91 - Ainda Bem

- Marisa Monte

Você veio pra ficar
Você que me faz feliz
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25 de Dezembro, 2025

O som suave de risadas e conversas preenchia o ar na sala de estar espaçosa da nova casa de Petra. Era o primeiro Natal que ela passava em sua própria casa no Rio, e a sensação de aconchego e pertencimento aquecia seu coração. Ao seu redor, sua família escolhida estava reunida, celebrando juntos um dos momentos mais especiais do ano.

Petra estava sentada no chão, com a pequena Antonella, sua afilhada, no colo. A bebê de Nyeme e Micael tinha pouco mais de seis meses e segurava firme o dedo de Petra enquanto balbuciava sons desconexos e soltava risadinhas gostosas. Ao lado delas, Julia brincava com a bebê, fazendo caretas e arrancando ainda mais risos.

Do outro lado, Pierre tentava imitar as brincadeiras das duas, mexendo os dedinhos perto da bebê e rindo sempre que ela reagia. Ele era cheio de energia, sempre correndo de um lado para o outro, mas parecia fascinado com a bebê.

Perto da árvore de Natal lindamente decorada, Antonella e Marco conversavam animadamente com Nyeme e Micael. O casal falava sobre os desafios e alegrias da maternidade, enquanto Marco, como sempre, fazia piadas que arrancavam gargalhadas dos presentes.

Kudiess e Marcela estavam mais próximas de Petra e Julia, envolvidas em uma conversa tranquila, mas atentas à cena adorável que se desenrolava diante delas.

— Quando te conheci nunca passou pela minha cabeça que você iria ser tão apegada a crianças assim — brincou Kudiess, observando como Petra segurava Antonella com um carinho natural.

Petra sorriu e deu de ombros.

— Você esquece que fui praticamente babá da sua namorada na faculdade — provocou, piscando para a amiga.

Marcela riu e olhou para Julia.

— E você, Ju? Como se sente vendo a sua namorada toda maternal assim?

Julia fingiu pensar por um momento antes de responder com um sorriso travesso.

— Acho que estou gostando disso... Quem sabe daqui a alguns anos?

Petra tossiu de leve, tentando esconder o sorriso, mas as bochechas coraram levemente.

— Vamos com calma, Bergmann — murmurou.

Nyeme, que havia escutado parte da conversa, se aproximou com um olhar malicioso.

— Ah, Petra... Você já está treinando com a minha filha, quem sabe logo não está com uma sua?

Petra riu e revirou os olhos, enquanto Julia apenas sorriu de canto, se divertindo com a situação.

— Odeio quando vocês decidem que eu vou ser o alvo da perturbação.

A noite seguiu com um jantar animado. Antonella ajudava a servir vinho para os mais velhos, enquanto Marco brincava de aviãozinho com Pierre, tentando fazê-lo comer mais um pedaço de comida.

Petra observava tudo aquilo com uma sensação de gratidão. Nos últimos anos, muita coisa havia mudado. A pressão do vôlei, as dúvidas sobre seu futuro, o amor inesperado por Julia, a decisão de se afastar de tudo que lhe fazia mal. Agora, ali, cercada por pessoas que verdadeiramente a amavam, ela sabia que tinha feito as escolhas certas.

Julia notou o olhar perdido de Petra e tocou sua mão discretamente por baixo da mesa.

— Em que está pensando? — perguntou baixinho.

Petra sorriu e apertou os dedos de Julia.

— Só estou feliz — respondeu. — Muito.

Julia sorriu de volta e, sem hesitar, se inclinou e depositou um beijo suave na têmpora de Petra.

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Mais tarde, quando os convidados começaram a se recolher, Petra e Julia ficaram sentadas juntas no sofá, observando as luzes da árvore piscando suavemente.

— Foi um bom Natal — Julia comentou, apoiando a cabeça no ombro de Petra.

— Superou o do ano passado — Petra concordou, passando um braço ao redor de Julia.

Julia suspirou, fechando os olhos por um momento.

— Acho que daqui para frente, todos os nossos Natais serão assim.

Petra olhou para ela e sorriu.

— Eu espero que sim.

Julia ajeitou-se um pouco mais no abraço de Petra, sentindo o calor do corpo dela contra o seu. Havia algo de mágico na tranquilidade daquele momento, na certeza de que estavam onde deveriam estar.

— Você imaginava que estaríamos aqui um dia? — Julia perguntou, sua voz suave, quase hesitante.

Petra riu baixinho, apertando-a um pouco mais contra si.

