❪ 𝙯𝙚𝙧𝙤 ❫ a deadly experience.

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ׂ ׅ 𝆬 ⬎ ᵎᵎ UMA EXPERIÊNCIA MORTAL ༉‧₊˚
─╌⠀⠀⠀﹙𝗕𝗟𝗢𝗢𝗗 𝗢𝗠𝗘𝗡𝗦 :
𝗣𝗥𝗢𝗟𝗢𝗚𝗨𝗘, 𝗣𝗥𝗘-𝗦𝗘𝗔𝗦𝗢𝗡 𝗢𝗡𝗘 𝄒⠀⠀﹚

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📍 BEACON HILLS, CALIFORNIA; 2009.

TUDO COMEÇOU COM UMA LEVE TONTURA e algumas dores abdominais durante o café-da-manhã uma semana antes do retorno das aulas.

Melissa, sendo uma enfermeira há mais de uma década, deveria ter percebido naquele momento que tinha algo de errado com sua filha, mas diante das preocupações com as contas da casa e os turnos extras que precisaria fazer durante o resto do mês, ela apenas deixou sua intuição de lado, imaginando ser apenas um simples sintoma do período menstrual da adolescente, que havia ficado muito mais intenso nos últimos meses. Ou, talvez, ansiedade por estar começando a nova e complicada fase que era o ensino médio. Porém, quando aquilo continuou pelas próximas semanas, com a adolescente fingindo estar bem para não preocupar a mãe, sendo seguido por uma convulsão durante a aula de química que levou a garota para o hospital, a McCall mais velha se culpou por não ter dado uma maior atenção antes para ela.

"Um grande milagre" era o termo que os moradores de Beacon Hills usavam sempre que lembravam do acontecimento ou ouviam o nome da filha de Melissa e Rafael McCall.

Sloane, a versão reservada e mal-humorada de seu irmão-gêmeo Scott, filha de um agente federal e uma enfermeira, namorada de Isaac Lahey ━ um Zé ninguém que as pessoas ainda não sabiam quem era ━, integrante da banda da escola e da equipe de karate... e, também, uma sobrevivente de um câncer no útero em estágio IVB ━ o que era um péssimo sinal, pois significava que não estava apenas no colo uterino, mas espalhado por outros órgãos de seu corpo, e tornava suas chances de sobrevivência extremamente baixas.

Sloane não lembrava muito bem do momento em que recebeu o diagnóstico após a série de exames que passou ou de quando a médica começou a explicar o significado dos sintomas recorrentes e os tratamentos que poderiam aliviar sua dor por um tempo.

Não, ela não lembrava porquê estava preocupada demais tentando não se desesperar com a possibilidade de morrer nas próximas semanas ou de como poderia ter sido tão idiota em deixar aquilo de lado por tanto tempo. Ela não queria ser mais um peso para a mãe, que já gastava o bastante com Scott e seu medicamento para asma. Melissa, diferente da filha, prestava atenção em cada palavra dita pela médica da família, mesmo quando já sabia tudo, até mesmo o prognóstico.

Talvez ela esperasse por um súbito milagre, é. Uma solução que pudesse resolver aquilo o mais rápido possível e deixar sua garotinha viva.

━━ Sloane, querida? ━━ Melissa chamou, apertando o ombro da filha para acordá-la do transe em que a mesma se encontrava.

Ela ergueu a cabeça, largando o controle da televisão do quarto para fitar sua mãe, que tinha uma expressão melancólica no rosto. A adolescente sentia que ela queria dizer algo, provavelmente lamentar pela situação em que ela se encontrava ou dizer algo encorajador que a faria querer lutar para ficar viva, mas algo estava impedindo e Sloane conseguia entender o porquê, mesmo que não quisesse.

Ela estava morrendo, não seria um discurso motivador à mudar aquilo.

Sloane forçou um sorriso que não alcançou, abaixando a cabeça novamente e fitando os pés cobertos pelo lençol branco do hospital, já sentindo um pouco da dor em seu corpo passar com os analgésicos administrados momentos antes; era bom saber que o grau de agonia que sentia não era apenas drama, já que tinha uma baixa intolerância à dor e às vezes não era levada à sério por isso. Havia sido difícil manter a compostura em casa e na escola por todas aquelas semanas quando tudo que queria era deitar de bruços e ficar parada pelo máximo de tempo possível.

