03. So american
O aroma forte do café preto subia pelo copo descartável, invadindo minhas narinas e me dando a energia que precisava para enfrentar o dia. Eu havia passado boa parte da noite repassando mentalmente a cena que gravaríamos hoje, a briga na praia, uma das mais intensas até agora. Embora eu estivesse segura sobre a preparação, sabia que a gravação traria um turbilhão de emoções. Não era só o peso da cena, mas também o impacto que ela teria no desenvolvimento de Calista e Kwon. Nós já gravamos boa parte das cenas até então, ao longo das semanas, e tudo tem fluído muito bem, mas sabia que essa cena seria diferente.
Eu saí da pousada com meu café em mãos, a luz da manhã iluminando o estacionamento. Foi quando vi Brandon se aproximando, aparentemente esperando o carro que o levaria até o set. Ele parecia calmo, mas já tinha aprendido a ler os pequenos sinais de nervosismo que ele tentava esconder.
— Ei! — Chamei, acenando animadamente enquanto caminhava em direção a ele.
Ele se virou, o rosto iluminando-se com um sorriso discreto quando me viu. Parei perto dele, avaliando o carro que o levaria. Não pude resistir a dar um empurrãozinho leve em seu ombro, a maneira mais simples de aliviar a tensão que sabia que ele também estava sentindo.
— Está pronto para um pouco de emoção hoje? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha com um sorriso brincalhão nos lábios.
Brandon deu uma risadinha nervosa, desviando o olhar por um segundo antes de me encarar de novo.
— Não sei se "pronto" é a palavra certa. Não gosto muito da ideia de o Kwon ser um completo babaca nessa cena. — Ele fez uma careta, e seu tom era sincero, quase culpado, mas logo suavizou com um sorriso. — Mas, gravar com você? Isso vai ser divertido.
Eu balancei a cabeça, rindo um pouco.
— Faz parte do arco dele. Vai ser impactante — Falei, tentando passar alguma confiança. — E, no fim, ele é só humano, não é? É nas falhas que ele cresce.
Ele assentiu, parecendo considerar minhas palavras.
— Verdade. — Ele abriu um sorriso que agora parecia mais relaxado. — Bem, vou me esforçar para não errar o soco coreografado.
Ri, levantando o copo de café num gesto quase triunfante.
— Melhor não errar, ou o Kwon vai sair mais quebrado que a Calista. — Dei uma piscadinha e comecei a me afastar em direção ao meu carro. — Nos vemos no set.
— Nos vemos lá — Respondeu ele, acenando enquanto seu sorriso crescia um pouco mais.
Entrei no carro, deixando o resto do café aquecer minhas mãos enquanto dava partida no motor. O estacionamento já estava ficando vazio à medida que outros membros do elenco e da equipe seguiam para o local de filmagem. Enquanto dirigia, minha mente já começava a se focar nos detalhes da cena, revivendo o roteiro e visualizando os movimentos. Havia algo poderoso em saber que, apesar da intensidade da cena, Brandon e eu estávamos alinhados e dispostos a dar o máximo para trazer aquela história à vida.
Enquanto eu abria a porta do carro, o som insistente do celular vibrou no bolso da minha jaqueta. Sem nem olhar, meu coração já sabia quem era, Rick. Aquele nome sempre trazia uma mistura de exaustão e irritação. Peguei o celular e confirmei minha suspeita. Sua foto de perfil, que eu deveria ter apagado há meses, piscava na tela.
Rick. Outra vez.
Fechei os olhos por um momento, sentindo um arrepio desconfortável subir pela espinha. Ele nunca soube lidar com o nosso término, mas, sinceramente, eu já estava cansada de suas tentativas patéticas de se manter presente na minha vida. Respirei fundo, ignorando o aperto que aquele nome me causava no peito, e fiz o que deveria ter feito há muito tempo, deslizei o dedo na tela e apertei "encerrar chamada" sem hesitar.
Guardei o celular no console com mais força do que o necessário e sentei no banco, fechando a porta com um pouco de raiva. Apoiei a testa no volante por um breve momento, tentando apagar o incômodo que ele sempre conseguia despertar. Não era o dia para isso.
— Ele não vai estragar meu momento. — Murmurei, levantando a cabeça e respirando fundo. — Não outra vez.
Meu olhar recaiu no copo de café ao meu lado, como um lembrete reconfortante de que eu tinha coisas maiores e melhores para focar. Hoje era sobre Calista, sobre o arco dela, sobre o meu trabalho. Sobre fazer algo que eu sonhei por tanto tempo.
