80 - Chamego Meu
- ANAVITÓRIA
É tão fácil te gostar
━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━━
9 de Maio
Assim que chegaram ao apartamento de Petra, Julia e Marcela se acomodaram nos bancos da cozinha, observando Kudiess e Petra movimentarem-se com habilidade enquanto preparavam o almoço. A cena era aconchegante, com o cheiro da comida começando a se espalhar pelo ar, preenchendo o espaço com uma sensação de familiaridade e descontração.
Julia observava cada movimento de Petra, seu jeito concentrado de cozinhar com os olhos fixos no que fazia. Murmurou, mais para si mesma do que para as outras. — Acho que posso me acostumar com isso…
Marcela, do outro lado, observava Kudiess e comentou, no mesmo tom. — Acho que eu também, Juju.
Elas trocaram olhares, e Marcela lançou uma risadinha, percebendo o quanto tinham em comum naquele momento.
— Julia? – chamou Petra, interrompendo o devaneio das duas.
— Oi?– responderam Julia e Kudiess ao mesmo tempo, fazendo com que Petra caísse na gargalhada.
— Tô falando com a minha Julia – corrigiu Petra, sorrindo.
— Como assim eu não sou sua Julia também? – disse Kudiess fingindo indignação — Você é uma falsa, Petra!
— Kudiess, é melhor você aceitar que só tem espaço pra uma Julia aqui.
Petra riu balançando a cabeça para concordar com a ruiva enquanto Kudiess ainda reclamava sobre o assunto.
— Amor, você pode arrumar a mesa?
Julia sorriu e assentiu.
— Claro. Vem, Marcela – disse, levantando-se e puxando Marcela para ajudá-la. Marcela, porém, foi protestando enquanto saía da cozinha.
— Você sabe que eu só fui convidada para comer, né? Não lembro de ter me oferecido pra ajudar.
Julia riu e lançou um olhar de reprovação, embora claramente estivesse se divertindo com a reclamação da amiga.
— Reclama menos e ajuda mais, dona Marcela – respondeu Julia, entregando-lhe alguns pratos. — Vai lá, é só colocar isso na mesa.
Enquanto Julia e Marcela arrumavam a mesa, Petra e Kudiess continuavam na cozinha, rindo e trocando piadas sobre o jeito preguiçoso de Marcela, que, ao fundo, ainda soltava alguns resmungos sobre ter sido "explorada". A atmosfera leve e acolhedora fazia Julia sorrir por dentro. Ver Petra tão à vontade a deixava mais feliz do que imaginava.
◇◆◇
Petra se levantou da mesa, observando Marcela com um olhar malicioso enquanto ela se ajeitava na cadeira. Ela sorriu, sabendo exatamente o que viria em seguida.
— Princesa, a louça é sua – disse Petra com um sorriso travesso, olhando para Marcela enquanto começava a se afastar da mesa.
Marcela, como era de se esperar, fez uma careta de desgosto e respondeu com sarcasmo.
— Que isso, chefinha? Exploração do trabalho? Eu vou te denunciar, Petra Lewis.
Petra não conseguiu conter o riso, segurando a barriga enquanto observava Marcela se levantar, claramente protestando. Mas, com um sorriso malandro, ela completou. — Às vezes me pergunto o que eu tô esperando pra te demitir, sua folgada.
As duas se olharam por um momento e, então, Marcela balançou a cabeça, rindo.
— Você não vai conseguir me demitir, Lizzie. Eu sou insubstituível – respondeu ela, atravessando a sala com um ar de ironia. — Não vive sem mim.
Petra soltou um suspiro de divertimento e se virou para ir até Julia, que estava sentada relaxada no sofá, observando o embate. Sem aviso, ela sentou-se no colo de Julia, deixando um beijo suave no rosto dela, como se nada tivesse acontecido, como se estivesse naquele pequeno refúgio onde o mundo ao redor não existia.