— Se alguém me dissesse há alguns anos que eu passaria o Natal com você, com nossos amigos, as crianças correndo pela casa... eu provavelmente teria rido. Eu teria rido muito — Ela suspirou. — Mas, ao mesmo tempo, acho que sempre quis isso. Só não sabia como admitir.

Julia ergueu a cabeça para encará-la, seus olhos brilhando com o reflexo das luzes.

— Eu também. — Um sorriso leve surgiu em seus lábios. — E agora que temos isso, não quero nunca mais abrir mão.

Petra sorriu e acariciou a bochecha de Julia com o polegar. O peso das batalhas que enfrentaram para chegar ali parecia um eco distante. Elas estavam ali, juntas, e isso era o suficiente.

— Você nunca vai precisar abrir mão — Petra prometeu, sua voz carregada de convicção.

Julia inclinou-se para beijá-la suavemente, um toque cheio de carinho e certeza. Quando se afastaram, Julia riu baixinho.

— A gente virou um casal meloso.

— A culpa é toda sua — Petra retrucou, arqueando uma sobrancelha.

Julia rolou os olhos, mas sua expressão suavizou quando voltou a encostar a cabeça no ombro de Petra.

— Então me culpa à vontade. Porque eu quero continuar assim.

Petra apertou os braços ao redor dela e fechou os olhos, deixando-se envolver pela paz daquele instante.

— Eu também, amor. Eu também.

— Acho que deveríamos dormir — Julia sugeriu, sua voz baixa e preguiçosa.

— Hmm, talvez — Petra respondeu, sem muita convicção. — Mas eu gosto de ficar aqui com você assim.

Julia sorriu contra o ombro de Petra e fechou os olhos por um instante. O dia havia sido longo e cheio de emoções, mas a sensação de conforto e pertencimento que sentia ali, nos braços de Petra, a fazia querer parar no tempo ali mesmo.

— Você percebe como tudo mudou? — Julia murmurou.

— Como assim?

— Nós. Nossa vida. Há alguns anos, a gente nem conseguia passar cinco minutos sem discutir. E agora... olha só.

Petra soltou uma risada nasalada.

— Pois é. Quem diria que a garota insuportável que vivia me provocando um dia ia se tornar o amor da minha vida?

Julia ergueu o rosto para encará-la com uma expressão indignada.

— Insuportável? Sério, Petra?

— Um pouquinho — Petra provocou, sorrindo travessa.

Julia deu um leve tapa no braço dela, mas logo riu, balançando a cabeça.

— Você não tem jeito.

— Mas você me ama mesmo assim.

Julia suspirou dramaticamente.

— Infelizmente, sim.

Petra fingiu indignação.

— Infelizmente? Nossa, Bergmann, que declaração romântica.

Julia revirou os olhos e segurou o rosto de Petra entre as mãos antes de beijá-la suavemente.

— Você sabe que eu te amo — ela sussurrou contra os lábios dela.

— Sei — Petra respondeu, seu sorriso agora mais suave.

O beijo se aprofundou, lento e preguiçoso, como se o tempo tivesse desacelerado ao redor delas. Era um daqueles momentos em que nada mais importava, nem as preocupações, nem os desafios que enfrentaram para chegar até ali. Só existia o presente, o agora, o toque familiar e reconfortante.

Quando se afastaram, Julia suspirou e escondeu o rosto no pescoço de Petra.

— Vamos pra cama, antes que eu durma aqui mesmo.

Petra sorriu e assentiu, levantando-se do sofá e puxando Julia pela mão.

— Vem, ruiva.

Elas subiram as escadas devagar, ainda de mãos dadas, prontas para encerrar aquela noite com a certeza de que estavam exatamente onde deveriam estar: juntas.

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Na manhã seguinte, a luz suave do sol, filtrada pelas cortinas ainda parcialmente fechadas, invadia o quarto com um brilho dourado. Era como se o mundo estivesse acordando devagar, respeitando o ritmo tranquilo da casa. Petra, como de costume, acordou cedo. Mas decidiu se permitir o luxo de ficar mais alguns minutos na cama, observando Julia, que dormia ao seu lado, com um semblante calmo e sereno. A visão de Julia ali, ao seu lado, já não era novidade, mas Petra ainda se pegava admirando o modo como ela parecia ser parte natural de sua vida agora. Era um conforto inesperado, uma sensação de paz que ela demorou a compreender, mas que se tornou essencial para ela.

