97 - fix you
Julho, 2030
O final da gravidez de Petra havia chegado, e a rotina da casa já não era mais a mesma. Julia fazia de tudo para que a esposa descansasse, mas ela teimava em continuar se movimentando, alegando que não aguentava mais ficar parada.
— Petra, pelo amor de Deus, olha pra você! — Julia resmungou, cruzando os braços ao ver a esposa lutando para se levantar do sofá.
— E daí? Eu estou ótima. — Petra retrucou, fazendo uma careta ao sentir o peso da barriga ao tentar se mover. — Quer dizer, tão ótima quanto alguém que carrega dois bebês ao mesmo tempo pode estar.
Julia revirou os olhos, já preparando uma resposta, quando a campainha tocou.
— Devem ser os três patetas de novo. — murmurou, caminhando até a porta.
Assim que abriu, Miguel surgiu com um sorriso satisfeito e uma sacola erguida no ar.
— Trouxe reforços!
— Se não for um carregamento de açaí, eu vou te expulsar. — Petra brincou do sofá, estreitando os olhos.
Marcela apareceu logo atrás, sacudindo outra sacola.
— E eu trouxe o açaí. Não queremos uma grávida revoltada.
— Muito bem. — Petra sorriu satisfeita, estendendo a mão para que Julia pegasse a sacola e levasse até ela.
Kudiess entrou por último, os braços cruzados e uma expressão de quem estava prestes a dar uma bronca.
— Você dormiu?
Petra desviou o olhar, mexendo na sacola de açaí como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
— Depende do que você considera "dormir".
Os três visitantes suspiraram ao mesmo tempo, enquanto Julia apenas apontava para a esposa com um olhar acusador.
— Ela se recusa a descansar! Eu já tentei de tudo!
— Eu descanso! — Petra rebateu. — Só que não gosto de ficar parada o tempo todo.
Miguel se jogou ao lado dela no sofá e, de repente, segurou sua barriga. Petra se contorceu no susto.
— Olá, Bella e Theo! Suas mamães estão dando trabalho, não é?
— Tecnicamente, só uma delas está dando trabalho. — Julia murmurou, arrancando risadas de Marcela e Kudiess.
— Traidora. — Petra resmungou, lançando um olhar feio para a esposa.
Julia apenas sorriu, inclinando-se para beijar sua testa.
— Aceita que precisa descansar, amor.
Marcela se sentou no braço do sofá, observando a cena com um sorriso cúmplice.
— Sabe, eu não entendo por que vocês insistem em discutir com a Petra. Ela sempre acha um jeito de ganhar.
— Exatamente! — Petra concordou, apontando para Marcela como se ela tivesse acabado de revelar uma verdade universal.
Julia bufou, pegando um pote de açaí e entregando para Petra.
— Dessa vez, não. Você vai descansar nem que eu tenha que te amarrar na cama.
Petra arqueou uma sobrancelha e abriu um sorriso malicioso.
— Isso foi uma ameaça ou uma promessa?
Miguel fingiu limpar a garganta e abanou o rosto.
— Certo. Eu vou precisar de um aviso antes de vocês começarem esse tipo de conversa.
Marcela riu e abriu o próprio pote de açaí, enquanto Kudiess pegava uma almofada e a jogava na direção de Petra.
— Para de ser insuportável e aceita que precisa descansar.
Petra segurou a almofada e fez uma careta dramática.
— Vocês falam como se eu estivesse correndo uma maratona! Só estou me movimentando um pouco.
— Você está prestes a parir gêmeos. — Julia enfatizou, apontando para a barriga dela.
— Detalhes.
Kudiess balançou a cabeça, exasperada.
— E a consulta, como foi? Tá tudo certo?
Julia foi quem respondeu antes de Petra sequer abrir a boca.
— Sim, mas a médica já avisou que, se essa teimosa não pegar leve, pode acabar indo pro hospital antes do previsto.
Miguel arregalou os olhos.
— E você ainda tá insistindo em ficar andando por aí?
Petra deu de ombros.
— Eu não posso simplesmente sentar e esperar.
— Tecnicamente, pode. — Marcela rebateu.
— Tecnicamente, eu vou enlouquecer se fizer isso.
Julia suspirou e se afundou no sofá ao lado dela, passando um braço ao redor de seus ombros.
— Pelo menos promete que vai tentar pegar leve?
Petra olhou para a esposa, vendo o cansaço misturado com preocupação nos olhos dela. Sua vontade de provocar era grande, mas o amor por Julia era ainda maior.
— Tá bom… eu prometo tentar.
— Tentativa não é garantia.
— É o melhor que você vai conseguir.
Julia estreitou os olhos, desconfiada, mas acabou sorrindo de canto.
— Eu vou te vigiar.
— Eu sei. — Petra sorriu de volta, recostando a cabeça no ombro da esposa.
***
O relógio marcava o fim da tarde, e a luz dourada do sol entrava suavemente pelas janelas da casa, iluminando o ambiente com um brilho acolhedor. No sofá, Petra estava recostada, com uma almofada apoiada contra as costas, enquanto Miguel estava sentado ao seu lado. Do outro lado da casa, risadas abafadas vinham do quarto dos gêmeos. Julia tentava entrar, mas Kudiess e Marcela se posicionavam estrategicamente na porta, insistindo que precisavam de um "toque final" no que quer que estivessem aprontando.
— Você acha que elas vão destruir alguma coisa? — Petra perguntou, arqueando uma sobrancelha.
Miguel riu, cruzando os braços.
