03, péssimo mentiroso
A MANHÃ NA CASA DOS Cameron foi um tanto quanto... Fervorosa. Claire e Rafe se concentraram em fazer o inventário de todos os bens da família, além de algumas contas básicas que envolviam a empresa como o acerto de funcionários, que seriam demitidos sem mais nem menos gerando um pouco de prejuízo. Rafe não estava satisfeito com o rumo que os números estavam tomando e Claire conseguia perceber isso pois a cada momento sua expressão ficava mais e mais carrancuda.
Ele também não confiava nas contas que a garota fazia e acabava refazendo tudo, atrasando ainda mais o processo e deixando o clima ainda mais tenso. Claire não entendia qual era o problema dele com ela, não é possível que ele a achava assim tão burra ao ponto de não saber matemática básica. Esse pensamento a irritava e ela preferiu se manter calada para não arrumar ainda mais confusão.
Na hora do almoço, ambos pareciam exaustos de tantos pensar. A parte boa é que os empregados já haviam chegado e dessa vez eles poderiam comer comida de verdade. Ambos almoçaram mexendo em seus celulares, cada um em uma ponta da mesa.
Rafe estava achando todo o silêncio um tanto estranho e isso estava o incomodando bastante. Claire era falante, ela falava até demais na verdade e passar tanto tempo sem proferir uma só palavra não devia significar boa coisa. Ele sabia que talvez ela tivesse ficado magoada com a maneira que ele havia a tratado na noite de ontem mas isso não era culpa dele, foi inevitável. Aquela criatura apareceu falando sobre aqueles assuntos e se entitulando da família... Ela não era da família. Pois ele sabia que seus sentimentos seriam um tanto doentios se ela fosse.
Pouco tempo depois do almoço Barry aparece para conversar com Rafe, trazendo consigo um pouco de cocaína. Era um vício que Rafe pretendia largar mas em momentos tensos assim ficava um pouco difícil. Os dois mal se sentam na varanda quando Claire aparece, dessa vez com um biquíni minúsculo e cor de rosa.
Rafe percebe a expressão deslumbrada no rosto de Barry, o que o irrita profundamente. É o suficiente para que a guerra fria entre os dois acabe.
— Claire, o que eu disse sobre ficar andando pela casa assim? — Rafe pergunta, aumentando o tom de voz e chamando a atenção da garota.
Isso sempre a divertia, desde quando eram crianças seu passatempo favorito era tirar toda a paciência do garoto, o que ela admitia nem sempre terminar bem. Claire ergue as sobrancelhas e cruza os braços, em uma posição defensiva.
— Qual o problema, Rafe? Não vê muitas corpos femininos? — provoca.
Obviamente a expressão de Rafe não é boa mas a do colega ao seu lado é divertida o suficiente para que deixe escapar uma risada, fazendo com que os dois se virem em sua direção. Barry engole em seco, erguendo a mão para a garota.
— Eu sou o Barry, a propósito.
— Eu sou a Claire, é um prazer — Claire sorri, tocando sua mão.
Barry corre os olhos por seu corpo exposto, da cabeça aos pés.
— O prazer é todo meu.
Isso só faz com que o sorriso no rosto da garota fique ainda maior. Na sua opinião Barry era realmente gato, apesar de ter aquela cara de que atraia problemas. Seria bom sair com alguém e fazer alguma maluquice para variar um pouco já que logo logo sua pele não aguentaria maior exposição ao sol.
— Então, o que estão fazendo?
— A gente está...
Barry é interrompido por Rafe.
— Nada que seja da sua conta.
O sorriso no rosto de Claire desaparece enquanto ela encara seu suposto irmão com desdém.
— Você é tão grosso.
— Sai daqui, precisamos conversar em particular.
— E tem que ser aqui? — questiona. Se não podia ficar na piscina o que mais ela poderia fazer? Compras? Será que havia um shopping por aqui?
— É — Rafe assente, sem nem olhar para ela. — Tem.
Ela olha para Barry que parecia bastante entretido com seus peitos. Ela sorri pra ele, dando de ombros.
— Tchau Barry — diz, piorando a expressão no rosto de Rafe.
— Tchau gata.
