05, sentimentos antigos
TINHA SIDO FÁCIL ENTRAR na mente de Sarah com a história do trem e a cruz. Bastou um simples comentário de Claire — como quem não queria nada — em uma troca de mensagens que o recado havia ficado claro. Agora, Sarah e os Pogues sabiam onde e quando encontrar a cruz.
Era sábado, o que significava futebol e o dia inteiro no bar com os Thornton e alguns de seus amigos. Topper usa a camionete para leva-los até o Malone's, um bar famoso no píer do Figure 8. Nick, Claire e Top cantarolam The Weeknd durante todo o percurso e a primeira coisa que fazem quando se sentam na mesa é pedir um pouco de cerveja.
Os assuntos variam sobre fofoca dos amigos que estavam pra chegar, garotas do Nicholas e Elena Reedy, a nova namorada de Topper. Claire também deixa claro seu desgosto por não beijar ninguém há meses graças a seu emprego — ou trabalho escravo — com seu pai. A alegria de Topper se esvai quase totalmente no momento em que vê Sarah em uma das mesas.
— Olha só quem está ali — ele comenta, não parecendo estar minimamente animado.
Nicholas e Claire se viram ao mesmo tempo, vendo Sarah e um grupo de colegas sentados na mesa do píer. O garoto imediatamente faz careta.
— Sarah e os amiguinhos Pogues dela — resmunga, voltando a olhar pra frente.
Já a garota continua os encarando com curiosidade, se perguntando qual desses era o John B.
— Quem é o marido?
— Não está ali — Topper responde, dando um gole na sua cerveja.
Os olhos de Claire e Sarah se encontram e imediatamente a loira se levanta, fazendo com que Claire se vire para frente.
— Acho que ela está vindo pra cá — anuncia, ouvindo um barulho agonizante saindo da boca de Nicholas.
Topper revira os olhos.
— Isso sim é novidade.
— Oi gente — Sarah cumprimenta, parando em frente a mesa.
— Sarah, como vai? — Topper pergunta, não estando realmente interessado mas detestando ser mal educado.
— Oi Sarah — Claire diz, com um sorriso.
Nicholas permanece em silêncio desejando que a garota fosse embora o mais rápido possível. Claire conseguia perceber o desconforto, então rapidamente baixa o olhar, não querendo dar espaço para uma conversa longa em respeito aos sentimentos de seu amigo.
— Eu estou bem — responde Sarah. Ela também não queria se prolongar com eles, sentindo no ar o clima tenso. — Eu queria falar com você, Topper.
O garoto, que estava dando mais um gole em sua cerveja se engasga um pouco, gerando divertimento em Claire. Já Nick só conseguia sentir pena, era óbvio que apesar de tentar disfarçar, Sarah ainda mexia profundamente com seu irmão.
— Claro — ele concorda, ficando de pé. — Eu... Eu já volto.
Nicholas e Claire observam os dois se afastarem, indo em direção a ponta do píer.
— O que será que ela quer? — a garota se questiona, curiosa com o rumo da conversa deles. Será que tinha algo a ver com a cruz?
O garoto toma toda sua cerveja de uma só vez, fazendo careta por ter congelado sua cabeça.
— Infernizar a cabeça dele, provavelmente — diz, não conseguindo esconder seu despeito.
— Você está muito amargurado.
— Qual outro motivo ela teria? Sarah só procura um de nós quando tem problemas com os amigos ou com o namorado. É isso que ela faz. É fácil pra ela voltar já que estamos sempre aqui.
Claire observa novamente os dois conversando, pensando que essa garota não parecia com a Sarah que ela havia conhecido.
— O que aconteceu com ela?
Nicholas só consegue pensar na sequência de escolhas erradas que Sarah havia tomado, escolhas essas que lhe custaram tudo que ela tinha. Apesar disso, o egoísmo sempre esteve presente na personalidade da garota, então não parecia ser exatamente uma novidade. Pelo menos não pra ele.
— Nada. Ela sempre foi assim.
Isso não convence Claire.
— Pra mim parece... Diferente. Ela não sabe quem ela é.
O garoto resmunga, arrastando a cadeira e se colocando de pé.
— Que pena pra ela.
