06, efeito borboleta
CLAIRE ACORDA COM A impressão de que talvez tenha passado um pouco dos limites na noite de ontem com toda a bebedeira e gritaria no bar, não que alguém tenha percebido já que estavam em maioria muito piores do que ela. A garota toma um banho rápido, tentando se livrar do cheiro de tequila e ficar apresentável para a tarde em Mase. Ela podia ficar em casa se curando da ressaca? Sim. Mas pegar sol, beber cerveja e flertar com os Kooks parecia mil vezes mais interessante.
A garota avisa Nicholas que está indo ao seu encontro e desce as escadas em direção a cozinha pensando em talvez beliscar algo antes de sair.
— Bom dia flor do dia — ela diz, passando pela porta. Rafe nem se dá ao trabalho de tirar os olhos de seu celular. — Deu tudo certo ontem?
— Sim.
Sua falta de detalhes faz com que o sorriso da garota desapareça.
— Só sim?
Rafe suspira e se vira, pegando a maleta atrás de si e a abrindo. Pequenas pepitas de ouro estavam lá dentro, em formatos um pouco esquisitos mas que não faziam diferença no final das contas.
— Só isso? — ela provoca, fazendo com que ele revire os olhos.
— Muito engraçado.
— Eu sei.
O garoto percebe que Claire vestia um short jeans e a parte de cima de um biquíni, um boné estava na cabeça e uma grande bolsa pendurada em seus ombros. Ela se inclina no balcão e pega uma maçã, a levando a boca imediatamente. Isso deixa seus seios bem marcados o que interfere no humor de Rafe.
— Aonde pensa que está indo? — pergunta, desviando o olhar.
— Vou pra Mase com o Nick, ele disse que vai me ensinar a surfar.
Ele dá risada.
— Grava isso, tenho certeza que vai ser bem engraçado.
A total falta de fé em suas habilidades com a prancha deixa Claire um tanto ofendida.
— Eu tenho muitos talentos Rafe, mais do que você imagina.
— Aproveita e usa um desses seus talentos para descobrir como podemos vender todo esse ouro.
— É bem simples na verdade. Meu pai tem uma centena de joalherias... Vendemos pra ele.
Rafe ergue os olhos até a garota, como se subitamente estivesse vendo um anjo. Como ele não havia pensado nisso antes? Jacques Bertrand, o magnata das jóias preciosas, faturava milhões e milhões de dólares com seu império de joalherias espalhadas pelo mundo todo. Era um negócio lucrativo e ele era o maior do ramo.
— Eu não tinha pensado nisso — admite.
Isso não surpreende Claire.
— É claro que não. Mas como o ouro não tem procedência o preço vai ser um pouco abaixo do mercado. Ah, e ele com certeza não vai comprar tudo.
— O quanto abaixo do mercado?
— Uns 30 por cento.
— Nada feito.
A garota dá de ombros.
— Então se divirta tentando vender tudo isso — rebate.
— Podemos conversar com seu pai? — Rafe pede, chamando atenção dela e a fazendo olha-lo nos olhos. — Quem sabe tentar uma oferta melhor.
— Vou ver o que consigo fazer.
— Você vai dormir em casa? — ele pergunta.
— Não.
Claire resolve caminhar até o super mercado do píer, onde Nicholas estaria a esperando. O sol quente não ajudava muito na ressaca mas pelo menos o dia estava bonito, seria péssimo tentar surfar com o tempo nublado.
Quando Claire e Nicholas se encontram eles compram bebidas e algo para comerem ao longo do dia, descarregando tudo no barco em seguida. Eles também vão até um dos bares para pegar algumas cervejas e gelo e quando fazem o caminho de volta são surpreendidos por Sarah Cameron quase deitada dentro do freezer de um dos estabelecimentos que claramente está fechado. Ela também tinha a mangueira de um dos barris de cerveja em sua boca.
— Espera, aquela ali é a...? — a frase morre na boca de Nicholas no momento em que Sarah Cameron se ergue, percebendo que havia sido vista.
Claire ergue as mãos e as balança.
— Sarah! — grita. — Oi!
