega uma taça de champanhe com um dos garçons. Talvez mais um pouco de álcool ajude, mas não seria bom passar da conta... Quem sabe um de seus amigos. Onde estava o Topper afinal?
— Onde você estava? — Rafe pergunta, chegando de surpresa. Ele tenta soar desinteressado mesmo sabendo que não chegava nem perto disso.
Claire coloca o cabelo atrás da orelha, tentando não demonstrar que havia levado um susto com sua aproximação repentina.
— Só retocando a maquiagem — responde, fingindo normalidade. Ela não queria entregar sua recente discussão com um traficante e acabar arruinando o bom humor de Rafe.
Eles ficam alguns segundos em silêncio, observando enquanto as pessoas passavam de um lado pro outro no jardim.
— Eu não disse mas... Você está linda — Rafe diz, quebrando o silêncio. Ele queria ter dito isso a muito tempo, queria ter tocado seu colo exposto até seu rosto corar e sentir o cheiro de seu perfume bem abaixo de sua orelha.
— Obrigada Rafe — Claire murmura, se sentindo um pouco engasgada. Ela coloca sua taça em cima da mesa ao seu lado. — Você também está ótimo.
— Será que pode dançar comigo? — ele pergunta, estendendo a mão em sua direção.
Claire não pensa duas vezes antes de toca-lo, na mais desesperada vontade de sentir sua pele contra a dele.
— Claro.
Rafe guia a garota até a pista de dança, se inclinando suavemente de modo a encaixar uma de suas mãos na lombar dela enquanto a outra está entrelaçada em seus dedos. Claire ergue seu rosto, olhando para Rafe conforme se permite ser guiada de um lado pro outro no ritmo da música. Os passos de Rafe eram um tanto enferrujados, e Claire, apesar de ser uma ótima dançarina, parece ter perdido completamente a capacidade de se mover ao olhar dentro dos olhos tão azuis daquele garoto.
Ela tinha certeza que qualquer um que visse os dois, teria pena do pobre casal desengonçado na pista.
Rafe mal consegue sentir os pisões em seu pé, envolto demais naquela energia palpável que os cercava, como se ninguém além dos dois existisse naquele lugar. Os olhares se encontram de forma fugaz, carregando uma intensidade de sentimentos que nenhum dos dois ousou verbalizar. Cada movimento é um diálogo silencioso, quase doloroso, onde mãos se tocam e corpos se aproximam, apenas para se afastarem logo em seguida, como se o contato fosse perigoso demais.
Embora ambos desejem cruzar a linha que os separa, uma barreira invisível os mantém distantes, conscientes de que os olhares alheios observam cada detalhe ao redor, principalmente aqueles que diziam respeito aos seus anfitriões. Os rostos de ambos se aproximam, e por um instante, parecem esquecer a presença de todos. Mas, quase como combinado, desviam o olhar, sufocando a vontade de selar aquele momento com um toque um tanto inadequado para eles.
— É gente, acho que já deu — Sarah diz, tocando o braço de Claire.
— Vocês estão dando bandeira — Nicholas concorda.
Os dois se afastam. Claire sente o calor se alastrar por suas bochechas, como uma criança envergonhada por ter sido pega no flagra fazendo algo errado.
— Certo, vamos trocar — a garota diz, puxando Nicholas para perto de si.
A expressão de Sarah fica sombria como uma tempestade de verão.
— Espera aí, eu não vou dançar com o Rafe.
— Ele vai se comportar, não é Rafe? — Claire indaga, se virando para o garoto.
Ele abre um grande sorriso.
— Claro.
— Vai ficar bom nas fotos — Claire incentiva, empurrando Sarah em direção ao irmão. — Não esquece o sorriso Sarah.
— Eu odeio você.
Bom, pelo menos na frente de tantas pessoas ela não correria algum risco de sofrer outra tentativa de homicídio. Sarah se vira para seu irmão, o olhar afiado como mil facas.