— Não duvido nada. Mas, sinceramente? Acho que só estão tentando te dar um tempo pra respirar sem a supervisão militar da Julia.
Petra bufou, mas seu sorriso a entregou.
— Ela exagera.
— Ela te ama.
Petra olhou para Miguel, percebendo a verdade simples naquela frase. Sim, Julia a amava. No olhar preocupado, no jeito como segurava sua mão nas madrugadas insones, na maneira como tentava protegê-la mesmo quando Petra insistia que não precisava. Julia a amava de uma forma que Petra nem sempre entendia, mas que sentia em cada detalhe.
Houve um momento de silêncio confortável entre os dois antes de Miguel falar novamente, sua voz carregada de uma nostalgia tranquila.
— Você já imaginou que a gente chegaria aqui?
Petra sorriu de leve.
— Onde?
— Aqui. Você, prestes a ter dois filhos. Casada com uma mulher que te encara de igual pra igual. E eu, aqui, testemunhando tudo isso.
Ela respirou fundo antes de responder.
— Sabe… quando a gente era adolescente, eu achava que o amor era o que a gente tinha.
Miguel assentiu, sem qualquer amargura no olhar. Apenas compreensão.
— Pra mim, também era.
— Mas era um amor de quem ainda não sabia exatamente o que significava amar. — Petra continuou, enquanto brincava com a aliança em seu dedo. — Eu te amei de verdade, e por muito tempo achei que aquele amor era o suficiente. Mas conforme fui crescendo… eu entendi que o amor também precisa caber na gente.
Miguel não respondeu de imediato. Apenas observou Petra, percebendo o quão diferente, e ao mesmo tempo a mesma, ela era daquela garota que ele conhecera anos atrás.
— E o que você tem com a Julia? — Ele perguntou, a voz suave.
Petra sorriu, e dessa vez foi um sorriso cheio, inteiro, que iluminou seus olhos.
— É um amor que me desafia. Que me faz querer ser melhor, mas sem precisar mudar quem eu sou. — Ela olhou para ele, com uma sinceridade crua. — Mas eu nunca teria encontrado isso se não tivesse aprendido com você primeiro.
Miguel desviou o olhar por um segundo, absorvendo as palavras. Quando voltou a encará-la, havia uma ternura genuína ali.
— Você tá me dizendo que fui seu ensaio antes do show principal?
Petra riu, jogando uma almofada nele.
— Para de ser ridículo! Tô dizendo que você me ensinou que o amor pode ser bom, Miguel. Que pode ser seguro. E por causa disso, eu soube reconhecer quando encontrei algo ainda maior.
Miguel sorriu, balançando a cabeça.
— Fico feliz por isso. De verdade.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável. Pelo contrário, era o tipo de silêncio que só existia entre duas pessoas que se conheciam há muito tempo e não precisavam preencher cada espaço com palavras. Do quarto dos gêmeos, as risadas continuavam, seguidas por um barulho suspeito de algo caindo, mas nem Petra nem Miguel se preocuparam.
Petra passou os dedos distraidamente pelo próprio anel, sentindo o peso do que tinham acabado de compartilhar. Era engraçado como a vida os tinha levado para caminhos tão diferentes, mas, de alguma forma, eles ainda estavam aqui - não como antes, mas ainda importantes um para o outro.
— Você tá pronto pra ser um dos padrinhos? — ela perguntou de repente, quebrando o silêncio.
Miguel ergueu as sobrancelhas, surpreso.
— Isso foi um convite oficial?
— Sim. — Petra sorriu. — Se aceitar, claro.
Miguel não hesitou.
— Como se eu fosse perder a chance de ser o padrinho favorito.
Petra riu, relaxando ainda mais no sofá. O sol continuava se pondo, tingindo o céu de tons alaranjados e rosas. Do outro lado da casa, Julia protestava contra algo, provavelmente sem sucesso.
— Você acha que elas vão mesmo destruir alguma coisa? — Miguel repetiu, apontando na direção do quarto.
Petra suspirou.
— Só espero que não seja irreparável.
Eles riram juntos, e, por um instante, tudo estava exatamente onde deveria estar.
***
O clima na sala era leve, com um burburinho de conversas espalhadas e risadas ocasionais. Petra estava sentada no sofá há um bom tempo, e seu corpo começava a reclamar da posição. Com um suspiro, ela olhou para Julia e chamou:
— Ju.
— Oi. — Duas vozes responderam ao mesmo tempo.
Petra riu, balançando a cabeça.
— Tô falando com a minha Julia.
Ela levantou as mãos na direção da esposa, pedindo ajuda para se levantar. Julia já estava se aproximando, mas Kudiess bufou alto, cruzando os braços, fingindo indignação.
— Odeio quando fala assim. — Resmungou. — Não sou sua Julia também, não?
Marcela e Miguel explodiram em risadas, e Petra apenas arqueou uma sobrancelha, claramente se divertindo com o drama.
— Ué, Kudiess. Achei que já tínhamos superado essa fase da sua paixão secreta por mim.
— Quem disse que é secreta? — Kudiess rebateu, fazendo uma pose exagerada.
— Lizzie, fica longe da minha mulher, viu! — Marcela exclamou indo até Kudiess e abraçando ela.
Julia já estava segurando as mãos de Petra para ajudá-la a levantar quando revirou os olhos, fingindo impaciência.
— Eu sabia que em algum momento essa obsessão coletiva pela minha esposa ia voltar à tona.
— Obsessão nada! — Kudiess retrucou, ainda abraçada a Marcela. — Eu só acho um absurdo você monopolizar a Petra assim.
