96 - Daylight

Brasil, Setembro de 2029

A cozinha estava cheia de movimento, e o cheiro delicioso de comida no forno preenchia o ambiente. Petra, que já estava acostumada a essa bagunça gostosa que se formava em sua casa toda sexta-feira, riu internamente ao observar Miguel e Marcela. Eles estavam na tentativa de ajudar a preparar o jantar, mas na verdade, pareciam mais um estorvo do que qualquer coisa útil. Ambos estavam se esforçando, mas com o jeitinho atrapalhado, pareciam causar mais confusão do que realmente ajudar.

— Já sabem como vai se chamar se for menina? — Miguel perguntou, com a boca cheia de uma cenoura que ele estava tentando cortar com precisão, mas que parecia mais uma tortura para o pobre vegetal.

— E se for menino? — Marcela se empolgou, empurrando alguns ingredientes para o lado, claramente sem ideia do que estava fazendo.

Petra soltou uma risadinha, sem conseguir evitar.

— Certo. Os dois patetas sabem que nenhuma de nós está grávida ainda, não sabem? — Petra comentou com um sorriso brincalhão.

Miguel e Marcela se olharam, rindo, antes de encararem Petra novamente.

— Eles não param de falar sobre isso desde que vocês contaram sobre estarem tentando engravidar. — Kudiess entrou na cozinha, seguida de Julia. Elas estavam carregando algumas sacolas de compras, com o restante das coisas que Petra havia pedido.

Julia soltou uma risada e foi direto até Petra, dando-lhe um beijo rápido na bochecha antes de se afastar para deixar as sacolas sobre a mesa. Kudiess fez o mesmo com Marcela e Miguel, que fez uma cara de quem estava claramente se sentindo deixado de lado, resmungando sobre estar no meio de tanta demonstração de afeto.

— E eu aqui segurando vela, que legal... — ele resmungou.

Julia riu, pegando uma garrafa de água na geladeira e se recostando na bancada, observando a bagunça na cozinha.

— Por que o Ricardo não veio? — Julia perguntou.

— Ele está de plantão hoje. Odeio quando ele me abandona e eu tenho que aguentar essa melação de vocês. — Miguel reclamou, fazendo as mulheres rirem.

— Não tenho culpa se você decidiu namorar um bonitão super ocupado. — Petra brincou, lançando um olhar divertido para Miguel.

— O quê? — Julia perguntou, fingindo ciúmes do outro lado da cozinha.

— Um médico super ocupado, foi o que eu disse. — Petra corrigiu rapidamente, provocando risadas.

— Voltando ao assunto, o nome do meu futuro sobrinho. — Miguel insistiu, com um sorriso travesso, querendo retomar a conversa sobre o bebê, como se nada mais importasse.

— Você sabe que o sobrinho não vai ser só seu, certo? — Marcela, sempre rápida para interagir, provocou, lançando um olhar brincalhão para Miguel.

— Todo mundo sabe que eu vou ser o favorito dessa criança. — Miguel respondeu com uma confiança exagerada.

O clima descontraído se espalhou pela cozinha. Até Kudiess entrou na discussão, querendo se meter na disputa para ser a tia favorita.

— A briga vai ser pior se a Rosa escutar os três falando essas coisas. — Petra sussurrou para Julia, que ficou rindo com a ideia de como Rosa poderia reagir.

Julia riu também, balançando a cabeça.

— Eu não quero nem ver eles conversando sobre isso. — Julia brincou.

— Tá bem, chega vocês dois. — Kudiess decidiu pôr fim à discussão, mas o sorriso dela não escondia a diversão da situação. Ela olhou para Petra e Julia, rindo com elas. — Falando sério agora, vocês já decidiram quem vai...

— Eu — respondeu Petra com um sorriso firme. Ela deu uma explicação breve sobre o processo, falando sobre os planos para a gravidez, a escolha de métodos, e o quanto estava animada, mas também nervosa com o que viria pela frente.

— Não acredito que vou ver você carregando um filho de Julia Bergmann, quer dizer, eu já impedi que vocês duas saíssem no tapa na universidade. — Marcela disse, provocando uma risada geral na cozinha.

— Eu já disse que é Lewis-Bergmann. — Julia brincou, abraçando Petra com um gesto carinhoso enquanto observava o que ela estava fazendo, seu olhar cheio de cumplicidade.

— Elas ficam mais grudentas a cada ano, como é possível? — Miguel perguntou, rindo de como a relação delas, com o passar dos anos, parecia só se tornar mais forte. Ele se recostou na cadeira, observando as duas com um sorriso de aprovação.

