05. You ain't my boyfriend
Entrei no carro e fechei a porta com mais força do que pretendia, o som ecoando no estacionamento quase vazio. Deixei minha cabeça cair no volante por alguns segundos, respirando fundo para acalmar os pensamentos que insistiam em correr livres, caóticos. O dia tinha sido longo, e minha mente não sabia no que focar primeiro. O beijo técnico. A intensidade das cenas. A forma como Brandon tinha reagido... Ou como eu mesma tinha reagido.
Foi só um beijo técnico. Uma atuação. Parte do trabalho. Repeti isso para mim mesma enquanto passava a mão pelos cabelos, agora soltos e um pouco bagunçados. Mesmo assim, a lembrança daquela troca de olhares logo depois do "corta" parecia uma sombra que não me largava. Suspirei profundamente e, de repente, comecei a rir. Não conseguia evitar. Era uma risada nervosa, mais um reflexo da exaustão emocional e física do que qualquer outra coisa. A cena dele bêbado ainda estava fresca na minha mente, e o beijo forçado... Meu Deus, que dia.
Apoiei as mãos no volante e respirei fundo de novo, como se estivesse tentando expulsar tudo isso. Mas, quando finalmente liguei o carro, meu olhar foi para o celular no banco do passageiro. Ele vibrou pela terceira vez, a luz da tela piscando como um pequeno alerta de que o mundo lá fora ainda precisava de mim. Peguei o aparelho e olhei as mensagens que tinha ignorado até agora. Todas de Rick.
Rick: Precisamos conversar. É urgente.
Rick: Por favor, me encontre no restaurante de sempre. Hoje, às 21h.
Franzi os lábios, sentindo aquele velho incômodo que sempre aparecia quando via o nome dele. Rick. Ex-namorado, ex-tudo. Era difícil definir nossa relação atualmente, mas "confusa" parecia uma palavra adequada. Ele sempre aparecia quando eu menos esperava, trazendo junto um emaranhado de sentimentos que eu não queria mais lidar.
Suspirei e larguei o celular de volta no banco, sem responder. Olhei para o relógio no painel. Eram 20h30. Tempo suficiente para decidir se eu iria ou não.
Com as mãos no volante, comecei a dirigir, o som baixo do motor preenchendo o silêncio. Meus pensamentos estavam uma bagunça. Por um lado, eu queria ignorar Rick completamente. Não devia nada a ele. O passado era passado, e eu tinha deixado isso claro. Mas, por outro lado, a curiosidade me picava como um inseto incômodo. O que ele queria tão urgentemente? E por que agora?
Enquanto dirigia pelas ruas tranquilas, tentei colocar as ideias no lugar. Meu estômago ainda estava embrulhado pela tensão do dia, mas o nervosismo com Rick era diferente. Mais irritante.
Passei por um semáforo e olhei de relance para o celular novamente. Por um momento, considerei pegar o caminho contrário e simplesmente ir para casa, esquecer tudo isso e me trancar no meu quarto com uma taça de vinho e uma playlist calma. Mas havia algo nas mensagens dele que não me deixava fazer isso. Algo na insistência.
— Ok, Kiana. Decide de uma vez. — Murmurei para mim mesma, batendo os dedos no volante.
Era ridículo o quanto ele ainda conseguia me afetar, mesmo depois de tudo. Mesmo depois de eu ter superado. Certo?
Com um suspiro frustrado, virei na próxima esquina, me aproximando da avenida onde o restaurante ficava. Não sabia se estava sendo curiosa ou simplesmente tola, mas algo em mim dizia que eu precisava descobrir o que Rick queria dessa vez.
Respirei fundo, passando as mãos no volante uma última vez antes de desligar o carro. Estacionei na frente do restaurante e encarei a fachada iluminada como se fosse a entrada de um campo de batalha. Não tinha mais volta agora. Decidi que seria a última conversa, o ponto final nessa perseguição sem sentido que Rick parecia insistir em prolongar. Eu estava cansada, exausta de lidar com essa obsessão que ele chamava de "amor".
O rádio ainda tocava baixinho, e a voz grave e melancólica de Massive Attack preenchia o espaço do carro. "Angel". Não pude deixar de notar a ironia. Aquela música era como uma trilha sonora para o tipo de sentimento que Rick nutria por mim: um amor tóxico, possessivo, quase sufocante. Balancei a cabeça, tentando afastar o peso das memórias que insistiam em vir à tona.