— Isso é verdade! — Marcela concordou, estreitando os olhos para Julia. — Tem gente aqui que também quer um pedacinho dela.
Miguel, que assistia à cena com uma expressão impassível, decidiu adicionar lenha à fogueira:
— Eu apoio. Redistribuição justa de Petra.
Petra riu, agora já de pé com a ajuda de Julia, e passou um braço ao redor da esposa, puxando-a para mais perto.
— Infelizmente pra vocês, eu sou propriedade exclusiva da Julia. Contrato vitalício, sem cláusula de rescisão.
Julia sorriu vitoriosa, envolvendo Petra em um abraço firme.
— Exatamente. E se alguém tentar me passar pra trás, eu resolvo bem rápido.
Kudiess bufou, fingindo desapontamento.
— Um dia eu consigo a minha revanche.
— No dia que isso acontecer, a gente conversa. — Petra piscou, provocadora.
Marcela suspirou dramaticamente, soltando Kudiess.
— Tudo bem, eu aceito minha derrota. Mas se um dia vocês quiserem abrir espaço para um relacionamento poliamoroso, lembrem que a fila já tá formada.
A sala inteira explodiu em risadas. Julia apenas balançou a cabeça e beijou o topo da cabeça de Petra, murmurando:
— Eu não acredito que tenho que disputar minha esposa até dentro da minha própria casa.
Petra sorriu contra o ombro dela.
— O preço de me amar, ruiva.
Julia revirou os olhos ao ouvir a provocação de Petra, mas não conseguiu evitar um sorriso. O problema era que aquele sorriso foi interpretado como uma brecha para que a situação ficasse ainda pior.
— Tá vendo? Nem nega mais! — Kudiess exclamou, apontando para Julia.
— Tá se conformando com a ideia de que a Petra é um patrimônio coletivo. — Marcela completou, cruzando os braços.
— Eu me recuso a compactuar com essa palhaçada. — Julia retrucou, mas antes que pudesse continuar, Miguel levantou uma mão, pedindo silêncio.
— Espera, espera. Já que a Petra é disputada por tanta gente, acho que deveríamos criar regras claras pra esse "relacionamento".
— Ótima ideia! — Kudiess bateu palmas. — Primeiro, encontros quinzenais para falar sobre o quanto amamos Petra.
— Aceito desde que tenha comida. — Marcela ponderou.
— Precisa de uma carteirinha de membro. — Miguel acrescentou.
— Para priorizar os sócios mais antigos. — Kudiess completou.
Petra assistia à cena com uma expressão divertida, os braços cruzados enquanto Julia massageava as têmporas, claramente arrependida de ter começado aquela discussão.
— Meu Deus, vocês são insuportáveis.
— Não dá pra lutar contra o inevitável, Julinha. — Marcela sorriu. — Sua esposa é disputada, aceite.
— Vocês deviam ter vergonha. — Julia bufou.
— Vergonha de quê? — Kudiess fez cara de inocente. — De amar sua esposa?
— Não é isso! — Julia cruzou os braços. — É o jeito que vocês falam, como se Petra fosse um prêmio que todo mundo quer ter.
— E não é? — Miguel ergueu uma sobrancelha, como se estivesse apontando o óbvio.
Julia abriu a boca para retrucar, mas percebeu que qualquer argumento que usasse daria ainda mais munição para os outros. Petra, por outro lado, estava se divertindo com a situação.
— Me sinto valorizada.
Julia olhou para ela, incrédula.
— Você não devia estar do meu lado?
Petra sorriu, inocente.
— Mas eu gosto quando me bajulam.
— Eu desisto. — Julia jogou as mãos para o alto.
— Você me ama — Petra piscou para ela.
Julia suspirou, mas sua expressão suavizou quando olhou para a esposa.
— Infelizmente, sim.
— Infelizmente? — Petra colocou uma mão no peito, fingindo indignação.
Julia apenas revirou os olhos, mas, no segundo seguinte, segurou o rosto de Petra e depositou um beijo rápido e carinhoso em seus lábios.
— Pronto, já marquei meu território. Agora vocês podem continuar com essa palhaçada.
— Ei! — Kudiess protestou. — Isso é golpe baixo!
— É o privilégio da esposa. — Julia respondeu com um sorriso satisfeito. — Morram de inveja.
A sala explodiu em risadas novamente, e mesmo que Julia tentasse fingir irritação, no fundo, ela sabia que não tinha escapatória. Eles sempre estariam lá para atormentá-la.
***
Petra olhou para as roupinhas que tinha dobrado e passou a mão sobre as pequenas peças, uma leveza preenchendo seu coração. Era surreal pensar que logo estaria segurando seus filhos, seus pequenos, em casa. Seus olhos brilharam ao imaginar o momento em que as crianças finalmente estariam ao seu lado.
Foi quando ela ouviu um toque suave na porta, interrompendo seus pensamentos. Ela não precisou olhar para saber quem era. Rosa entrou com aquele sorriso acolhedor que sempre trazia conforto para Petra.
— Oi, Pê. — Rosa se aproximou, sentando ao lado de Petra. Ela olhou para a barriga da amiga, passando a mão sobre ela com ternura. — Como meus pequenos estão hoje?
Petra deu um suspiro, deixando escapar um sorriso cansado, mas genuíno.
— Inquietos como sempre. — Ela riu baixinho, balançando a cabeça. Mesmo com a exaustão, algo no sorriso de Petra se mantinha radiante.
Rosa sorriu com um toque de brincadeira nos olhos.
— São seus filhos com a Julia, esperava o quê?
