90 - Futuro

━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
5 de Outubro

O ginásio estava cheio, e o barulho da torcida ecoava pelo ambiente. A final do Campeonato Mineiro era sempre uma grande ocasião, mas a rivalidade entre Minas e Praia fazia a atmosfera ainda mais eletrizante. Petra estava posicionada na linha de saque, o placar mostrava 13 a 12 no tie-break, a favor do Minas. Cada ponto era decisivo. Qualquer erro podendo mudar todo o jogo.

Respirando fundo, ela segurou a bola firme, ajustando os dedos para sentir sua textura. A adrenalina corria por suas veias enquanto ela olhava para o outro lado da quadra, estudando rapidamente a posição das jogadoras adversárias. Sua mente estava focada, mas em um canto do coração, a saudade de Julia fazia-se presente. Já fazia mais de um mês que não se viam. A última vez havia sido no aeroporto, quando Julia partiu para a Turquia para jogar. Mesmo à distância, elas estavam se esforçando para fazer o relacionamento funcionar, mas não era fácil.

Petra afastou os pensamentos, voltando sua atenção ao momento presente. Ela sabia o quanto esse saque importava. O técnico do Minas havia confiado nela para fechar aquele ponto, e ela não podia desapontar. Suas companheiras de time estavam tensas, mas confiantes, sabendo que ela tinha experiência para lidar com a pressão.

“Foco, Petra. Você já fez isso mil vezes antes,” pensou, inspirando profundamente.

Ela lançou a bola para o alto, inclinou o corpo e desferiu um saque potente e direcionado. A bola viajou em alta velocidade, raspando a rede e caindo em uma área mal coberta da defesa do Praia.

Ace!

O ginásio explodiu em comemoração. Petra apertou os punhos e gritou, indo para os braços de suas companheiras de equipe. O placar agora marcava 14 a 12, deixando o Minas com o match point.

— Boa, Pepê! — gritou Kisy, batendo na mão dela enquanto as jogadoras se posicionavam novamente.

Petra sentiu o sangue ferver de emoção. A vitória estava próxima, mas o Praia não era um adversário fácil. O saque seguinte era ainda mais crítico.

Ela voltou à linha de saque, ajustando a bola mais uma vez. O barulho da torcida aumentou, com as duas partes incentivando seus times. A pressão era nítida, mas Petra tinha aprendido a usá-la como combustível. Mais uma vez, ela lançou a bola, realizando um saque tático que forçou o Praia a uma recepção complicada.

A bola foi levantada, e a oposta do Praia atacou com força, mas a defesa do Minas estava bem posicionada. Kika fez uma recepção espetacular, passando a bola para Jenna, que armou a jogada para Petra na saída de rede.

Petra saltou. O bloqueio do Praia subiu à sua frente, mas ela encontrou um espaço na diagonal curta. A bola tocou o chão no lado adversário.

Ponto final.

As jogadoras correram para o centro da quadra, abraçando-se e celebrando. Petra foi uma das mais festejadas, tanto pela eficiência no saque quanto pelo ataque decisivo. A sensação de vitória era indescritível, e ela se permitiu sorrir genuinamente sentindo a emoção da primeira vitória decisiva usando aquela camisa.

---

O clima no vestiário era de pura euforia. As jogadoras do riam, tiravam fotos e conversavam sobre momentos do jogo. Petra sentou-se no banco, observando a comemoração ao redor. Ela estava feliz, mas também exausta.

Enquanto bebia água, seu celular vibrou. Ela o pegou e sorriu ao ver o nome de Julia piscando na tela.

— Então, campeã, como se sente? — perguntou Julia, com um sorriso caloroso que Petra conseguia ouvir mesmo sem vê-la.

— Me sinto incrível, mas você sabe como é... só queria que você estivesse aqui para comemorar comigo — respondeu Petra, sincera.

— Eu também queria, amor. Mas, ei, eu vi os lances do jogo. Você arrasou! Aquela diagonal no último ponto... perfeita, como sempre.

Petra riu, corando levemente.

— Claro que viu. Você sempre encontra um jeito de assistir, não é?

— Sempre. E olha, acho que gritei mais aqui em casa do que a torcida aí no ginásio — brincou Julia.