— Ok, Kiana. Só entre, fale o que tem que falar e saia. Acabe com isso de uma vez. — Murmurei para mim mesma antes de abrir a porta do carro e sair.
O ar da noite estava fresco, mas não me trouxe o alívio que eu esperava. Minhas mãos estavam frias, e meus passos eram mais pesados do que eu gostaria. E lá estava ele, parado na entrada do restaurante, olhando para o celular como se estivesse conferindo a hora ou talvez mandando outra mensagem para me apressar.
Rick parecia exatamente como eu me lembrava: cabelo perfeitamente arrumado, camisa social que ele sabia que realçava o tom de sua pele, um sorriso que provavelmente funcionava para conquistar qualquer outra pessoa... Mas não mais comigo. Não agora, nem nunca.
Quando ele me viu, o sorriso se abriu ainda mais, como se estivéssemos prestes a reviver algum encontro romântico do passado. Eu senti uma pontada de irritação subir pela espinha.
Ele deu um passo à frente, abrindo os braços como se fosse me cumprimentar com um abraço ou um beijo no rosto, mas eu levantei a mão, interrompendo qualquer tentativa.
— Vamos logo. — Disse firme, sem sequer dar espaço para ele responder. Passei por ele e entrei no restaurante, sentindo o peso de seus passos logo atrás de mim.
O lugar estava exatamente como eu me lembrava, mesas de madeira bem polidas, luzes quentes e uma música ambiente que tentava criar um clima relaxante. Mas, para mim, aquele lugar não era nada além de uma lembrança desconfortável. Era o lugar onde costumávamos vir quando estávamos juntos, onde ele sempre fazia questão de mostrar para os outros clientes que éramos "perfeitos juntos". Agora, tudo parecia vazio, quase sufocante.
Rick puxou uma cadeira para mim, e eu me sentei apenas porque queria acabar logo com aquilo. Ele se sentou na cadeira oposta, ainda com aquele maldito sorriso no rosto.
— Você está linda, Kie. — Ele disse, a voz carregada de charme que um dia talvez tivesse funcionado comigo.
— Rick, por favor, vamos direto ao ponto. — Cortei, cruzando os braços sobre a mesa. Eu não estava aqui para cortesias ou elogios.
Ele pareceu surpreso por um segundo, mas rapidamente voltou a sorrir, como se achasse minha atitude desafiadora charmosa.
— Ok, direto ao ponto... — Ele começou, inclinando-se ligeiramente para frente. — Eu queria te ver porque... Acho que ainda podemos consertar as coisas, sabe? Nós éramos incríveis juntos, Kiana. Eu sei que as coisas ficaram complicadas, mas ainda te amo. Sempre amei.
Revirei os olhos, sentindo meu sangue ferver. Era sempre a mesma ladainha. Ele nunca mudava.
— Rick, você não entende? O que tivemos acabou. Não tem mais nada para consertar porque não há mais nada. Eu segui em frente, e você deveria fazer o mesmo.
Ele balançou a cabeça, como se estivesse ouvindo algo absurdo.
— Você só está dizendo isso porque ainda está magoada. Eu sei que cometi erros, mas...
— Mas nada! — Interrompi, minha voz um pouco mais alta do que eu pretendia. Algumas pessoas nas mesas próximas olharam na nossa direção, mas eu não me importei. — Rick, você precisa ouvir o que eu estou dizendo. Não é uma questão de mágoa. É uma questão de acabou. Eu não sinto mais nada por você.
O sorriso dele finalmente desapareceu, substituído por uma expressão que misturava confusão e raiva. Ele abriu a boca para responder, mas eu levantei a mão de novo.
— Não, Rick. Dessa vez, você vai ouvir. Chega dessa obsessão, desse 'amor' que você acha que sente. Isso não é saudável, nem pra mim, nem pra você. Você precisa aceitar que não há mais nós. Não há volta. E, sinceramente, eu espero que você encontre outra pessoa, alguém que realmente queira estar com você, porque eu não quero.
Fiquei de pé, sentindo meu coração bater acelerado. Ele parecia atordoado, como se não acreditasse no que eu estava dizendo.
— Espero que isso tenha ficado claro agora. Adeus, Rick. — Finalizei, virando as costas antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.
Enquanto saía do restaurante, senti uma onda de alívio e liberdade que não sentia há muito tempo. Era isso. Fim. Rick era uma página virada, e eu nunca mais precisava abrir aquele capítulo.
Senti o puxão no meu pulso e virei bruscamente, meu olhar já carregado de irritação. Rick estava ali, me encarando com uma expressão que oscilava entre desespero e raiva. O que ele queria agora?