Petra soltou uma risada abafada e olhou para Rosa com um olhar suave.
— Verdade. Eles não poderiam ser diferentes. — Ela respirou fundo, sentindo a gravidez de uma forma que era ao mesmo tempo desafiadora e incrivelmente mágica.
Rosa a olhou por um instante, e sua expressão se suavizou ao perceber que a dor que antes habitava o peito de Petra agora dava lugar a algo mais sereno. Ela sabia bem o peso da jornada de Petra. Rosa esteve ao seu lado quando o relacionamento com Lorenzo parecia um fardo impossível de carregar, vendo-a se desfazer em lágrimas noites a fio. Ela sabia o quanto Petra se doava a um amor que não a correspondia da mesma forma.
Rosa também estava lá quando o coração de Petra se reabriu, quando ela encontrou Julia e, com ela, o tipo de amor que realmente merecia. Ela foi a testemunha silenciosa das transformações que ocorreram dentro de Petra, das noites de tristeza que se tornaram noites de alegria, e agora, de um choro diferente, mas igualmente profundo.
— Você tem um jeito de fazer tudo parecer mais fácil, sabia? — Petra falou baixinho, olhando para Rosa com uma expressão de gratidão. Ela não estava mais falando apenas sobre a gravidez ou os filhos, mas sobre o apoio constante de Rosa ao longo de sua vida, os momentos de dor e felicidade que elas haviam compartilhado.
Rosa sorriu, e seus olhos brilharam de afeto. Ela apertou a mão de Petra, oferecendo um silêncio confortável.
— Você merece, Pê. E a Julia também. Merecem a felicidade que encontraram, e eu estou muito feliz por ver você assim.
Petra olhou para Rosa, sentindo um calor se espalhar por seu peito. Ela sabia que, embora a caminhada tivesse sido longa e muitas vezes árdua, as pessoas certas haviam estado ao seu lado o tempo todo.
***
A noite estava tranquila, e a casa finalmente parecia respirar depois de um dia cheio. Petra e Marcela estavam sentadas na varanda, envoltas pelo ar fresco, cada uma segurando uma xícara de chá. A luz suave da lua iluminava os rostos das duas, e por um momento, parecia que o tempo havia voltado—como se fossem novamente apenas as duas contra o mundo, como tantas vezes antes.
Marcela olhou para Petra com um sorriso leve, mas seus olhos carregavam algo mais profundo.
— Você tá assustada, né?
Petra soltou uma risada curta, balançando a cabeça.
— Isso é uma pergunta ou uma afirmação?
Marcela apenas ergueu uma sobrancelha, e Petra suspirou, passando a mão pelos cabelos.
— Assustada não chega nem perto. Eu tô apavorada, Celly.
Marcela riu baixinho.
— Lizzie… você enfrentou tanta coisa. Você acha mesmo que dois bebês vão ser o suficiente pra te derrubar?
— Eu não sei. — Petra encarou a xícara em suas mãos, os dedos girando distraidamente a borda. — Não é sobre mim, sabe? É sobre eles. Sobre ser boa o suficiente pra eles. Sobre não ferrar tudo.
Marcela a observou por um instante antes de se ajeitar no banco e segurar a mão de Petra.
— Olha pra mim.
Petra obedeceu.
— Você sempre teve um coração gigante, Petra. Sempre protegeu as pessoas que ama com tudo que tem. Você vai ser uma mãe incrível porque você nunca soube amar de outro jeito que não fosse com tudo.
Os olhos de Petra brilharam com umidade, mas ela sorriu.
— Você fala isso porque é minha melhor amiga.
— Eu falo isso porque conheço você. — Marcela apertou sua mão. — Eu vi você crescer, se reconstruir, se entregar pra vida mesmo depois de tudo. Esses bebês vão ter tanta sorte.
Petra engoliu em seco, respirando fundo para controlar a emoção.
— Você sempre soube o que dizer.
Marcela sorriu.
— Alguém tem que lembrar você do que já deveria saber.
Petra soltou um riso, enxugando um canto do olho antes que alguma lágrima escapasse.
— E se eu não der conta?
Marcela deu um tapinha em sua perna.
— Eu vou estar aqui. Sempre.
O silêncio entre elas foi preenchido pelo som das cigarras ao longe. Petra olhou para a melhor amiga, sua irmã de vida, e sentiu um alívio genuíno. Porque se havia uma coisa que sabia com certeza, era que, acontecesse o que acontecesse, Marcela sempre estaria ali.
Marcela tomou um gole do chá e se recostou na cadeira, um sorriso brincando nos lábios.
— Sabe, eu acho que quando a gente decidir ter filhos, vou convencer a Ju a adotarmos.
Petra arqueou uma sobrancelha, já segurando o riso.
— Convencer? Como se ela já não te desse tudo o que você quer?
Marcela riu.
— Bom, você me conhece. Eu gosto de planejar tudo, pensar nos detalhes. E a Ju… — Ela suspirou, balançando a cabeça com um sorriso. — Ela é mais do tipo ‘vamos ver no que dá’. Se fosse por ela, a gente já teria uns três filhos sem nem perceber.
Petra gargalhou, apoiando a cabeça na mão.
— Então, na verdade, você não vai criar só uma criança. Você vai criar duas.
Marcela revirou os olhos, mas não negou.
— Eu sabia que você ia dizer isso.
— E eu não estou errada! — Petra riu mais ainda. — Você já tem um trabalho e tanto só com a Julia, imagina quando vierem as crianças.
