06. Fake Dating
Assim que fechei a porta atrás de Kiana, me sentei na beirada da cama e passei as mãos no rosto, sentindo uma mistura de cansaço e incredulidade. Que diabos eu tinha acabado de fazer?
— Ensaiar um beijo? — Murmurei para mim mesmo, olhando para o chão como se ele fosse me oferecer alguma resposta sensata.
A pergunta martelava na minha cabeça como um alarme insistente. Como eu achei que seria uma boa ideia pedir isso para ela? E se Kiana pensasse que eu estava tentando me aproveitar? Ou pior, que eu fosse algum tipo de tarado? Essa ideia me fez estremecer. Ela poderia até estar rindo disso agora, mas e amanhã? Será que ela olharia para mim de maneira diferente?
Soltei um suspiro longo e pesado, tentando racionalizar o que tinha acontecido. Eu tinha pedido o favor com a melhor das intenções, certo? Não era porque eu queria beijá-la, ou talvez fosse um pouco. Não, não podia ser isso. Era porque eu precisava melhorar minha atuação, tornar essas cenas menos intimidadoras. Isso fazia sentido, não fazia?
Deitei na cama, olhando para o teto do quarto enquanto minha mente continuava girando, como um carrossel descontrolado. A conversa com Kiana me deixava mais tenso do que eu queria admitir. Amanhã, eu teria que fingir um namoro com ela. Um namoro. Com Kiana.
Fechei os olhos, tentando me preparar mentalmente para o que estava por vir. Era só um favor, nada mais. Mas o pensamento de passar por isso me deixou inquieto. Meu coração ainda estava disparado, e a ideia de encenar um relacionamento para enganar o ex-namorado dela, um cara que parecia completamente desequilibrado, não ajudava.
Por que ele a perseguia? Isso me incomodava mais do que eu esperava. O que tinha acontecido entre eles? Será que ele era perigoso? O olhar de Kiana, tão irritada e frustrada, voltou à minha mente, e senti uma pontada de preocupação.
E se ela estivesse em apuros? Se esse cara realmente fosse uma ameaça para ela?
Balancei a cabeça, tentando afastar os pensamentos sombrios. Kiana era forte, determinada. Ela saberia lidar com isso. Mas... E se ela precisasse de ajuda? Eu seria capaz de fazer alguma coisa? A ideia de que algo ruim pudesse acontecer a ela me deixava inquieto.
— É só um favor. — Sussurrei novamente, como se isso pudesse me convencer a parar de pensar demais. Mas quanto mais eu tentava me acalmar, mais minha mente voltava àquela noite. À conversa. Ao sorriso dela.
E, claro, ao fato de que amanhã... Eu teria que ensaiar um beijo com Kiana. Porque eu pedi.
Passei as mãos pelos cabelos, frustrado comigo mesmo. Não era só o ex dela ou a situação absurda. Era ela. Ela tinha esse jeito de desarmar qualquer pessoa, de preencher o ambiente com a energia dela, e isso me deixava completamente sem rumo.
— Foco, Brandon. — Falei agora em voz alta, tentando colocar meus pensamentos em ordem. — Vai ser completamente profissional. É só pra ajudar ela.
Mas por mais que tentasse me convencer disso, não podia ignorar o frio na barriga que vinha toda vez que eu pensava no dia seguinte.
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Com uma fresta de luz passando pela porta, indicando que havia amanhecido, ainda meio zonzo de sono, ouvi as batidas na porta, seguidas pela voz de Kiana do outro lado. Meu coração disparou na hora, como se eu tivesse sido pego de surpresa em algo que nem eu mesmo sabia o que era.
— Espera só um minuto! — Gritei, tentando ganhar tempo enquanto me movia pelo quarto como um furacão.
Corri para o banheiro, lavei o rosto rapidamente, tentando apagar os vestígios de sono, e escovei os dentes com uma rapidez que provavelmente não era recomendada por nenhum dentista. Troquei de roupa como se minha vida dependesse disso, escolhendo a primeira camisa que parecia minimamente apresentável. Quando vi o reflexo no espelho, suspirei. Meu cabelo ainda estava bagunçado, mas não havia mais tempo. Só consegui borrifar um pouco de perfume antes de correr até a porta e abri-la.
