𓍢 '# 𝐎𝐎𝐎 | PRÓLOGO ‹ ⊹
O DEMÔNIO TEM MUITAS FACES
pov. AUDREY HOLLISTER

❝ Quando alguém
morre cheio de ódio,
nasce uma maldição. ❞

                   DESDE O FINAL DO ANO PASSADO QUANDO o nosso amado prefeito foi achatado que nem bosta no asfalto graças a um caminhão desgovernado e o seu irmão, o xerife local, foi condenado como o verdadeiro responsável por detrás de todas as mortes assustadoras da cidade vizinha. Os índices de pobreza aumentaram tanto que vi sunnyvales de renome se mudarem vergonhosamente para Shadyside. Ao que parece, a cidade nunca mais registrou nenhum tipo de assassinato desde noventa e quatro, a não ser suicídio. Estamos enfrentando dias difíceis, e pela primeira vez na história, vivemos numa situação igualitária, mas é claro que continuamos fingindo. Porque é isso o que nós sunnyvales fazemos de melhor, mentimos, o tempo todo.

──    Me dá um "D". Me dá um "E". Me dá um "V"...    ──    Darcy se esforça em recitar o canto de torcida ensaiado, ela não está disposta a errar uma estrofe sequer.

──   Advinha quem vai tá aqui hoje a noite?

──    Que susto, Kim!   ──   mordo os lábios.

Ela chega sorrateira, os dedos finos e repletos de veias saltando sob a pele. Um sorriso enigmático.

──    Isso mesmo... Sam Fraser. Tá preparada?   ──   Elisa nem espera a primeira dar a notícia, bebericando um suco de pêssego na caixinha, se pronunciando com o canudo entre os dentes.

──   Por quê? Eu deveria?

──    Bom, ela é ingenuamente perigosa.  ──   ressalta Julie, esboçando uma careta ao depositar um tapinha em meu ombro.

Todas as líderes de torcida de Sunnyvale estão ali, na linha lateral do estádio, me observando com uma curiosidade tão grande quanto o cabelo quase cacheado de Kim, com aquelas temíveis pontas duplas que jamais viram uma tesoura num período longo e desastroso de oito meses. E é perceptível que além da fofoca esperam também por um pouco de confusão.

Pra quem ficou de fora, resumidamente, Sam e meu atual namorado, Peter Broody, tiveram um relacionamento rápido ano passado, que nem uma liquidação de minissaia. Mas como eu não sou exatamente o tipo de pessoa que me importo com essas coisas e raramente me sinto ameaçada por alguma outra garota, você pode justamente supor também que, não sou o tipo de mulher que disputa por homens, não mesmo. Se houver uma mísera possibilidade deles reatarem, que se foda, próximo!

──    Do jeito que você fala, parece que todas vocês eram amigas dela.

──    Próximas.   ──  corrige Darcy, se inteirando do assunto, parece empenhada em me fazer sentir ciúmes   ──   Ela era uma das "Diabinhas". Antes de você, a vaga era dela.

Sinto seus cabelos compridos e negros baterem contra meu rosto ao sentar-se ao meu lado sobre a grama, forçando uma intimidade que nunca existiu.

──   Acho que você devia fazer algo para demonstrar que, agora, o território é seu.  ──   Kimberly aconselha, como se fosse a mais esperta de nós.

──    Meninas, desculpa, não to interessada. Não mesmo. Tenho outras preocupações... Como, por exemplo, as minhas unhas. Ugh! Olha só o estado delas...  ──   mexo os dedos paralelamente   ──     Vocês sabem que pintar as unhas de vermelho nunca é uma tarefa fácil. Vai ser um pesadelo concertá-las!

Consigo entender pelo olhar decepcionado de cada uma delas que esperam que eu seja má o suficiente para planejar uma "vingança" à altura da shadysider. Como se houvesse algo de fato para se vingar. Que absurdo! Não há nada em Samantha Fraser que me incomode, nós fazíamos ciência e literatura americana juntas, e pelo que notei, ela é uma garota super educada, bonita, inteligente e até ouvi dizer que possui bom gosto para música e moda. Chuto, inclusive, que se tivesse me aproximado dela antes, teríamos nos tornado melhores amigas.

──    Nem quando você lembra que o Peter fodeu ela? Não fica se perguntando se era melhor com ela?   ──   Darcy é cruel ao dizer aquilo, me olhando de cima a baixo.

Pensando por esse lado, Sam ainda tem uma vantagem, a única vantagem que me faz sentir insegura em relação a ela. É cafona admitir, mas Peter e eu nunca transamos até o momento. E bem, isso não é algo que você precisa confessar publicamente a alguém.