A conversa foi diminuindo até que Marcela, ainda sorrindo, soltou um suspiro leve. Petra notou a mudança sutil no semblante da amiga e, sem precisar de mais do que isso, perguntou:
— O que foi?
Marcela hesitou por um momento antes de dar de ombros.
— Só tava pensando… eu e a Julia já moramos juntas há anos. Já temos uma vida, uma rotina, nossos cachorros…
Petra inclinou a cabeça, sentindo onde aquilo ia dar.
— Mas nunca oficializaram nada.
Marcela assentiu.
— Nunca foi algo que a gente precisou, sabe? Sempre funcionou assim. Mas às vezes eu me pego pensando… e se?
Petra sorriu, inclinando-se um pouco mais para frente.
— Você quer casar com ela.
Marcela revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o pequeno sorriso.
— Eu não preciso casar com ela.
— Não perguntei se precisa. Eu te conheço e estou afirmando que você quer.
Marcela ficou em silêncio por um instante, mordendo o lábio, antes de soltar um suspiro.
— Eu quero.
Petra abriu um sorriso gigante.
— E tá esperando o quê?
Marcela riu, desviando o olhar por um segundo.
— Não sei. Acho que espero o momento certo.
— O momento certo é quando vocês quiserem.
Marcela sorriu de lado.
— Você tá muito sentimental hoje, hein?
— Culpa dos hormônios. — Petra deu de ombros. — Mas isso não significa que eu tô errada.
As duas riram juntas, e Marcela balançou a cabeça, como se estivesse guardando aquela conversa em um canto especial da mente. E talvez estivesse. Porque, no fundo, sabia que Petra tinha razão.
***
Petra estava deitada na cama, com o celular pressionado contra a orelha, rindo de algo que Jenna havia dito. Ela se divertia como se fosse impossível parar de sorrir, a conversa leve e cheia de risadas a fazia se sentir acolhida e ainda mais conectada com sua amiga, mesmo a distância.
Quando Julia se aproximou e se deitou ao seu lado, Petra fechou os olhos, ainda rindo, e se despediu de Jenna, desligando o celular com um sorriso no rosto.
— Jen mandou um abraço pra você, cenourinha. — Petra disse, virando-se para Julia com um brilho nos olhos, sua voz cheia de diversão.
Julia, que já estava se acomodando ao seu lado na cama, revirou os olhos com um leve resmungo, o tom de voz um pouco irritado, mas sem esconder o sorriso que também escapava de seus lábios.
— Vocês duas nunca esquecem esse apelido? — Julia reclamou, fazendo com que Petra risse ainda mais, a risada dela soando como uma melodia leve na quietude do quarto.
Petra deu de ombros, ainda rindo.
— Ah, você tem que admitir que combina.
Julia bufou, fingindo indignação, mas seus olhos revelavam o carinho que ela sentia pela situação, ainda que fosse um pouco irritante. Ela se aconchegou mais perto de Petra, se deixando envolver pelo calor do corpo dela.
— Ela disse que vem assim que estiver livre. Provavelmente só depois dos bebês nascerem. — Petra completou, deixando a informação no ar enquanto seus dedos brincavam distraidamente com a ponta do cobertor.
Julia sorriu suavemente, ainda deitada ao lado de Petra, e fechou os olhos, relaxando ao sentir a proximidade e o conforto que só a presença de Petra podia proporcionar.
— Estou ansiosa pra vê-la de novo. — Julia disse calmamente, sua voz suave, mais séria do que o tom de brincadeira anterior.
Petra olhou para ela, sorrindo, e se aconchegou mais perto, se permitindo relaxar completamente.
— Ela vai adorar saber disso, com certeza. — Petra respondeu, sentindo seu corpo relaxar ainda mais com a presença tranquila de Julia.
O silêncio se fez confortável entre as duas, o som das risadas e das conversas com Jenna ficando para trás, enquanto o clima no quarto se tornava mais tranquilo e acolhedor, um espaço só delas.
Petra sentiu o peito apertar, e antes que pudesse se conter, ela falou.
— Sabe... eu só consegui ser quem sou agora por causa de você — Ela sorriu timidamente, seus olhos refletindo a sinceridade da frase.
Julia, que até então havia permanecido quieta, se virou para Petra, sem surpresa no olhar, mas com uma suavidade que a fazia ainda mais encantadora. Ela respirou fundo, como se estivesse absorvendo a intensidade da declaração.
Petra sentiu uma onda de emoções, e as palavras saíram antes que ela pudesse bloquear o que estava sentindo.
— Eu te encontrei no meio do caos. — A voz de Petra estava baixa, quase como se ela estivesse pensando em voz alta. — E eu estava quebrada. Você me deu forças para acreditar que eu podia ser mais. Para encontrar algo além do que a dor me fazia ver... Você foi, e ainda é, como aquela luz que fica acesa quando tudo ao redor parece escuro demais.
Julia a olhou com os olhos marejados, sentindo a intensidade daquelas palavras.
— Eu acho que, na verdade, nós duas fomos a luz uma para a outra.
Petra fechou os olhos por um momento, sentindo as palavras de Julia se misturando com as batidas de seu coração.
— Eu estava tão perdida, sabia? — Petra continuou, abrindo os olhos novamente e encontrando os de Julia. — Eu pensei que a vida fosse uma coisa simples, mas ela me fez cair tantas vezes. Até você aparecer... até encontrar você, Julia. E quando me vi quebrada, foi você quem me ajudou a juntar os pedaços.
Julia ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras.