E lá estava ela, com aquele sorriso fácil que parecia brincar com meus nervos.
— Bom dia. — Falei, tentando soar casual, mas minha voz saiu um pouco mais alta do que eu pretendia.
— Bom dia. — Ela respondeu, com um tom leve, mas seus olhos logo foram para o meu cabelo. Ela apontou com o dedo, a risadinha escapando antes que eu pudesse me preparar. — Já está incorporando o papel?
Eu franzi o cenho, confuso, até olhar para o espelho próximo à porta. Meus olhos arregalaram quando percebi o que ela queria dizer, meu cabelo ainda estava um caos. Eu sabia disso quando o vi há pouco no espelho, mas por algum motivo decidi ignorar, porque estava ansioso para abrir logo a porta.
Ah... Claro! — Menti, soltando uma risada nervosa enquanto tentava bagunçar ainda mais os fios, como se fosse intencional. — Queria tornar o ensaio mais... Realista, sabe?
Ela me olhou com uma expressão que eu não consegui decifrar totalmente, mas havia algo entre a diversão e o ceticismo.
— Tudo bem, Kwon... — Ela respondeu com um sorrisinho sarcástico brincando em seus lábios, cruzando os braços.
— Então... Você quer fazer isso aqui mesmo? — Perguntei, tentando soar relaxado, mas sentindo minha garganta seca enquanto a palavra "beijo" pairava na minha mente como uma sombra.
Kiana balançou a cabeça.
— Aqui é muito pequeno. Não dá pra ser em um lugar público. Mas pensei no espaço da piscina aquecida do hotel. É fechado, tem eco, e, sério, hoje está tão quente que duvido que alguém vá querer usar.
Eu soltei uma risadinha, agradecendo internamente pela lógica impecável dela.
— Faz sentido.
— Então, vamos? — Ela perguntou, já virando de lado como se esperasse que eu fosse segui-la sem hesitar.
— Claro. — Assenti, engolindo em seco enquanto ajustava a gola da camisa, tentando parecer mais confiante do que realmente me sentia.
À medida que descíamos para o lugar que ela sugeriu, a realidade do que estava prestes a acontecer começou a pesar em mim. Eu sabia o que tínhamos que "ensaiar", e de repente, minha genial ideia da noite anterior parecia um dos piores erros que já cometi.
Será que ela estava tão tranquila assim ou só disfarçando melhor do que eu? Enquanto eu olhava para ela de relance, andando ao meu lado com aquela postura descontraída, não parecia haver nenhum sinal de nervosismo. Talvez fosse só eu mesmo, me enrolando nos meus próprios pensamentos como sempre.
Quando chegamos ao espaço da piscina aquecida, percebi que ela estava certa, não havia ninguém por perto. O ar ali era abafado, mas o ambiente tinha uma atmosfera tranquila, com a luz do sol entrando pelas grandes janelas e refletindo na água calma.
— Bom, aqui estamos... — Ela disse, encostando-se em uma das paredes, os braços cruzados enquanto olhava para mim.
Eu tentei manter um sorriso.
— É... Um bom lugar pra... Ensaiar.
Ela arqueou uma sobrancelha, um sorriso sutil brincando nos lábios.
— Você está nervoso?
— Nervoso? Não, claro que não. — Menti, mesmo sentindo o coração disparado no peito.
Kiana me olhou por um momento, como se pudesse ler cada pensamento que eu estava tentando esconder.
— Tá certo então. Vamos lá.
E naquele momento, percebi que não tinha mais como voltar atrás.
A manhã já parecia antes quente quando descemos para o espaço da piscina aquecida, e a atmosfera abafada de agora parecia amplificar minha tensão. Não era só o calor do lugar, era o peso do que eu tinha pedido a Kiana. Ensaiar um beijo. Deus, que ideia.
Quando nos acomodamos nas cadeiras próximas da piscina, ela puxou o roteiro da bolsa. Seus olhos percorreram as páginas com familiaridade, como se ela estivesse tentando me passar calma, mas a energia que emanava dela não ajudava muito.
— Essa cena aqui — Ela começou, batendo o dedo na página —, é a que vamos gravar na praia. É outro beijo, mas bem diferente daquele que já fizemos. Esse aqui é cheio de... Tensão. E muito mais raiva envolvida.