— Ah merda — a loira murmura, sentindo seu rosto arder de vergonha. — Oi.
Para o desespero ainda maior dela Claire resolve vir ao seu encontro, trazendo Nicholas logo atrás em passos bastante hesitantes. Ela sabia que o garoto não queria vir.
— O que está fazendo? — Claire pergunta, vendo Sarah sair de trás do balcão.
— Hm... É meio difícil de explicar.
— Pra mim ela parecia estar tomando cerveja na mangueira — Nick diz, sem papas na língua.
Isso só faz com que a vergonha de Sarah fique ainda mais forte.
— Eu... Bem, não tenho lugar pra ficar ou dinheiro e estava morrendo de sede então eu pensei...
— Por que não me ligou? — Claire pergunta.
Sarah desvia o olhar.
— Eu não quis incomodar.
Para Claire isso era ridículo, não havia a menor chance da garota incomoda-la. É claro que ela havia usado sua irmã postiça para assegurar que a cruz continuaria nas mãos de Rafe mas isso não mudava o fato de que ela se importava e não queria ver Sarah se transformando em marginal para não morrer de sede.
Claire vai até ela e a puxa pela mão.
— Vem, vamos.
Qualquer um conseguiria ver que Nicholas ficou pálido como uma folha de papel, menos as garotas, é claro, já que estavam muito envolvidas em sua própria conversa.
— Pra onde?
— Nós temos bebidas no barco e podemos te dar uma carona ou quem sabe... Bem, você pode vir com a gente.
A simples menção a Sarah passar o resto do dia com eles faz Nick se engasgar, chamando atenção das duas garotas. E lá se vai o dia tranquilo dele...
— Não sei se é uma boa ideia — Sarah murmura, diminuindo o ritmo dos seus passos. Para ela a ideia de ficar perto de Nicholas sabendo que ele nutria tanta raiva por ela era desesperadora, com certeza não acabaria bem.
Mas Claire insiste, a puxando pela mão em direção a lancha dos Thornton.
— Vem logo Sarah — resmunga e a garota a obedece, trocando um olhar desanimado com Nick.
Eles sobem na lancha e a primeira coisa que Claire faz é estender uma cerveja na direção de Sarah enquanto Nicholas liga o motor. Reggae estava tocando no som e as garotas se acomodam. Era um barco pequeno então não havia nenhum lugar para se esconder.
— Onde estava ficando? — Claire pergunta, dando um gole em sua cerveja.
A de Sarah já estava na metade, a garota tinha mesmo sede.
— Com o John B mas... — ela hesita, pensando se deveria falar ou não. — Ele sumiu com o pai dele.
— Aquele que voltou dos mortos?
— É — assente, colocando o cabelo atrás da orelha. — Onde está o Topper?
— Ficou em casa com a Elena.
A informação gera surpresa em Sarah.
— Elena Reedy?
— Eles estão namorando agora — Claire informa mesmo sem saber ao certo se é isso que deveria fazer.
— Ah — Sarah murmura, ficando pensativa. Elena Reedy estava sempre por perto quando ela e Topper namoravam, quase como um predador cercando a presa.
— Esse ah não foi muito bom — comenta Claire, dando mais um gole em sua bebida.
— É que ela sempre ficava tão... Em cima, sabe? Sempre rondando...
— Está com ciúmes — Nicholas diz, chamando a atenção das garotas para ele. Sarah achava engraçado como ele foi capaz de ficar em silêncio por tanto tempo só para abrir a boca e falar merda.
Sua insinuação não a deixa feliz.
— Não seja ridículo.
Nicholas abre a boca para responde-la mas nesse momento uma outra lancha de aproxima. Era Kelce com mais três garotas, que assim como eles estavam rumo a Mase.
— E aí, Nick! — Kelce grita. — Frenchie.
Claire acena.
— Oi Kelce.
O garoto tira o óculos de sol do seu rosto afim de enxergar melhor o que estava em sua frente. Ele mal podia acreditar.
— Espera, essa daí é a Sarah Cameron?! — exclama, completamente surpreso. — Oi Sarah!
Isso arranca uma risada da loira.
— E aí Kelce.
— Diz pra mim que ela vai.