— Eu não sabia o que eu estava fazendo, amor. Eu não sabia que poderia te ajudar a se encontrar, mas quando você me deixou entrar... quando você me deixou te amar, tudo se fez mais claro para mim também. O que quer que fosse quebrado em você, também estava em mim. E juntas, a gente foi consertando. Às vezes, com as próprias mãos, às vezes com a ajuda de quem estava ao nosso lado. Como se a vida tivesse feito tudo isso para nos ensinar, para fazer tudo o que passamos fazer sentido de alguma forma. — Julia fez uma pausa, tocando o rosto de Petra com uma ternura imensa. — Eu sei que o caminho ainda vai ter pedras, mas eu sei que, com você, sempre vou achar a forma de seguir em frente.
Petra sorriu suavemente, com os olhos umedecidos, e, sem dizer mais nada, se aproximou para beijar Julia com uma suavidade única.
— Nós sempre vamos achar a luz, Julia. Sempre. — Petra murmurou contra os lábios de Julia antes que o beijo a envolvesse por completo.
***
Petra estava deitada na cama do hospital, um travesseiro estrategicamente posicionado para aliviar o desconforto, mas nada parecia ajudar. Ela fechou os olhos e respirou fundo, tentando manter a compostura enquanto sentia outra contração se aproximando.
— Julia... — Ela resmungou, apertando a mão da esposa com uma força absurda.
— Tô aqui, amor. — Julia respondeu imediatamente, tentando ignorar o fato de que sua mão estava sendo esmagada.
— Eu vou morrer, Julia.
Julia mordeu a língua para não rir. Sabia que não era uma boa ideia rir de uma mulher em trabalho de parto, especialmente se essa mulher fosse Petra.
— Você não vai morrer, Petra.
— Eu vou! — Petra esbravejou, arregalando os olhos. — E você vai ser viúva com dois bebês recém-nascidos!
Julia suspirou, trocando um olhar com Marcela, que estava do outro lado tentando não rir também.
— Lizzie, você é uma atleta profissional, já jogou com o tornozelo torcido, já levou bolada na cara a mais de 100 km/h, e agora tá sofrendo por causa disso? — Marcela provocou.
Petra virou a cabeça lentamente, olhando para a amiga como se estivesse pronta para assassiná-la.
— Você quer trocar de lugar comigo, Marcela?
Marcela levantou as mãos, se defendendo.
— Não, senhora! Isso é todo seu.
A enfermeira entrou na sala sorrindo, completamente imune ao desespero de Petra.
— Como estamos, mamãe?
— Eu quero uma cesárea.
Julia arregalou os olhos.
— O quê? Petra, a médica já disse que você está bem para um parto normal.
— Mas eu não quero mais! Eu mudei de ideia!
— Querida, você está com oito centímetros de dilatação... É um pouco tarde para mudar de ideia. — A enfermeira falou calmamente, checando os monitores como se não tivesse acabado de destruir o último resquício de esperança de Petra.
— Eu odeio todo mundo nessa sala. — Petra reclamou.
— Isso é normal, faz parte do processo. — A enfermeira disse, ainda sorrindo.
— Não me fale de processo, por favor. Eu tô passando por isso agora.
Nesse momento, a porta do quarto se abriu e Miguel e Kudiess entraram apressados.
— Chegamos! — Miguel anunciou.
— Como tá a coisa aí? — Kudiess perguntou.
Petra se virou para eles como um animal selvagem prestes a atacar.
— O que você acha?
Kudiess piscou algumas vezes, assustada.
— Isso tá parecendo um exorcismo.
— Cala a boca, Miguel! — Petra rebateu.
— Ok, desculpa.
Julia acariciou os cabelos de Petra, tentando mantê-la calma.
— Amor, respira.
— Eu tô respirando, Julia, mas isso dói pra caralho.
— Eu sei, eu sei...
— Não, você não sabe!
Kudiess se inclinou e sussurrou para Miguel.
— Eu não sei se quero ter filhos depois de ver isso.
— Eu tenho certeza que a Marcela também não vai querer, amiga. — Ele respondeu, arregalando os olhos.
— Lizzie, eu preciso da minha não inteira! — Marcela resmungou, sentindo seus dedos sendo esmagados.
— Cala a boca, Marcela! — Petra rebateu entre os dentes, seu tom carregado de irritação e desespero.
Julia riu baixo, divertindo-se com a cena, até que Petra virou para ela com um olhar de puro fogo.
— Você também, Julia!
O riso de Julia morreu na hora.
A enfermeira com um sorriso profissional e tranquilo, completamente imune ao caos emocional da sala.
— Está na hora de levá-la para a sala de parto. Apenas um acompanhante pode ir.
Marcela deu um passo para trás automaticamente, sabendo que aquele momento era de Julia e Petra. Mesmo assim, não conseguiu esconder a emoção ao olhar para a amiga.
— Você vai conseguir, Lizzie. — Ela se inclinou e deixou um beijo na testa de Petra, que fechou os olhos por um momento, sentindo o carinho.
Antes que Petra pudesse dizer algo, Kudiess, que estava parada ao lado, deu um leve aperto em sua mão.
— Se precisar de alguém pra assustar os médicos, grita que eu invado a sala.
Petra soltou uma risada cansada, apertando a mão de Kudiess rapidamente.
— Eu vou gritar só por garantia.
A enfermeira pigarreou, indicando que era hora de seguir. Julia apertou a mão de Petra e sorriu, tentando transmitir segurança, mesmo que por dentro estivesse um turbilhão.
— Pronta, amor?
Petra respirou fundo, assentindo.
— Não, mas não tenho muita opção.