Eu assenti, acompanhando cada palavra, embora o nervosismo estivesse transformando minha mente em um vácuo.
Ela continuou.
— Calista e Kwon estão discutindo. É aquela mistura de raiva e paixão. Principalmente raiva. Mas no fundo, a paixão tem que estar lá. Eles estão no limite emocional.
Enquanto ela explicava, eu só conseguia pensar em como isso era... Intenso. Não era apenas um beijo técnico. Era um momento carregado de sentimentos conflitantes que eu teria que transmitir com Kiana.
Ela se levantou, respirando fundo, e eu pude ver que, apesar de sua confiança, havia algo diferente nela. Uma hesitação sutil.
— Vamos tentar. — Disse ela, passando as mãos pelo cabelo e soltando um suspiro. — O mais importante é estarmos calmos. Isso ajuda a incorporar os personagens. Eu sei que na frente das câmeras é mais difícil porque... Bem, é constrangedor.
Eu olhei para ela, surpreso pela honestidade.
— Na última cena de beijo que gravamos — Ela continuou, colocando a mão no peito —, eu fiquei nervosa também. Às vezes é complicado separar o que é atuação do que é real.
Meu estômago deu um nó, e eu senti minha respiração falhar por um segundo. O que ela queria dizer com isso? Antes que eu pudesse perguntar, ela me lançou um olhar que parecia analisar minha reação.
— Você sabe, por sermos amigos, pode ser estranho.
Ela riu levemente, mas algo no jeito que desviou o olhar me fez perceber que talvez ela também estivesse um pouco nervosa. Eu dei uma risadinha nervosa, mais para preencher o silêncio do que qualquer outra coisa.
— Estranho? Claro... É, faz sentido.
Mas por dentro, minha mente estava em pânico. Será que ela percebeu? Que no último beijo eu não estava apenas atuando?
— Certo... Vamos logo com isso. — Disse ela, interrompendo meus devaneios.
Eu assenti, tentando me concentrar no roteiro que ela ainda segurava. Ela começou a recitar suas falas, e eu entrei no personagem como pude.
— Você acha que pode simplesmente jogar todas essas palavras em cima de mim e esperar que Eu... O quê? Que eu aceite? Que eu agradeça?
Sua voz estava alta, cheia de emoção. Era impressionante como ela mudava tão rápido, incorporando Calista completamente.
— Você é inacreditável, Kwon. — Ela continuou, se aproximando de mim com olhos estreitados. — Primeiro, você me trata como lixo, e agora vem com essa conversa de que eu sou o motivo de tudo? Que eu sou o problema?
Eu respirei fundo, sentindo o peso da cena.
— E o que mais você quer que eu diga, Calista? Que eu me arrependa do que eu estou dizendo? Que eu desapareça? — Minhas palavras saíram firmes, quase explosivas. — Porque eu não vou. Eu já disse o que precisava dizer, e se você não consegue lidar com isso, talvez o problema não seja só meu.
Os olhos dela brilharam de algo que parecia raiva pura. Então ela avançou, a mão erguida como se fosse me atingir. Meu coração disparou, mas instintivamente, minha mão se fechou em torno de seu pulso antes que ela conseguisse completar o movimento.
— Pare de ser tão teimosa. Você não vai fugir disso, Calista. Não mais. — Eu disse, minha voz baixa e carregada de uma determinação que, honestamente, vinha mais de Kwon do que de mim mesmo.
Ela tentou se soltar, gritando para que eu a soltasse, mas eu segurei firme. Então, antes que eu pudesse pensar no que estava fazendo, puxei-a para perto e a beijei.
Foi um beijo intenso, cheio de tudo o que tínhamos que transmitir, raiva, paixão, frustração. No início, parecia forçado, como se ambos estivéssemos hesitantes. Mas então... Fluiu. Fluiu de uma maneira que eu não esperava.
Seus dedos, que inicialmente estavam pressionados contra meu peito para me empurrar, começaram a relaxar. Meu coração estava batendo tão rápido que eu achei que ela conseguiria ouvir. Era atuação, certo? Mas por que parecia tão real?
Quando ela finalmente se afastou, ambos estávamos ofegantes. Ficamos ali, olhando um para o outro em silêncio por um momento, até que ela riu suavemente.