──   Peter fodeu metade das garotas dessa escola, inclusive você.   ──   decido usar minha ácidez à altura e Darcy aperta os cabelos negros em seu rabo de cavalo tentando se desvencilhar da minha indireta, se levantando   ──   Não estou interessada no passado dele e não dúvido nenhum pouco do meu taco. Só por favor, quando a Sam Fraser chegar, vê se peguem leve com ela!

──    E perder a oportunidade de dar as boas-vindas a uma velha conhecida?   ──   o questionamento soa vazio, como se fosse uma afirmação velada, que dissesse: certamente farei algo.

──   Vocês são nojentas!   ──  Ramona, a última cheerleader do grupo, de quem eu particularmente gosto mais, me puxa para longe das outras   ──   Parem de atazanar a Audrey! Venham, o treinador está chamando!

E então nos concentramos em sua voz falha. Quase que sem ar, ele chama nossa atenção:

──    Mais silêncio aí no canto do estádio! ──   o treinador tem o fôlego de um senhor de oitenta anos de idade e apesar de estar longe o bastante, consigo fazer uma leitura labial, entendendo que finalizou a frase nos insultando  ──   Vadias...

As nuvens roxas espalhadas no céu e o sol amarelado quase que vermelho sangue se pondo lentamente no horizonte acompanham o apito do treinador Carlo, reverberando durante a última rodada de treinos, antes da abertura dos jogos. É hora de revisar a coreografia!

Aperto os pompons vermelho e branco imitando os passos da capitã, mas meus olhos não se afastam de Peter, ele está no meio do campo, o belo número vinte e nove estampado na parte detrás do uniforme que acredita ser o seu número da sorte, com a posse da bola no momento, respirando fundo dentro daquela armadura americana.

Eu sabia que aquilo era importante para ele, mas queria que não levasse essa competição idiota tanto a sério. Olhei por um segundo para Darcy Drew ensinando a "Dança dos Quadris", que consistia em girar a cintura como se tivesse um bambolê invisível rodando ali. E depois voltei minha atenção a ele... E, por Deus! Broody trombou drasticamente com um garoto do mesmo time, errando feio o passe, o som da ombrada estalando alto.

Ele não tava concentrado o suficiente, deu pra perceber.

Troy que fazia papel de adversário no treinamento, arrancou a bola de seus braços com força e ele caiu de bruços sobre a grama sintética, a cabeça tombou com o impacto ricocheteando dentro do capacete e me inclinei para observá-lo, preocupada.

──    Caralho!   ──   se ergueu rapidamente, arremessando o capacete contra o solo, nervoso.

──    Calma aí, cara! Você se machucou?   ──  Justin tentou alcançá-lo e o ajudar, mas ele recusou. 

──    Me deixa em paz! Idiota!

De cara fechada, com as bochechas queimando tanto quanto seu olhar furioso, ele se retirou para o vestiário. Sua atenção foi chamada, mas não esperou para ouvir, apenas afagou a nuca e saiu.

──   Peter! Cê tá bem?   ──   me aproximei do corrimão a beira da arquibancada para vê-lo.

Sangue escorria de um pequeno corte na lateral de sua cabeça.

──    Agora não, Audrey!  ──    resmungou grosso, as veias saltando pelas têmporas e o suor o engolindo por inteiro.

Os Devil's estavam mentalmente abalados de forma assustadora, aquela pressão atípica fez com que perdessem noites de sono em claro. Talvez porque sentiam que realmente fracassariam, perdendo para os Witcher's como nunca aconteceu antes em todo o histórico da cidade, um pesadelo que se concretizaria em pouquíssimas horas. É vergonhoso admitir isso, mas acima de tudo, a insegurança habitava entre os sunnyvales. E na cabeça dos meninos, a merda que havia sido feita pelos Goode, com certeza respingaria no time e em cada aluno daquela cidade.

Quando eu digo que essa não é uma temporada comum de competição escolar e sim a pior em comparação aos anos anteriores, não tô sendo nenhum pouco dramática, como Billie, minha ex melhor amiga, tanto acredita. E olha que eu gosto de exagerar bastante. Comecei a notar o quão caótico seria quando os demais jogadores também passaram a se perder nos passes no meio do campo logo em sequência, porque raramente todos eles cometiam falhas, então, Peter não havia sido o único.