***
Setembro, 2030
Julia estava de pé na sala, balançando Theo nos braços com um olhar meio perdido, meio desesperado. O bebê — que aparentemente nunca ficava cansado — mexia os bracinhos e fazia barulhinhos animados, completamente alheio ao fato de que eram três da manhã.
— Theo, meu filho, pelo amor de Deus, dorme. — Julia sussurrou, tentando manter a paciência.
— Ele não dorme, Ju. — Petra resmungou do sofá, onde estava meio desfalecida, segurando Bella no colo.
A menina, diferente do irmão, dormia profundamente, respirando tranquila como se estivesse em um spa de luxo e não em uma casa onde o caos reinava.
— O que a gente fez de errado? — Julia perguntou, olhando para Theo, que agora ria como se adorasse ver o desespero das mães.
— A gente teve filhos.
— Ok, mas por que um deles veio com bateria infinita e o outro no modo econômico?
— Justiça divina. — Petra deu de ombros. — Theo puxou você. Agitado, impossível de controlar, cheio de energia. Bella é a minha cópia. Maravilhosa, calma, sensata.
— Sensata? Ela tem dois meses!
— E já sabe que a melhor coisa a se fazer é dormir.
Julia revirou os olhos, exausta, e continuou balançando Theo, que agora tentava pegar os fios soltos do cabelo dela.
— A gente precisa de ajuda.
— Concordo.
Um segundo de silêncio.
— E cadê essa ajuda?
Petra deu um longo suspiro e olhou para a babá eletrônica na mesinha de centro.
— Bem ali.
— Pê, isso é uma câmera.
— Eu sei.
— Então por que você está olhando pra ela como se fosse fazer alguma coisa?
— Porque eu estou tentando manifestar uma babá profissional aparecendo na nossa sala milagrosamente.
Julia piscou.
— Você tá delirando de sono, né?
— Provavelmente, querida.
De manhã, a situação não era muito melhor. Julia estava sentada à mesa da cozinha, segurando Theo no colo com uma mão enquanto tentava beber café com a outra. O bebê, por sua vez, estava determinadíssimo a derrubar a xícara.
Petra entrou na cozinha parecendo um zumbi, depois de deixar Bella dormindo tranquilamente no berço.
— Como ela ainda tá dormindo? — Julia perguntou, indignada.
— Porque eu sou uma mãe incrível.
— Ou porque ela simplesmente gosta de dormir.
— Detalhes.
Theo começou a se contorcer. Petra olhou para ela com uma expressão de puro cansaço.
— Você lembra como era a nossa vida antes? Tipo… antes disso?
— Vagamente.
— A gente dormia.
— Dizem que é bom.
— A gente saía para jantar, ia ao cinema…
— Tomava banho sem interrupções…
As duas suspiraram ao mesmo tempo.
— Mas pelo menos são fofos. — Petra olhou para Theo, completamente alheio ao sofrimento das mães.
— Sim. E eu te amo.
— E eu amo você.
Theo escolheu esse momento exato para soltar um arroto monstruoso, interrompendo qualquer resquício de romantismo na cozinha.
Petra piscou.
— Isso foi dele ou de você?
— Petra!
Petra caiu na risada e Julia suspirou, voltando a encarar o café que nunca ia conseguir beber em paz.
A maternidade era linda.
Mas também era um inferno com noites infinitas sem dormir.
***
Novembro, 2030
Julia ficou parada por um momento na porta do quarto, observando Bella dormir tranquilamente em seu berço. Era impressionante como a menina parecia um anjinho comparada ao irmão. Bella tinha a calma de Petra, com aquele sorriso doce que, de alguma forma, sempre fazia Julia lembrar da esposa. O sorriso, aquele jeito de olhar por cima, o brilho nos olhos. Era tudo tão Petra que Julia sentiu uma pontada de carinho no peito.
Mas, claro, a tranquilidade de Bella era o oposto de Theo.
Julia saiu do quarto e caminhou até a sala, onde encontrou Petra deitada no sofá. Theo estava em seu colo, balançando as pernas agitadas e fazendo um monte de sons que mais pareciam uma conversa animada. Petra estava falando com ele como se estivesse negociando algo.
— Theo, meu filho, vamos fazer um acordo. — Petra dizia, tentando manter uma expressão séria enquanto o bebê dava risadinhas como resposta.
— Você precisa ser um pouco mais tranquilo, certo? Eu prometo que vou te dar mais atenção, mas você precisa gostar mais de mim também, porque parece que você ama a Julia e me odeia às vezes. — Petra fez uma pausa, dando um beijo na testa de Theo. — Eu sei que você não entende o que eu tô falando, mas eu também sou sua mãe, viu?
Julia se encostou no batente da porta e riu baixinho ao ouvir a conversa. Era uma coisa tão Petra tentar fazer um "acordo" com o filho, como se ele fosse capaz de entender as negociações. Ela se aproximou sem fazer barulho, querendo ouvir mais.
— E outra coisa, Theo… — Petra continuou, agora com uma expressão quase como se fosse explicar um grande segredo. — Eu sei que você é difícil, mas eu prometo que vou ser mais paciente. Você é exatamente igual à sua mãe, caramba!
— Como assim exatamente igual à sua mãe? — Julia perguntou, cruzando os braços e tentando não rir.
Petra se ajeitou no sofá, fazendo uma careta enquanto Theo começava a dar pequenos gritos, provavelmente tentando dar mais ênfase à sua "conversa".
— Você é difícil, amor. E você tem uma paciência limitada, como ele.
Julia riu e se sentou ao lado de Petra, acariciando a cabeça de Theo.