— Rick, o que você pensa que está fazendo? — Perguntei, minha voz mais firme do que eu esperava, mas ainda assim controlada.
— Eu preciso saber, Kiana... — Ele disse, o tom quase uma súplica. — Por favor, só me diga... Você tem outra pessoa?
Pisquei, tentando processar a pergunta. Ele realmente acreditava que essa era a razão de eu não querer mais nada com ele? Respirei fundo, pronta para dizer a verdade, pronta para simplesmente encerrar essa conversa com um "não, mas isso não é da sua conta", mas algo dentro de mim hesitou. Conhecendo Rick, isso só daria mais munição para ele continuar me perseguindo, para insistir que ele ainda tinha chances.
Então, sem nem pensar muito, as palavras escaparam da minha boca antes que eu pudesse me deter:
— Sim, eu tenho.
Por um segundo, o rosto dele se transformou. Ele ficou paralisado, o olhar fixo em mim como se estivesse tentando assimilar o que eu acabara de dizer. Mas então, como era típico de Rick, a raiva rapidamente tomou o lugar da surpresa.
— Quem é? — Ele apertou um pouco mais meu pulso, não forte o suficiente para machucar de verdade, mas o suficiente para me incomodar. — Diz o nome dele, Kiana!
Soltei meu braço com um puxão rápido, dando um passo para trás e estreitando os olhos.
— Isso não é da sua conta, Rick. — Respondi, mantendo a voz firme, mas já sentindo meu coração acelerar.
Ele cruzou os braços, o olhar carregado de desconfiança.
— Se você tem alguém, então diz o nome dele.
Eu queria gritar, queria dizer para ele ir embora e me deixar em paz, mas sabia que isso só prolongaria a cena. Ele não desistiria sem uma resposta. E foi aí que cometi o erro. Aquele erro que eu sabia que me perseguiria mais tarde.
— Brandon.
Assim que o nome saiu, me arrependi. Meu estômago revirou e eu quase quis morder a língua para fazer as palavras voltarem. Por que, de todas as pessoas, eu tinha que dizer ele?
Rick franziu o cenho, confuso.
— Brandon? Ele trabalha com você?
Dei de ombros, tentando parecer desinteressada.
— Como eu já disse... Não é da sua conta, Rick.
Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, virei-me e comecei a caminhar rapidamente em direção ao carro. Mas, claro, ele não desistiria tão fácil.
— Se você não quer que eu continue te seguindo, Kiana, quero conhecê-lo! — Ele gritou atrás de mim, e pude sentir os olhares das poucas pessoas na rua se voltando para nós.
Cerrei os dentes, passando a mão pelos cabelos enquanto acelerava o passo. Meus pensamentos estavam uma bagunça. Por que eu disse o nome de Brandon? Por que, de todas as pessoas, ele foi o primeiro a surgir na minha mente?
Rick continuava falando algo atrás de mim, mas eu já não conseguia ouvir direito. Minha mente estava presa na besteira que eu tinha acabado de fazer. E agora? Ele realmente insistiria em conhecer Brandon? Como eu explicaria isso para ele? Como eu explicaria para mim mesma?
Entrei no carro e fechei a porta com mais força do que o necessário, respirando fundo enquanto apoiava a testa no volante.
— Droga, Kiana... — Murmurei para mim mesma. — Droga, droga, droga.
O nome de Brandon estava gravado na minha cabeça agora. E o pior era que, por mais que eu tentasse racionalizar, por mais que eu dissesse para mim mesma que foi só um reflexo, eu sabia que não era só isso. Ele estava na minha mente porque, ultimamente, ele sempre estava. E agora, graças a essa confusão, eu tinha arrastado ele para algo que ele não merecia.
Liguei o carro, tentando afastar os pensamentos, mas tudo o que eu conseguia sentir era uma mistura de vergonha, culpa e uma pontada estranha que eu não queria admitir que era... Nervosismo.
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Já era uma da manhã e eu estava parada na frente da porta do Brandon, meu coração batendo rápido demais. Passei a mão pelos cabelos, nervosa, tentando organizar na cabeça o que eu ia dizer. Como eu explicaria a bagunça em que tinha me metido? Pior, como eu pediria para ele me ajudar?
Respirei fundo e bati na porta, primeiro uma vez, depois duas, depois três, batendo o pé de ansiedade enquanto esperava. Por que ele estava demorando tanto? Eu quase desisti e voltei para o meu quarto, mas a porta finalmente se abriu, revelando Brandon.