Liguei o carro e deixei a música começar a tocar pelo som interno. Desta vez, algo mais animado e envolvente. Precisava entrar no clima certo. Conforme os primeiros acordes preenchiam o espaço, senti a tensão começando a se dissipar. Olhei para o retrovisor, ajeitando o cabelo e dando um sorriso encorajador a mim mesma. Era só mais uma distração. Eu estava no controle.
Dirigi rumo ao set, sentindo a excitação se infiltrar de novo em meu corpo. A cena que gravaríamos hoje seria carregada de emoções, e, por mais estranho que pudesse parecer, eu mal podia esperar para enfrentar aquilo. A briga na praia não seria fácil, mas era exatamente o tipo de desafio que me fazia sentir viva, conectada ao que eu amo fazer. Era isso que importava.
Rick podia ligar mil vezes. Hoje, nada tiraria meu foco.
⋆౨ৎ˚⟡˖
Algumas horas depois, já estávamos no set de filmagem, e o burburinho ao meu redor parecia elevar a energia do lugar. Eu estava encostada em uma cadeira próxima ao monitor, conversando com Peyton e Rayna. Elas estavam animadas, rindo enquanto descreviam os movimentos que tiveram que fazer para uma das cenas de luta mais intensas do dia.
— Rayna deu um chute tão perfeito que quase arrancou a espada da mão do coordenador de dublês! — Peyton comentou, gargalhando.
— Foi tudo culpa dele! — Rayna retrucou com um sorriso de orgulho. — Ele disse que queria ver força de verdade. Então, eu mostrei.
Nós rimos juntas, mas minha atenção foi desviada quando um dos produtores se aproximou, chamando meu nome.
— Kiana, estamos prontos para começar a preparar a cena da praia.
Meu coração deu um leve salto de excitação. A cena. Finalmente.
— Parece que é a minha vez. — Eu disse às meninas, pegando meu casaco da cadeira.
Elas me desejaram sorte, Peyton ainda brincando.
— Não deixe Brandon te acertar de verdade! — Eu ri, balançando a cabeça, e caminhei em direção ao grupo que já se reunia para a troca de cenário.
O plano era simples, gravaríamos no início da noite na praia, aproveitando a iluminação natural da lua e algumas luzes estrategicamente posicionadas pela equipe. Quando cheguei ao ponto de encontro, vi Brandon, Patrick e Daniel já esperando. Cada um segurava seu roteiro, revisando as linhas em silêncio.
— Prontos para arrasar? — Eu perguntei, enquanto me aproximava. Patrick sorriu.
— Se você não errar suas falas, talvez. — Ele provocou, piscando.
— Ah, não me subestime — Retruquei, com um olhar desafiador.
Todos riram, e logo estávamos em um dos carros da produção, prontos para seguir até a praia. O trajeto foi breve, mas cheio de conversas animadas. Eu estava sentada ao lado de Patrick, que usava a viagem como uma oportunidade para repassar as linhas dele comigo.
— Eu sinto que o diálogo aqui precisa de mais intensidade — Ele disse, olhando para o roteiro. — Tipo, Kwon deveria soar mais culpado, talvez hesitar mais antes de atacar.
— Pode ser... — Eu concordei, inclinando-me para ler o que ele apontava. — Mas ele também está bêbado e confuso. Essa falta de controle emocional faz sentido, sabe? Acho que a hesitação pode vir depois do soco, quando ele percebe o que fez.
Daniel, sentado na frente, virou-se para participar da conversa.
— O jeito que você vai reagir também é crucial, Kiana. Calista tem que parecer devastada, mas ainda orgulhosa. Não pode ser só choque, tem que ser algo que mude a dinâmica entre eles para sempre.
— Não se preocupem. Eu sei exatamente como fazer isso. — Respondi, confiante. Já tinha visualizado essa cena tantas vezes que parecia quase natural.
Brandon, que estava ao meu lado no banco de trás, finalmente entrou na conversa.
— E quanto a mim? Algum conselho antes de eu errar tudo? — Ele falou com um tom leve, mas dava para perceber que estava tentando aliviar a tensão.
— Seja irritante, mas charmoso. — Eu disse, rindo. — Você sabe, o Kwon clássico de sempre.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Acho que isso eu consigo.