Petra e Julia trocaram um olhar rápido. A vida havia se tornado tão rica, e o que antes parecia distante agora estava ao alcance das mãos delas.

***

Novembro de 2029

O final de novembro trouxe uma paz serena, algo que parecia raro nas rotinas aceleradas e imprevisíveis que Petra e Julia costumavam ter. Depois de tomarem a decisão de fazer uma pausa nas carreiras, para dar espaço ao tempo de que realmente precisavam, elas pareciam estar vivendo um momento de tranquilidade quase perfeita. Uma pausa que não apenas aliviava a pressão das obrigações profissionais, mas também lhes dava a oportunidade de redescobrir os pequenos momentos juntas.

Petra estava sentada entre as pernas de Julia, que a envolvia com os braços, ambas no chão da sala, rindo de algo bobo que aconteceu durante o dia. A luz suave do final da tarde iluminava a cena, criando uma aura acolhedora e íntima ao redor delas. Petra sentiu um calor no peito, observando a esposa. Ela pensou, com um sorriso silencioso, que aquele era seu momento favorito do dia. Não importava onde estivessem ou o que estivessem fazendo; o simples fato de estar ali com Julia, sentindo sua presença, já era tudo o que ela precisava para se sentir em paz.

Petra pensava nela como seu "sol particular". Ela refletiu sobre como a vida antes de Julia parecia tão fria e sem cor, como se estivesse assistindo ao mundo passar em preto e branco. Petra havia chegado a acreditar que um amor medíocre, sem grandes expectativas ou paixões, seria sua única opção – e, no final, acabaria se contentando com isso. Mas Julia foi diferente. Ela foi como um raio de luz brilhante que cortou a escuridão em que Petra se encontrava. Como um alívio imediato após um longo sufocamento, como uma respiração profunda que acalmava a alma. Julia trouxe de volta o brilho e o calor à vida de Petra, transformando sua realidade monótona em algo vibrante e cheio de possibilidades.

Julia não era apenas sua esposa. Ela era a luz de Petra, a força que aquecia e iluminava todos os cantos da sua vida, até então sombria. Com Julia, Petra finalmente conheceu o que era viver um amor genuíno, caloroso e repleto de intensidade. O amor que antes parecia um conceito distante e inalcançável para ela agora estava ali, bem na sua frente, nas pequenas trocas, no toque suave de mãos, nas risadas que compartilhavam, nos silêncios tranquilos e no simples fato de estarem juntas, no mesmo espaço. Esse amor era vivo, quente e dourado, como o sol em pleno apogeu, e Petra sentia-se grata todos os dias por ter encontrado Julia.

As horas passaram sem que as duas percebessem, o som da casa ao redor parecia se tornar distante enquanto elas se entregavam à companhia uma da outra, apenas desfrutando da presença. Petra, com a cabeça encostada no peito de Julia, sentia o ritmo suave da respiração da esposa. Cada suspiro, cada batida do coração de Julia, era como uma música tranquila que a acalmava e a fazia se sentir em casa. Estar com Julia assim, sem pressa, sem obrigações, apenas vivendo aquele momento, era a forma mais pura de felicidade para Petra.

Julia sentia a mesma paz que emanava de Petra. Era como se o tempo, que frequentemente se tornava algo apertado e escasso em suas vidas, tivesse desacelerado naquele instante. Julia sorria para si mesma, sentindo-se completa de uma forma que jamais imaginou ser possível. Ela sabia que o caminho até ali não tinha sido fácil – muitas escolhas difíceis, desafios e, claro, aquelas brigas ocasionais que as testavam – mas tudo havia valido a pena. Porque, no fim, ela tinha Petra ao seu lado, uma parceira inquebrantável, alguém com quem construir e compartilhar os momentos mais preciosos da vida.

O tempo, aquele tempo que sempre parecia escapar por entre os dedos, agora estava parado. Naquele momento, com o corpo de Julia aquecendo o seu, Petra sentiu que tudo estava certo. Não havia mais dúvidas, não havia mais questionamentos sobre o que o futuro lhes reservava. Elas estavam ali, no presente, e isso era o suficiente.

A vida, para Petra, parecia finalmente ter se tornado uma tela em branco, onde ela e Julia poderiam pintar juntas o futuro que queriam. E quando pensava nisso, ela sabia que, com Julia ao seu lado, não havia nada que elas não poderiam enfrentar.

Era o tipo de amor que dava coragem, força, e que fazia tudo parecer possível.

Julia franziu o cenho quando sentiu Petra se afastar ligeiramente de seus braços. Ela ainda estava imersa naquele momento tranquilo, perdida na sensação de ter Petra tão próxima, e agora a esposa estava se desvencilhando com um brilho estranho no olhar.