Sarah franze as sobrancelhas, um pouco confusa sobre o lugar que Claire havia comentado muito por alto.
— Ir aonde?
— Mase — Claire responde. — Vamos surfar, pegar um pouco de sol, fogueira... Essas coisas.
— Vamos Sarah — Kelce grita, da lancha ao lado.
— Ah, não sei não.
— Vai ser legal! — Claire insiste. — Você tem que ir. Nós temos barraca, comida...
É claro que a garota queria ir mas não suportaria a ideia de ser destratada por Nicholas o dia todo. Ela o olha de soslaio, tentando ver em seus olhos algum sinal do que fazer. Ele percebe seu olhar.
— É — Nick diz, sorrindo. — Você tem que ir.
Isso dá a Sarah um pouco de esperança.
— Certo. Vamos lá então.
O caminho até Mase dura alguns minutos. Vários Kooks estavam lá, com seus barcos chiques e roupas de marca. Os garotos ficam divididos entre arrumar as barracas e organizar as bebidas nos coolers, enquanto as garotas passam parafina nas pranchas. O clima era agradável e cheirava a mar, maconha e cerveja, a combinação perfeita para um dia incrível.
Sarah se sentia um pouco esquisita por estar fazendo coisas de Kooks após tanto tempo com os Pogues mas não no mal sentido, era bom estar aqui e se sentir normal, como ela costumava se sentir antes de por os olhos em John B. Claire, apesar de não ter convivido tanto com o grupo, já estava bem mais desenvolta e conversava com todos como se os conhecessem há anos. É verdade que ela não gostava de praias ou de areia mas gostava de garotos sarados e molhados, então se sentia perfeitamente bem encerando uma das pranchas.
Quando tudo está finalizado as garotas se sentam em uma toalha, se esticando para pegar um pouco de sol. Elas não conseguem deixar de perceber os olhares das outras garotas e os cochichos descarados que elas davam. Sarah percebe que Nicholas está se aproximando quando todas param de falar e se viram para a mesma direção e lá estava ele, o único capaz de gerar esse tipo de comoção. Lindo como o inferno com sua bermuda preta e aqueles olhos que faziam qualquer garota ficar sem palavras.
Sarah precisa desviar o olhar para voltar a pensar normalmente.
— Toma — Nicholas diz, estendendo garrafas de cerveja em direção as duas.
Sarah sorri pra ele.
— Valeu.
— Elas estão bem em cima né? — Claire comenta, se referindo as garotas que agora, com a aproximação de Nicholas, encaravam ainda mais.
— Estão com inveja de vocês — Nicholas diz, como se fosse óbvio. — Você viveu uma puta aventura e você... Eu nem preciso falar nada, você mora em Paris!
Isso arranca risadas das duas.
— Ei Nick — Kelce grita, já com os pés na água. — Vamos?
— Eu volto daqui um tempo — Nicholas anuncia, correndo em direção a água.
No momento em que ele se afasta Sarah toma coragem para fazer a pergunta que estava em sua cabeça há dias.
— O que está fazendo aqui, afinal?
Armando para Sarah, os Pogues e Ward acabarem sem a cruz, derretendo ouro roubado com Rafe e seu traficante, ajudando ele a fechar a empresa do Ward e vender todos os bens dos Cameron já que Rose não confiava em Rafe para fazer tudo sozinho. Mas é claro que ela não poderia falar nada disso.
— Minha mãe mandou ficar de olho no Rafe — explica. Era uma meia verdade pelo menos.
Sarah sorri.
— Está de babá?
— É mais ou menos isso. Mas devemos voltar para Guadalupe em algumas semanas.
Claire percebe que isso deixa Sarah um pouco triste.
— Ah.
— Está com problemas?
— Por que essa pergunta?
— Não parece feliz — Claire é sincera.
A garota ao seu lado sorri fraco e encara o mar a sua frente, se punindo por deixar assim tão óbvio o quanto as coisas para ela estavam uma merda. Apesar de amar John B, Sarah não sabia mais se podia confiar nele. Ela sentia falta de ter uma família, sentia falta de Wheezie e sentia falta dos luxos de ser uma Kook. Ela queria ir pra escola, pra faculdade... Tantas coisas que pareciam irreais agora. Mas principalmente sentia falta de ter amigos que tomassem o seu lado e não apenas o de seu namorado.