Os dois observam enquanto Claire some pela porta, ambos um pouco hipnotizados demais pelos movimentos de seus quadris. Quando voltam a pensar normalmente, Barry percebe a expressão de ódio no rosto de Rafe. Para ele era fácil perceber isso, afinal, esse era um humor recorrente no garoto.
— O que foi? — Barry questiona.
— Gata?
O traficante ri, entendendo melhor todo o descontentamento dele.
— De onde essa garota saiu afinal? — pergunta, curioso pelo motivo dos dois estarem dividindo o mesmo teto.
Rafe passa a mão pela cabeça, relaxando no encosto do sofá.
— É filha da Rose.
— Então quer dizer que tem outra irmã?
— Ela não é minha irmã — responde de prontidão, tensonando sua mandíbula.
Barry ergue as mãos em rendição.
— Tá bom cara, relaxa aí — pede, dando um gole na cerveja. — Você está muito tenso pro meu gosto.
Rafe revira os olhos, também bebendo um pouco de cerveja.
— Dá um tempo, não é fácil conviver com essa criatura.
— Cara, uma gata dessas andando de biquíni na minha casa... — Barry imagina, com um sorriso no rosto. — Eu viveria assim fácil.
Rafe não havia gostado do sorriso idiota na cara de seu colega e gostou menos ainda de ter se importado com isso.
— Dá pra ter respeito?
— Tá, tá legal.
Claire passa o resto da tarde enfiada em seu quarto, mexendo no celular ou assistindo alguma coisa na televisão. Era entediante. Nicholas estava no futebol, Topper não respondia suas mensagens, a área da piscina estava proibida e não havia nada de divertido para se fazer na ilha caso não tivesse amigos disponíveis. Ela conhecia alguns dos Kooks mas não o suficiente para sair com eles sem um dos Thornton.
A garota decide mudar de ares e calça seus chinelos quando se levanta da cama. Ela podia se sentar no jardim e ler um livro, ou talvez apenas ficar olhando pro nada. Tanto faz. Sua única certeza é que surtaria se passasse mais um segundo naquele quarto.
Entretanto, enquanto passava pelo corredor, uma voz pouco conhecida chama a atenção de Claire, que diminui a velocidade de seus passos. Parecia ser Ward Cameron... O que não fazia sentido nenhum, afinal, ele estava morto, não estava? De repente a morte dele se torna bastante conveniente já que haviam duas acusações de assassinato na sua conta.
A garota dá um passo para dentro do quarto, tentando ouvir melhor o que eles diziam mas no exato momento em que faz isso Rafe se vira, a pegando no flagra enquanto tentava entrar de fininho. Seu coração ameaça explodir.
— Rafe...? — a frase morre em sua boca já que ela não tinha certeza sobre o que deveria dizer.
O garoto desliga o telefone imediatamente, a encarando numa mistura de surpresa e raiva.
— Claire o que você...?
— Era o seu pai? — ela pergunta, o interrompendo.
— Não — responde de imediato.
É claro que Claire não se convence.
— Eu reconheço a voz do seu pai.
— Era um vídeo que...
— Estava discutindo com um vídeo então? — questiona, cruzando os braços.
Rafe não se deixa intimidar por suas perguntas e vai em sua direção, a pegando pelo braço com um cuidado anormal para não machuca-la.
— Não é da sua conta — diz, a levando para o corredor. — Some daqui.
— Grosso! — ela exclama, fazendo careta pra ele.
— Você que é intrometida!
— A porta estava aberta! Se quer passar despercebido devia prestar atenção nos detalhes — provoca, sentindo seu rosto esquentar.
O garoto revira os olhos, indignado com sua petulância.
— Você é mesmo um karma.
— É por isso que minha mãe não quis me deixar ir pra Guadalupe né? — questiona, ainda sedenta por uma resposta. — O Ward está vivo.
— Tchau Claire.
E pela segunda vez Rafe bate a porta na cara da garota.
Ela desce as escadas em passos pesados, pensando em como arrancaria a verdade dele. Seus pensamentos mudam de rumo quando veem uma garota loira saindo pela porta lateral, aquela que dá no jardim. Era Sarah Cameron, a ex princesa Kook que havia desaparecido por semanas e tentava passar despercebida. Claire se apressa em ir atrás de Sarah, só conseguindo alcança-la no jardim.
— Ei — a garota diz, chamando a atenção da loira.