— Aonde você vai? — Julia perguntou, sua voz carregando um leve tom de reclamação, como se já sentisse falta do calor de Petra.

Petra sorriu de lado, mordendo o lábio inferior de um jeito quase nervoso. Seu coração estava acelerado, mas era um nervosismo bom, uma ansiedade misturada com alegria. Ela respirou fundo, tentando organizar os pensamentos antes de falar.

— Eu preciso te mostrar uma coisa. — Petra se levantou devagar, estendendo a mão para Julia, que a segurou sem hesitar.

Julia, ainda confusa, se permitiu ser puxada para cima, sem tirar os olhos do rosto da esposa. Havia algo diferente na expressão de Petra, algo que Julia não conseguia decifrar completamente, mas que a deixava intrigada. Era uma mistura de emoção contida e uma felicidade que parecia prestes a transbordar.

— Você tá estranha — Julia comentou, observando cada movimento de Petra com curiosidade.

— Eu tô? — Petra riu baixinho, entrelaçando os dedos nos de Julia enquanto a guiava para fora da sala.

O coração de Petra batia forte. Ela tinha planejado aquele momento por dias, ensaiado palavras, imaginado reações, mas agora que estava prestes a contar, sentia um frio na barriga como se estivesse prestes a pular de um penhasco.

Elas pararam na frente da cômoda no quarto. Petra soltou a mão de Julia e abriu uma gaveta, puxando de lá uma pequena caixinha. Julia arqueou a sobrancelha, observando a cena com uma mistura de expectativa e impaciência.

— Se for um presente pra me subornar depois de ter feito alguma besteira, saiba que eu vou aceitar, mas só depois de te fazer sofrer um pouquinho. — Julia brincou, cruzando os braços.

Petra revirou os olhos, rindo.

— Abre logo, Bergmann.

Julia pegou a caixinha e a abriu sem pressa, ainda com um sorriso nos lábios. Mas no momento em que seus olhos pousaram no conteúdo, o sorriso desapareceu. Por um instante, ela ficou imóvel, como se sua mente estivesse tentando processar a informação. Dentro da caixinha, havia um pequeno par de sapatinhos brancos e um teste de gravidez com um resultado positivo bem claro.

O silêncio que se seguiu foi carregado de emoção. Julia piscou algumas vezes, como se precisasse se certificar de que estava realmente vendo aquilo. Seus olhos, antes cheios de curiosidade, agora brilhavam com uma incredulidade pura e um início de lágrimas.

— Petra... — Sua voz saiu baixa, quase um sussurro.

Petra mordeu o lábio, sentindo seus próprios olhos se encherem d’água. Ela balançou a cabeça afirmativamente, um sorriso enorme e emocionado, tomando conta de seu rosto.

— Sim, amor. Eu tô grávida.

A reação de Julia foi imediata. Um riso nervoso escapou de seus lábios antes que ela largasse a caixinha na cama e puxasse Petra para um abraço apertado, quase levantando-a do chão.

— Meu Deus! — Julia exclamou contra o pescoço de Petra, a voz embargada de emoção. — Meu Deus, sério?!

— Sério. — Petra riu entre as lágrimas, segurando Julia com força. — A gente conseguiu. Deu certo, Ju.

Julia afastou-se só o suficiente para segurar o rosto de Petra entre as mãos, como se quisesse memorizar cada detalhe daquele momento. Os olhos delas estavam cheios de emoção, misturando felicidade, amor e uma dose de surpresa.

— Eu te amo tanto. — Julia sussurrou, antes de beijá-la com um carinho quase desesperado, como se precisasse transmitir toda a felicidade que sentia naquele instante.

Petra sorriu contra os lábios da esposa, sentindo-se completa de uma forma que jamais imaginou possível. Aquele era o início de uma nova jornada para as duas. Uma jornada que elas estavam prestes a viver juntas.

Julia, com o coração ainda acelerado e um sorriso que não conseguia desaparecer, se afastou lentamente de Petra. Ela se ajoelhou diante dela, as mãos ainda tremendo levemente, mas agora com um brilho de alegria em seus olhos. Julia olhou para a barriga de Petra, sua expressão se suavizando enquanto seus dedos tocavam suavemente a pele da esposa.

— Oi, meu amor. Eu sei que você está aí, se preparando para chegar e iluminar nossa vida... Eu só queria te dizer o quanto eu te amo, mesmo sem te conhecer ainda. Você é muito querido, muito esperado... E a mamãe aqui, junto com a sua outra mamãe, vai te dar todo o amor do mundo, pode ter certeza. — Julia sorriu com uma ternura que fazia seu coração parecer ainda mais cheio, tocando de leve a barriga de Petra. — Você é nossa maior alegria, já tem um espaço tão grande em nossos corações.