Ela sabia que John B havia vindo primeiro e que se qualquer coisa acontecesse, era ela quem deveria se retirar. Esse pensamento a assombrava.
— Eu... A minha vida — murmura, procurando as palavras certas para se expressar. — Eu não tenho casa, não tenho família e meu namorado sumiu há dias então é, eu não estou muito feliz.
Claire pega na mão dela.
— Você tem a gente.
Sarah sorri fraco, apertando os dedos de sua irmã postiça contra os seus.
— O Nicholas me odeia — se lamenta, sentindo seus olhos marejarem.
— Você sabe que ele não odeia — Claire insiste. — Sabe que não.
— Ei, Frenchie! — Kelce grita. — Sua vez.
— Torça por mim.
— Vai que é sua!
O dia passa perfeitamente bem. Claire consegue aprender algumas manobras na prancha, graças a ajuda de Nick, Kelce e um garoto chamado Steve. Já Sarah se divertia bastante com todos seus antigos amigos, contado histórias da escola e revivendo várias piadas internas. O clima de flerte também estava alto já que as garotas quase se estapeavam por um tempo com Nicholas.
Ele não estava no clima pra isso, pelo menos não com Sarah ali. O garoto ficava completamente esquisito quando ela estava por perto.
Já era noite há algumas horas e enquanto todos dançavam animadamente em volta da fogueira, Nicholas vê uma brecha para se afastar e pensar um pouco, toda aquela música e risadas estavam lhe dando dor de cabeça. Ou talvez esteja com algum tipo de insolação depois do dia inteiro no mar.
Nicholas usa seu isqueiro para acender um baseado, puxando a fumaça para seu peito. Ele estende sua toalha e se senta atrás de algumas rochas, bem de frente pro mar, esvaziando a mente e deixando que o barulho das ondas o acalmasse. Sarah, que havia visto o garoto se afastando, vai atrás dele. Ela não sabe exatamente o porquê faz isso mas sabe que não podia evitar.
— Ei — murmura, se sentando ao lado do garoto.
Nicholas fica tenso com a proximidade e tenso pelo o que poderia vir pela frente. De qual maneira Sarah Cameron pretendia arrancar seu coração dessa vez?
— Oi — responde, depois de alguns segundos, apagando seu cigarro na areia.
Os dois permanecem lado a lado, olhando as ondas quebrarem na praia enquanto ao fundo toda a falação e música de seus amigos mais pareciam um ruído. Nicholas não se atreve a abrir a boca, temendo ser mais rude do que já foi aquele dia. Ele havia se arrependido mas não o suficiente para se desculpar, para ele pedir desculpas a Sarah depois de tudo o que aconteceu era humilhação demais.
Sarah não sabia o que dizer mas sabia que queria conversar com ele, consertar as coisas pelo menos minimamente. Mesmo que de uma maneira provisória, mesmo que da maneira errada. Ela não se importaria de ser humilhada se isso o fizesse falar com ela.
— É bom estar aqui, sabe... Com todo mundo.
Nicholas assente, sabendo que está sendo observado por ela.
— É. É bom ter você aqui.
— Não precisa dizer isso só por educação — Sarah resmunga, fazendo Nicholas rir.
Ele se vira para ela, olhando dentro de deus olhos castanhos iluminados pela lua.
— Eu não sou educado, Sarah — ele a lembra, fazendo com que os dois gargalhem.
O silêncio volta a ser presente e Nicholas começa a sentir aquela vontade incontrolável de sair correndo, quem sabe fugir daquele lugar. Era quase como se a aura dela o queimasse vivo.
— Você acha que... — Sarah faz uma longa pausa, pensando se deveria mesmo dizer o que pensa. Ela decide que sim. — As coisas teriam sido diferentes se eu não tivesse namorado o Topper?
A pergunta surpreende o garoto, que se vira para ela com um vinco profundo entre suas sobrancelhas.
