19. the veil of intentions
A sala do trono estava iluminada por uma luz suave que emanava das velas e do lustre de cristal. Alma dançava com a graça de uma folha ao vento, como se cada movimento fosse cuidadosamente orquestrado pela própria natureza.
O véu que ela usava esvoaçava ao redor de seu corpo, uma cortina etérea que cobria parcialmente seu rosto, aumentando o mistério e a sedução em cada passo que dava. Era uma dança, mas também uma provocação.
Claude estava, como sempre, sentado em seu trono, observando-a atentamente. Seus olhos não deixavam seu corpo por um segundo, com um olhar que transbordava uma mistura de interesse e... algo mais profundo, algo que Alma não conseguia definir.
A dança de Alma era diferente hoje. Ela sentia o olhar dele queimando sua pele, tornando cada movimento mais carregado de tensão. Talvez fosse seu desejo de se mostrar mais do que apenas uma qualquer, ou talvez fosse a energia que emanava do próprio Claude, sempre à distância, mas sempre tão presente.
Ela girava, as mãos abertas e os olhos, ainda cobertos pelo véu, fixos nele. Quando terminou um movimento particularmente elegante, ela percebeu que seus olhos estavam fixos nela, como se estivesse esperando algo. Como se ela fosse mais do que uma simples dançarina para ele. Como se ela fosse... dele.
Com um último movimento, Alma se aproximou, seus pés silenciosos no chão, e girou uma última vez antes de parar, com o véu ainda caindo delicadamente ao redor de seu rosto. Ela estava ofegante, mas sua expressão era desafiadora.
Claude levantou-se devagar, sem dizer uma palavra. Ele se aproximou com passos calmos e precisos. O silêncio na sala era palpável, o único som era o eco de seus passos.
Quando chegou perto dela, ele não hesitou. Com um gesto suave, mas firme, ele levantou o véu de seu rosto, expondo seus olhos azuis claros que pareciam ver através dele.
Alma deu um passo atrás, seu peito subindo e descendo rapidamente.
"O que você pensa que está fazendo?"
Ela não sabia se estava mais nervosa ou furiosa. Não gostava da maneira como ele a olhava. Como se a estivesse devorando com os olhos, como se fosse uma peça de carne para seu prazer.
Claude olhou-a com um sorriso impassível, mas seus olhos brilhavam de um jeito que Alma não gostava. Ele aproximou-se um pouco mais, sua voz baixa e arrastada. "Eu prefiro você sem nada, Alma."
O choque percorreu o corpo de Alma como uma onda elétrica, sua respiração se cortando. Ela piscou várias vezes, tentando processar as palavras dele. Ele estava brincando? Estava falando sério? O que ele queria dizer com aquilo?
A tensão entre os dois ficou ainda mais densa, a troca silenciosa e carregada de significados não ditos.
Alma sentiu sua garganta secar. Por um momento, ela quase ficou paralisada, encarando-o nos olhos.
Mas então, a raiva tomou conta dela, uma raiva que queimava como fogo.
Como ele se atrevia?!
Ela deu um passo à frente, ficando cara a cara com ele, suas mãos fechadas em punhos, apertando tão forte que suas unhas quase arranharam a pele.
"SEU TARADO!" Ela gritou, sua voz ecoando pela sala do trono.
Claude, que estava esperando uma reação de indignação, piscou surpreso com a explosão dela. Mas, para seu desgosto, o que realmente a deixou animada foi o sorriso de diversão que surgiu no rosto dele. Ele não parecia nem um pouco abalado. Na verdade, ele parecia... encantado.
"Eu só disse a verdade, sininho", ele respondeu, sua voz tão calma quanto sempre, mas com algo perigoso em seu tom. "Eu preferiria você sem o véu... ou qualquer outra coisa que estivesse usando."
Alma engoliu em seco. As palavras dele ainda reverberavam em sua mente, mas agora ela estava furiosa. "Você... você não tem vergonha?! Fica se achando o dono do mundo, mas a realidade, majestade, é que você é só um... um..."
Ela procurou palavras, mas nenhuma parecia suficientemente forte. Tudo que ela conseguia ver naquele momento era o olhar dele, aquele olhar que a fazia sentir como se estivesse sendo observada de uma maneira que a fazia se sentir nua por dentro, e não apenas fisicamente. Como se ele soubesse de algo que ela ainda não tinha descoberto sobre si mesma. E isso a fazia sentir-se vulnerável de uma maneira que a deixava ainda mais irritada.
Ela cruzou os braços, tentando se acalmar. "Eu sou só uma dançarina. Só isso. Se você quer algo mais, vai ter que se contentar com seus sonhos... ou com alguém mais."
Ela se virou para sair, mas antes que ela pudesse dar um passo, ele a segurou pelo braço, delicadamente, mas com firmeza.
"Eu não estou pedindo você, Alma", ele disse, sua voz mais suave agora, mas ainda com um toque de intensidade que fazia a tensão entre eles voltar com força total. "Eu estou... tomando você."
Ela congelou no lugar, a raiva e o desconforto misturados em seu peito. Mas a sensação de ter algo mais envolvido, algo muito além da simples dança, a fez parar por um momento. Ela se virou lentamente para ele, os olhos brilhando, mas sem saber se queria explodir em fúria ou se envergonhar. Ela finalmente decidiu:
"Vai sonhando, Majestade. Vai. Sonhando."
Ela se soltou do aperto dele e caminhou até a porta, mas não sem antes lançar um último olhar cheio de fogo para ele.
Claude, por sua vez, não se moveu. Observou-a sair, com um sorriso enigmático nos lábios. Ele sabia que essa batalha ainda estava longe de acabar. E, no fundo, ele sabia que ela sabia disso também.
A guerra entre eles estava apenas começando.
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