— Aonde vai? — Claire pergunta, não entendendo porque ele havia levantado.
Nicholas tira um cigarro do bolso.
— Preciso fumar um pouco.
— E vai me deixar aqui sozinha?
— Você pode vir comigo.
— Vão achar que estamos fugindo sem pagar a conta!
— Então te vejo daqui a pouco.
Nicholas dá de ombros, deixando Claire com uma expressão perplexa no rosto. Não era do feitio do garoto ser rude mas Sarah Cameron gerava esse efeito nele, a maneira como ela se sentia a vontade para atropelar qualquer um como uma montanha russa descontrolada o irritava. Ela vinha com seus olhos grandes, aquele sorriso e a boca... Porra, a boca dela o deixava maluco. Tudo que ele pensava era em beija-la e implorar para que ela o amasse de volta.
Era patético.
O garoto segue para a ponta do píer, contrária aquela onde seu irmão e a ex namorada conversavam. Ele bota o cigarro entre os lábios e o acende com um isqueiro, puxando a fumaça para o pulmão. Nicholas fumava há mais de nove meses, desde o dia em que Sarah e Topper iniciaram seu relacionamento. Mais uma das coisas patéticas que a garota o havia feito fazer.
Depois de alguns minutos, seu cigarro está quase no final e seus nervos estão bem mais tranquilos.
— Nicholas... — Sarah o chama, encarando suas costas.
Após conversar com Topper, a garota sentiu necessidade de ir ao encontro do segundo Thornton. Ela não sabia exatamente o que dizer, ou fazer, mas sabia que queria falar com ele.
Nicholas se vira exibindo um vinco entre suas sobrancelhas.
— Agora fala comigo? — ironiza, jogando o cigarro no chão e pisando em cima dele.
A maneira como ele reage deixa a garota sem palavras.
— Eu... Me desculpa, tá legal?
Ele revira os olhos, exibindo um sorriso sarcástico em seus lábios.
— Pelo o quê exatamente? São tantas coisas...
— Ah, não faz assim.
— Não faz assim você Sarah — rebate, deixando seu rancor tomar conta de si. — Eu não sou um cachorrinho manipulável igual o Topper, não mesmo! E eu nem posso julga-lo porque...
A frase morre em sua boca. Nicholas não podia julgar o irmão pois sabia que ele a amava, e isso era compreensível, afinal, o garoto a amava também. A frustração invade seu peito.
— Eu só... — Sarah começa, dando um passo a frente. — O Topper causou tantos problemas para os meus amigos, o JJ foi preso e ele ajudou o Rafe a espancar o Pope e... Ele quase matou o John B!
— E aquele marginal com quem anda apontou uma arma pra testa do Top. E daí? — ele questiona, aumentando o tom de voz. — Nós sempre fomos seus amigos, Sarah, desde crianças e então você se apaixona e tudo isso muda? Essa é sua desculpa?
Apesar de seus sentimentos pela garota, Nicholas havia a perdoado quando ela apareceu com seu irmão. Ele podia conviver com isso, porque Topper a merecia bem mais do que ele, mas vê-la despreza-los, desprezar seus amigos e toda sua vida por conta de um garoto... Isso o deixou irado.
— Eu só... Eu tentei fazer o que era certo.
— Espero que tenha aproveitado então — o garoto ironiza, passando por ela.
Sarah não pensa nem por um segundo antes de agarrar a mão no garoto. Ele se vira e olha pra ela, pensando que talvez nunca na vida encontre algo mais bonito que ela, e então puxa sua mão contra o corpo com mais violência do que deveria.
— Eu sinto sua falta — Sarah diz, com medo de que ele se afastasse. — Falta do meu amigo...
— Eu não sou mais seu amigo — Nicholas reitera, se afastando dela.
— Tá — a garota murmura, indo na direção contrária. — Tudo bem.
Todo o clima que Nicholas tinha para assistir o jogo e ficar bêbado acaba subitamente. Ele percebe quando Claire o vê e com apenas um olhar ela entende que algo havia acontecido. O garoto espera enquanto ela vem até ele.
— O que aconteceu? — Claire pergunta, antes mesmo de finalizar o caminho.