O carro estacionou pouco depois, e todos nós saímos, já com a praia iluminada no horizonte. A areia macia sob os pés e o som das ondas ao fundo criavam o ambiente perfeito. Eu respirei fundo, deixando a brisa fresca me acalmar. Era hora de fazer essa cena ganhar vida.࣪
O vento da noite era fresco, e o som das ondas quebrando na praia fazia tudo parecer surreal. Eu me sentia elétrica enquanto aguardava minha vez de gravar. Era a minha cena. A que eu vinha esperando o dia todo. Eu mal conseguia ficar parada, andando de um lado para o outro enquanto ajustavam a iluminação e os microfones. Patrick, Daniel e Brandon estavam comigo, revisando as falas, mas a verdade era que minha cabeça estava completamente focada no que estava por vir.
Quando o diretor nos chamou para as marcas, meu coração deu um salto. Respirei fundo, ajustei a postura e caminhei para o lugar indicado na areia. Assim que ouvi o som da claquete, a ansiedade se transformou em pura adrenalina.
Dei o primeiro passo na cena, sentindo a personagem tomar conta de mim. Encarei Brandon — agora, Kwon — e deixei as palavras saírem como um corte afiado.
— Você está bêbado. — Dei um passo para trás, tentando me afastar, mantendo minha voz firme, quase fria.
Ele riu de volta, mas alguma coisa saiu exagerada, e eu senti o canto da minha boca se contrair. Eu não podia rir, mas, ao olhar para o rosto de Brandon, que parecia tentar conter o próprio riso enquanto interpretava o arrogante Kwon, perdi completamente o controle. Soltei uma gargalhada curta e tentei me recompor imediatamente.
— Corta! — Gritou o diretor, enquanto o restante da equipe ria baixo.
Brandon olhou para mim com um sorriso culpado e ergueu as mãos.
— Foi mal, foi mal. Mas você viu o jeito que eu disse isso? Nem eu consegui levar a sério.
Eu ri, balançando a cabeça.
— Você tem que parar de me fazer rir no meio das cenas, cara!
Respirei fundo, me posicionando novamente. Concentre-se, Kiana, pensei. Dessa vez, estávamos determinados a acertar. A claquete bateu de novo, e eu me joguei na cena mais uma vez, canalizando toda a tensão entre nossos personagens. A emoção era tão palpável que parecia real. Cada linha, cada expressão tinha peso, como se o mundo se resumisse ao que estava acontecendo entre nós dois.
Mas então veio o soco falso, ou melhor, a tentativa de soco. Brandon, tentando não me acertar de verdade, fez um movimento tão exagerado que não consegui segurar o riso outra vez.
— Desculpa! — Eu disse, tentando abafar o riso com as mãos. — Foi a cara que você fez, está com medo de me acertar de verdade?
Ele começou a rir também, balançando a cabeça.
— Não é fácil ser um idiota bêbado, sabia?
O diretor suspirou, mas estava claro que ele também achava engraçado. A equipe inteira se juntou à nossa risada, e demorou alguns minutos até que todos estivessem prontos para tentar novamente.
Depois de algumas tentativas, conseguimos gravar a cena do soco com a intensidade certa. Quando o diretor finalmente gritou "Corta!" e parecia satisfeito, senti uma onda de alívio e realização. Eu ainda estava ofegante, e meu rosto estava quente da emoção, mas um sorriso de pura alegria tomou conta de mim. Eu sabia que essa cena seria inesquecível.
O silêncio durou apenas um instante antes que explodisse em aplausos. O som das palmas da equipe me tirou do transe, e percebi que meu corpo ainda estava tenso, como se tudo aquilo tivesse sido real. Brandon virou-se para mim, sorrindo, mas seus olhos ainda carregavam uma ponta da intensidade da cena.
— Essa foi boa, hein? — Ele disse, o sorriso crescendo enquanto caminhava de volta para mim.
— Boa? — Eu ri, sentindo meu coração desacelerar. — Isso foi incrível.
Demos um high-five, ambos ainda ofegantes, e eu não pude deixar de sentir uma onda de orgulho. Essa cena... Essa cena causaria um impacto. Eu sabia disso.
Assim que as palmas cessaram e o diretor começou a dar instruções para o próximo plano, me vi caminhando em direção a Brandon sem nem perceber. Ele estava ali, ainda tirando os grãos de areia da roupa, com aquele sorriso meio bobo de quem sabia que tinha feito um bom trabalho. Meu coração ainda estava acelerado, mas não pela intensidade da cena, era algo mais leve, algo bom.
