83 - Medos Ocultos

━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
16 de Maio

Miguel estava na lateral da quadra conversando com Gabi, Kudiess e Ana sobre a programação do dia. Nyeme e Natinha estavam do outro lado, ajustando os tênis e trocando piadas enquanto esperavam pelo treino. A chegada de Petra e Julia não passou despercebida, especialmente porque Petra vinha andando com um leve mancar que chamou a atenção.

Miguel, sempre atento, foi o primeiro a se aproximar. Ele franziu a testa ao perceber o andar diferente de Petra. - Você tá com dor? - perguntou ele, direto, enquanto a olhava de cima a baixo com a preocupação profissional habitual.

Petra parou, visivelmente confusa, e respondeu hesitante. - Não...

Miguel arqueou uma sobrancelha. - Tem certeza? Está mancando mais do que estava antes.

Julia, que estava ao lado de Petra, teve que morder o lábio para segurar o riso. Ela desviou o olhar, fingindo que estava mexendo no elástico do cabelo, mas o brilho divertido em seus olhos não passou despercebido por Petra, que lançou um olhar mortal para a ruiva.

- Ah, bem... é só um desconforto - disse Petra, tentando parecer convincente. - Talvez eu tenha dormido em uma posição errada.

Rosa, que passava pelo grupo segurando uma bola, murmurou alto o suficiente para todos ouvirem. - Se é que dormiu...

As jogadoras pararam o que estavam fazendo, os olhares se encontrando enquanto um silêncio cheio de implicância pairava no ar. Miguel piscou algumas vezes, processando o comentário de Rosa, até que finalmente entendeu. Ele soltou uma gargalhada tão alta que ecoou pela quadra.

- Eu tô desacreditada! - disse Thaisa, aproximando-se com um olhar incrédulo que alternava entre Petra e Julia. - Julia...

- Não acredito - interrompeu Macris, fingindo enxugar lágrimas enquanto se encostava em Roberta para apoio dramático. - Petra corrompeu minha criança inocente...

Petra bufou, revirando os olhos enquanto cruzava os braços. - Eu devo tá pagando todos os meus pecados.

- Certeza que já não pagou ontem à noite? - soltou Pri, com um sorriso tão malicioso que fez metade da quadra rir.

- Priscila! - repreendeu Carol, embora ela mesma estivesse tentando conter uma risada. - Vocês também não são nada discretas.

- Amiga, ela deixou a Petra mancando, como que dá pra ser discreta? - brincou Roberta, recebendo um empurrão leve de Petra em resposta.

- O que tá rolando aqui? - perguntou Nyeme enquanto olhava de Petra para Julia.

- Petra tá mancando e, aparentemente, a culpa é da Julia - explicou Ana com um sorriso enorme.

Natinha arregalou os olhos, surpresa, antes de explodir em risos. - Tá brincando, né? Ah, já sei, treino extra...

- Vocês não têm mais o que fazer? - Petra rebateu, tentando mudar o foco, mas seu tom irritado só serviu para alimentar as risadas.

Kudiess, que até então estava quieta, cruzou os braços e olhou para Julia. - Ruiva, você devia dar um desconto pra Petra. A gente precisa dela inteira, tá?

Petra suspirou, balançando a cabeça enquanto tentava recuperar o controle da situação. - Eu odeio todas vocês.

- Ah, odeia nada - disse Rosa, jogando o braço ao redor dos ombros de Petra.

Miguel, que ainda ria das provocações, ergueu as mãos. - Ok, ok, chega de piadas. Petra, você precisa de um alongamento extra hoje.

Enquanto Miguel se afastava com Petra para cuidar do alongamento, as meninas começaram a cochichar novamente. Petra apenas revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorriso antes de se virar e seguir Miguel.

O treino começou alguns minutos depois, Zé Roberto entrou na quadra, já com o semblante sério. Quando ele olhou para Petra, que ainda mancava um pouco, seu semblante ficou preocupado. - Está com dor, Petra?