━━ Tudo bem se eu ligar pro meu pai? ━━ questionou, sua voz apenas o suficiente para que a mais velha lhe ouvisse, envergonhada demais para pedir aquilo em voz alta.

A situação de Melissa e Rafael vinha complicada desde o divórcio, há quase uma década, e mesmo na estressante situação onde se encontrava, ela não queria chatear sua mãe com um pedido daqueles, sentindo-se arrependida de pedir logo após abrir a boca.

━━ Claro, meu amor. ━━ a mulher respondeu no mesmo tom, apertando os lábios para tentar evitar que as lágrimas caíssem. Eram poucas as ocasiões em que Sloane ligava para Rafael por vontade própria, mesmo sempre tendo sido mais próxima dele do que da mãe, e pela maneira que a garota estava agindo nos últimos minutos, Melissa imaginou que sua filha também sabia que aquela batalha estava perdida, o que apenas lhe deixou ainda mais agoniada; ela tinha apenas quatorze anos, não deveria estar passando por tudo aquilo, mas não havia muito o que fazer. Melissa havia visto aquilo acontecer com a própria mãe quando era mais nova e estava fadada a ver sua filha ter o mesmo destino.

Era cruel e ela queria poder trocar de lugar com a mais nova, mesmo que isso significasse que Sloane fosse passar o mesmo que ela passou.

━━ Sloane, olha pra mim. ━━ pediu, com as mãos dos dois lados do rosto dela, vendo que alguma lágrimas manchavam as bochechas de sua garota, que parecia assustada mas era orgulhosa demais para dizer qualquer coisa. ━━ Você vai ficar bem, ok? Nós vamos passar por isso juntas, você e eu.

A adolescente acenou, o sorriso em seu rosto se torcendo enquanto seus lábios tremiam à medida em que ela tentava não chorar ainda mais.

━━ Eu tô com medo. ━━ confessou baixo, fechando os olhos e deixando-se acolher nos braços de sua mãe, que a segurou como se a vida de ambas dependesse daquilo.

Poderia soar infantil em alguma outra situação, mas tudo que ela queria era congelar aquele momento e ficar ali para sempre, abraçada com sua mãe; Sloane só queria esquecer do mundo, de seu destino, da dor, mas, principalmente, esquecer da morte.

Mas tudo se tornava difícil vendo os olhares de tristeza dos médicos e enfermeiros que lhe conheciam sua vida inteira, seus pais, seu irmão. . .

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━━ Você parece pior hoje. ━━ a figura sentada na poltrona falou, fazendo a adolescente esboçar um sorriso fraco com as poucas energias que tinha.

Annie era uma enfermeira que parecia gostar de ficar ali quando a McCall estava em seus piores momentos e, embora parecesse esquisito, sua presença trazia uma estranha sensação de conforto, o que era algo raro estando naquele hospital há alguns meses, vendo seus companheiros de quarto, outros pacientes, entrar e sair, seja para o estacionamento ou para o necrotério.

━━ Eu tô começando a achar que você é coisa da minha mente, Annie. ━━ sussurrou com a voz fraca, a cabeça levemente inclinada para o lado.

━━ Por que sou incrível demais pra ser real?

━━ Nah. . . é que eu acho que tô ficando ainda pior. . . se é que isso é possível mas, se pensar bem, até que faz sentido. Eu vi esses blogs de pessoas que perderam parentes e parece ser um sintoma comum ter alucinações antes de. . . sabe, seu tempo chegar ao fim, o alarme tocar e, sei lá, você nascer de novo, se for o tipo de coisa em que você acredita.

Annie suspirou, não de cansaço mas por pena. A pele de Sloane estava mais pálida que o comum pela falta de vitaminas ou, como ela gostava de dizer, "por ter passado tanto tempo sem tomar banho de sol" e qualquer um que olhasse para ela suspeitaria que sua hora já havia passado, mas aquele não era o tipo de notícia que os médicos gostavam de dar aos familiares de alguém doente, principalmente os pais de pessoa tão jovem como Sloane.

Mas de qualquer forma, não havia como fingir que elu teria alguma chance de escapar. Naquele ponto, se tratava de 'quando' e não de 'se'.

O natal seria em poucas semanas e, por ser o único feriado favorito de Sloane, Scott achou que poderia fazem bem se eles tivessem uma festa adiantada, apenas algumas trocas de presentes para tentar animar um pouco o dia monótono dela. Ação de graças havia sido quieto, com os três McCall's no quarto de hospital vendo televisão e o rapaz não queria que aquela fosse a maneira que sua irmã passasse seus dias.