— Eu vou, mas só porque não quero ficar aqui assistindo vocês nesse grude – Marcela comentou com uma expressão de desgosto falso, mas com uma risada abafada. Ela fez um gesto de falsa repulsa, e logo chamou Kudiess para ajudá-la.
Ambas se afastaram, e o ambiente na sala se acalmou, deixando Petra e Julia sozinhas, relaxando em um silêncio confortável.
Julia passou a mão nas costas de Petra, sentindo o peso que ela parecia carregar. Petra parecia relaxada no colo de Julia, mas uma leve expressão de dor apareceu em seu rosto, como se algo estivesse incomodando.
— O que foi? – perguntou Julia com suavidade, notando o suspiro que Petra deu.
Petra se mexeu um pouco no colo de Julia, dando um pequeno resmungo.
— Meu tornozelo... tá doendo um pouco – respondeu ela, fazendo um bico emburrado, visivelmente incomodada.
Julia observou a expressão de Petra com atenção, percebendo que a dor estava a afetando mais do que ela demonstrava. Seu coração apertou, e ela sentiu uma onda de preocupação. Julia não queria que Petra se machucasse mais, e o quanto ela tentava esconder a dor a fazia sentir uma necessidade ainda maior de cuidar dela.
Sem pensar duas vezes, Julia inclinou a cabeça de Petra para o lado e deixou um beijo suave no topo da sua cabeça, como se fosse um gesto simples, mas cheio de carinho e preocupação.
— Você precisa descansar – disse Julia, a voz baixa e suave, como uma súplica, porque, embora quisesse que Petra seguisse o que ela dizia, também sabia que ela tinha uma resistência imensa a ficar parada, principalmente quando se tratava do seu orgulho e do seu desempenho como jogadora.
Petra suspirou levemente, ainda recostada no peito de Julia. Por mais que tentasse se mostrar forte, as dores que ela estava sentindo eram mais evidentes a cada movimento que fazia. O tornozelo, que parecia ter melhorado, agora estava mais sensível, e o peso da tensão emocional, combinada com o esforço físico constante, estava começando a cobrar o preço.
— Eu sei, Ju... – disse Petra, com uma voz baixa, sem olhar diretamente para Julia. Ela parecia refletir por um momento sobre as palavras que tinha acabado de ouvir. Sabia que Julia estava certa, mas ela odiava se sentir vulnerável. — Mas não consigo simplesmente parar.
Julia suspirou, acariciando os cabelos de Petra com suavidade.
— Não é questão de parar, amor. É questão de se cuidar. – Ela colocou as mãos nas laterais do rosto de Petra, forçando-a a olhá-la nos olhos. — Eu entendo sua preocupação com tudo, mas você precisa se cuidar, senão nada disso vai fazer sentido.
Petra parecia hesitar, sua mente cheia de responsabilidades, com as tensões que vinham do time, das expectativas em torno dela. Ela odiava a ideia de ser vista como fraca, mesmo sabendo que estava longe disso. No entanto, ela percebeu, em um momento de clareza, que não poderia continuar ignorando os sinais do seu corpo.
— Tudo bem, eu vou sossegar – disse Petra finalmente, um pouco relutante, mas ainda assim grata por ter alguém ao seu lado que se importava tanto com ela.
Julia sorriu com ternura, sentindo uma mistura de alívio e preocupação. Ela sabia que Petra nunca seria alguém que se entregaria facilmente à fraqueza, mas esse lado dela era algo que Julia começava a entender melhor a cada dia. Ela queria que Petra fosse mais gentil consigo mesma.
— Isso é o mínimo que você pode fazer por você, Petra. – Ela sabia que isso não se tratava apenas de descanso físico, mas de algo muito maior, algo emocional. O cuidado mútuo era fundamental, especialmente com tudo o que estava acontecendo na vida delas.
Petra sorriu fraco, mas o gesto de carinho a fez se sentir um pouco mais em paz. Ela se aconchegou mais no colo de Julia, sentindo o calor e a proteção que só a presença da mulher ao seu lado podia proporcionar. Talvez fosse hora de finalmente começar a se cuidar. Mas, mesmo que fosse difícil admitir, ela sabia que Julia estava certa, e isso lhe dava um pouco de consolo.