— Eu acho que foi promissor. — Disse ela, cruzando os braços e se inclinando levemente para trás.
Eu respirei fundo, tentando me recompor.
— É... Foi bem mais tranquilo do que eu esperava.
Mas por dentro, eu estava uma bagunça completa. Tranquilo? Quem eu queria enganar? Se fosse tão tranquilo assim, por que meus lábios ainda formigavam? Por que meu coração parecia querer sair pela boca?
O silêncio que pairou entre nós depois do ensaio era quase insuportável. Eu ainda estava tentando entender o que tinha acabado de acontecer, e a maneira como meu coração insistia em bater rápido não ajudava. Eu evitei olhar diretamente para ela, temendo que ela pudesse notar o quanto aquele momento tinha mexido comigo. Mas então Kiana quebrou o silêncio, sua voz soando casual, mas carregada de algo mais.
— Brandon. — Ela começou, ajeitando o cabelo e me lançando um olhar que parecia hesitante. — Você pode me acompanhar até o hotel? Ficar um tempinho no meu quarto depois das gravações?
A pergunta me pegou completamente de surpresa, e eu senti minha garganta secar.
— O quê? Quer dizer, por quê?
Ela suspirou, inclinando-se um pouco para frente como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Eu acho que o Rick vai estar lá.
Rick. Era a primeira vez que eu ouvia o nome dele, mas só de como ela disse, deu para perceber que não era algo bom. Então era esse o nome do ex namorado que ela estava querendo evitar.
— Ele disse que vai me esperar no estacionamento — Ela explicou, sua voz ficando um pouco mais tensa. —, mas se ele vir que eu estou com alguém... Sei lá, com sorte ele vai embora.
Minha testa se franziu automaticamente, e eu olhei para ela mais de perto.
— Espera aí... Esse cara é algum tipo de stalker?
Ela soltou uma risadinha, mas era sem humor, como se a situação a deixasse desconfortável até para admitir.
— Ele pode ser pior que isso, mas... Não vai fazer nada se achar que eu não estou mais "disponível".
Eu mal sabia como responder a isso. Minha mente girava com as implicações do que ela estava me contando, e por um momento, uma mistura de raiva e preocupação tomou conta de mim.
— Kiana, isso é sério. Você não deveria ter que lidar com esse tipo de coisa sozinha.
Ela deu de ombros, como se quisesse minimizar o peso da situação, mas eu podia ver que aquilo a incomodava mais do que ela deixava transparecer.
— É por isso que estou pedindo sua ajuda. — Disse ela, tentando manter o tom leve, mas sua expressão ainda carregava uma sombra.
Eu ri, meio nervoso, tentando aliviar um pouco a tensão que sentia crescendo.
— Sabe, você tem uma vida amorosa bem... Movimentada.
Ela encostou na cadeira e soltou um suspiro cansado, olhando para o teto da área da piscina.
— E eu não queria isso, sinceramente.
Por um momento, ficamos em silêncio de novo, mas dessa vez não era tão estranho. Era mais... Reflexivo. Eu a observava de relance, notando como ela parecia carregar um peso maior do que qualquer um deveria.
— Tá, tudo bem. — Eu disse finalmente, tentando soar mais confiante do que realmente estava. — Eu vou com você. Mas, sério, Kiana, você devia pensar em uma forma de se livrar desse cara de vez. Isso não é saudável.
Ela me olhou com um meio sorriso, algo entre gratidão e cansaço.
— Eu sei. Mas, por enquanto, eu só quero resolver isso da forma mais simples possível.
Eu assenti, embora algo dentro de mim não estivesse convencido de que "simples" fosse o suficiente para lidar com alguém como Rick. Mesmo assim, me levantei e a segui em direção ao meu quarto para pegar as coisas antes da gravação, tentando me convencer de que tudo ficaria bem.
Mas, no fundo, eu sabia que a sensação de desconforto não ia desaparecer tão cedo. E não era só por causa de Rick. Era por causa dela.
Assim que saí do quarto, fomos juntos no mesmo carro. A viagem até o set foi silenciosa na maior parte do tempo. Kiana parecia perdida em pensamentos enquanto dirigia, os dedos tamborilando levemente no volante, e eu tentava ignorar o peso crescente do que estava por vir. A ideia de fingir ser seu namorado ainda mexia comigo, especialmente porque ela não parecia perceber o quanto isso me afetava. Mas eu sabia que tinha concordado com isso, e não ia recuar.