— Vou pisar muito no seu pé — ela diz, soando mais como uma ameaça.
Rafe estende a mão em direção a ela.
— Não mais do que a Claire.
A dança com Nicholas é bem mais graciosa. Nick era um garoto com muitos talentos, sabia guiar sua amiga muito bem pela pista. Ela ajudava, é claro, era bem mais fácil não ser desengonçada quando não tinha que fingir não estar apaixonada pelo garoto com quem dançava. Claire observa de soslaio a dança de Rafe e Sarah, se sentindo um pouco triste por ter que deixa-lo ir.
— O que foi? — Nicholas pergunta, fazendo Claire subir seus olhos até os dele. — Parece preocupada.
A parte difícil de se ter um grande amigo é que ele te conhece muito bem e acaba percebendo coisas que você gostaria que não percebesse. Para Claire era difícil expressar seus sentimentos, principalmente quando não estava nem um pouco acostumada a eles.
— Nada, só algumas coisas que andei pensando.
— É sobre o Rafe — Nick diz. Não uma pergunta, uma total afirmação.
Ultimamente tudo vem sendo sobre o Rafe.
— Eu acho que... Acho que gosto dele — a garota admite. Não havia ninguém no mundo com quem ela se sentisse mais a vontade para expressar seus sentimentos do que seu melhor amigo.
Nicholas sorri, não encontrando nenhuma novidade na informação.
— Eu já tinha percebido — o garoto provoca, fazendo sua amiga revirar os olhos.
— Não sei o que fazer.
É claro que ela não sabia o que fazer. Claire Bertrand sempre teve a mania de enxergar tudo como uma fórmula matemática cujo resultado não era o amor e sim o sucesso. Uma relação de sucesso é formada por parceria, crescimento e amizade. Nunca fidelidade, nunca paixão. Sentimentos intensos nunca foram muito o forte da garota.
— Vê se pensa menos — Nicholas diz, soando mais como um pedido. — Deixe seus sentimentos aflorarem, sinta alguma coisa, cometa erros... Você sempre tenta racionalizar tudo.
— Vem dando certo até agora — Claire resmunga.
— Até agora. Não aprendeu nada com o Eric? Não devia enxergar suas relações como um negócio. Se arrisca.
— Me arriscar... — a garota repete, sentindo um arrepio só de pensar nisso. — Ok. Acho que posso fazer isso.
Já passava das duas da manhã quando os últimos funcionários foram embora. Alguns deles ainda voltariam no dia seguinte para finalizar as arrumações... Parecia um trabalho sem fim, definitivamente. A geladeira dos Cameron agora estava abarrotada de comida, que mesmo tendo sido levada pela grande maioria dos garçons e cozinheiros se encontrava empilhada nas prateleiras. Jacques já havia se deitado — na verdade, se deitou antes mesmo dos últimos convidados irem embora — e após se assegurar que os seguranças estavam bem acomodados Claire pode finalmente tomar seu banho.
Seus pés doíam por conta do salto mas todo seu corpo estava amortecido pelo champanhe. Ela se veste com uma camisola branca e decide ir até a cozinha, pegar um pouco de água para evitar uma possível ressaca. No caminho de volta ela percebe que Rafe está na varanda, ainda com as mesmas roupas da festa — mas sem paletó, sapatos e com alguns botões de sua camisa abertos. Claire não pensa duas vezes antes de ir até ele.
— Ainda acordado? — pergunta, se sentando no sofá em frente a ele.
Rafe não estava muito disposto a ser incomodado no momento, muito menos por Claire. Havia certa mágoa em seu peito e ficava difícil ignorar isso quando não se tem ao menos um pouco de tempo para pensar sobre.
— E pelo visto não sou o único — rebate, cruzando os braços.
Claire decide não levar isso pro pessoal.
— Não consegui dormir.