Ele estava com o cabelo bagunçado, o rosto meio amassado de sono, e os olhos semicerrados de confusão. Ele olhou para mim, e a preocupação passou pelo rosto dele.
— Kiana? Tá tudo bem? — Perguntou, a voz rouca e baixa.
Eu me mexi, nervosa, olhando para o chão por um instante antes de voltar a encará-lo.
— A gente pode conversar?
Brandon passou a mão no rosto, claramente ainda meio grogue.
— Não pode ser amanhã cedo? Já é uma da manhã...
Eu respirei fundo, tentando manter a calma.
— Eu sei que tá tarde, mas... Eu preciso de um favor um pouco urgente.
Ele franziu o cenho, despertando de vez, e o tom na voz dele mudou, ficando mais sério.
— Que tipo de favor?
Minha garganta estava seca, mas as palavras saíram antes que eu pudesse hesitar de novo.
— Você poderia ser meu... Namorado?
Por um segundo, houve silêncio. Um silêncio tão pesado que parecia que o mundo inteiro tinha parado. Então, de repente, ele engasgou com o ar, tossindo de forma tão exagerada que eu dei um passo à frente, assustada.
— Você tá bem?! — Perguntei, arregalando os olhos.
Ele ergueu a mão, como se pedisse para eu esperar enquanto tentava se recompor.
— O... O quê? — Ele finalmente conseguiu perguntar, olhando para mim como se eu tivesse perdido a cabeça.
— Agora nós podemos conversar? — Retruquei, cruzando os braços e batendo o pé no chão, impaciente.
Ele respirou fundo, esfregando a nuca, ainda visivelmente atordoado. Finalmente, ele abriu a porta completamente e deu um passo para o lado.
— Tá bom. Entra.
Entrei no quarto, tentando não prestar atenção na confusão de roupas espalhadas pela cadeira ou no som baixo da TV que ele esqueceu ligada. Eu estava muito nervosa para me concentrar em qualquer outra coisa além do favor insano que estava prestes a pedir.
Brandon fechou a porta e cruzou os braços, encostando-se na parede enquanto me encarava, ainda com um olhar de quem não sabia se estava sonhando ou acordado.
— Ok, Kiana. Do que exatamente você tá falando?
Eu dei alguns passos pelo quarto, incapaz de ficar parada. Era como se andar ajudasse a organizar meus pensamentos, embora claramente não estivesse funcionando.
— Olha... — Comecei, parando para encará-lo. — Eu fiz uma besteira. Grande. E eu preciso da sua ajuda.
Ele arqueou uma sobrancelha, esperando que eu continuasse.
— Eu... Menti. Pra alguém. E agora preciso que você... Aja como se fosse meu namorado. Só por um tempo. É só uma encenação.
Os olhos dele se arregalaram, e ele descruzou os braços, claramente surpreso.
— Você tá falando sério? Você quer que eu finja ser seu namorado? Por quê?
Suspirei, passando as mãos pelo rosto.
— Porque o Rick, aquele cara que eu namorava antes, não para de me perseguir, e eu achei que dizer que eu tava com alguém seria o suficiente pra ele me deixar em paz. Mas agora ele quer... Te conhecer.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, me observando como se estivesse tentando decifrar o que se passava na minha cabeça.
— E por que, de todas as pessoas, você disse meu nome?
Engoli em seco. Essa era a parte que eu não queria admitir nem pra mim mesma. "
— Eu... Foi o primeiro nome que me veio à cabeça, ok? Me desculpa.
Brandon passou a mão pelos cabelos, bagunçando ainda mais. Ele parecia estar tentando entender a situação e, ao mesmo tempo, processar a ideia de fingir ser meu namorado.
— Isso é... Surreal. — Ele disse finalmente, balançando a cabeça.
— Eu sei. — Respondi rapidamente. — E eu sei que pedir muito, mas... Por favor, Brandon. É só uma vez. Você só tem que ir comigo até ele e... Sei lá, agir como se a gente fosse um casal.
Ele olhou para mim, seus olhos castanhos me analisando com cuidado. Por um momento, pensei que ele ia recusar. Mas, para minha surpresa, ele suspirou e deu um pequeno sorriso.
— Tá bom, Kiana. — Ele disse. — Eu faço isso. Mas você me deve uma explicação melhor depois.
Eu não consegui evitar o sorriso de alívio que se espalhou pelo meu rosto.
— Obrigada. De verdade.