Petra observava com o coração transbordando de felicidade enquanto acariciava o cabelo de Julia com carinho. Era uma cena tão simples, mas tão profundamente encantadora que ela não conseguia deixar de sorrir com os olhos marejados de emoção. O carinho de Julia, o jeito como ela falava para o bebê, tudo parecia mágico. Era como se o amor delas já tivesse transcendendo para essa nova fase, criando uma nova conexão ainda mais forte.

— Eu sempre sonhei com esse momento, sabia? — Petra disse suavemente, ainda com a mão no cabelo de Julia, como se quisesse segurar aquele instante para sempre. — Mas eu nunca imaginei que seria tão lindo assim. Eu me sinto tão sortuda, Julia... Tão grata por ter você, por ter a nossa família, mesmo que ainda seja só o começo.

Julia levantou os olhos, sorrindo para Petra com tanto carinho. Ela encostou a testa suavemente na barriga de Petra, como se estivesse em total sintonia com o novo ser que estava prestes a fazer parte de suas vidas.

— Eu sou a sortuda, Petra. Eu nunca imaginei que algo assim fosse ser possível. — Julia respondeu com a voz embargada, quase sussurrando, mas suas palavras carregavam uma intensidade que fazia todo o ambiente parecer ainda mais aconchegante. — Vou te amar mais do que você pode imaginar, e ao nosso bebê também.

***

Algumas semanas depois, Petra estava no sofá da sala, o celular em mãos, conversando com Marco e Antonella. A voz de Marco vinha do outro lado da linha, cheia de preocupação, enquanto Antonella ocasionalmente soltava risadinhas ao fundo.

— Está se cuidando direitinho? — Marco perguntou, claramente preocupado. — Não está exagerando, né? A gravidez não é brincadeira, você tem que estar atenta aos seus limites.

Petra riu, recostando-se no sofá e olhando para Julia, que estava na cozinha, mexendo em algo no fogão. Era impressionante como Julia, desde que soubera da gravidez, parecia ter se tornado uma espécie de "guardiã" de Petra, cuidando dela como se fosse vidro.

— Ai, Marco, você não tem ideia... — ela respondeu com um sorriso, deixando a voz cair para um tom brincalhão. — Julia mal me deixa ir até a cozinha pegar um copo de água. Se eu me levanto, ela já está atrás de mim, perguntando se estou bem, se preciso de alguma coisa.

Antonella riu ao fundo, sua voz leve e alegre.

— Ela vai te mimar até o bebê nascer, e depois você vai ter que compartilhar esse carinho com o pequeno, viu?

Petra riu, imaginando a cena. Era bem verdade. Julia, com seu instinto de proteção, estava implacável. De certa forma, Petra até adorava aquilo, embora soubesse que, quando o bebê chegasse, teria que encontrar seu equilíbrio entre ser mimada e ser independente.

— Eu sei, eu sei... Mas olha, não vou mentir, até que estou gostando dessa atenção toda. É até engraçado, porque se eu dou um passo para fora da cama, lá vem ela. E se eu me atraso mais de cinco minutos, já vem me procurar para ver se eu estou bem.

Marco soltou um suspiro aliviado do outro lado da linha.

— Bom, pelo menos ela está cuidando de você direitinho. Isso é o mais importante, Petra. Fico feliz em saber que você tem alguém tão atenciosa.

Petra sorriu, mas seu coração se aqueceu ao ouvir as palavras do amigo. A relação com Julia, embora intensa e cheia de desafios, era exatamente o que ela precisava. Ela se sentia segura, amada e, mais importante, tinha alguém que a entendia e a amparava.

— Eu tenho sorte, Marco — ela disse com sinceridade, os olhos suavemente fixos na figura de Julia na cozinha. — Eu realmente tenho.

Antonella, com seu jeito carinhoso e maternal, entrou na conversa. — Isso mesmo, querida. E lembre-se de não se sentir culpada por precisar de cuidados. É um momento único, e você tem todo o direito de aproveitar essa fase. Estou dizendo isso porque eu te conheço e sei o quanto você é teimosa.

Petra deu uma risadinha, aconchegando-se um pouco mais no sofá, enquanto observava Julia, que ainda estava concentrada na cozinha, com a mesma dedicação de sempre.

— Eu sei, eu sei... não é fácil, mas... vou deixar a Julia fazer esse trabalho por enquanto. — ela brincou.

Marco soltou uma risada do outro lado, concordando.