Sarah a encara com olhos arregalados e acena com a cabeça para que Claire a acompanhe até o lado de fora da propriedade. Assim que ambas chegam na calçada a mais nova se vira para um abraço, envolvendo-a em um aperto acalorado.
— Que bom que está bem — Claire diz, se sentindo um tanto aliviada.
— É bom te ver, frenchie — Sarah diz, com um sorriso nos lábios.
A relação das duas era boa apesar de nunca terem sido realmente próximas. Elas conversavam bastante quando estavam juntas e eram cúmplices na hora de aprontar com Rafe ou com os Thornton. O sentimento quando se viam era sempre o mesmo, saudade, felicidade e vontade de aprontar em conjunto.
As duas se afastam.
— Por onde você andou, eu...
— Olha, eu não posso ficar aqui — Sarah a interrompe, dando alguns passos para trás. — Rafe não pode me ver.
Claire assente, indo atrás dela.
— Eu vou com você — diz mas a expressão de Sarah não é uma das melhores. — O que foi? Eu não vou dizer nada pra ele. Eu prometo.
Isso parece convence-la. Após todos os ocorridos com os membros da família, Sarah se sentia com um pouco de pé atrás com Claire, apesar de desconfiar que a garota não sabia de metade do que Ward ou Rafe haviam aprontado.
— Então... Me disseram que você está casada — Claire comenta, com um sorriso.
Sarah assente, dando um sorriso fraco enquanto ambas caminham lado a lado na rua. A maneira como ela sorriu deixou a desejar um pouco na opinião de Claire.
— Ah, é. Você vai gostar dele.
— Eu aposto que sim. Se ele te fez abrir mão de tudo...
— Não fiz por ele, eu fiz por mim — Sarah diz, a interrompendo. — Fiz o que achava certo.
— E não se arrepende?
— Na maioria do tempo não — admite, em um suspiro. — Quando não se tem onde morar fica um pouco mais dificil.
Ambas dão risada. Claire não conseguia deixar de achar a maior idiotice do mundo abandonar todo o conforto em sua vida, incluindo a própria família por causa de um garoto. Para ela, era bem óbvio a maneira que isso chegaria ao fim. Homens não são confiáveis e todos eles em algum momento acabam agindo da mesma forma, então não havia motivo para desistir de tudo por conta deles.
Nada disso estaria acontecendo se Sarah não fosse tão confusa.
— Já viu o Nick? — pergunta, chamando a atenção de Sarah.
— Não — murmura, soando um pouco nervosa. — Ainda não. Eu... As coisas entre nós ficaram um pouco complicadas desde que terminei com o Topper e...
— As coisas entre vocês sempre foram complicadas.
Sarah sorri, concordando com isso. Ela se lembrava da amizade profunda que tinha com Nicholas, de todas as garotas quase se matarem por um beijo dele e pelo medo de ser rejeitada. Foi isso que fez com que ela acabasse com o Topper, o medo insuperável de ser apenas mais uma na lista de Nick Thornton.
— Acho que tem razão — ela admite, com um sorriso fraco. A garota para de andar, se virando em direção a Claire. — Olha, eu tenho que ir. Foi bom te ver.
— Espera! — pede e então estende seu celular em direção a Sarah. — Me dá o seu número e se precisar de alguma coisa é só me dizer.
Sarah fica pensativa por alguns segundos mas assente, digitando o número de seu celular roubado nos contatos de Claire. Ela estende novamente o celular em direção a sua irmã postiça.
— Por favor, não fala nada pro Rafe — ela pede.
Claire assente, a envolvendo em outro abraço.
— Pode deixar, tem a minha palavra — garante e então se lembra da conversa que havia tido com Rafe mais cedo. — Eu sinto muito pelo seu pai.
Sarah dá um sorriso fraco enquanto se afasta.
— Obrigada.
Claire observa com atenção a garota se afastar em passos rápidos, achando esquisito a frieza vinda dela. Todos estavam agindo esquisito a respeito da morte de Ward e depois da ligação a garota tinha certeza de que estavam escondendo algo bem maior dela, com certeza algo maior do que o fato de Ward Cameron ainda estar vivo.
Oi gente. O que estão achando? Vou tentar soltar o próximo um pouco mais cedo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top