O relógio marcava 14:11h, o que significava que faltava ainda algum tempo para o fim das aulas daquele dia, mas a McCall sabia que seu irmão e Stiles chegariam a qualquer momento para vê-la. Estava sendo assim desde quando ela se internou e, mesmo não sendo capaz de agradecer de forma apropriada, ela tentava ao máximo mostrar que apreciava a visita. Eles eram a única coisa distraindo sua mente do que estava por vir e, com o passar dos dias, sua ansiedade só lhe fazia pensar mais e mais nisso.

A porta foi aberta e um dos enfermeiros da oncologia entrou, com máscara no rosto e uma tigela metálica em mãos, contendo alguns materiais médicos. Sloane não sabia dizer exatamente quem era, a morfina lhe deixando um pouco mais lenta que o normal, mas pela maneira que ele se portava, ela imaginou ser ele. A adolescente lembrava de sua mãe dizer que os outros enfermeiros do departamento gostavam muito dele por sua maneira carismática; muitos médicos e familiares gostavam dele mas isso só fez Sloane achar estranho. Ela tinha problemas em ter simpatia por pessoas muito adoradas.

Alguns poderiam dizer que q McCall era. . . paranóica.

━━ Cadê minha mãe? ━━ Sloane sussurrou, observando o homem vestir as luvas e pegar uma seringa, a fazendo se arrepiar só com a visão.

━━ Ela foi comer algo, mas não se preocupa, ela volta logo. ━━ respondeu no mesmo tom, abrindo um sorriso fraco por debaixo da máscara.

━━ Eu achei que só precisaria tomar o outro medicamento mais tarde. . . ━━ elu tentou alcançar o botão de emergência que ficava perto de sua perna mas ele foi mais rápido, o pegando e jogando para os pés da garota.

━━ Devagar aí, McCall. ━━ o homem pediu com tranquilidade, vendo a menina tentar se sentar na cama; o enfermeiro observou o rosto pálido da adolescente, acariciando sua bochecha levemente. ━━ Sabe, quando você chegou aqui, era praticamente um caso perdido. . . sem salvação. E enquanto seu coração bater e você respirar, só vai trazer dor, meu amor. . . não apenas pra você mas também pra sua família, Sloane. ━━ ele suspirou, limpando uma lágrima solitária que caiu do olho da adolescente. Ela o fitava com confusão e receio, sem saber o que diabos aquele discurso poderia significar, mas não gostando da maneira que ele a tocava. ━━ Eu posso- não, eu vou fazer a sua dor ir embora, Sloane. Em consideração à você e sua família, tá bem? Melissa é muito querida, vai ser devastador o que irá acontecer mas só vamos adiantar um pouco o inevitável.

━━ Do que você tá falando? ━━ questionou em desespero, sabendo muito bem o que estava prestes a acontecer mas se negando a acreditar que alguém seria capaz de algo tão cruel quanto aquilo. ━━ Eu não. . . eu não quero que-

━━ Claro que quer! ━━ o mais velho a interrompeu com uma risada incrédula, balançando a cabeça positivamente. ━━ Você vai ver que tudo vai ficar melhor uma vez que a dor passar. E o melhor de tudo é que não vai doer muito.

Ele pegou a seringa e a colocou no acesso intravenoso enquanto Sloane observava a cena com pavor, tentar pará-lo era inútil por estar fraca mas seus instintos não se importavam. Ele se afastou uma vez que concluiu o que queria sem dificuldades, dando as costas para a garota, que tentava sentar na cama e fazer algo: segurá-lo, gritar por ajudar, correr, mas seus pensamentos acelerados juntamente da fraqueza por conta da doença não ajudaram na tentativa da adolescente de chamar alguém, sentindo seu corpo enfraquecer à cada segundo que se passava, não conseguindo nem mesmo buscar o botão de emergência, que estava à centímetros de seu alcance.

Ela caiu de volta na cama, abrindo e fechando a boca algumas vezes enquanto esperava que, magicamente, palavras ou sons saíssem, mas o silêncio permaneceu no cômodo, apenas os sons de seus batimentos cardíacos caindo podendo ser ouvidos e de sua respiração alterada, que ela não sabia dizer se era um ataque de pânico ou de que ele havia conseguido o que queria.