— Petra, você vai ser uma excelente mãe, tanto quanto é uma excelente esposa. Temos certeza disso.

Petra sentiu o peito apertar com a emoção.

— Obrigada, Marco. E Antonella, obrigado por se preocupar. Eu estou bem.

Antes de terminar a ligação, Antonella se despediu com uma promessa. — Cuide-se, querida. A gente vai estar aí para ajudar no que precisar. Não se esqueça disso.

Petra sorriu, agradecida. — Eu sei. Vocês são incríveis.

— A presto, bambina mia.

Ci vediamo dopo, Nella. Diga ao Pierre que mandei um beijo. 

Depois de desligar o celular, ela olhou novamente para Julia, que agora estava se aproximando, trazendo uma caneca de chá para ela.

— Como você está? — Julia perguntou suavemente, sentando-se ao lado de Petra no sofá. Ela pegou a mão de Petra, segurando-a com carinho.

— Eu estou ótima, amor. — Petra sorriu, levando a caneca até os lábios. — Minha conversa com Marco e Antonella me fez perceber que estou sendo mimada demais por você, e isso vai me fazer perder a independência.

Julia riu, sentando-se mais perto. — Ah, é? Mas eu vou continuar te mimando e te cuidando, porque é disso que você precisa agora.

Petra se aninhou nos braços de Julia, deixando-se levar pela sensação de segurança que a envolvia. Quando olhou para a esposa, viu no olhar dela o amor e a dedicação que nunca a deixariam. E, por mais que a vida fosse cheia de mudanças, ela sabia que sempre teria Julia ao seu lado, cuidando dela, apoiando-a.

E, no fundo, isso era tudo o que ela precisava.

***

— Madrinha! — Antonella gritou animada, agarrando Petra com seus bracinhos pequenos.

Petra, que estava sentada confortavelmente no sofá, sorriu ao pegá-la no colo, sentindo o peso leve e a energia vibrante da afilhada.

— Oi, minha princesa! Que saudade!

Antonella segurou o rosto de Petra com as mãozinhas e olhou para ela com curiosidade.

— Mamãe disse que você tem um bebê na barriga!

Julia, que estava ao lado de Petra, riu e olhou para Nyeme, que deu de ombros.

— Eu contei pra ela no caminho. Agora ela quer saber tudo sobre bebês — Nyeme explicou, rindo.

Micael se aproximou, cumprimentando Petra e Julia com um abraço caloroso antes de se sentar na poltrona.

Antonella, ainda fascinada, olhou para a barriga de Petra e, com todo o cuidado do mundo, apoiou as mãozinhas nela.

— Ele já pode brincar comigo? — ela perguntou, o rosto sério e esperançoso.

Petra segurou o riso e olhou para Julia, que apenas observava a cena, completamente encantada.

— Ainda não, pequena — Petra respondeu, acariciando os cachinhos de Antonella. — Mas quando ele ou ela nascer, você vai poder brincar o quanto quiser.

— Eu posso ensinar a desenhar! — Antonella declarou, como se já tivesse decidido sua missão como prima e afilhada mais velha.

— Acho uma ótima ideia — Julia disse, piscando para Petra.

Antonella se aconchegou mais no colo da madrinha, como se quisesse ficar pertinho do bebê também.

— Você gosta de ter um bebê na barriga, dinda?

Petra olhou para Julia, que a observava com um sorriso pequeno e olhos brilhantes. Sentiu o coração se aquecer antes de responder.

— Gosto sim, amor. Mas sabe o que eu gosto mais?

— O quê?

— De saber que ele vai ter uma prima maravilhosa como você.

Antonella abriu um sorriso enorme e bateu palminhas.

— Eu sou maravilhosa!

Petra, com um sorriso suave no rosto, aconchegava Antonella em seu colo enquanto a pequena, cheia de energia, ficava alternando entre contar coisas sobre seus dias e fazer perguntas sobre o bebê. O ambiente estava tranquilo, com a luz dourada da tarde se filtrando pelas janelas e criando um clima acolhedor.

Eles continuavam a conversar, com Nyeme fazendo piadas e contando histórias engraçadas sobre os desejos malucos que ela teve enquanto esperava Antonella. A imagem de Micael correndo atrás de comida em horários inusitados ou tentando organizar tudo enquanto ela estava no auge da gravidez fazia as outras caírem na risada. Julia, com um sorriso divertido, observava Nyeme, imaginando o caos carinhoso daquela fase e sabendo que, em breve, Petra também teria suas próprias histórias para contar.