Um bater de palmas ecoante atravessa meus pensamentos distantes, mordo meus lábios, já ressecados de encarar o nada e me virando em direção a onda sonora, dou um pequeno pulo e deslizo o olhar sobre três bancos acima ao dos reservas. Prendo a respiração reconhecendo a garota de cabelos azulados misturado a cor loiro escuro natural de sua raiz mal retocada, sentada com as pernas cruzadas e a jaqueta de pelo marrom maior que o próprio corpo, na arquibancada. Ela me observava com um sorriso irônico de canto e chuto o vazio ao me distanciar das Diabinhas, caminhando até Billie que está ali para me provocar e eu, bem, não sei como reagir aquilo.

──    Eu pedi pra você ficar longe de mim e do Peter!   ──   comunico, na defensiva.

E quem diria que por falar nela, a veria de forma tão inesperada, com o cinismo intacto de sempre:

──   Se te serve de consolo, não tô aqui por sua causa. Muito menos por causa dele.

O timbre soa rude, mas sincero.

──   Então o que cê tá aprontando?

──  Não que seja da sua conta. Mas, todos nós temos os nossos próprios  problemas, Audrey!

Concordo.

Términos de amizade são uma merda, mas até dá pra seguir em frente quando as duas partes decidem não se falar mais. Infelizmente, Billie Shelton não é assim, ela vêm me perseguindo desde então, mas não para concertar as coisas, como já ficou claro. Ela só quer provar o seu ponto: que fiz uma péssima escolha por eleger Brody.

──   Aliás, meus parabéns! Conseguiu seu primeiro emprego! Tá sendo uma excelente babá pro Peter.   ──   assovia de canto de boca.

E eu reviro os olhos.

──   Ainda não acredito que cê fodeu com a nossa amizade jogando ela no lixo, só por conta desse seu ciúmes bobo e doentio!

──   E eu não acredito que um dia já te chamei de amiga!

Ela me olhou com o máximo de indiferença que encontrou em sua alma, o que, confesso, me machucou profundamente. Mas engoli em seco porque, não iria baixar a guarda desse jeito.

──   Você não tá na porra da banda? Não devia tá ensaiando? Ou foi só uma coisa mais pra, manter a sua bolsa em dia?

──    Eu literalmente faltei a todas as aulas, se fosse uma boa amiga, teria percebido. Só me inscrevi porque pareceu legal ter meu nome naquela cartolina grande e cafona na parede.

Sei quando estou sendo babaca, provavelmente seja o caso, mas não consigo controlar meu ódio quando Shelton o desafia.

──   Acha mesmo que eu vestiria aquele uniforme vermelho ketchup e bateria os pratos como um macaquinho de dar cordas, dizendo, sou um mascotinho de suckvale?!

──    Cê nunca muda, Billie!   ──  contenho a risada, fazendo bico.

Tenho de admitir, foi engraçado!

Esqueci de mencionar que já faz um mês que brigamos, e que, Billie é shadysider, ela estuda aqui porque alguns shadysiders conseguiram certo êxito com bolsas gratuitas para frequentarem o colégio de Sunnyvale. A decisão foi tomada pelo meu pai para que repercutisse como um pedido de desculpas por todos os danos causados ao longo dos séculos, dentre outras coisas. Não que fosse de fato remediar os estragos, mas ajudava alguns jovens sonhadores e famílias mais necessitadas de alguma forma. A de cabelos azuis se encaixava nessa última opção.

──    Tem razão. Eu ainda continuo sendo a amiga filha da puta que quer privar a sua felicidade! Já que toda aquela merda de "do terceirão pra vida" foi antes do Peter aparecer, né? Cê esqueceu bem rapidinho! E se eu bem me lembro, cê nem tem mais a porra de uma vida social. Graças a ele!

──  Eu tenho uma vida social, só não compartilho ela com você.

Shelton arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquilo, o sorriso permanecia ali, satisfeita por estarmos tocando nesse assunto.

──  Se você ainda não percebeu, você é só a substituta da Sam Fraser pra ele. Aquele babaca tá projetando em você todas as expectativas e medos que tinha sobre ela.

──   Isso não é sobre ele, Billie!  ──  deixo claro de uma vez por todas e me dou conta que falei mais alto do que deveria  ──  Se não ficasse o tempo todo contra ele, talvez a gente ainda conseguisse conviver. Você não respeita nenhuma decisão que eu tomo!

──   Tá. Quer saber? Vai lá, Audrey! Sua vadia de merda! ──   aponta com a cabeça para o campo, onde provavelmente o resto das cheerleaders estão  ──  Afinal de contas, todos tem seus hobbies, o seu é bancar a sósia da Sam, confiar em putas plastificadas como elas e não fazer sexo!