Seu olhar caiu para o sofá, onde Annie estava deitada com a cabeça apoiada no encosto de braço, parecendo tão indefesa quanto Sloane naquele momento. A adolescente, sentindo traída pela mulher não ter tentado impedir o enfermeiro, estranhou ao ver uma lágrima cair do olho alheio antes de ser levada pela escuridão, parecendo finalmente descansar.

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━━ Tem certeza de que vai entregar o seu assim? ━━ Scott McCall perguntou ao sair do elevador ao lado de Stiles, vendo que o presente que seu melhor amigo comprou para Sloane estava sem embrulho nenhum.

━━ A sua irmã tá com uma doença horrível, Scott, eu não vou fazer ela perder tempo com um papel de presente. Além do mais, eu não faço idéia de como se embrulha, então é melhor se a gente evi. . . ━━ respondeu, sua voz diminuindo aos poucos ao virarem no corredor e ver Melissa e Rafael em frente ao quarto em que Sloane estava internada.

━━ Por favor, não. . . ━━ Scott sussurrou, parando no lugar.

O McCall mais velho estava segurando a ex-mulher, que tentava se soltar do aperto para entrar no quarto em que sua filha estava. Scott, despertando do transe, rapidamente se aproximou deles, olhando para dentro do cômodo pela janela e vendo uma equipe de médicos trabalhar ao redor da cama hospitalar que ele sabia ser o de sua irmã-gêmea.

Uma enfermeira segurava um balão de ar enquanto o médico fazia massagem cardíaca e esperava o desfibrilador carregar a carga novamente, tendo uma enfermeira injetando os medicamentos ordenados pelo médico responsável pela unidade. A cena era assustadora e Scott queria só poder fechar os olhos e se imaginar em casa, com sua mãe fazendo café-da-manhã e Sloane falando tudo sobre o filme que virou sua obsessão do momento. Ele se virou e abraçou a mãe, os dois caindo no chão enquanto ela chorava com a dura realidade que tanto adiou.

Melissa sabia que aquele dia poderia chegar, fosse em um ano ou em uma década, e ela também sabia que, no caso de Sloane, não havia o que fazer para evitar que a doença tomasse de conta do corpo dela, mas tudo que Melissa havia feito nos últimos dois meses era rezar, na esperança de que um milagre repentino acontecesse, que alguma medicação fosse criada para limpar o organismo da filha e tirá-la do leito de morte, que lhe desse mais alguns anos para aproveitar tudo que um adolescente, um adulto, poderia.

Ela não comia, não dormia, com medo de que a adolescente fosse desaparecer se ela tirasse os olhos por um segundo. Ela via aquilo acontecer com frequência em sua área de trabalho, como se os doentes quisessem poupar os familiares da dor e sofrimento que ela estava passando naquele momento, vendo os médicos desesperados para adiar o futuro já marcado. Alguns colegas de trabalho achavam que era melhor assim, que a família não visse o trabalho duro que era trazer alguém de volta à vida e esperar ansiosamente por um resultado que poderia não vir.

━━ Hora da morte. . . ━━ o médico falou, após mais de quinze minutos tentando ressuscitar a filha de sua colega de trabalho. ━━ 14:39.

O monitor cardíaco foi silenciado e o mundo pareceu ficar igualmente quieto para Scott, observando os médicos e enfermeiros saindo do quarto de sua irmã, que agora estava morta, para dar espaço à família.

Sloane estava morta.

Ele fechou os olhos. Seus lábios pressionados tremiam com o garoto fazendo o máximo para não chorar enquanto segurava sua mãe, que havia tido o choro reduzido para soluços e fungados, seus olhos fixos em algo no chão, estranhando o silêncio dos monitores, recusando-se a acreditar que eles haviam parado. Rafael, que ainda não havia digerido muito bem os acontecimentos dos últimos minutos, cambaleou até uma cadeira, sentando-se e cobrindo o rosto com as mãos enquanto respirava fundo e tentava engolir o bolo que se formou em sua garganta por segurar o choro. O agente tremia, embora tentasse permanecer forte na frente de seu filho e ex-mulher.

A garotinha dele estava morta, precisaria ser forte por Melissa e Scott.

Uma enfermeira se aproximou dos dois caídos ao chão, tentando levar Melissa para algum lugar mais privado, longe dali, mas ela se recusou, afastando a mão da enfermeira e levantando, adentrando o quarto da filha.

━━ Melissa. . . ━━ Rafael chamou fraco, mas ela não ouviu, observando o corpo sem vida da filha de apenas quinze anos.