Petra ficou ali, deitada, apenas observando os traços suaves de Julia enquanto ela dormia profundamente. Julia sempre tinha uma expressão tranquila quando estava em repouso, sem as preocupações do dia a dia. Ela sorriu suavemente, tocando o rosto de Julia com a ponta dos dedos, evitando acordá-la, mas aproveitando o momento para apreciar aquele momento.

Mas o silêncio logo foi quebrado por passos apressados que ecoavam pela casa. Petra virou a cabeça para ver a porta do quarto se abrir, e lá estava Pierre, o pequeno raio de sol da casa, animado e com um sorriso de orelha a orelha. Ele estava de pijama, com os cabelos bagunçados pelo sono, mas sua energia era contagiante. Com olhos brilhando de entusiasmo, ele apareceu na porta com uma expressão de alegria.

— Tia Petra! O Papai Noel deixou presentes para a gente! — disse baixinho quando viu que Julia ainda dormia, mas ele estava quase saltando de empolgação. — Posso entrar?

Petra não conseguiu segurar a risada diante da animação do garoto. Era impossível não se contagiar com aquele entusiasmo puro. Ela fez sinal para que ele se aproximasse, e quando ele deu alguns passos para entrar no quarto, pulou no colo da tia com um sorriso largo. Pierre, já acostumado com o carinho das duas, não hesitou em se aconchegar nos braços de Petra.

— Calma, calma, Pi. Vamos acordar a tia Ju primeiro — disse Petra, com uma voz suave, tentando não atrapalhar o sono de Julia.

Ela olhou para Julia, que começava a despertar com os movimentos ao seu redor. O sol ainda estava baixo, e os primeiros raios de luz davam ao ambiente uma atmosfera acolhedora e íntima. O cheiro de café fresco começava a invadir o ar, criando um cenário perfeito para o início de mais um dia.

Petra, com Pierre no colo, inclinou-se suavemente para Julia, tentando ser delicada.

— Bom dia, amor — murmurou, dando-lhe um sorriso carinhoso enquanto acariciava seu cabelo. — Pierre disse que o Papai Noel deixou presentes. 

Julia, com os olhos ainda um pouco semicerrados, esboçou um sorriso cansado, mas genuíno. Ela se espreguiçou preguiçosamente e olhou para o garoto, que estava praticamente saltando de felicidade em cima de Petra.

— Ei, o que será que ele deixou pra gente, hein? — perguntou Julia, esticando os braços, pedindo a Pierre para vir até ela. O garoto imediatamente pulou do colo de Petra para o de Julia, rindo e balançando as mãos, empolgado com a expectativa dos novos presentes.

Petra observava a cena com um sorriso suave nos lábios. Ver Julia tão aberta, tão genuinamente conectada com Pierre, era algo que sempre a tocava profundamente. A maneira como ela se entregava ao amor e à diversão, sem reservas, era algo que ela admirava. Era como se o mundo se tornasse mais leve quando estavam juntas, como se as preocupações desaparecessem e tudo o que importava fosse o momento presente.

— Acho que o Papai Noel foi generoso com a gente — disse Julia, abraçando Pierre com mais força. — Vamos ver o que ele trouxe, meu pequeno campeão.

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Durante o almoço Nyeme e Micael, que sempre estavam ocupados cuidando da bebê, tentavam se concentrar na comida, mas ela estava inquieta. Petra, com sua paciência de sempre, pegou Antonella no colo e olhou para os dois, sorrindo com carinho.

— Deixem que eu cuido da minha pequena! — Petra disse com um tom de brincadeira, enquanto acariciava os cabelos de Antonella. — Vão comer, por favor. Vocês já passaram uma boa parte da noite acordados com ela.

Nyeme olhou para ela, ainda desconfiada.

— Não precisa, Pepê. Aliás, tô achando que você tá querendo roubar minha filha, vai fazer uma pra você, viu?

— Nyeme Victória! — exclamou Petra fazendo os outros rirem — Você não me dá sossego.

Micael, sentado ao lado, deu uma risada baixa, ainda mexendo na comida, mas concordando com a esposa.

— Eu posso ficar com ela e comer depois da Ny, Pepê. — disse ele se preparando para levantar e pegar a filha, mas Julia o interrompeu antes que pudesse sair de onde estava.

— A Petra está certa, vocês dois precisam relaxar um pouco.

— Tudo bem, mas se ela ficar mais agitada pode me chamar.  — Micael olhou para Petra e Julia com um sorriso gentil.

Petra sorriu, gostando da leveza de Micael, e fez um gesto com a mão para que os dois se acomodassem.