Cada extremidade do meu corpo congela rapidamente ao ouvir aquilo. O peso daquela afirmação tamborilou no fundo do meu coração. Foi baixo da parte dela! Com que direito ela estava usando todas as inseguranças que um dia confiei a ela, contra mim?... Sem um motivo justo!

──    Já o seu é se drogar, perder a razão e acordar no próprio vômito!   ──   praticamente cuspo tal frase, sem raciocinar.

Uma escuridão cresce em seu olhar, como uma queda abrupta de um anjo despencando do céu. Ela chacoalha os bolsos, procurando por, evidentemente, sua cartela de cigarros e tem dificuldade em encontrá-la.

Ouço passos na rampa lateral, um toque gélido se une ao meu, minhas mãos estão suadas, assim que olho para trás, dou de cara com Julie, ela aperta meus dedos, impedindo que aquela discussão prossiga, porque alguns dos Devil's estão olhando para nós e tudo o que menos preciso para o bem da minha própria reputação é ter uma discussão pública como aquela e perder a cabeça com uma shadysider ou com uma situação que jamais vai se resolver.

──    Audrey! Vêm, vamos guardar os nossos uniformes!  ──   ela estica um dos braços sobre meus ombros, me puxando de volta ao campo.

Vejo Peter saindo do vestiário com um pequeno pedaço de papel higiênico pressionando a lateral de sua cabeça, suas sobrancelhas se curvam e com o olhar perturbado, ele me encontra. Afasto a mão de Julie bruscamente, dando um tapinha em seus dedos atrás da saia, esperando que ela entenda que me encontrarei mais tarde com o grupo. Ele me chamou num aceno e corri até ele, pisando firme sobre a linha final com meus tênis recém comprados.

──  Gostei de ver! Você é muito especial para estar no meio dessas barangas...  ──  Peter faz bico, me abraçando, apontando com o queixo para as meninas.

Ao menos em uma coisa Billie estava certa, só eu sei o quanto ele detesta que eu me misture.

──  E burra o suficiente pra estar aqui com você.  ──  completo, olhando para a ponta de sua mandíbula, subindo meu olhar para sua boca e encontrando seus olhos tão confusos.

──  Não faz assim! ──  ele amassa o papel, o jogando todo ensanguentado em algum canto da arquibancada, chacoalhando a cabeça, segura meus braços com seus dedos pesados  ──  Escuta, tive uma ideia... Aquelas vadias te contaram que estamos pensando em comemorar nossa vitória próximo a estrada da rua do medo?

──   Eu ouvi algo. Mas não se empolgue! Isso depende do placar do jogo de hoje a noite.

──  Audrey, é Sunnyvale! ──  ele ri com deboche  ──  Nós nunca perdemos! Então, o que me diz? Tava pensando na gente dar uma volta antes e comprar aquele folheado de chocolate que você tanto adora.

──  É um bom pedido de desculpas, mas não o suficiente.  ──  me afasto, o encarando séria.

──  Ah, qual é Audrey? Quer me deixar estressado? ──  avança até mim de forma doce, cutucando a lateral da minha barriga e eu me inclino, praticamente me rendendo ao sentir minha espinha dorsal se arrepiar  ──  Não vai ser bom se o quarterback aqui ficar furioso! ──  cochicha contra meu ouvido e sinto seus braços fortes e suados agarrarem minha cintura, suas mãos firmes descem pelo meu quadril, apertando minha bunda, tento abaixar a saia, um tanto incomodada  ──  Nem imagina o que vou fazer com você mais tarde...

A promessa me deixa nervosa.

Gosto quando Peter me toca, mas detesto quando ele faz isso pra me exibir como um troféu, como ele tá fazendo agora. Parece exagero, mas enquanto tentam respirar fundo e tomar água, os Devil's dão uma parada ríspida em seus movimentos, nos observando com os olhos arregalados, com aqueles sorrisinhos maliciosos de canto.

──  AAAAAAAAHHHH!!! ──  o berro é firme e desafinado, saindo como um estalo pesado.

Lhe dou um empurrão, franzindo o cenho, de onde é que isso veio?...

Os garotos do time aceleram para dentro do vestiário, perseguindo os gritos que se tornam mais altos e frequentes, rasgando o céu já quase escurecido.

Numa corrida desalinhada, Brody me toma pelo braço num afobamento sem tamanho,  atravessando o estádio, entramos pelo vestiário e saímos na área de natação. Há uma piscina no centro que reflete suas ondas e o azul do concreto por todas as paredes, a lateral do teto é de vidro e a lua um tanto tímida não ilumina tão bem. Há um corpo próximo a borda, se debatendo, como um peixe recém-capturado.