— Nada. Eu estou indo pra casa.
A garota franze as sobrancelhas.
— Ah sério? Os drinks acabaram de chegar, eu e o Top...
— É sério Claire, pra mim já deu — insiste.
Claire entende que esse não era o momento para seu positivismo tóxico. Ela dá um passo a frente, olhando com preocupação para seu amigo.
— Quer falar sobre isso?
— Não eu... Vou ver se a Marina está em casa, estou precisando relaxar um pouco.
E com relaxar ele quer dizer transar.
— Me liga qualquer coisa, tá bem? — Claire pede, o abraçando pela cintura.
Nicholas afaga suas costas e beija o topo de sua cabeça, se sentindo bem melhor por Claire estar aqui num momento como esse. Pra ele, já fazia uma puta diferença.
— Te vejo amanhã — ele diz, se afastando.
Ela faz o sinal do rock'n roll com a mão.
— Arrebentando em Mase!
A garota segue seu caminho de volta a sua mesa, que agora estava tomada por três garotos amigos de Topper, que haviam acabado de chegar, entre eles Kelce. Ela os cumprimenta e se senta ao lado do Thornton.
— O que a Sarah queria? — pergunta. O bom de ser curiosa é que ninguém se surpreende quando você é intrometida.
Topper ergue os ombros.
— Ah, nada demais só... Uma ajuda hoje a noite.
— Pra quê? Não vai me dizer que vai se meter com os Pogues agora... — ela provoca, arrancando uma risada do amigo.
— É só uma ajuda, Claire. Nada demais.
A garota não acredita nisso, sentindo o nervosismo exalar por cada poro dele. O que quer que seja essa ajuda, com certeza deve ser algo grande.
— Elena não vai gostar nada disso.
— É por isso que esse vai ser o nosso segredo.
Claire finge pensar a respeito.
— Só se me pagar algumas doses.
— Pra uma riquinha você é bem pidona.
— É por isso que sou rica: eu economizo.
Topper ri, estendendo a mão para ela.
— Fechado.
Claire se levanta e vai até uma das cabines do banheiro feminino, abrindo sua conversa com Rafe e digitando uma mensagem.
Eles morderam a isca :)
O jogo acaba já a noite e Kelce decide deixar Claire em casa já que Topper havia saído mais cedo para ir ao encontro de Sarah. Claire estava bêbada demais para que Kelce a deixasse sozinha e desacompanhada por aí, ela havia bebido tantas doses que era realmente uma surpresa que ainda estivesse de pé. A garota se sentia bem apesar da bebedeira e se divertia cantarolando Justin Bieber enquanto praticamente pulava no banco do carona.
Quando o percurso acaba os dois se despedem com um abraço e Claire entra na casa dos Cameron, seguindo o barulho de conversa até o jardim. Ela aparece do lado de fora, chamando a atenção de Rafe e Barry que levantam os olhos até ela. Ambos estavam sentados na mesa externa, encarando o nada e com uma cerveja na mão. Ninguém diz uma só palavra.
Claire cambaleia até a cadeira vaga, sorrindo para Barry enquanto cruza as pernas. Já Rafe, que exalava preocupação, se levanta e começa a andar de um lado pro outro enquanto sussurra palavras inaudíveis. Para ele era absurdo que todos estejam assim tão calmos quando a situação era séria, principalmente Claire, que exalava cheiro de chão de bar.
Barry e Claire trocam caretas e risadas um com o outro, debochando da tensão de Rafe.
— Cara, dá pra parar de andar de um lado pro outro? — Barry pede, apoiando seus cotovelos em suas pernas. — Vai abrir um buraco no chão.
— Não fode, Barry.
— Eu concordo com ele, está meio tenso demais.
É claro que ela concordaria. Afinal, qualquer oportunidade de irritar Rafe era uma oportunidade a se agarrar. A vontade do garoto no momento era amarrar os dois e costurar suas bocas, tê-los aqui não estava o ajudando a relaxar.
— Vai ver é porque não passei a tarde inteira me embebedando — provoca, dando um sorriso sem humor para sua irmã postiça.
É claro que ela dá risada.
— Quem está bêbada? Eu?