***

Maio de 2030

Petra abriu a porta com um sorriso largo ao ver Lukas e Evelyn ali. O irmão de Julia não perdeu tempo e a envolveu em um abraço cuidadoso, sentindo o leve volume da barriga entre eles.

— Julia deixou você andar até aqui pra abrir a porta? — provocou ele, afastando-se um pouco para encará-la.

— Sua irmã vai me enlouquecer, Julio Bergamota. — respondeu Petra, rindo, enquanto soltava Lukas para abraçar Evelyn com carinho.

Evelyn, com seu jeito doce, passou as mãos delicadamente sobre a barriga de Petra, admirada.

— Eles já estão chutando muito? — perguntou, os olhos brilhando de curiosidade.

— O tempo todo. Especialmente à noite, parece que fazem festa ai dentro — Petra respondeu, fazendo uma careta divertida.

Eles entraram, e Petra fechou a porta atrás deles, conduzindo-os até a sala.

— Onde está a Ju? — quis saber Evelyn, olhando ao redor.

— No banho. — Petra respondeu, acomodando-se no sofá com um suspiro leve.

Lukas se jogou na poltrona ao lado, cruzando as pernas com a despreocupação de quem já se sentia em casa.

— Mamãe e papai disseram que vão vir te ver logo — comentou ele, observando a barriga de Petra como se ainda não acreditasse que sua irmã estava prestes a ser mãe, e estava vivendo isso ao lado dela.

Antes que Petra pudesse responder, uma voz se fez presente na sala, carregada de falsa indignação.

— Ah, e eu? Ninguém mais vem aqui pra me ver, não?

Julia surgiu no corredor, ainda secando os cabelos com uma toalha, vestindo apenas um short e uma camisa larga de Petra, que evidenciava o leve ciúme divertido em seu tom.

Lukas trocou um olhar cúmplice com Evelyn antes de lançar um sorriso travesso para a irmã.

— Ah, você sabe, temos nossa favorita — disse ele, apontando sutilmente para Petra.

Julia revirou os olhos, mas o sorriso que tentou esconder denunciava que, apesar da provocação, ela não se importava tanto assim. Ela estreitou os olhos para Lukas, cruzando os braços enquanto se encostava no batente da porta.

— Engraçado… — murmurou, fingindo indignação. — Na última vez que chequei, sua irmã sou eu.

Evelyn riu baixinho, sentando-se ao lado de Petra e voltando a acariciar sua barriga.

— E quem disse que favoritismo tem a ver com laços de sangue? — provocou, piscando para Petra.

Lukas soltou uma gargalhada e se inclinou para pegar uma almofada, jogando-a despreocupadamente na direção de Julia, que desviou com facilidade.

— Melhor você aceitar logo, maninha. Petra conquistou todo mundo há anos.

Petra riu e se aconchegou melhor no sofá, suspirando de leve ao sentir um chute mais forte. Julia percebeu de imediato e, como se esquecesse a provocação, caminhou até Petra, abaixando-se ao seu lado.

— Eles estão agitados? — perguntou, a voz mais suave agora.

Petra assentiu, pegando a mão de Julia e guiando até sua barriga. O toque firme e quente de Julia fez com que Petra relaxasse instantaneamente.

— Parece que já puxaram a mãe e são cheios de energia — brincou Petra.

Julia sorriu pequeno, os olhos fixos na barriga da esposa. Lukas e Evelyn trocaram um olhar discreto, percebendo como Julia parecia encantada.

Lukas, no entanto, não resistiu.

— Então, é oficial? Teremos um oposto para a seleção masculina e uma oposta para seleção feminina...

Julia ergueu os olhos e arqueou uma sobrancelha.

— E quem disse que um deles não pode ser ponta, hein?

— Ah, não, já temos o suficiente na família! — protestou Lukas, rindo.

Petra e Evelyn apenas assistiram a discussão divertida entre os irmãos, enquanto Julia, com a mão ainda pousada na barriga de Petra, sorria de canto, parecendo completamente absorta nos pequenos movimentos dos bebês.

***

— Você tá com cara de quem vai dormir a qualquer momento — comentou Pri, olhando para Petra com um sorrisinho.

— E se eu dormir? Algum problema? — Petra retrucou, arqueando uma sobrancelha.

— Nenhum, lindona, mas eu ficaria bem ofendida se você apagasse no meio da nossa presença ilustre — Carol brincou, fazendo um brinde imaginário com sua bebida.

Petra revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso.

— Vocês deviam vir aqui pra me mimar, não pra me encher.

— A gente tá mimando! — protestou Rosa, entregando a Petra um pedaço de manga cortado perfeitamente. — Se isso não for carinho, eu não sei o que é.