— Tá tudo bem? — Ela perguntou de repente, quebrando o silêncio e lançando um olhar de canto para mim.
— Sim, claro. — Respondi, embora minha voz tenha saído um pouco mais alta do que o normal. Limpei a garganta, tentando parecer mais relaxado. — Só pensando no roteiro de hoje.
Ela sorriu de leve, mas havia algo em seu olhar que dizia que ela não acreditava completamente em mim. Ainda assim, ela não pressionou, o que me deu um pequeno alívio.
Quando finalmente chegamos ao set, eu senti meus ombros relaxarem ligeiramente. O ambiente familiar, cheio de movimentação e vozes, era um alívio bem-vindo em comparação ao desconforto que pairava no carro.
— Bom, aqui estamos. — Disse Kiana, desligando o motor e soltando o cinto. Antes de sair, ela olhou para mim com um sorriso quase travesso. — Lembra, Brandon. Você não pode desgrudar de mim hoje.
Eu ri nervosamente, esfregando a nuca.
— Claro, tudo pelo profissionalismo, certo?
— Exatamente. — Ela respondeu, piscando para mim antes de sair do carro.
Seguimos juntos pelo estacionamento, e eu não pude deixar de notar como algumas pessoas olhavam para nós com curiosidade. Talvez porque normalmente não chegávamos juntos. Ou talvez porque, de alguma forma, a tensão entre nós parecia perceptível.
No set, nossos caminhos se separaram momentaneamente. Kiana foi para o camarim dela, enquanto eu fui para o meu. Assim que entrei, fui recebido por Daniel, que estava jogado em uma poltrona, com um sorriso malicioso no rosto.
— Olha só quem chegou. — Ele disse, empurrando meu ombro de leve. — Você veio com Kiana hoje?
Eu suspirei, sentindo o calor subir para minhas bochechas. Claro que ele ia notar. Daniel era do tipo que prestava atenção em tudo e adorava tirar sarro.
— É uma longa história. — Respondi, tentando manter a voz casual enquanto jogava minha bolsa em um canto.
— Ótimo. — Ele disse, inclinando-se para frente com os cotovelos apoiados nos joelhos. — Eu amo uma boa história.
Revirei os olhos, mas não consegui evitar um pequeno sorriso. Daniel era irritante às vezes, mas também era um dos poucos com quem eu me sentia à vontade para conversar.
— Não é tão interessante quanto você acha. — Eu disse, tentando afastar o assunto.
— Você acha que não — Ele retrucou, erguendo uma sobrancelha. —, mas, pelo jeito como você está corando, eu diria que tem mais nessa história do que você quer admitir.
Eu me joguei na cadeira oposta, passando as mãos pelo rosto e soltando um suspiro.
— Olha, é só um favor que ela me pediu. Nada demais.
— Favor... — Ele repetiu, saboreando a palavra como se fosse algo digno de análise. — E esse favor envolve você fingir ser o namorado dela, não é?
Levantei a cabeça abruptamente, olhando para ele com os olhos arregalados.
— Como você sabe disso?
— Brandon, por favor. — Ele disse, cruzando os braços com um sorriso satisfeito. — Eu posso não ser o mais atento aqui, mas não sou cego. Além disso, o que mais explicaria vocês chegarem juntos e ela literalmente grudada em você?
Eu não tinha uma resposta. Em vez disso, resmunguei algo ininteligível e afundei na cadeira, desejando que o chão me engolisse.
Daniel riu, claramente se divertindo com o meu desconforto.
— Relaxa, cara. Eu só estou brincando. Mas, sério, boa sorte com isso. Kiana pode ser durona, mas pelo jeito, ela confia em você. Isso é grande, sabe?
Aquelas palavras me pegaram desprevenido. Ele estava certo. Apesar de todo o desconforto, Kiana confiava em mim para ajudá-la com isso. E mesmo que eu ainda não tivesse certeza do porquê, era importante para ela, então também seria importante para mim.
— É... Eu acho que sim. — Respondi finalmente, minha voz soando mais baixa do que eu pretendia.
Daniel assentiu, seu sorriso diminuindo um pouco.