O som da voz de Julia era um alívio para Petra. Mesmo que a distância fosse difícil, momentos como aquele a faziam se sentir mais tranquila.

— Ju, eu tô com saudades... — confessou Petra, sua voz mais suave.

— Eu também, Pepê. Mas falta pouco para a gente se ver de novo. Prometo que a próxima folga vou passar aí com você.

Petra sorriu pensando em quando veria a namorada.

— Vou cobrar.

— Tá falando com a Ju? Diz que eu tô com saudades também. — disse Kudiess, sentando ao lado de Petra e se apoiando confortavelmente em seu ombro.

— Amor, a Kuddies disse que tá com saudades. — Petra riu, inclinando a cabeça para o lado.

Julia riu do outro lado da linha. — Ela não desgruda mais de você, não?

Petra fingiu uma expressão pensativa antes de responder:

— Desconfio de que essa aproximação toda é só pra ficar mais perto da Marcela, não de mim. — Ela mal terminou de falar quando levou um tapa leve no braço de Kudiess, que protestou com um olhar indignado.

— E eu aqui toda carinhosa com você, sua cínica.

Nesse momento, Jenna se aproximou, carregando uma garrafa de água e uma expressão travessa.

Ei, Liz, já tá pendurada no celular falando com a cenourinha de novo? — disse a loira rindo.

Petra revirou os olhos, tentando não rir.

— Ju, vou desligar. Meu outro carma chegou. — Ela deu uma olhada significativa para Jenna, arrancando mais uma risada de Julia que já conhecia bem a dinâmica entre elas.

— Manda beijo, então. E boa sorte lidando com essas duas aí! — respondeu Julia, divertida. — Amo você.

— Pode deixar. Também amo você. — Petra encerrou a ligação com um sorriso no rosto.

Assim que guardou o celular, Kudiess a olhou com um sorriso sugestivo.

— Vocês duas são muito fofas, sabia? São um pote de mel, mas fofas.

Petra balançou a cabeça, fingindo impaciência.

— Kuddies, você já tem sua própria novela com a Marcela. Deixa meu namoro em paz, por favor.

— Não dá, parece coisa de filme — brincou Kudiess, rindo.

Antes que Petra pudesse responder, Kisy se juntou ao grupo, ainda com as bochechas coradas da celebração.

— Agora é sério, que ataque foi aquele no fim do jogo?

Petra deu de ombros, tentando parecer modesta.

— Foi puro talento. — disse Pri, interrompendo enquanto passava por elas e jogava uma bolsa de gelo no colo de Petra. — Toma, campeã. Gelo pra esse tornozelo antes que vire manchete amanhã. Miguel pediu pra ficarmos de olho em você.

— Obrigada, Pri. — respondeu Petra. Apesar da dor discreta, ela não deixaria nada estragar aquele momento de vitória.

Você com muita dor? — perguntou Jenna preocupada.

Tá tudo bem, sério, Jen — respondeu Petra, ajustando o gelo no tornozelo e tentando minimizar a preocupação das colegas. — Já passei por coisa pior.

Pri, no entanto, estreitou os olhos, assumindo um tom mais sério:

— Petra, você sabe que não adianta bancar a durona. Cuida desse tornozelo direito, viu?

Thaisa, que estava sentada um pouco mais afastada, assentiu com a cabeça.

— Pri tá certa, Pepê. Não adianta fingir que tá tudo perfeito. E, olha, o Miguel já tá de olho em você desde Paris. Então, nem tenta dar uma de espertinha.

Petra suspirou, mas sorriu levemente. Ela sabia que a preocupação delas vinha do coração.

— Prometo que vou cuidar. Felizes agora?

— Um pouco mais — respondeu Pri com um sorriso satisfeito. — Mas se você sair da linha, eu ligo pra Carol. Tá me entendendo?

— Sim, senhora — brincou Petra com um sorriso suave no rosto.

Kisy e Kudiess, que ainda estavam ao lado de Petra, aproveitaram para mudar o tom da conversa.

— A Ju vem mesmo te visitar na próxima folga ou você vai pra Turquia? — perguntou Kisy, a curiosidade brilhando em seus olhos.