— Mas só uma vez, ok? — Ele acrescentou, apontando para mim.
— Ok. — Prometi, sentindo um peso sair dos meus ombros.
Agora só restava torcer para que isso desse certo... E para que eu não complicasse ainda mais as coisas no processo.
Brandon parecia um misto de nervosismo e ansiedade enquanto me olhava, claramente tentando encontrar as palavras certas para continuar a conversa. Ele tinha concordado em me ajudar, e agora parecia que queria pedir algo em troca, mas estava hesitante. Eu franzi o cenho, tentando entender o que estava passando pela cabeça dele.
— Brandon, relaxa... — Eu disse, cruzando os braços com um sorriso para aliviar o clima. — Pode falar. Você tem todo o direito de pedir alguma coisa. Eu tô devendo essa, lembra?
Ele passou a mão pelos cabelos, um gesto que percebi ser típico dele quando estava desconfortável ou nervoso. Depois, abaixou o olhar para o chão, claramente se preparando para soltar algo difícil.
— É que... — Ele começou, mas parou, como se estivesse reconsiderando. Então suspirou, balançando a cabeça e finalmente disse — Eu tava pensando... Será que a gente podia treinar um beijo técnico?
Por um segundo, achei que não tinha ouvido direito. Fiquei tão surpresa que acho que até parei de respirar por um instante.
— Como é? — Perguntei, piscando rápido, tentando processar.
Ele levantou as mãos rapidamente, quase em defesa, e começou a se explicar de forma tão atrapalhada que eu tive que me segurar para não rir.
— Não, espera... Eu não quis dizer de um jeito estranho ou... Você sabe... — Ele parou, coçou a nuca e desviou o olhar, claramente envergonhado. — É que... Eu não sei se vou conseguir continuar fazendo essas cenas na frente das câmeras sem parecer... Um idiota completo. Eu fico nervoso, sabe? Ainda mais com você.
A última frase fez meu estômago dar um nó, mas eu mantive a expressão neutra, embora pudesse sentir o calor subindo para o meu rosto.
Ele continuou, tentando se justificar.
— Eu só pensei que... Se a gente ensaiasse, talvez eu ficasse menos nervoso. Não quero parecer um aproveitador, de verdade. É que eu realmente... Fico meio intimidado com você nesse tipo de cena.
Foi nesse momento que não consegui segurar uma risada. A maneira como ele estava tão nervoso, quase tropeçando nas próprias palavras, era... Fofa. Simplesmente fofa.
— Você é tão fofo quando fica nervoso... — Su disse, sem nem pensar direito, e vi os olhos dele se arregalarem enquanto ele passava a mão na nuca de novo, claramente ainda mais nervoso.
— Eu não sou fofo... — Ele respondeu rapidamente, mas o tom baixo e hesitante só reforçou o contrário.
Eu ri de novo, mas dessa vez, algo na situação me deixou mais ciente da... Intensidade no ar. Não sei se era porque ele parecia tão vulnerável ou porque eu estava começando a pensar demais em tudo.
Respirei fundo, tentando manter o controle. Isso era loucura. Absolutamente loucura. Mas, ao mesmo tempo, ele estava certo. Se a gente tinha que encenar algo convincente, talvez um ensaio fosse uma boa ideia.
— Hm... Tudo bem. — Eu disse, hesitando um pouco enquanto cruzava os braços. — Podemos fazer isso. Amanhã, antes do ensaio. Mas só pra ficar claro, é puramente profissional, tá bom?
Ele assentiu rapidamente, quase aliviado, mas ainda nervoso.
— Sim, claro. Profissional. Totalmente profissional.
Ficamos em silêncio por alguns segundos depois disso, e a tensão parecia quase palpável. Eu estava nervosa, embora tentasse disfarçar, e ele estava... Bom, um desastre completo.
— Então... É isso. — Eu disse, tentando quebrar o clima estranho.
— É. — Ele respondeu, ainda parecendo perdido.
Dei um meio sorriso antes de me virar para sair do quarto.
— Boa noite, Brandon. Não esquece, amanhã, profissional, ok?
— Boa noite, Kie. — Ele disse, mas eu senti o peso do olhar dele nas minhas costas enquanto saía.
Quando fechei a porta atrás de mim, me encostei na parede do corredor e soltei um longo suspiro. O que eu tinha acabado de concordar em fazer? Por que eu estava tão nervosa? E, pior... Por que a ideia do ensaio parecia mais assustadora do que qualquer cena que já tínhamos gravado juntos?
Obra autoral ©
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