— Que tipo de pergunta é essa?
— É que... Nós nos beijamos, você lembra disso né?
E como ele poderia esquecer? Se algo fosse possível para que isso acontecesse ele com certeza tentaria.
— É claro que eu lembro Sarah, só não entendi o porque...
— Eu estava... Completamente apaixonada por você — ela o interrompe, em um súbito lapso de coragem. — Completamente. E eu posso admitir isso agora mas naquela época... Eu não podia. Nós sempre fomos amigos e você sempre esteve cercado por todas aquelas garotas e nunca importou o quanto elas fossem bonitas ou inteligentes ou divertidas. Você nunca deu a mínima pra nenhuma delas e eu... Eu não queria ser só mais uma pra você.
A única coisa que o Thornton conseguia pensar é que quem governa o Universo tinha uma maneira muito esquisita de brincar com as pessoas. Nicholas faria qualquer coisa por Sarah, qualquer coisa, e isso desde que eram crianças e agora... Ele descobre que ela já o amou?
— E então você ficou com meu irmão? — questiona, não entendendo aonde essa parte se encaixa na justificativa.
— Ele faria qualquer coisa por mim. Eu só achei que talvez, só talvez, eu pudesse sentir o mesmo por ele.
— E você pôde?
— Acho que não — admite, erguendo os ombros. — Eu sinto muito pelo o que eu fiz, Nicholas. Eu fui tão infantil e... Eu só não tive coragem. Eu me arrependo do que fiz, eu só quero que você seja feliz.
Nicholas assente, voltando a olhar para o mar. Ele não sabia exatamente como se sentia a respeito disso mas sabia que a partir de agora as coisas seriam ainda piores. Saber que ele tinha a oportunidade, que os dois tinham, e ninguém fez nada a respeito... Que a única vez que ele teve atitude para demonstrar a ela o que realmente sentia acabou com a Sarah namorando seu irmão...
Como ele poderia viver com isso? Viver vendo ela e John B felizes quando ele a amava tanto e a porra do destino havia estragado sua oportunidade?
As perguntas desapareceram quando o garoto sentiu os dedos de Sarah contra os seus e no momento em que ele se virou em sua direção, a garota se inclinou e selou seus lábios nos dele. É claro que ele pensou em empurra-la mas Nicholas queria aquilo acima de qualquer coisa, se fosse pra viver de migalhas ele estava feliz por serem migalhas de Sarah Cameron.
A língua da garota escorrega para dentro de sua boca e tinha gosto de cerveja gelada e chiclete de menta. Suas mãos automaticamente vão para o rosto dela, impedindo que ela se afastasse e temendo que tudo acabasse rápido demais. Nicholas queria se lembrar disso. Em um movimento rápido Sarah senta no colo do garoto, colocando suas mãos por dentro de sua blusa e sentindo sua pele quente contra seus dedos. O beijo ganha profundidade, calor e desejo, fazendo com que ambos fiquem sem ar apesar de se recusarem a se soltar.
Nicholas conseguia se lembrar dá última vez que havia se sentido assim: nove meses atrás com essa mesma garota. E Sarah... Ela não conseguia se lembrar da última vez que havia se sentido tão viva quanto agora.
Certo, Claire já havia testado todas as posições possíveis na maldita barraca mas nenhuma delas chegava perto de ser confortável. Ela se sentia suada e grudenta por conta do dia todo no mar e no sol, além de ter certeza que a barraca estava tomada por areia mesmo tendo tentado limpa-la umas mil vezes. E é claro, não podia se esquecer que Nicholas havia sumido e provavelmente há essa altura está trepando com alguém no meio do mato. Perfeito.
Para ela já era o suficiente, era hora de voltar pra casa.
A garota enfia suas coisas dentro da bolsa e sai da barraca, tentando encontrar a única pessoa que poderia ajuda-la: Kelce. Ele estava um pouco afastado da fogueira, conversando com alguns amigos. Claire faz sinal com a mão para que ele se aproxime, o que ele faz com bom grado.
— Ei Kelce, se importa se eu for pra casa com seu barco? — pergunta, abrindo um grande sorriso que sempre a ajudava a conseguir o que queria.