Petra aceitou a fruta, mastigando lentamente, enquanto sentia os olhares atentos das amigas sobre ela.

— Como você tá de verdade, Pepê? — Rosa perguntou, o tom mais suave agora.

Petra suspirou, passando a mão na barriga quase instintivamente.

— Eu tô bem. Cansada, às vezes ansiosa, mas bem.

— E a Julia? — Pri perguntou, com um olhar significativo.

— Cuidando de mim mais do que deveria. Às vezes acho que ela quer me colocar em uma redoma de vidro.

As três riram, como se pudessem imaginar perfeitamente Julia fazendo exatamente isso.

— Normal, né? Você não é exatamente a pessoa mais cuidadosa com si mesma — Carol comentou, levantando-se e indo até Petra para mexer em seu cabelo de propósito.

Petra resmungou, empurrando a mão dela, mas sem real esforço.

— Vocês só sabem pegar no meu pé.

— É só porque te amamos — Pri disse, piscando.

O clima estava descontraído, mas foi interrompido pelo som da porta se abrindo.

— Eu espero que estejam cuidando bem da minha mulher — a voz de Julia ecoou pela casa antes mesmo de aparecer na sala.

Luzia, Ana e Kisy vieram logo atrás, todas carregando sacolas, provavelmente cheias de coisas que Julia julgava “essenciais” para Petra.

— Meu Deus, vocês saíram pra comprar o supermercado inteiro? — Petra comentou, levantando uma sobrancelha ao ver a quantidade de sacolas.

— Não exagera — respondeu Luzia, colocando as sacolas sobre a mesa. — Só trouxemos o básico, Pepê.

— Chocolate, sorvete… — Ana Cristina começou a listar, contando nos dedos, antes de olhar para Julia e rir. — E um milhão de frutas, porque a Julia queria equilibrar as coisas.

— Equilibrar? Ela surtou no mercado — Kisy entregou, jogando-se no sofá ao lado de Carol.

— Eu só quero que a dona Petra coma direito — Julia defendeu-se, pousando as mãos na cintura, antes de se aproximar e se abaixar ao lado de Petra. — Você tá bem, amor?

Petra sorriu pequeno, aceitando o carinho quando Julia pousou a mão sobre sua barriga, como se estivesse conferindo por conta própria.

— Tô bem, amor. Você se preocupa demais.

— E você se preocupa de menos — Julia rebateu de imediato, apertando levemente a coxa de Petra antes de se levantar e voltar a ajudar Luzia com as compras.

— E aí, o que estavam aprontando com a nossa mamãe? — Ana perguntou, pegando um dos salgadinhos.

— Tentando fazê-la admitir que tá morta de cansaço, mas ela é teimosa — Carol respondeu, deitando-se no sofá e esticando as pernas.

Julia lançou um olhar significativo para Petra, mas não disse nada — por enquanto.

Luzia riu e pegou uma garrafa de suco.

— Pelo visto, nada mudou.

— Não mesmo — Pri concordou, enquanto Kisy pegava o controle da TV, como se já morasse ali.

O ambiente ficou mais cheio, mais barulhento, mas também mais aconchegante. Petra percebeu que, apesar do cansaço, gostava daquela movimentação. Elas estavam ali por ela. Era sempre assim.

E, mais uma vez, Julia voltou a se sentar ao seu lado, como se não pudesse ficar muito longe.

Petra observava a cena à sua frente com uma diversão. Sua sala, que até algumas horas atrás estava organizada, agora parecia um campo de guerra. Sacolas abertas espalhadas pela mesa, almofadas jogadas pelo chão, Rosa, Ana e Carol dividindo um pacote de salgadinho no sofá como se fosse a coisa mais natural do mundo, enquanto Pri e Luzia com Kisy discutiam sobre qual filme colocar na TV.

Petra cruzou os braços e inclinou a cabeça de leve, o olhar brincalhão.

— Vocês se sentem em casa até demais, né?

Kisy nem piscou antes de responder com um sorrisinho.

— Ué, e quem deu confiança foi você!

As meninas riram, e Petra revirou os olhos, mas sem conseguir esconder o sorriso. Julia, que até então apenas observava a interação com divertimento, se aproximou mais de Petra, puxando-a suavemente para um abraço.

— Reclama, mas no fundo adora a bagunça delas — provocou Julia, passando a mão distraidamente pela barriga de Petra.

— É… talvez um pouquinho — Petra admitiu, fingindo relutância.

— Ah, pronto! Assumiu! — Ana comemorou, batendo na perna de Carol, que gargalhou.