— É o que ela prometeu, mas vocês sabem como é. A agenda dela também é uma loucura — respondeu Petra.

Thaisa, sempre pronta para uma provocação, ergueu as sobrancelhas e soltou:

— E quando sai o pedido de casamento, hein? Eu aposto que quem vai fazer é a Petra.

— Na próxima Olimpíada, talvez? Quem sabe em Los Angeles? — brincou Petra, entrando no clima. — Não é uma má ideia, é?

Pri, que ouvia a conversa enquanto dobrava uma toalha, não perdeu a chance de se intrometer:

— Seria perfeito, viu? Você já assumiu o namoro com a Ju em Paris, então nada mais justo que o pedido de casamento seja em Los Angeles. Você não faz nada pequeno mesmo.

Petra balançou a cabeça, rindo.

— Vocês estão todas muito investidas nisso, hein? Parece que planejaram minha vida inteira e esqueceram de me avisar.

Kudiess deu um leve empurrão no ombro de Petra, brincando:

— E a gente tá errada? Fala sério, seria lindo! Imagina um pedido de casamento no pódio depois de ganhar mais uma medalha olímpica.

— Bicampeãs e noivas. Petra, você só tem uma missão em Los Angeles. — acrescentou Kisy fingindo um tom autoritário. — Por favor, minhas expectativas estão altas.

O grupo riu junto, com a energia de vitória ainda tomando conta do vestiário. Mesmo com as brincadeiras, Petra sentia-se grata por ter um time que, além de colegas, eram amigas.



━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
3 de Novembro


A notícia que acabara de descobrir mexeu com Petra e ela não sabia se ria ou chorava, mas a alegria em seu coração não deixava dúvidas sobre o quanto aquele momento era especial.

— Amor, você tá chorando? — brincou Julia ao ouvir o tom de voz de Petra.

— Oi pra você também, Bergmann — respondeu Petra, com um sorriso tímido, ainda tentando segurar as lágrimas.

Julia riu do outro lado da tela. Ela tinha esse jeito de transformar qualquer momento sério em algo leve e divertido. Petra adorava isso nela. Era a combinação perfeita de humor e sensibilidade que sempre conseguia desarmá-la.

— Então, Antonella ou Benjamin? — perguntou Julia, agora mais curiosa.

Petra, empolgada, não hesitou:

— Antonella. Eu disse que seria menina, Ju. A Ny é mamãe de uma menina!

Ela estava quase radiante, a felicidade transbordando por sua voz. Para ela, aquele era um momento mágico, em que o tempo parecia desacelerar, e ela não queria que nada interrompesse aquela sensação boa.

Antes que pudesse continuar falando, Nyeme se aproximou dela com um sorriso largo e um aceno para a tela do celular, onde Julia ainda estava. Ela estava feliz, com os olhos brilhando, e Petra podia ver a alegria estampada em seu rosto. Nyeme sempre teve esse brilho especial, algo que a fazia ser ainda mais carinhosa e protetora com todos ao seu redor.

— Parabéns, mamãe! — exclamou Julia com um sorriso caloroso. Sua voz tinha uma doçura genuína, o que fez Nyeme sorrir ainda mais.

— Obrigada, Ju. Eu tô morrendo de saudades — disse Nyeme, abraçando Petra de lado. O gesto foi leve, afetuoso, e a familiaridade entre elas era evidente. — E você, Pepê, vem comigo. Eu preciso de fotos com a madrinha chorona da Antonella.

— Madrinha? — perguntou Petra, com uma expressão de dúvida, mas também de curiosidade. — Eu... espera, você tava sabendo disso, né, Julia? 

Petra olhou para a tela, esperando uma confirmação da namorada. Julia riu suavemente, mas com a leveza que sempre conseguia trazer para qualquer situação.

— Claro, estava sabendo. — Ela sorria, seu tom era acolhedor, mas também um pouco travesso. — Aliás, eu avisei que você iria chorar só por saber o sexo do bebê.

Petra sentiu uma leve onda de calor subir pelo rosto. Ela sabia que Julia estava brincando, mas não conseguia não se sentir tocada. Era uma espécie de vínculo silencioso, mas muito forte, que existia entre elas, um vínculo que ultrapassava qualquer distância. E era esse vínculo que a fazia se sentir completa, talvez mais do que em qualquer outro momento.