— Ei, Brandon. — Chamei, e ele ergueu os olhos para mim.
— Oi, Kie. — Respondeu, com aquele tom descontraído de sempre, mas seus olhos pareciam curiosos, como se tentassem decifrar o que eu estava pensando.
Hesitei por um segundo, brincando com as pontas do meu cabelo, antes de abrir um sorriso.
— Você não quer jantar pra comemorar? Quero dizer... A cena ficou incrível. Acho que a gente merece, sabe?
Ele piscou, surpreso, e depois abriu um sorriso que parecia ainda maior que o anterior.
— Jantar? Claro! Quero dizer, adoraria. — Ele pausou, percebendo o entusiasmo na própria voz, e rapidamente tentou disfarçar, passando a mão pelo cabelo e rindo de si mesmo. — Digo, é uma ótima ideia.
A maneira como ele tentava parecer casual era tão desajeitada que eu não consegui evitar uma risada.
— Ok, combinado. Mas... Você vai precisar de um pouco mais de controle no jantar do que na cena, hein?
— Ah, pode deixar. — Ele deu um sorriso meio torto, ainda parecendo um pouco sem jeito. — Só... Me dá um tempo pra me arrumar, tá? Não quero aparecer com cara de quem acabou de dar um soco fictício.
— Justo. — Assenti, cruzando os braços e inclinando a cabeça para o lado. — Que tal às 21h? Já que agora são 20h... A gente se encontra no estacionamento da pousada.
— Fechado. — Ele acenou, apontando para o carro dele. — Eu vou nessa, então.
— Até lá. — Acenei de volta, dando um passo para trás antes de me virar para o meu próprio carro.
Enquanto caminhava, senti uma ansiedade estranha crescendo no peito. Não era exatamente ruim, mas também não era algo que eu costumava sentir com frequência. Esse jantar parecia... Importante. Não apenas porque a cena tinha sido um sucesso, mas porque eu sentia que devia isso a Brandon.
Antes daquela tarde, eu estava tão nervosa sobre como tudo sairia. Tinha medo de estragar a cena, de não corresponder às expectativas da equipe, de deixar meu personagem escapar por entre os dedos. Mas Brandon, com sua energia leve e sua presença confiante, tinha feito tudo parecer mais simples. Ele tornou aquele peso que eu carregava quase imperceptível, e eu queria, de alguma forma, retribuir.
Entrei no carro e encostei as mãos no volante, respirando fundo. Era só um jantar com um parceiro de cena, certo? Certo. Era exatamente o que eu precisava para relaxar e comemorar o que tínhamos conquistado juntos.
Dirigi de volta à pousada, sentindo o vento fresco da tarde e tentando não me perder em pensamentos. Eu precisava de um banho, de uma roupa confortável, e talvez de um momento para acalmar os ânimos. Às 21h, eu estaria pronta. E, pela primeira vez em muito tempo, estava animada para algo fora do set.
⋆౨ৎ˚⟡˖
Às 20h45, eu estava pronta, parada de frente à pousada, observando as luzes suaves que iluminavam o estacionamento. A noite estava perfeita, com o céu tingido de tons alaranjados e um vento fresco que balançava as folhas das árvores. Vesti um vestido amarelo claro que estava no meu armário há meses. Eu o comprei impulsivamente porque me lembrava do vestido icônico de Como Perder um Homem em 10 Dias, e, apesar de não ter tido nenhuma ocasião especial para usá-lo até então, hoje parecia o momento certo.
Meu cabelo estava preso em um penteado meio trançado, algo simples, mas com um toque de elegância. Quis manter o look natural, sem exageros, mas ainda assim, especial. Afinal, era uma noite de comemoração, e não apenas pelo sucesso da cena. Estávamos nos aproximando do fim das gravações, com apenas mais algumas cenas pela frente, antes da tão esperada estreia na Netflix.
As comemorações já começavam a se alinhar. Mary tinha me convidado para uma noite só de garotas com vinho e risadas, algo típico dela, sempre buscando manter o elenco unido. Jacob, por outro lado, organizava uma grande festa com todo o elenco e equipe, prometendo ser uma noite memorável. Mas nenhuma dessas opções parecia certa para hoje, depois poderia desfrutar com os outros nessas comemorações específicas. Mas hoje eu queria algo mais íntimo, algo que me permitisse realmente celebrar com a pessoa que esteve ao meu lado em tantas cenas, na verdade, na maioria delas, e que compartilhou o peso e a responsabilidade de tornar essa história crível.