— Relaxa, de verdade. Eu cuido da minha afilhada.

A insistência de Petra finalmente funcionou. Nyeme e Micael olharam um para o outro e, com um suspiro, cederam. Nyeme rindo deu um olhar agradecido para Petra.

— Obrigada, você é um anjo.

Petra deu de ombros, sorrindo humildemente.

— Eu só faço o mínimo, Ny.

— Você faz mágica, olha como ela fica tão quietinha — disse Micael vendo a filha ficar mais tranquila no colo de Petra.

A bebê estava confortável, com os olhos curiosos, tentando entender o que estava acontecendo ao seu redor. Petra olhou para o próprio prato, mas antes que pudesse fazer algo, Julia já estava se inclinando na direção dela.

— Deixa eu ajudar — Julia disse, com um sorriso brincalhão.

— Não precisa, Ju, eu consigo... — Petra tentou protestar, mas Julia não estava disposta a ceder.

— Você está com a Antonella no colo, amor. Aqui, olha o aviãozinho. — Ela disse com um sorriso travesso, já colocando um garfo de comida perto da boca de Petra.

Petra riu, sabendo que, por mais que tentasse recusar a ajuda, Julia iria continuar insistindo.

— Eu disse que não precisava, mas tudo bem, você venceu — Petra respondeu com um olhar carinhoso, permitindo que Julia a alimentasse.

— A cada dia que passa, vocês ficam mais melosas, como é possível? Já pensaram em usar uniforme de casal? — Marcela disse com um sorriso irônico, enquanto Kudiess ria ao fundo, apoiando a piada.

Petra, com um olhar de brincadeira, não hesitou em rebater.

— Olha, eu já me arrependi de ter chamado vocês duas para a minha casa. — Ela disse, enquanto ria de sua própria resposta. — E ainda vou ter que aguentar as madames a semana inteira.

Marcela deu uma gargalhada alta, enquanto Kudiess fazia um comentário sobre como não aguentava mais ver as duas grudadas o tempo todo . Elas sabiam que Petra e Julia estavam passando por uma fase intensa de afeto, e adoravam zoar o casal por isso. Mas, na verdade, todo mundo na mesa sabia que o amor entre elas era genuíno, e as brincadeiras só refletiam o quanto todos estavam felizes com a união das duas.

Entre as piadas e o riso contagiante, o almoço seguiu sua marcha descontraída, com todos se alimentando e interagindo em meio à boa comida e boa companhia. Petra olhava para Julia, para as piadas das amigas e para Antonella, que aos poucos estava começando a se inquietar em seu colo, querendo ver mais do que estava acontecendo ao seu redor.

— Ela vai ser agitada igualzinho vocês! — Micael comentou com um sorriso largo ao ver a bebê tentando se mover de forma desajeitada.

— Claro, amor! Ela tem sangue de atleta — Nyeme respondeu com um olhar carinhoso para a filha, enquanto observava sua reação.

A conversa mudou de assunto, e logo, o clima se tornou mais relaxado.

— E aí, pessoal, algum plano para o ano novo? — Marco perguntou com interesse, enquanto olhava para Petra e Julia.

Petra, que estava tranquilamente brincando com a bebê, olhou para Julia antes de responder.

— Eu estava pensando em irmos para a praia — disse Petra, com um sorriso suave.

— Praia? — Antonella disse com um sorriso brincalhão. — Isso é praticamente o quintal da sua casa, Petra.

Todos riram da observação dela. Nyeme não perdeu a chance de adicionar uma piada.

Petra, descontraída, respondeu com um sorriso amplo.

— Olha, para quem passou tantos anos longe de casa, qualquer pedaço de praia já é motivo de alegria. Mas sério, eu adoro isso. O mar sempre me acalma.

— Ela tem razão — Julia, com uma expressão mais brincalhona, olhou para Petra, com um sorriso. — Até eu já me acostumei a esse pedacinho de paraíso.

— A gente merece um descanso à beira-mar depois de todo esse ano. — Petra concordou, olhando para as amigas que estavam rindo e acompanhando a conversa.

— Então, é isso! Praia para o Ano Novo. — Marco disse com um sorriso.

Marcela, sempre pronta para uma provocação, cruzou os braços e sorriu de canto.

— Pois é, né? Obrigada, Petra, por ser rica e proporcionar esse luxo para nós, meros mortais. Quem diria que eu teria amigas tão influentes!

Todos riram, e Petra revirou os olhos, já acostumada com as brincadeiras de Marcela.