E é claro que Barry a acompanha. Talvez toda a maconha tenha fritado de vez os seus neurônios.
— Não dá corda pra maluca, cara — Rafe pede a Barry, que no momento ainda se contorcia de rir.
Karma. Karma. Karma.
Como se já não estivesse bêbada o suficiente, Claire pega a garrafa de whisky em cima da mesa e a abre. Ela estava afim de se divertir hoje, custe o que custar, mas todo esse clima tenso estava cortando seu barato.
— Eu nunca fiquei com medinho de decepcionar o papai — diz, olhando para Rafe e então estende a garrafa em sua direção. — Toma, você bebe.
Ela e Barry não se aguentam e caem na risada enquanto Rafe os encara. Seus punhos já estavam fechados, a sorte dela é que ele jamais a machucaria mas não podia falar o mesmo sobre Barry.
— Eu vou estourar essa garrafa na sua cabeça — ele a ameaça, apontando seu indicador em sua direção.
Claire sorri com o canto da boca, balançando a garrafa em sua mão.
— Tenta.
O garoto revira os olhos e toma a garrafa das mãos de Claire, dando um bom gole no whisky. De alguma maneira o gosto amargo cai bem.
— Eu nunca andei seminu pela casa só para chamar atenção — ele rebate, estendendo a garrafa de volta para a garota.
— E você com esses seus comportamentos bizarros quer o que exatamente? — questiona. — Ser discreto?
Os dois se encaram enquanto a garrafa volta a mão da garota e em seguida aos seus lábios. Havia muitos sentimentos por baixo daquele ódio que parecia exalar de ambos os olhares.
— Eu aceito também — Barry pede, erguendo a mão.
Claire sorri para Rafe e então se vira ao Barry.
— Certo. Eu nunca quis ficar com... — ela finge pensar por um tempo. — Comigo.
É claro que Barry pega a garrafa e toma um bom gole imediatamente. Claire cai na risada junto com ele enquanto Rafe resmunga um monte de xingamentos inaudíveis, se afastando dos dois. Toda essa palhaçada de flerte entre eles estava passando dos limites.
— Da pra parar com isso e tentar o Topper de novo? — pede, aumentando o tom de voz.
A garota revira os olhos mas faz o que ele pediu.
— Está tão chato hoje.
Ei Top. Tudo certo pra Mase amanhã?
Nem ferrando. Já fiz o suficiente por hoje.
O que aconteceu?
Além de fugir da polícia nada, depois explico melhor.
— Acho que deu tudo certo — a garota diz, estendendo seu celular em direção a Rafe. Ele lê as mensagens atentamente.
— Então... Como vamos fazer isso?
Barry se põe em pé imediatamente.
— Olha, eu não vou tacar fogo numa cruz, ok? — diz, erguendo as mãos pra cima. — Eu não quero ir pro inferno.
— Tenho certeza que você já vai pra lá de qualquer maneira — Rafe rebate.
— Eu posso fazer — Claire sugere, erguendo a mão para cima. Com tanto álcool em sua cabeça, aquilo mais seria uma brincadeira para ela e ela não se importava de ir pro inferno contanto que fosse divertido.
— Nem vem — Rafe a censura, cortando suas asinhas.
Ela cruza os braços.
— Devia parar de ser tão controlador, Cameron.
— Por que não vai tomar um banho e se livra desse cheiro de bebida enquanto cuidamos disso aqui?
— Preciso de ajuda para subir as escadas — justifica, sorrindo de canto.
— Eu posso... — Barry começa mas Rafe o cala com apenas um gesto.
— Cala a boca Barry! Ela só está fazendo gracinha.
— Sua vida não teria graça sem as minhas gracinhas — pontua, dando de ombros. Rafe observa seu short justo perfeitamente ajustado em sua bunda e tem a certeza absoluta de que realmente não sobreviveria sem isso. Como seriam as coisas quando ela voltasse para Paris, afinal?
— Boa noite gata — Barry grita.
— Boa noite Barry — ela grita de volta. — Boa noite Rafe.
Boa noite gente! Obrigada pelos comentários e votos, isso sempre me anima. Me digam aqui o que estão achando e o que esperam do futuro.
Até mais!
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