Brandon.
O barulho de um carro entrando no estacionamento me trouxe de volta aos meus pensamentos. Meu coração deu um leve salto, mas não era ele ainda. Checkei o relógio no meu celular, 10h52. Respirei fundo, tentando controlar a ansiedade. Não era como se isso fosse um encontro. Era um jantar entre colegas. Certo?
Caminhei um pouco pela área externa da pousada, tentando distrair minha mente. Não era só sobre a série ou a cena do dia. Brandon tinha sido uma presença constante e, de certa forma, tranquilizadora durante toda essa jornada. Ele não apenas fazia meu trabalho parecer mais leve, mas também parecia genuinamente acreditar em mim, mesmo nos dias em que eu duvidava.
Finalmente, outro carro entrou no estacionamento, e dessa vez era ele. Brandon saiu, vestindo uma camisa azul clara que realçava seus olhos, combinada com jeans escuros, uma jaqueta preta e sapatos casuais. Ele parecia ter feito um esforço, mas sem exagerar. Quando ele me viu, seus olhos se arregalaram levemente, e um sorriso apareceu.
— Uau, Kiana. — Ele parou por um segundo, como se estivesse procurando as palavras certas. — Você está incrível.
— Obrigada. — Sorri, sentindo minhas bochechas aquecerem um pouco. — E você também não está nada mal.
Ele riu, esfregando a nuca, o que parecia ser seu gesto padrão quando estava um pouco nervoso.
— Achei que deveria pelo menos tentar parecer apresentável.
— Missão cumprida. — Brinquei, gesticulando para o estacionamento. — Pronto pra comemorar?
— Pronto. — Ele assentiu, abrindo um sorriso genuíno. — Mas antes, preciso perguntar, você dirigiu ou quer ir no meu carro?
Olhei para o meu carro e depois para ele, ponderando por um momento.
— Que tal você dirigir? Assim, posso só relaxar e aproveitar.
— Perfeito. — Ele fez um gesto para que eu o seguisse até o carro dele. — Então, vamos nessa.
Caminhamos até o carro, ainda com aquela sensação agradável de que a noite seria especial. Mais do que uma simples comemoração, era um momento que parecia encapsular tudo o que havíamos construído juntos, tanto na série quanto fora dela.
Brandon caminhou até o lado do passageiro e, com um sorriso, abriu a porta do carro para mim. O gesto, tão simples, mas educado, me fez rir baixinho enquanto eu entrava no carro.
— Obrigada, cavalheiro. — Brinquei, jogando um sorriso leve na direção dele.
— Sempre à disposição. — Ele respondeu, com uma piscadela, antes de dar a volta e entrar no lado do motorista.
O interior do carro estava limpo, com um leve aroma de pinho, o que me fez sorrir. Era tão típico dele manter tudo organizado. Assim que ele deu partida, o motor ronronou suavemente, e ele ajustou o retrovisor com a precisão meticulosa que parecia ser parte de sua personalidade.
Enquanto saíamos do estacionamento da pousada, decidi puxar assunto. Afinal, o silêncio não combinava com o clima da noite.
— Então, Brandon... — Comecei, cruzando as pernas e me virando levemente na direção dele. — Você está ansioso para amanhã?
Ele lançou um olhar rápido na minha direção antes de voltar os olhos para a estrada.
— Amanhã? — Perguntou, embora soubesse exatamente do que eu estava falando.
Eu ri suavemente, balançando a cabeça.
— Sim, amanhã. As cenas de beijo. Ou você esqueceu que os diretores decidiram gravar tudo de uma vez?
Ele soltou um suspiro profundo, o tipo que parecia carregar uma mistura de nervosismo e alívio por finalmente falar sobre isso. Notei suas mãos apertarem o volante, os nós dos dedos ficando um pouco mais claros.
— Estou ansioso, sim. — Ele respondeu, com uma honestidade que me surpreendeu. — Quero dizer, acho que é melhor fazer tudo de uma vez, sabe? Menos pressão do que ficar adiando ou repetindo em dias diferentes.
Eu o observei com cuidado, percebendo o leve movimento do maxilar dele, como se estivesse mastigando a própria ansiedade. Brandon sempre fora confiante em cena, mas essa era uma faceta diferente dele.
— Você está nervoso. — Afirmei, sem rodeios, inclinando um pouco a cabeça.