O silêncio foi imediato, as meninas se esforçando para não explodir em gargalhadas. Julia mordeu o lábio, fingindo prestar atenção no que fazia, enquanto Petra só pôde responder com um murmúrio baixo. - Só um desconforto, Zé.

○●○

O treino havia acabado, e a quadra estava se esvaziando. Petra estava sentada em um dos bancos próximos à lateral, massageando levemente o tornozelo com a mão enquanto Julia, ao lado, mexia em seu celular. As outras jogadoras estavam espalhadas pelo espaço.

Kudiess, com um sorriso brincalhão, se aproximou delas, claramente pronta para mais uma rodada de piadas.

- E aí, casal? - disse Kudiess, rindo enquanto se sentava ao lado de Petra.

Petra levantou o olhar, exausta, e sem pensar muito, mostrou o dedo do meio para a central. - Vai à merda, Kudiess.

Julia riu baixinho, sem tirar os olhos do celular. - Essa é a linguagem de amor dela. Significa "te adoro".

- Claro que é - rebateu Kudiess, revirando os olhos e pegando uma garrafa d'água da mochila. - Mas sério, vim falar de algo importante.

Petra levantou uma sobrancelha, intrigada, enquanto Julia finalmente largava o celular, olhando para a amiga com curiosidade.

- O que foi? - perguntou Petra, o tom ligeiramente desconfiado.

Kudiess hesitou por um momento, girando a tampa da garrafa em um gesto nervoso antes de suspirar profundamente. - Eu beijei a Marcela.

O impacto da frase foi imediato. Petra arregalou os olhos, surpresa, enquanto Julia soltou uma risada curta de incredulidade.

- O quê?! - Petra exclamou, inclinando-se para frente. - Quando foi isso?

- Foi ontem à noite - admitiu Kudiess, desviando o olhar. - A gente tava conversando, sabe. E aí... aconteceu.

- E como foi? - perguntou Julia, agora completamente interessada na história, enquanto Petra continuava olhando para Kudiess como se processasse a informação.

- Foi bom... muito bom, na verdade - disse Kudiess, sorrindo timidamente. - Mas agora tá meio estranho. Ela ficou estranha.

Petra finalmente encontrou sua voz novamente. - A Marcela? A minha Marcela?

- Sim, a sua Marcela, assessora, melhor amiga, e aparentemente ótima pra beijar - respondeu Kudiess com um sorriso meio nervoso.

Julia riu, mas logo colocou uma mão no ombro de Kudiess em um gesto de apoio. - E você já tentou falar com ela sobre isso?

- Não sei como começar - admitiu Kudiess. - E se ela achar que foi um erro? Ou pior, se ela não quiser que isso aconteça de novo?

Petra respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. Ela conhecia Marcela há anos e sabia que a amiga tinha uma personalidade reservada, mas muito calorosa com quem ela confiava.

- Deixa comigo - disse Petra, determinada. - Vou falar com ela.

- Sério? - perguntou Kudiess, com um misto de alívio e apreensão.

- Sim. Eu conheço a Marcela. Se ela estiver se sentindo estranha, posso tentar entender o que tá passando na cabeça dela. Mas não me culpe se ela decidir te dar um gelo, tá? - Petra lançou um olhar significativo, mas havia um sorriso brincalhão em seus lábios.

- Palhaça. Eu tô meio perdida com isso.

Julia balançou a cabeça, rindo levemente. - Você tá ferrada, amiga. Se a Marcela beijou você, é porque ela sentiu algo. Essa mulher é mais racional do que emocional.

- É verdade - concordou Petra. - Marcela não faz nada por impulso. Se ela te beijou, Juju, foi porque quis.

As palavras de Petra pareceram aliviar um pouco a tensão de Kudiess, que sorriu mais relaxada. - Ok, vou confiar em vocês. E Petra, fala com ela com jeitinho, por favor.

- Fica tranquila. Vou encontrar um jeito de resolver isso - garantiu Petra antes de se levantar, esticando o corpo.