Stiles se aproximou do amigo, que havia se levantado mas parecia temer entrar no quarto com a mãe, seu olhar vazio fitando o corpo lá dentro e se arrependendo de não ter saído mais cedo da escola ou de ter ficado até mais tarde no dia anterior. Se arrependendo de todas as vezes que interrompeu sua irmã ou que brigou com ela, que a deixou de lado para sair com Stiles quando poderia muito bem incluí-la nos planos. O Stilinsk não se importava com a presença dela mas as vezes o próprio McCall parecia ter vergonha de ser o único amigo que ela tinha. Sloane já havia dito que não se importava em ficar sozinha mas ele notava a decepção escondida nos olhos dela quando ele recusava passar uma noite vendo filmes ou quando dizia que ela não poderia acompanhá-lo por ser coisa dele e do Stiles.

Bom. . . Sloane estava morta, não é como se ele pudesse recusar a presença dela, certo? Apenas aprender a viver com o arrependimento de ter feito antes.

Melissa sentou na ponta da cama, tocando o rosto de Sloane com as mãos tremendo enquanto seu peito doía só de pensar em como seria sua vida sem ouvir a garota reclamar dos ensaios da banda, das atualizações diárias de Simon, um esquilo que morava na árvore em frente à janela dela, ou de apenas ficar sentada no sofá, bebendo chá e conversando futilidades nas noites frias e tediosas, pensando que tudo poderia ter sido diferente se não tivesse se preocupado mais com os turnos extras e as contas do que com a saúde de sua própria filha.

Ela encostou a cabeça no peito da garota, pedidos de desculpas sendo sussurrados para o vazio enquanto seu peito transbordava com dor e culpa.

Sloane estava morta e era culpa dela.

Melissa queria poder ir embora, como alguns faziam após receber notícias como aquela; queria poder sair dali e começar a preparar tudo que seria necessário para o próximo passo que é o enterro, mas tudo parecia trair a promessa que havia feito no dia em que os gêmeos nasceram, de que protegeria e cuidaria deles dois, de Scott e de Sloane, seus bens mais preciosos. A morena pareceu chorar ainda mais quando relembrou de quando eles dois eram mais novos, cada momento de alegria se repassando em sua mente enquanto desejava poder voltar no tempo para poder aproveitar melhor.

A linha reta do monitor cardíaco foi flexionada à medida que o ritmo cardíaco da adolescente retornou aos poucos, tal acontecimento se passando despercebido por Melissa, em negação demais para notar algo tão frívolo como aquilo. Levou alguns segundos para a enfermeira notar, precisando ouvir o baixo som de Sloane buscando por fôlego para poder erguer a cabeça e fitar os olhos da filha se abrindo lentamente, olhando entre ela e o monitor como se buscasse por respostas.

Naquele momento ela achava estar enlouquecendo, vendo os olhos confusos e molhados da garota passearem pelo teto antes de pararem no rosto da mãe, que estava uma bagunça de lágrimas, catarro e baba.

━━ O. . . o que tá. . . acontecendo? ━━ sussurrou com a voz rouca, sentindo como se tivesse caído de um lance de escadas pela dor que corria por todo seu corpo.

━━ S-Sloane? ━━ a mulher murmurou, tocou o rosto da filha, abrindo um sorriso de felicidade ao abraçar ela. Ela não se importava de estar ficando maluca se significasse que Sloane ainda estava ali.

Stiles, que observava tudo do lado de fora, bateu a mão no peito do melhor amigo, que o fitou com certa tristeza e confusão, se recusando a ver o corpo de sua irmã e a tristeza de sua mãe. O Stilinsk apontou para dentro do quarto com a outra mão, sem saber como descrever com palavras o que havia acabado de ver. O McCall virou a cabeça, a expressão de indiferença sendo substituída por uma de choque ao ver sua irmã-gêmea deitada na cama, seu cabelo molhado de suor e uma expressão de confusão no rosto enquanto falava com a mãe.

━━ Sloane. . . ━━ ele sussurrou, correndo para dentro do quarto, tal atitude que chamou a atenção de Rafael e não demorou para ele se juntar aos dois quando viu sua filha viva e respirando.

Sloane não estava morta, afinal.

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march 19, 2023
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01. prólogo postado, espero que
gostem! não esqueçam de curtir
e comentar. perdoem qualquer
erro de escrita.

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