Nesse instante, Micael se aproximou, segurando uma pequena caixa branca com uma fita rosa e o nome Antonella escrito delicadamente na tampa. Petra estendeu a mão, ainda sem palavras, e ao pegar a caixa, sentiu uma emoção que não sabia explicar. Dentro, havia uma pequena foto da ultrassonografia e, ao lado dela, uma camiseta do Brasil com o número 11 estampado e as palavras "Tia Petra". Era uma homenagem simples, mas que fez Petra sorrir de forma genuína, a emoção quase transbordando.

Além da foto, havia um cartão com uma mensagem escrita à mão por Nyeme e Micael. Ao ler as palavras de carinho, Petra sentiu seu coração apertar, mas de uma forma boa.

— Ju, posso roubar sua namorada um pouquinho? — brincou Nyeme, puxando Petra para um lado com um sorriso travesso no rosto. — Prometo que já devolvo.

Julia, que havia assistido a cena do outro lado da tela, riu, como sempre fazia quando estava perto de Petra. Ela era quem a entendia nas entrelinhas, e sabia que momentos como esse eram preciosos para ela.

— Claro, pode levar. Até depois! — disse Julia, com um sorriso descontraído, antes de desligar o celular.

Petra sentiu uma pontada de saudade ao ouvir a voz de Julia desaparecer, mas sabia que, em breve, teria mais momentos como aquele, momentos em que poderia estar com Julia.

— Pepê, não vamos fazer nenhuma grande cerimônia ou algo assim — começou Nyeme, com um tom sereno, mas cheio de carinho. — Mas, de coração, Micael e eu queremos que você seja alguém importante para nossa menina. Alguém que vai sempre estar por perto, com amor e apoio, como você sempre foi.

Petra olhou para Nyeme, sentindo a profundidade das palavras dela. A ideia de ser madrinha de Antonella a tocou de uma maneira que ela não esperava. Não era uma simples formalidade. Era um papel que, de alguma forma, já estava sendo designado.

— Eu... não sei o que dizer, Ny — disse Petra, com a voz um pouco embargada. Ela sentia uma responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, uma felicidade imensa. Antonella seria uma menina cercada de amor, e Petra faria o possível para contribuir com isso.

— A Antonella vai adorar ter você por perto, eu sei disso... Sabe, quando descobri que estava grávida e comecei a pensar em quem poderia ser madrinha da Antonella, eu só pensava em uma pessoa — disse Nyeme, olhando diretamente nos olhos de Petra, como se quisesse que ela entendesse a profundidade de suas palavras. — Você.

— Eu… eu tô tão feliz, Ny. Mas me diz, por que eu? — perguntou Petra, ainda tocada pela declaração, mas também com um toque de curiosidade na voz.

Nyeme sorriu suavemente, um sorriso cheio de carinho e compreensão.

— Eu vi o que você é capaz de fazer, como você sempre se entregou ao time, mas também vi sua generosidade, sua sensibilidade, seu cuidado com as pessoas ao seu redor. Eu sei que você é capaz de amar e cuidar de Antonella com todo o seu coração, do jeito que você sempre foi com todos. — disse com um sorriso suave enquanto via Petra tentar conter a emoção — E sabe, eu também pensei que você vai ser uma ótima mãe um dia, Pepê. Eu sinto isso.

Essas palavras ecoaram profundamente em Petra. Ela nunca havia se sentido especialmente à vontade com o papel de mãe, talvez por causa da pressão constante que sentia em sua vida pessoal e profissional antes. Mas ouvir Nyeme falar daquela forma, com tanta confiança e carinho, tocou Petra de uma maneira que ela não imaginava que seria possível. Ela sempre fora dedicada ao vôlei, focada na sua carreira, mas agora sentia algo estranho ao pensar naquele assunto, as palavras de Nyeme deixaram dúvidas reais na sua mente.

— Você acha mesmo que eu seria uma boa mãe? — perguntou Petra, mais para si mesma do que para Nyeme, mas as palavras saíram de sua boca de maneira suave.