○●○


Quando chegaram à porta do apartamento de Petra, a morena se encostou no batente, olhando para Julia com aquele olhar cheio de charme e uma pitada de provocação. Petra ainda segurava a mão da ruiva, como se quisesse atrasar sua partida.

- Tem certeza que não quer ficar? Vai mesmo me deixar sozinha nesse apartamento enorme, frio e desamparado? - provocou Petra, abrindo um sorriso maroto enquanto deslizava os braços pelo pescoço de Julia.

Julia soltou uma risada curta, inclinando-se para beijar a testa da morena antes de responder. - Querer eu até quero, mas preciso ver meu irmão. Prometi que ia jantar com ele hoje, amor, lembra?

Petra bufou, mas manteve o sorriso. - Tudo bem.

- Não faz esse bico, birrenta - rebateu Julia, apertando a cintura de Petra antes de se afastar levemente. - Por que você não chama a Marcela? Aproveita e conversa com ela, já que você se meteu no drama dela e da Kudiess.

Petra fingiu indignação. - O que? Eu só estou tentando ajudar.

- Aham, claro - disse Julia, revirando os olhos. - E agora você vai ajudar a resolver. Se não, a Kudiess vai ficar maluca.

Petra suspirou teatralmente antes de sorrir. - Tá bom, tá bom. Mas, por via das dúvidas, vou deixar meu celular ligado. Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar.

Julia riu, puxando Petra para mais um beijo demorado antes de finalmente se afastar. - Boa noite, principessa.

- Boa noite, linda - respondeu Petra, com um sorriso suave enquanto via Julia se afastar pelo corredor.

Petra entrou no apartamento e sentiu o silêncio envolvê-la. Mesmo com a luz fraca da entrada iluminando o ambiente, o espaço parecia maior do que realmente era quando estava sozinha. Depois de alguns minutos vagando pela sala, ela pegou o celular e abriu o contato de Marcela.

Petra hesitou antes de ligar, mas, no fim, apertou o botão.

- Alô? - respondeu Marcela, do outro lado.

- Oi, Celly, sou eu - disse Petra, casual. - Tá ocupada?

- Não, só em casa, por quê?

- Vem pra cá. Vamos tomar um vinho e bater papo - sugeriu Petra.

- Vinho e papo? Parece uma armadilha - respondeu Marcela com humor. - Ou você fez besteira. O que foi, hein?

- Não é uma armadilha, nem fiz nada, juro. Eu só... queria conversar com você.

Marcela suspirou. - Tudo bem, tô indo.

○●○

Marcela chegou com uma garrafa de vinho em mãos, sendo recebida por Petra com um sorriso caloroso. As duas se sentaram no sofá, e logo o som da rolha sendo retirada da garrafa ecoou pelo ambiente.

- Certo, fala logo. O que você quer conversar? - perguntou Marcela, enquanto servia o vinho para ambas.

Petra tomou um gole antes de responder. - Você e a Kudiess...

Marcela fez uma careta. - Sabia que tinha algo a ver com isso.

- E você nem me contou, sua loira falsificada - brincou Petra, dando um sorriso de canto.

Marcela revirou os olhos, mas relaxou no sofá. - Tá, o que você quer saber?

- Quero saber o que tá passando pela sua cabeça. Porque, claramente, a coitada da Julia tá numa pilha de nervos e acha que você tá fugindo dela.

Marcela suspirou, girando o vinho na taça antes de falar. - Eu não tô fugindo. Só... não esperava que isso fosse acontecer. E, pra ser honesta, eu não sei o que fazer agora.

- Você gosta dela? - perguntou Petra, direta como sempre.

Marcela hesitou, mas finalmente respondeu. - Eu gosto. Muito. Ela é incrível, sabe? Mas também tem essa diferença de idade, de experiência...

- Você só pode tá brincando, né? Seis anos de diferença, por favor... Marcela, você tá se preocupando demais com detalhes. - Petra colocou a taça de lado e se inclinou para frente. - Se você gosta dela, só vai e conversa. Ela precisa ouvir isso de você.