— Para com isso, Celly. Eu só escolhi morar bem, não sou nenhuma magnata, não.

— Ah, claro! Só uma humilde jogadora internacional com uma casa maravilhosa e uma praia como quintal — Marcela retrucou, piscando.

— Se está reclamando tanto, eu posso cancelar o convite, viu? — Petra ameaçou de brincadeira, arqueando a sobrancelha.

— Não! — Marcela ergueu as mãos em rendição. — Desculpa, chefinha! Você é a melhor, perfeita, generosa!

A gargalhada geral tomou conta da mesa. Julia, que observava a interação divertida, sorriu e segurou a mão de Petra debaixo da mesa, dando um leve aperto.

— Você gosta de bancar a durona, mas no fundo adora mimar todo mundo — Julia sussurrou só para ela.

Petra lançou um olhar discreto para a namorada e deu um sorriso contido.

— Só gosto de ver todo mundo bem.

— E o Miguel? Ele vem, Lizzie? — perguntou Marcela com um tom casual.

Petra riu antes de responder, já prevendo a reação das amigas.

— Não, você vai ficar sem sua duplinha do caos, Celly. Ele ainda tá na Suíça com o namorado.

Kudiess não perdeu a chance de brincar.

— Miguelito sempre foi meio açucarado desde que a gente conheceu ele. Como que no ano passado ainda teve gente achando que a Petra tava namorando ele?

—  Por que eles viviam grudados. E a gente não pode esquecer que eles já namoraram, né? Não podemos negar que tinham química, a Julia adorava isso — disse Marcela rindo.

— Verdade! — Nyeme concordou, segurando a risada. — Eu lembro que a Julia ficava de cara feia sempre que ele chegava perto da Petra.

Julia revirou os olhos, mas a leve cor rosada em seu rosto a entregava.

— Não era ciúmes! — rebateu, cruzando os braços. — Só... só achava ele muito grudado na minha namorada. Não tinha tanta necessidade, tá?

—  Ele era o fisioterapeuta dela! — murmurou Kudiess recebendo um olhar tedioso de Julia.

Petra gargalhou, inclinando-se para o lado e apoiando a cabeça no ombro de Julia.

— Amor, você ficava de cara fechada só de ver a gente respirando o mesmo ar.

— E você também? — Julia retrucou rapidamente, apontando um dedo acusador. — Você já ficou com ciúmes até da Marcela.

Marcela, que estava aproveitando sua taça de vinho, quase engasgou ao ouvir seu nome.

— Nem me envolve nisso, Julia. Você quase me fez perder o emprego naquela noite no bar quando estávamos na Itália.

Petra levantou uma das mãos em rendição, mas não negou.

— Eu peguei vocês duas conversando baixinho no corredor do CDV. Foi, no mínimo, suspeito, tá? E depois teve aquela noite no bar, bem lembrado, Celly.

Os outros caíram na risada enquanto Marcela tentava se defender.

— Você sabe que sou inocente nessa — brincou, levando a mão ao peito, fingindo indignação. — Sua namorada que tava maluca com ciúmes daquela italiana oferecida.

—  Ela é maluca, Celly.

Julia riu, mas abraçou Petra de lado.

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A casa estava iluminada por luzes suaves, criando um ambiente acolhedor e tranquilo. Lá fora, as risadas e conversas enchiam o ar, mas Julia notou que Petra havia desaparecido discretamente da roda. Curiosa, e já conhecendo bem a namorada, decidiu ir atrás dela.

Caminhando pela casa, encontrou Petra na sala de estar, sentada no sofá com Antonella adormecida em seu colo. O carinho e a delicadeza com que Petra segurava a bebê fizeram o coração de Julia apertar. A expressão da namorada era serena, seus dedos traçando padrões suaves na pele macia de Antonella, e sua voz baixa murmurava palavras doces que Julia não conseguiu captar completamente.

Julia parou por um momento, observando a cena. O brilho suave das luzes de Natal ainda piscava na árvore no canto da sala, e o contraste entre a firmeza habitual de Petra e a suavidade com que segurava a bebê era algo que aquecia o coração de Julia.

— Tô começando a achar que você quer mesmo roubar a Antonella da mãe, amor — disse Julia com um sorriso brincalhão, aproximando-se devagar.

Petra ergueu os olhos e sorriu suavemente.

— Você me ajuda? — provocou, piscando para Julia antes de dar um beijo delicado na testa da afilhada.

Julia riu baixinho e se sentou ao lado de Petra no sofá, passando um braço ao redor dos ombros dela e observando a bebê dormir.