— Eu não tenho paciência limitada. Eu tenho paciência com coisas que merecem paciência.
Petra olhou para ela, ainda com um sorriso travesso.
— Ah, claro. Porque você é um poço de paciência quando eu faço alguma coisa que te irrita, né?
Julia estreitou os olhos, fingindo indignação.
— Não vamos falar sobre isso na frente da criança.
Theo, como se estivesse entendendo que era o centro da conversa, balançou os bracinhos com empolgação e soltou um gritinho animado, fazendo Petra suspirar.
— Ele claramente me vê como a "mãe trouxa". Eu tento estabelecer regras e ele só ri da minha cara. Olha isso! Eu sou uma piada para ele.
Julia gargalhou, vendo o pequeno segurar o colar de Petra como um troféu.
— Talvez porque você faz essa cara de quem tá tentando ser séria, mas falha miseravelmente. Ele sente a fraqueza, Lewis!
Petra estreitou os olhos.
— Isso foi um insulto disfarçado, Bergmann?
— Foi um elogio.
— Não parecia.
Antes que Julia pudesse responder, Theo soltou um gritinho mais alto, como se estivesse dando sua própria opinião. Petra suspirou e olhou para o filho, agora com uma expressão de exaustão e derrota.
— Theo, cara, me ajuda. Eu só quero que você me ame.
Julia não conseguiu segurar o riso.
— Ele te ama, amor. Ele só gosta de te ver desesperada. Acho que é o lado Bergmann dele.
Petra jogou a cabeça para trás no sofá.
— Então eu tô ferrada.
Julia se inclinou e deu um beijo rápido nos lábios de Petra.
— Tá sim. Mas, olha pelo lado bom… pelo menos Bella puxou o seu lado calmo.
Petra olhou para ela com um olhar dramático.
— Então quer dizer que a gente tem um empate? Um bebê caótico e uma bebê tranquila?
Julia assentiu, rindo.
— Exatamente.
Petra olhou para Theo, que agora mordia os próprios dedos, satisfeito.
— Isso significa que o caos tá só começando.
Julia bufou e pegou Theo dos braços de Petra.
— Vamos ver se sou mesmo a favorita.
E, para a total humilhação de Petra, Theo imediatamente encostou a cabecinha no ombro de Julia, soltando um suspiro satisfeito.
Petra arregalou os olhos, completamente indignada.
— Eu não acredito!
Julia sorriu com arrogância, balançando Theo levemente nos braços.
— Você tem que aceitar que sou a favorita.
Petra cruzou os braços e lançou um olhar indignado para o filho traidor.
— Isso é injusto! Eu passei nove meses carregando ele, senti enjoos, dores, inchei igual um balão, e ele simplesmente escolhe você?!
Julia fingiu pesar, balançando a cabeça como se lamentasse.
— Triste realidade.
Petra bufou dramaticamente e jogou a cabeça para trás no sofá.
— Isso não vai ficar assim. Eu vou mimar a Bella até o fim da minha vida. Vai ser minha filhinha da mamãe.
Julia arqueou a sobrancelha.
— Mas aí você não vai estar sendo justa.
Petra deu de ombros, impassível.
— Exatamente.
Julia gargalhou e beijou o rosto da esposa.
— Você é ridícula.
— E vingativa.
Mas antes que Petra pudesse continuar seu plano de revanche contra o favoritismo de Theo, um chorinho delicado veio do quarto.
— E lá vai a mamãe preferida da Bella em ação. — Julia brincou.
Petra se levantou rapidamente, com um sorriso vitorioso.
— É assim que funciona, Theo. Você pode ter escolhido a Julia, mas a Bella escolheu a mim.
Petra voltou pouco depois com Bella nos braços, a pequena piscando devagar, ainda meio sonolenta. Sentou-se ao lado de Julia no sofá, segurando a filha com um carinho imenso.
As duas ficaram em silêncio por um momento, apenas observando os gêmeos. Os rostinhos delicados, os olhos azuis brilhantes, os cabelinhos ruivos, aquele sorriso lindo que Julia sempre dizia terem herdado de Petra.
— Eles são perfeitos, Julia. — Petra murmurou, acariciando a bochecha macia de Bella depois fazendo o mesmo com Theo.
Julia assentiu, sorrindo.
— São mesmo. Mas tenho que admitir, é um pouco assustador saber que a gente criou duas mini versões de nós.
Petra riu baixinho.
— Então quer dizer que o mundo agora tem novas versões de nós?
Julia suspirou dramaticamente.
— Basicamente. Boa sorte pra gente.
Petra riu e encostou a cabeça no ombro de Julia, sentindo o calor aconchegante da esposa e dos filhos.
— Acho que estamos ferradas.
— Com certeza. Mas pelo menos estamos juntas nessa. — Julia beijou o topo da cabeça de Petra.
— Somos uma boa dupla, não somos, querida?
Julia a encarou, os olhos divertidos, e deu uma leve risada.
— A melhor dupla, amor. — respondeu, antes de beijar suavemente os lábios de Petra.
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Notas do Capítulo:
Me perdoem pela demora em postar, mas finalmente aqui está! E, sim, o capítulo acabou ficando bem longo, mas eu precisava finalizar nesse ponto. O epílogo ainda vai sair, talvez no domingo ou segunda — ainda não sei ao certo, mas não se preocupem, está quase pronto!
E sim, este é oficialmente o último capítulo de Ace of Hearts!
Ah, e um agradecimento super especial para a pessoa que comentou que essa história lembrava a letra de "Fix You"! Eu AMEI essa comparação.
Beijos!
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