Marcela olhou para Petra por um longo momento antes de soltar um suspiro. - Você tá certa.

- Sempre estou - disse Petra, rindo.

- Não abusa - Marcela riu junto, levantando sua taça de vinho. - Tudo bem. Amanhã eu converso com ela.

- Agora sim estamos fazendo progresso.

- Mas, então... você e a Julia? - começou Marcela, sua voz carregada de curiosidade e humor. - Vão assumir esse namoro quando?

Petra, que acabava de tomar um gole de vinho, engasgou imediatamente. A bebida desceu pelo caminho errado, e ela começou a tossir desesperadamente, enquanto Marcela dava risada sem disfarçar.

- Meu Deus, amiga! Parece até que te perguntei sobre algo proibido! - provocou Marcela, tentando abafar o riso enquanto Petra recuperava o fôlego.

- Ai, cala a boca! - respondeu Petra, entre tosses, ainda tentando se recompor. - Não sei... eu...

Marcela arqueou as sobrancelhas e sorriu de forma conspiratória. - Olha, Elizabeth, eu acho bom você tomar uma atitude logo, viu?

Petra suspirou, já esperando que a amiga fosse insistir no assunto.

- Ela ainda está incomodada com o Miguel? - perguntou Marcela, mais séria desta vez.

- Eu diria que sim - respondeu Petra, lembrando das discussões e olhares ciumentos de Julia nos últimos dias. - Não se engane com aquela carinha de menina tranquila, Julia com raiva parece ponta pra uma guerra.

Marcela segurou a risada por um momento antes de soltar. - Acho que é óbvio, já que ela te deixou mancando, não é?

- Marcela! - Petra olhou para a amiga com indignação, embora não conseguisse evitar um leve sorriso. - Ela só... eu não sei o que fazer. Queria que ela percebesse que não precisa se sentir incomodada com o Miguel.

Marcela tomou um gole do vinho, pensativa. - Amiga, eu não tiro a razão dela, ,tá? Como não sentir ciúmes de alguém com quem você já teve uma história... intensa, um namoro importante?

Petra desviou o olhar, um pouco desconfortável. Ela sabia que Marcela tinha razão, mas admitir isso era outra coisa.

- Considerando o histórico de vocês - continuou Marcela -, é natural que ela esteja com medo. Pensa bem, Petra, quando tudo começou, você ainda estava noiva de outra pessoa. Ela deve estar se sentindo como a amante ainda, mesmo que você tenha rompido com aquele italiano sem sal.

Petra franziu o cenho, sentindo o peso das palavras da amiga. - Você acha que ela vê as coisas assim?

- Talvez. Julia é uma pessoa paciente e que não gosta de te pressionar em nada, mas ninguém gosta de sentir que está em segundo plano. E enquanto você não oficializar as coisas, esse sentimento vai continuar. E vocês já estão nessa há meses.

Petra ficou em silêncio, olhando para a taça de vinho como se ela tivesse todas as respostas do universo.

- Além disso - acrescentou Marcela, com um sorriso travesso -, se vocês não se entenderem logo, eu vou ter que usar táticas drásticas. E confiem em mim, vocês não querem que eu comece a pensar em coisas malucas.

Petra riu, embora ainda sentisse um nó no estômago. - Você pensando? Nem quero imaginar.

Marcela piscou de maneira conspiratória. - Nunca subestime minha criatividade.

Depois de mais algumas brincadeiras e uma boa dose de vinho, Marcela se despediu e deixou Petra sozinha no apartamento. O silêncio que voltou a preencher o espaço só aumentou os pensamentos da jogadora. Ela sabia que Marcela estava certa. Julia era intensa, apaixonada e protetora, mas também tinha inseguranças. E Petra, apesar de toda sua força, não sabia lidar bem com os próprios sentimentos, muito menos com os de Julia.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

oi vidas
perdão pelo demora (sorry nada

aliás já tô achando essa história muito longa, tá na hora de acabar já.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top