— Pronto nada, vocês podem começar a pegar leve na bagunça, porque senão eu boto todo mundo pra arrumar agora — Petra retrucou, estreitando os olhos.

Rosa deu de ombros com uma expressão de quem não se importava.

— Pelo visto, sua casa é a nossa casa agora, hein?

Petra riu, jogando a cabeça para trás enquanto Julia ria ainda mais, deixando um beijo carinhoso na sua bochecha.

— Eu não sei mais se isso é bom ou ruim — Petra disse, mas a diversão no tom de voz entregava que ela realmente gostava de ter todas ali.

— Vai ver é bom e ruim ao mesmo tempo — Luzia completou com uma risada baixa, dando um tapinha no sofá ao lado de Petra. — Mas a gente tá aqui pra isso, né? Pra bagunçar, dar risada e te fazer relaxar.

Petra olhou para todas as meninas, uma por uma, sentindo seu coração aquecer com a proximidade delas. Sim, havia bagunça, mas era uma bagunça cheia de carinho e risos. Ela estava grata, mesmo que sua casa estivesse um pouco mais caótica do que o normal.

— Tá bom, vou aceitar, mas só porque não sou tão cruel.

***

A noite estava tranquila, o ambiente aconchegante, e as luzes suaves do abajur davam um toque de calor ao quarto. Petra, deitada de lado, estava concentrada no celular, rindo das mensagens enviadas pelas amigas. Quando Julia perguntou, ela apenas balançou a cabeça em diversão.

— As meninas estão mandando mensagens. Thaisa e Gabi falaram que vêm nos visitar logo, Gattaz e Diana também. — Petra respondeu, ainda sorrindo. — Carol disse que vai voltar outro dia com a Anne e vai trazer Roberta e Macris junto.

Julia não conseguiu segurar o riso, imaginando a cena. Sabia que, de certa forma, aquelas visitas se tornaram uma espécie de revezamento. As meninas sempre queriam estar por perto de Petra, mas as visitas em grupo eram uma combinação que só funcionaria por partes.

— As visitas se tornaram um revezamento, né? — Julia comentou, rindo. — Elas sabem que todas juntas vão te estressar e te fazer expulsar todo mundo em minutos.

Petra deu um sorriso malicioso, erguendo a sobrancelha.

— Mas no fundo, adoro ter todas aqui.

Julia riu, mas logo desviou o olhar para a barriga de Petra, tocando-a delicadamente, como sempre fazia. Era um gesto simples, mas carregado de um carinho profundo.

— Olá, meus amores — sussurrou Julia, com a voz suave, quase como um segredo entre elas. — Como vocês estão, hm?

Petra fechou os olhos, sentindo o toque de Julia na barriga. Era uma sensação reconfortante, tão familiar e estimada. Ela sabia que esse momento era especial para as duas, um elo silencioso de amor.

— Eles adoram ouvir sua voz — Petra respondeu, um sorriso doce e tranquilo no rosto. Seus dedos estavam gentilmente entres os fios ruivos da esposa.

Julia sorriu, sua mão ainda acariciando a barriga de Petra, com uma leve risada no tom.

— Eu sei — disse ela, com um sorriso travesso. — Eles já reconhecem a voz da mãe legal.

Petra riu, mas antes que pudesse responder, deu um tapa leve na nuca de Julia, como uma forma de repreensão carinhosa. O som suave do toque foi seguido pelo risinho de ambas.

— Tá se achando, né? — Petra brincou, ainda com o sorriso no rosto.

— Eu sou a mãe legal, o que posso fazer? — Julia respondeu, com um olhar cúmplice.

Petra riu e se aconchegou mais no travesseiro, sentindo o calor de Julia ao seu lado.

— Você está bem? — Julia perguntou baixinho, seus dedos acariciando a pele de Petra de maneira cuidadosa e amorosa.

Petra sorriu, virando levemente a cabeça para olhar Julia, os olhos suaves e cansados, mas cheios de carinho.

— Eu estou… mais do que bem — respondeu, sua voz quase um sussurro, como se não quisesse quebrar a magia do momento. — Estou feliz. Muito feliz.

Julia sorriu de volta, seus olhos brilhando, refletindo o amor e a tranquilidade que elas compartilhavam ali.

— Eu também — disse Julia, se inclinando para dar um beijo suave nos lábios de Petra. — Somos uma boa dupla, não é, principessa?

Petra assentiu, sorrindo contra os lábios de Julia.

— A melhor dupla, ruivinha.


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oi, já vou logo pedindo desculpas pela demora
eu estava batendo cabeça aqui, queria entregar um capitulo bom, né

ainda tenho mais dois pra postar e prometo tentar postar ainda nesse final de semana.

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