— Vai dar tudo certo, cara. E se as coisas ficarem complicadas, você sabe onde me encontrar.
— Valeu, Daniel. — Eu disse, genuinamente grato por suas palavras.
Ele deu de ombros e se levantou, dando um tapa de leve no meu ombro antes de sair do camarim.
— Agora vai lá fazer sua mágica. Quem sabe esse favor não se torne algo mais interessante, hein?
Eu apenas balancei a cabeça, rindo sem jeito enquanto ele saía. Daniel e suas teorias... Mas, no fundo, aquilo ficou martelando na minha mente. Algo mais interessante? Não, não era disso que se tratava. Isso era um trabalho, uma situação pontual para ajudar Kiana. Nada mais.
Depois de alguns minutos tentando me recompor, decidi sair do camarim e procurar Kiana. Eu tinha prometido não desgrudar dela hoje, e não ia quebrar essa promessa. Quando cheguei ao corredor onde ficava o camarim dela, parei por um segundo, respirando fundo. Eu precisava parecer confiante, mesmo que minha cabeça estivesse uma bagunça.
Bati de leve na porta e esperei. Logo, a voz de Kiana veio de dentro.
— Pode entrar.
Abri a porta e a encontrei sentada no sofá, ajustando um dos brincos. Ela estava tão composta e confiante, como sempre, que por um momento eu me senti ainda mais deslocado.
— Pronta para o grande dia? — Perguntei, tentando parecer casual.
Ela levantou o olhar para mim, um pequeno sorriso no rosto.
— Pronta. E você?
— Eu não desgrudo de você hoje, lembra? — Retruquei, apontando para ela com um sorriso nervoso.
— Ah, é. Meu namorado de aluguel... — Ela disse, rindo baixo enquanto se levantava.
Eu sabia que era uma piada, mas as palavras me atingiram de um jeito estranho. Namorado. De aluguel ou não, ouvir aquilo sair da boca dela fazia algo dentro de mim se agitar.
— Vamos lá? — Perguntei, tentando ignorar a sensação estranha enquanto segurava a porta para ela.
— Vamos. — Ela respondeu, passando por mim e saindo para o corredor.
Enquanto caminhávamos em direção ao set, notei que algumas pessoas nos observavam, murmurando entre si. Talvez fosse coisa da minha cabeça, mas parecia que todo mundo sabia. Ou pelo menos suspeitava.
— Relaxa. — Kiana disse de repente, como se tivesse lido meus pensamentos. — Eles provavelmente estão apenas curiosos.
— Curiosos sobre o quê? — Perguntei, tentando manter minha voz casual.
— Sobre por que você está andando comigo como se fosse meu guarda-costas. — Ela disse, dando de ombros.
Eu ri, embora fosse um riso nervoso.
— Bom, pelo menos estou fazendo o papel direito.
Ela olhou para mim, e por um momento, havia algo em seu olhar que parecia mais suave, mais genuíno. Mas então, como sempre, ela voltou a ser a Kiana confiante e determinada.
— Exatamente. E hoje, Brandon, nós somos um time. Lembre-se disso.
Eu assenti, mesmo que meu coração estivesse batendo um pouco mais rápido do que o normal. Hoje, éramos um time. E, por mais desconcertante que isso fosse, eu estava determinado a não decepcioná-la.
O dia no set havia sido longo, mas não ruim. As gravações correram bem, e com Kiana ao meu lado durante boa parte do tempo, até mesmo os momentos mais tensos ficaram... Suportáveis. Mas agora, enquanto eu observava ela conversar com Mary e os outros sobre pizza, algo na minha cabeça simplesmente não parava de girar. Era como se cada pequena interação entre nós, cada toque ou olhar, estivesse se acumulando, criando uma confusão interna que eu não sabia como lidar.
Então, quando ouvi meu nome mencionado casualmente por ela, minha atenção foi instantaneamente capturada. Fingi que não estava prestando atenção, me concentrando em um pedaço imaginário de fiapo na minha camisa, mas meu coração deu um salto.
— Será que uma pizza cairia bem hoje? — A voz de Kiana era descontraída, mas quando me virei para ela, seus olhos estavam fixos em mim com uma expectativa quase desafiadora.