— É, nem eu — o garoto concorda, desviando seu olhar para a lua. Ele se pergunta que horas eram agora e por que seu corpo parecia inundado de adrenalina ao ponto de não sentir um pingo de cansaço. Muitas coisas deveriam ser feitas amanhã, graças ao evento de hoje. Esse pensamento o faz sentir certa culpa por estar sendo ignorante com quem havia o ajudado tanto... Afinal, ninguém devia ser obrigado a ficar com outra pessoa. — Obrigado pela ajuda. Sem você... Nada disso teria sido possível.
Isso amolece o coração da garota, que abre um enorme sorriso.
— Não é pra tanto.
— A modéstia não lhe cai bem — Rafe resmunga, dando um sorriso de canto.
— Nós estamos juntos nessa — Claire diz, olhando para ele. — Até o fim.
Ele engole em seco, sentindo um bolo em sua garganta. Isso faz com que ele se ponha de pé.
— Eu vou... — começa, mas as palavras parecem sumir em sua boca. — Tentar dormir.
— Espera — ela pede, se levantando. — Você estava certo.
— Sobre o quê exatamente?
— Sobre nós. — admite. — É, eu tenho medo de você e tenho medo disso. Por que o que eu sinto quando olho pra você... Eu nunca senti por ninguém. Eu passei uma boa parte da minha vida sufocando o meu lado que se importava com as pessoas mas eu não quero fazer isso com você. Me desculpa.
Ela o queria, o queria de verdade. Isso é como música para seus ouvidos. Seus dedos hábeis vão imediatamente até a cintura da garota, a puxando em sua direção e selando seus lábios em um beijo ávido. Rafe estava sonhando com isso desde quando a viu com aquele vestido vermelho, linda como um inferno, na forma de seu maior pecado. Não poder toca-la... Com certeza havia sido algum tipo de punição divina. Eles se afastam quando o ar fica escasso, mantendo seu nariz encostado um no outro.
— Não tem ideia do quanto eu quis te beijar naquela pista de dança — Rafe murmura, sentindo a textura do rosto de Claire em suas mãos.
Ela ergue seus olhos aos dele, um sorriso travesso em seus lábios.
— Eu acho que tenho sim.
O garoto a beija novamente, descendo suas mãos do rosto até a cintura, puxando Claire com cuidado até o sofá. Havia certa urgência nesse beijo, como se o mundo pudesse acabar caso eles se soltassem. Claire sente as mãos de Rafe subindo por sua coxa, até chegar em sua calcinha. A simples menção a um contato mais íntimo a deixa vergonhosamente molhada.
— Rafe, meu pai está aqui — ela murmura, olhando para aqueles olhos azuis que pareciam diabólicos a luz da lua.
Rafe sorri.
— Seu pai bebeu tanta champanhe que duvido que acorde antes da hora do almoço — responde, se agachando entre as pernas da garota. — Eu só quero sentir o seu gosto...
Vê-lo assim, entre suas pernas, com esse olhar de cachorro pidão... Não havia nada que ela quisesse mais do que satisfazer suas vontades, sejam elas quais for. Claire se ergue, permitindo que Rafe retire sua calcinha.
Claire sabia que a partir desse momento, ela era totalmente dele.
*Quando escrevi imaginei a Claire tocando a música que anexei nesse capítulo*
Oi gente, acho que nunca escrevi um capítulo tão grande assim em toda minha vida🤣 Fiquei tentada a dividir ele, como eu fiz com o "duas festas" mas resolvi fazer um teste desse jeito, vamos ver se o engajamento não cai.
Meu tktk resolveu não entregar meus vídeos pra ninguém, então me sigam (@hemmoskr) e curtam os edits — pelo amor de Deus ajude uma fanfiqueira.
Dessa vez trouxe um pouquinho de um outro lado da Claire pra vocês, o que acham que vem a seguir?
E vai ter Nick e Sarah no próximo capítulo....
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