Ele riu, um som curto e sem graça, enquanto mantinha os olhos fixos na estrada.
— Nervoso? Não, não... — Fez uma pausa, percebendo que eu estava esperando algo mais honesto. — Tá bom, talvez só um pouco.
— Por quê? — Perguntei, genuinamente curiosa.
Ele deu de ombros, ajustando o volante novamente, como se precisasse de algo físico para desviar sua atenção.
— Não é algo que se pratica com antecedência, sabe? — Ele admitiu, sorrindo de um jeito um pouco torto. — E também, bom... — Ele hesitou, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras.
— Bom...? — Incentivei, arqueando uma sobrancelha.
— Eu só quero que saia perfeito. Para a série, para os personagens... — Ele olhou rapidamente para mim, seus olhos brilhando sob as luzes suaves da rua. — E, bem, também porque você merece isso.
Senti minhas bochechas esquentarem, mas disfarcei com uma risadinha.
— Uau, nenhuma pressão, então. — Brinquei, tentando aliviar o clima.
Ele riu junto, finalmente relaxando um pouco, seus dedos afrouxando o aperto no volante.
— É... Nenhuma pressão. — Ele repetiu, sorrindo.
A viagem seguiu, mas a tensão no ar tinha um gosto doce. Brandon parecia mais tranquilo, e eu percebi que, mesmo com a ansiedade sobre as cenas de amanhã, o jantar de hoje seria o momento perfeito para quebrar qualquer gelo restante. Afinal, estávamos nisso juntos.
O silêncio confortável se instalou entre nós novamente, quebrado apenas pelo som suave dos pneus deslizando sobre o asfalto e pelo leve ronronar do motor. Olhei pela janela, as luzes da rua passando rapidamente enquanto nos aproximávamos do restaurante. O momento era tranquilo, mas minha mente estava agitada, cheia de pensamentos sobre amanhã, sobre Brandon, sobre... Tudo.
Foi então que uma ideia me ocorreu. Não pude resistir.
— Sabe... — Comecei, olhando de soslaio para ele. — Se quiser, a gente pode tentar... Aquecer para as cenas de amanhã.
A frase saiu casual, mas carregada de uma intenção claramente provocativa. Assim que falei, notei os ombros de Brandon enrijecerem instantaneamente. Ele respirou fundo, mas acabou se engasgando com o próprio ar, soltando uma tosse exagerada que parecia ainda mais dramática no silêncio do carro.
— O quê? — Ele conseguiu perguntar entre tosses, pigarreando várias vezes enquanto tentava manter os olhos na estrada.
Eu ri alto, me segurando para não exagerar na brincadeira, mas a cena toda era hilária. Ele parecia completamente fora de si.
— Calma! — Protestei, levantando as mãos em um gesto de rendição. — Eu estava brincando, Brandon! Desculpa, eu não resisti.
Ele soltou um suspiro profundo, claramente tentando se recompor, e balançou a cabeça com um sorriso relutante.
— Você tem um dom, sabia? — Ele murmurou, quase como se estivesse falando consigo mesmo. — Um dom de me fazer corar feito um adolescente.
Virei a cabeça na direção dele, fingindo não ter escutado direito, mas, na verdade, querendo prolongar a conversa.
— O que você disse? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha, com um tom curioso.
Ele soltou uma risadinha, os olhos ainda fixos na estrada, embora seu rosto estivesse nitidamente mais corado sob a luz do painel do carro.
— Nada. — Respondeu, com uma expressão que misturava diversão e constrangimento.
— Ah, não, agora você tem que repetir. — Insisti, inclinando-me um pouco na minha cadeira, como se isso fosse fazê-lo confessar.
Ele balançou a cabeça, rindo de novo, enquanto estacionava na vaga em frente ao restaurante que eu tinha reservado.
— Só te digo uma coisa. — Ele disse, virando-se para me olhar enquanto desligava o motor. — Você é impossível, Kiana.
Eu ri, saindo do carro com um sorriso travesso no rosto.
— E você precisa relaxar, Brandon. Vai precisar de toda a calma que conseguir pra amanhã.
Ele deu uma risada leve, caminhando até mim antes de oferecermos nossos braços um ao outro em um gesto casual. Era fácil estar perto dele, mesmo que eu não conseguisse evitar as pequenas provocações. Afinal, era disso que nossas cenas sempre foram feitas, química e um pouco de caos.
Obs: KIANA MINHA MULHER!
Obra autoral ©
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