Eu coloquei a mão no peito e soltei um suspiro exagerado, como se fosse um ator dramático prestes a declamar uma fala épica.
— Cairia muito bem. — Respondi, deixando minha voz carregada de humor. Ela riu, uma risada genuína que me fez sorrir, e naquele momento, parecia que o mundo inteiro podia esperar.
Mas, claro, o mundo não ia esperar. E muito menos Rick.
Kiana colocou a mão no meu ombro, um gesto casual, mas que de alguma forma enviou um choque direto para o meu sistema nervoso. Ela apontou na direção do estacionamento com a outra mão, suas palavras saindo em um tom quase despreocupado.
— Primeiro passamos pela prova de fogo, Rick.
E foi isso. Um nome. Uma simples palavra. Mas bastou para que todo o meu corpo endurecesse.
Assenti, tentando manter a calma, mas minhas mãos estavam ligeiramente suadas.
— Tudo bem. — Respondi, minha voz mais neutra do que eu me sentia por dentro.
Porém, internamente, meu cérebro já estava a mil. Rick. O cara que parecia incapaz de aceitar um "não" como resposta. O cara que fazia Kiana se sentir desconfortável ao ponto de me envolver nisso. Eu já o odiava, mesmo sem ter trocado uma única palavra com ele.
Enquanto caminhávamos em direção ao estacionamento, eu tentava parecer confiante. Afinal, eu tinha um papel a desempenhar, e isso significava estar ao lado de Kiana, mostrando que ela não estava sozinha nessa. Mas, por dentro, eu sentia uma mistura de nervosismo e irritação crescente.
— O que ele faz aqui? — Perguntei casualmente, tentando parecer desinteressado, embora minha mandíbula estivesse ligeiramente tensa.
Kiana suspirou, parecendo cansada só de pensar no assunto.
— Ele sempre aparece. Às vezes, é para me confrontar; outras vezes, é só para 'aparecer'. Eu já nem sei mais.
— Você nunca pensou em... Sei lá, uma ordem de restrição? — Minha pergunta saiu um pouco mais séria do que eu pretendia, mas não pude evitar.
Ela deu uma risadinha curta, mas sem humor.
— Já pensei, mas ele nunca cruza uma linha que justifique isso. É sempre na linha tênue, sabe? Um incômodo, mas não exatamente um crime.
Eu apertei os lábios, minha irritação crescendo ainda mais. Esse cara era claramente um problema, e o fato de ele saber exatamente até onde ir para escapar de consequências só me deixava ainda mais desconfiado.
Chegamos ao estacionamento, e lá estava ele. Rick estava encostado em um carro preto, com os braços cruzados e uma expressão que eu só podia descrever como provocadora. Ele era alto, bem vestido, com aquele tipo de ar confiante que beirava a arrogância.
— Pronta para isso? — Perguntei a Kiana, mantendo minha voz baixa para que apenas ela pudesse ouvir.
Ela deu um pequeno sorriso de canto, mas seus olhos mostravam que ela estava tão tensa quanto eu.
— Sempre.
Respirei fundo, ajustei minha postura e coloquei a mão na base das costas dela, um gesto casual, mas intencional. Se Rick queria um show, ele ia ter.
Quando nos aproximamos, Rick descruzou os braços, os olhos dele se movendo diretamente para mim. Ele claramente não esperava minha presença, e isso foi uma pequena vitória que guardei para mim mesmo.
— Oi, Kie. — Ele disse, ignorando completamente minha existência.
— Oi, Rick. — Ela respondeu, sua voz educada, mas distante.
— Quem é ele? — Rick perguntou, finalmente apontando o que estava óbvio.
Eu me adiantei antes que Kiana pudesse responder, estendendo minha mão com um sorriso firme, mas amigável.
— Brandon. Namorado da Kiana. E você deve ser o Rick.
Ele olhou para minha mão, mas não a apertou. Em vez disso, voltou seu olhar para Kiana, como se minha presença fosse irrelevante.
Ah, cara, isso vai ser divertido. Ou um pesadelo. Provavelmente os dois.