──  Bryan!!! ──   Julie grita quase embargando sua alma junto ao gemido final, num desespero nítido. Ao chamar seu nome a saliva escorre pelo canto da boca, com seus olhos empalados pela surpresa ──  Por Deus, não! Não! Por favor... O quê tá acontecendo? Bryan, acorda! Acorda...

As Cheerleaders a abraçam forte, elas estão numa fileira única, controlando a histeria, observam enfim a sombra dos Devil's crescerem atrás delas, sentindo uma breve segurança.

──  Bryan! Acorda! Por favor, volta pra mim... ──  murmura, atônita.

Sua cabeça bate contra o piso, como um soco contra a parede, seus olhos estão fechados, mas consigo ver entre os cílios o branco preenchendo todo o espaço interior. O movimento é contínuo, e, involuntário. O garoto está... fora de si.

──  Calma, Julie! ──  Ramona a segura pela cintura.

──  Bem-vindo de volta, Solomon Goode! ──  debocha Troy Anderson, insinuando algo.

──  Pare com isso... ──  Elisa lhe dá uma bronca.

──  Tá dizendo que ele foi possuído? ──  Jeffrey se concentra, mas não há explicação.

O treinador foi o primeiro a chegar e, percebo só agora que é o seu corpo quem está curvado ao lado do rapaz, segurando a cabeça de Bryan Cooper, enfiando o dedo em sua garganta. Não há sangue em seu corpo, mas as veias avermelhadas estão presentes no lugar das pupilas, sua boca está seca e há uma espuma amarelada escorrendo de sua língua até o pescoço, Carlo puxa a língua de Bryan para que ela não se enrole. Aperto o pulso de Peter, e ele me protege com seu corpo robusto.

──  Julie, vem cá! ──  Kim disputa o abraço ── Vai ficar tudo bem. Prometo pra você! Ele vai sair dessa. Vai ficar tudo bem...

──  Devemos ligar para a emergência?  ──  Peter se inclina sobre o ombro do treinador, solícito.

O corpo de Bryan, no entanto, passa a desacelerar os espasmos, como se estivesse recuperando o movimento muscular.

──  Não, de jeito nenhum! ──  ele é específico  ──  Troy! Vá até o lado de fora do campo e traga os socorristas aqui. ──  ordena ao quarterback que, se apressa, dando a corrida mais rápida de sua vida.

Por pura sorte, é temporada de jogos, o que significa que a ambulância da enfermaria da escola fica sempre de "portas-abertas" para qualquer acidente.

──  Seus moleques idiotas do caralho! ──  o treinador desconta em todos, enquanto apoia o corpo pesado de Bryan contra o seu ──  O que eu falei sobre o uso de anfetamina? Hein?! Sei que todos vocês querem ganhar essa merda de jogo, todos nós queremos! Mas, se mais alguém aqui passou dos limites hoje, preciso que me digam. Agora!!!

O silêncio se torna mórbido e invasivo, sinto os pelos de meus braços se ouriçarem.

── Não... Não, senhor.  ── Justin é o mais corajoso em responder, só não sei se o mais sincero.

Peter desvia o olhar por um instante pra mim, verificando se estou bem. Ainda sinto minhas pernas bambas e o coração martelando no peito, meu estômago dá voltas e ruge como se estivesse faminto, contudo, faço que sim com a cabeça, tentando despreocupá-lo.

Mas suas sobrancelhas permanecem unidas e seu olhar atravessa até a porta, um olhar impiedoso, há uma sombra menor ali, encurvada, Billie bate com o antebraço no portão de metal, seus olhos esbugalhados denotam pavor, ela corre tentando fugir da cena que certamente ocupará sua mente o mês todo, ─  digo isso porque,  a mãe de Billie morreu dessa mesma forma, foi encontrada vítima de uma overdose em baixo da cama, várias seringas ao entorno. Por isso sei o quanto é complicado pra ela lidar com a morte ─ O mais estranho é que Peter parece saber de algo, além do que eu mesma sei, foi justamente seu olhar que foi a gota d'água para Shelton sair em disparada, como um guaxinim assustado.

₍ 001 ₎ Oii, amores!
Finalmente trouxe o
primeiro capítulo!
Espero que tenham
gostado mesmo assim!
♡♡♡

₍ 002 ₎  Não esqueçam de
favoritar e comentar.
E, me digam o que
acharam do cap aqui!

₍ 003 ₎ Tô ansiosa pra trazer
mais capítulos, então nos
vemos em breve. Bjnhs! ♡