Nyeme olhou Petra com uma expressão sincera e pensativa.

— Claro que sim. — A resposta foi simples, mas convicta. — Você tem um coração enorme, Petra. E você já cuida de tantas pessoas ao seu redor, mesmo sem perceber. Eu sei que você será uma ótima mãe porque você já é uma excelente amiga, uma namorada perfeita pra Ju, uma pessoa que sempre está lá quando precisamos, que se importa, que faz tudo para ver os outros felizes. E eu acho que nem preciso falar sobre você ser tão boa com crianças, não é? Acredito que isso é aquele tipo de coisa que a gente sente, e com você dá pra sentir. Então, sim, eu tenho certeza de que você será uma boa mãe.

Petra sentiu uma lágrima escorrer pelo canto de seu olho, mas rapidamente a enxugou, sem querer parecer muito chorona e Nyeme sorriu ao perceber isso. Ouvir a amiga dizer aquelas palavras tão profundas e cheias de afeto fez Petra se sentir mais leve, mais confiante.

— Eu nunca pensei muito sobre isso, sabe? Pelo meno não antes da Julia — disse Petra, tentando organizar os pensamentos. — O trabalho, aquele quase casamento… A pressão de ser sempre perfeita. Às vezes, eu me sentia tão distante desse ideal de "mãe".

— E quem disse que ser mãe é ser perfeita? — Nyeme perguntou, com um tom descontraído. — Ser mãe é ser humana, é cometer erros, é aprender a cada dia. E você, Petra, já tem todas as qualidades para ser uma mãe maravilhosa. Você sabe amar, sabe se entregar de coração. O que mais poderia ser necessário?

Petra refletiu sobre as palavras de Nyeme. Ela sempre se via como alguém muito focada no seu futuro profissional, no que mais podia alcançar no vôlei, no que mais poderia fazer para manter seu relacionamento com Julia perfeito do jeito que estava. Ela nunca havia considerado profundamente a ideia de ser mãe, mas agora, à medida que as palavras de Nyeme tomavam forma em sua mente, ela começou a questionar tudo o que havia considerado até ali.

— Acho que nunca pensei em ser mãe porque sempre tive medo de não ser capaz — disse Petra, finalmente abrindo seu coração para Nyeme. — Medo de não ser boa o suficiente, de não dar conta de tudo. Eu sempre senti que, quando as coisas ficavam difíceis, eu tinha que ser mais forte, mais perfeita. E acho que isso me afastou de algumas coisas, principalmente da ideia de formar uma família…

Nyeme se aproximou, colocando a mão sobre a de Petra, em um gesto silencioso de apoio.

— Ninguém é perfeito, meu bem. E ninguém precisa ser. A vida é feita de momentos, de escolhas, e você tem o direito de decidir o que quer para a sua vida. Se um dia você quiser ser mãe e sentir que é o momento, eu tenho certeza de que será incrível. E se você decidir que não quer, eu também vou te apoiar, porque o que importa é que você seja feliz e verdadeira consigo mesma.

Petra olhou para Nyeme, sentindo uma sensação de conforto e segurança. Ela havia compartilhado suas inseguranças, e Nyeme não só as entendeu, como também ofereceu apoio.

— Eu não sei o que o futuro vai me reservar, Ny, mas fico muito feliz de saber que, seja qual for o caminho que eu escolha, eu vou ter seu apoio. — disse Petra, com um sorriso mais tranquilo no rosto.

Petra ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre tudo o que acabara de ouvir de Nyeme. As palavras dela, tão carinhosas e sinceras, fizeram com que algo se movesse dentro de Petra. Era uma sensação que ela nunca tinha experimentado de maneira tão clara antes: uma mistura de segurança, confiança e amor. Ela já sabia o quanto Julia era importante para ela, mas, naquele instante, algo mais profundo parecia estar se desenrolando dentro de si.

Nyeme, percebendo o olhar pensativo de Petra, sorriu suavemente e aguardou. Quando Petra finalmente quebrou o silêncio, sua voz estava mais suave do que o normal, como se estivesse confessando algo que há muito tempo estava guardado em seu coração.