— Você está tão encantada por ela. Marco e Antonella disseram que você ficou do mesmo jeito com o Pierre, parando pra pensar você é assim com ele até hoje.

Petra suspirou, como se estivesse organizando os próprios pensamentos. Depois de um momento, olhou para Julia com um brilho diferente nos olhos.

— Você... já se imaginou assim? — perguntou, a voz mais hesitante do que o normal.

Julia franziu o cenho levemente, como se tentasse entender o que Petra realmente queria perguntar.

— Assim como?

Petra desviou o olhar por um segundo, antes de voltar a encará-la.

— Formando uma família... tendo filhos. Você já pensou nisso para nós?

O coração de Julia deu um salto. Ela não esperava essa pergunta vinda de Petra, ainda mais naquele momento.

Julia ficou em silêncio por alguns instantes, processando a pergunta, sentindo o peso da sinceridade nos olhos de Petra. Então, sorriu levemente, deslizando os dedos pelos cabelos da namorada.

— Acho que nunca parei para pensar seriamente nisso... — admitiu. — Mas vendo você assim... parece tão natural.

Petra sorriu, mas era um sorriso diferente, um sorriso de esperança.

— Eu sempre achei que minha vida seria só vôlei, que minha carreira tomaria todo o espaço. Mas nos últimos tempos, com você, com tudo que estamos construindo... Eu comecei a imaginar um futuro diferente.

Julia sentiu seu peito aquecer com aquelas palavras. Petra era intensa em tudo o que fazia, mas vê-la vulnerável e aberta assim era especial para a ruiva.

— Você realmente quer isso? — Julia perguntou baixinho, os olhos buscando os de Petra.

— Quero. Não agora, obviamente, talvez nem tão cedo, mas um dia... eu quero. Quero construir uma família com você.

Julia engoliu em seco, sentindo um misto de emoções. A ideia de ter uma família com Petra não era algo que já tivesse planejado, mas também não era algo que lhe parecia impossível. Pelo contrário, ao ver Petra ali, com Antonella nos braços, sentiu que talvez aquele pensamento já estivesse adormecido dentro dela há algum tempo, esperando apenas o momento certo para despertar.

— Se é com você... — Julia apertou a mão de Petra. — Eu consigo me imaginar sim.

Petra soltou um riso baixinho, um riso aliviado, e inclinou-se para encostar sua testa na de Julia.

— Eu te amo, Julia.

— Eu também te amo, Petra.

Petra e Julia riram ao ouvir a música animada que vinha do lado de fora, onde os outros ainda estavam reunidas. O som das conversas e risadas misturava-se à melodia, criando um ambiente aconchegante e familiar.

No entanto, quando os primeiros acordes de uma canção bem conhecida começaram a tocar, Petra parou por um instante, fechando os olhos com um sorriso nostálgico.

— Ah, essa música… — murmurou, sorrindo. — Foi a Marcela, tenho certeza.

Julia franziu levemente o cenho, observando a expressão de Petra.

— O que foi?

— Só acho que essa foi a melhor música possível para esse momento.

Ainda de olhos fechados, Petra começou a cantarolar baixinho:

"Ainda bem que agora encontrei você
Eu realmente não sei o que eu fiz pra merecer
Você..."

Julia sorriu, sentindo um calor gostoso crescer em seu peito ao ouvir a voz suave de Petra. A namorada não era de cantar com frequência, mas, quando o fazia, sempre tinha esse efeito hipnotizante.

Petra abriu os olhos devagar e encontrou o olhar de Julia fixo nela.

— Sabe que essa música me lembra a gente?

Julia arqueou uma sobrancelha, curiosa.

— É mesmo?

Petra assentiu, se aconchegando mais nos braços de Julia, seus movimentos eram cuidadosos por causa de Antonella.

— No começo, eu não sabia bem o que esperar de nós duas. A gente brigava tanto... Mas olha onde estamos agora. Eu realmente não sei o que fiz pra te merecer, ruiva.

Julia rolou os olhos, mas o sorriso no canto de sua boca a entregava.

— Típico seu, transformando tudo em drama romântico...

— Ah, me deixa ter meu momento.

Julia riu, puxando Petra com cuidado e colando seus lábios aos dela em um beijo suave.

Do lado de fora, a música continuava tocando, e Petra, ainda nos braços de Julia, voltou a cantar baixinho:

"Agora você chegou
Você que me faz feliz
Você que me faz cantar assim..."

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a gente só ama Deus.

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