Kelce abaixa seus óculos de sol até a ponta do nariz, erguendo uma de suas sobrancelhas dramaticamente.
— Espera, quer ir embora agora? — questiona. — Sozinha?
— Eu não vou conseguir dormir na areia.
Isso arranca uma risada dele, que a olha de cima a baixo. Ele já suspeitava que a garota não duraria muito, da vida de luxo em Paris para acampar na praia em Outer Banks... É uma queda e tanto, ele podia admitir. O estilo de vida de Claire fazia com que os Kooks parecessem Pogues.
— É claro que não, Frenchie — provoca, mas tira a chave do bolso, estendendo em direção da garota. — Pode levar, eu volto com o Dave.
Claire praticamente salta em cima dele, o abraçando com força e estalando um beijo bem em sua bochecha.
— Obrigada, você é um anjo! — diz, ainda com os braços em volta do pescoço de Kelce.
— Fica me devendo uma — ele grita, conforme ela se afasta saltitante em direção aos barcos.
Claire agradece por suas últimas férias em Riccione, onde havia aprendido a conduzir um barco, senão com certeza teria sido forçada a passar a noite em claro até que Nicholas aparecesse. Ela usa o GPS para se guiar e amarra a lancha na entrada de barco dos Camerons, avisando a Kelce por mensagem onde seu barco estaria.
Era aproximadamente duas da manhã quando a garota entra pela porta da cozinha, seguindo em direção a sala. A casa estava silenciosa a não ser por alguns passos que se aproximavam. Claire jurou ser Rafe mas se surpreendeu ao ver uma figura feminina, da sua altura e de cabelos curtos e escuros. Ela vestia uma camisola vermelha e tinha um copo de água em sua mão, parecendo bem a vontade em andar assim pela casa dos outros.
— Quem é você? — a garota pergunta, um pouco surpresa.
A expressão na cara de Claire é de completa incredulidade. Ela não podia acreditar que tinha uma desconhecida em sua casa querendo fazer questionamentos.
— Quem é você, né? — rebate, cruzando os braços. — Eu moro aqui, garota.
Uma luz se acende no rosto da desconhecida.
— Ah, você deve ser a irmã. Sarah?
— Claire!
— Claire? — a garota questiona. Não foi esse nome que Rafe havia lhe falado.
Claire dá de ombros, cansada de tentar arrancar alguma resposta dessa coitada. Ela vai até as escadas.
— Rafe! — grita. — Tem uma maluca aqui na cozinha!
Ela sorri para a desconhecida conforme ouve os passos apressados de Rafe ecoarem pela sala. O garoto aparece no topo da escada, apenas de samba canção. A mente um pouco bêbada de Claire tem a certeza de que nada no mundo é mais atraente do que essa visão... Na verdade a visão que a desconhecida na sua frente teve com certeza era melhor e esse pensamento a enche de raiva.
— Você não disse que ia dormir fora? — é a primeira coisa que Rafe diz.
— Eu mudei de ideia. Já vi que aproveitou pra fazer nossa casa de bordel.
— A casa é minha.
— Ela não é sua irmã? — a desconhecida pergunta, chamando a atenção dos dois.
— Sim — Claire diz de prontidão.
— Não — Rafe resmunga.
A expressão no rosto da garota fica ainda mais confusa. Rafe desce as escadas, se aproximando das duas.
— Ela não é a Sarah, certo?
— É a Claire — ele diz, passando a mão na cintura da garota que ainda é desconhecida.
Parece que ninguém tinha a capacidade de falar a porra do nome dela.
— Eu não estou entendendo nada.
Quem não está entendendo nada é Claire, que mantinha um vinco profundo e intocado no meio de suas sobrancelhas. Ela estava de bom humor mas parece que tudo já tinha passado no momento em que viu essa garota, de pijama, andando pela casa como se ela fosse a dona.
— Pra mim já chega, eu vou dormir — anuncia, dando de ombros.
— Boa noite — a garota diz.
— Boa noite — Claire repete, em um murmuro, debochando do tom de voz da garota.
Esse ficou bem grande rsrs
Espero que tenham gostado!
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