Rick me olhou de cima a baixo como se tentasse me avaliar, como se estivesse tentando encontrar alguma falha que justificasse sua hostilidade. Eu já me considerava alto, mas ele era ainda mais, o que só adicionava uma certa sombra de imponência ao seu jeito arrogante. Loiro, olhos claros, porte atlético... Ele era o tipo de cara que parecia ter saído de um catálogo de modelos, o "padrão ideal" que, admito, poderia intimidar muita gente. Mas isso não me deixava inseguro, só profundamente desconfortável.
Enquanto Rick continuava com seu olhar crítico, uma pergunta começou a se formar na minha mente, quase como uma coceira que eu não conseguia ignorar, por que, exatamente, eles terminaram? Kiana parecia forte e independente, mas a tensão em seus ombros dizia que estar perto dele era tudo, menos confortável. Eu queria entender o que havia acontecido entre eles, mesmo sabendo que talvez nunca tivesse essa resposta.
— Agora que você viu que eu não estava blefando — Kiana disse, sua voz firme, mas com uma pontada de irritação controlada. —, você pode parar de me seguir como um maluco.
Rick riu, uma risada curta e claramente incrédula. Ele cruzou os braços e, com um tom que fazia minha pele arrepiar de irritação, apontou na minha direção.
— Você me trocou por isso?
Isso. Uma palavra simples, mas ofensiva de uma maneira que eu não esperava. Minhas sobrancelhas se ergueram automaticamente, e antes que pudesse evitar, um riso curto e incrédulo escapou dos meus lábios. Eu balancei a cabeça, sentindo meu peito apertar com algo que eu não sabia se era raiva ou apenas uma vontade intensa de confrontá-lo.
— Isso? — Repeti, o sarcasmo escorrendo da minha voz. — Eu que deveria tirar essa conclusão de alguém como você.
Nem sabia de onde tinha tirado aquilo. Não era do meu feitio provocar ou entrar em brigas, mas algo no tom dele, na forma como ele nos olhava como se fossemos inferiores, mexeu comigo de uma maneira inesperada. Eu podia sentir o calor subir para o meu rosto enquanto Rick dava de ombros, completamente despreocupado, como se minhas palavras não significassem nada para ele.
— Você não é o melhor pra ela. Definitivamente. — Ele disse, seu tom impassível, mas claramente carregado de desprezo.
Kiana, ao meu lado, respirou fundo, e quando ela falou, sua voz era afiada como uma lâmina.
— É uma pena Rick, porque quem decide isso sou eu.
Ela não esperou por uma resposta. Antes que Rick pudesse dizer qualquer outra coisa, Kiana segurou minha mão e me puxou com ela, o movimento rápido e decidido. Eu mal tive tempo de processar o calor da palma dela contra a minha antes de ser arrastado para longe daquele confronto.
Caminhamos alguns metros pelo estacionamento antes que eu arriscasse olhar para trás. Rick estava parado onde o deixamos, os braços cruzados novamente e a mandíbula visivelmente tensa. Ele parecia prestes a explodir, mas, felizmente, não nos seguiu.
— Você tá bem? — Perguntei, minha voz baixa, mas carregada de preocupação.
— Ótima. — Ela respondeu rapidamente, mas a maneira como ela respirava, rápida e irregular, dizia outra coisa. Eu sabia que ela estava tentando disfarçar.
Não insisti. Apenas segui ao lado dela em silêncio, deixando-a ditar o ritmo. Quando estávamos longe o suficiente, ela finalmente soltou minha mão, mas ainda parecia tensa, o que me deixou inquieto.
Então, inesperadamente, ela soltou um suspiro longo e deu um pequeno sorriso, olhando para mim de canto de olho.
— A propósito, você foi muito bem lá. Obrigada, Brandon.
Meus lábios se curvaram em um sorriso discreto, um que tentei esconder, mas que acabou escapando mesmo assim. O elogio parecia genuíno, mas eu sabia que a situação toda não tinha nada de atuação para mim. O desconforto, a irritação, e até mesmo o impulso de confrontar Rick... Nada disso foi um papel. Foi real.
Eu não disse nada, apenas segui ao lado dela, tentando processar tudo. Rick não parecia um problema fácil de resolver, mas, por ora, parecia que havíamos vencido a primeira batalha. E se dependesse de mim, ele nunca mais chegaria perto dela novamente.
Obs: Odiei o Brandon nessa manip, coitado, mas o que vale é a intenção 😞☝🏻.
Obra autoral ©
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