— Olha, eu… eu vou te confessar algo — começou Petra, sua voz carregada de sinceridade. — Acho que parte do motivo de eu me sentir assim, com tantas dúvidas sobre o que o futuro reserva, é que… eu nunca me senti tão segura como me sinto com a Julia.

Nyeme olhou para Petra, com uma expressão atenta, percebendo o tom sério da amiga.

— Eu nunca tinha sentido isso antes — continuou Petra, com a voz um pouco trêmula. — Julia me transmite uma sensação de segurança que eu nunca senti com o... E olha que nós quase casamos. Mas com ela, tudo parece ser mais… real, mais sólido. Como se os sentimentos que tenho por ela fossem mais… verdadeiros.

Nyeme sorriu, mas seu olhar era sério e cheio de compreensão. Petra estava falando sobre Julia de uma maneira que não deixava espaço para dúvidas. Aquilo era algo que estava, de fato, moldando o futuro dela.

— Eu nunca imaginei que poderia falar assim sobre alguém, sabe? — Petra prosseguiu, com a sensação de estar finalmente admitindo em voz alta algo importante. — Mas agora, depois dessa conversa, estou começando a ver o futuro de uma maneira diferente. Eu vejo a Julia comigo, como parte da minha vida. E, se for para pensar em um futuro, a ideia de formar uma família com ela ao meu lado me dá uma sensação que eu não consigo explicar muito bem, mas é uma sensação boa. Uma sensação que nunca senti antes.

Nyeme apenas ficou em silêncio, absorvendo cada palavra de Petra.

— Eu não sei como vai ser, Ny. Só sei que com a Julia, parece que tudo se encaixa de uma maneira que eu nunca imaginei. E, a cada dia, eu vejo que não consigo mais imaginar minha vida sem ela. — Petra olhou para Nyeme, esperando ver algum tipo de julgamento, mas encontrou apenas compreensão e apoio nos olhos da amiga.

Nyeme sorriu com um brilho nos olhos. Ela não sabia exatamente o que o futuro traria para Petra e Julia, mas sabia que o que elas tinham era real e profundo.

— Pepê, eu sei que o amor entre você e a Julia é algo único, algo que pode durar. Fico tão feliz vendo você viver esse amor que realmente te faz bem e dá a segurança para imaginar um futuro com ela. E você, mais do que ninguém, merece ser feliz. Vocês merecem. E como eu já disse, vou estar aqui para apoiar vocês duas, não importa o que aconteça.

Petra sorriu. Mas antes que pudesse dizer mais algo, Nyeme brincou com um sorriso travesso, mudando o tom da conversa.

— E quem sabe, um dia, a Antonella tenha um amiguinho Lewis-Bergmann para brincar, né? — Nyeme disse, dando uma piscadela divertida para Petra. — Imagina só um peuqeno ser humaninho com os cabelos ruivos da Ju e a sua personalidade. Vai ser adorável.

Petra riu, a leveza retornando ao seu espírito. Ela sabia que Nyeme estava brincando, mas ao mesmo tempo, algo naquela frase fez com que seu coração batesse mais forte. A ideia de um futuro com Julia, talvez com filhos, uma família, começava a ganhar forma em sua mente, e aquilo não parecia tão distante quanto ela imaginava.

— Impressionante, Ny, você não perde uma oportunidade, né? — respondeu Petra, rindo da brincadeira. Mas, no fundo, ela sabia que não estava apenas brincando. O pensamento de uma família, parecia agora ser uma possibilidade real, algo que poderia de fato acontecer.

— Agora vem, vamos tirar as fotos — disse Nyeme, estendendo a mão para a amiga. — Eu preciso registrar esse momento, essa sua cara de choro tá ótima, um dia vou mostrar cada foto pra Antonella e ela vai ver a madrinha chorona que tem.

— Foi um momento emocionante, tá legal? — disse Petra, brincando, enquanto se levantava e se dirigia para o interior da casa. Ela ainda tinha muito a refletir, mas uma coisa era certa: o futuro com Julia não parecia mais tão nebuloso e incerto. Ele estava ali, à sua frente, e talvez fosse exatamente onde ela deveria e queria estar.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

capítulo não revisado e feliz natal 👍🏽

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top