No fundo, ela sabia que, no final das contas, era isso que realmente importava: o cuidado que trocavam, a forma como se apoiavam, e como o sentimento delas estava aprendendo a se fortalecer mesmo nos momentos de fraqueza.
Depois de um tempo em silêncio, Petra deixou-se relaxar mais no colo de Julia, permitindo-se sentir o momento sem as preocupações que vinham carregando. As risadas de Marcela e Kuddies vinham da cozinha, e ela se pegou sorrindo ao perceber que, apesar de tudo, ainda podia contar com momentos de leveza.
— É o seguinte, Lewis – Julia a chamou, distraindo-a dos pensamentos. — Você vai descansar esse tornozelo, e eu prometo que não vou te deixar levantar nem pra pegar um copo d'água.
Petra riu baixinho, apertando o abraço ao redor de Julia.
— E você acha mesmo que eu vou conseguir ficar parada o dia todo? – provocou, mas já considerando a ideia. A verdade é que ela queria aquele momento só para elas.
Julia a olhou com um sorriso calmo, um olhar que transmitia tanto carinho que Petra sentiu seu coração batendo mais forte.
— Bom, se você não se comportar, posso dar um jeito de te manter deitada – brincou Julia, com uma piscadela, fazendo Petra soltar uma risada surpresa.
— Sabe que eu não sou de recusar uma boa proposta – respondeu Petra, se inclinando para dar um beijo suave nos lábios de Julia.
— Vocês duas aí, já tá bom de melação, né? – Marcela apareceu na porta da cozinha com um pano de prato jogado no ombro, os braços cruzados e uma expressão divertida.
— Ai, Marcela, não sabe nem respeitar a intimidade alheia, né? – Petra respondeu, rindo.
Kuddies apareceu logo atrás de Marcela, sacudindo a cabeça em tom de reprovação brincalhona.
— Vocês são um grude mesmo. A gente mal virou as costas, e vocês já estão aí de novo. – Ela revirou os olhos de forma dramática.
— Bom, tem gente que gosta de ficar no grude, né? – provocou Petra, lançando um olhar significativo para Kudiess e Marcela.
Marcela fez uma careta, mas não conseguiu esconder o leve rubor nas bochechas. Kudiess, por sua vez, soltou uma risada nervosa, fingindo desviar o olhar para a janela.
— Tá, tá, chega disso. Vamos? – Marcela balançou a cabeça, tentando retomar o controle da situação. — Deixamos vocês aproveitarem o resto do dia, mas quero ver a cara descansada da Petra amanhã.
— Pode deixar, Cela – respondeu Julia, lançando um olhar cúmplice para Petra, que assentiu, agradecida.
Marcela e Kudiess se aproximaram para se despedir, cada uma deixando um beijo carinhoso na testa de Petra e sugerindo que ela descansasse. Em seguida, abraçaram Julia, que retribuiu com um sorriso discreto.
— Quer carona, Celly? – perguntou Petra, notando que as duas estavam indo na direção da porta.
— Eu tô de carro, lembra? Eu levo ela – respondeu Kudiess, enquanto segurava a porta para Marcela passar.
— Julia Kudiess, é bom você andar na linha, viu? – brincou Petra, fazendo as duas caírem na risada, ligeiramente envergonhadas.
— Ah, cala a boca, – respondeu Marcela, saindo com um sorriso travesso. Kudiess a seguiu logo atrás.
— Juízo, vocês duas! – gritou Petra, com um tom de provocação, quando a porta se fechou.
O silêncio que se seguiu à saída de Marcela e Kudiess foi acolhedor, quase como se o tempo tivesse desacelerado para dar espaço ao conforto de estar apenas com Julia. Petra se aconchegou mais uma vez no colo de Julia, sentindo-se segura e protegida. Julia a abraçou com força, um gesto que parecia dar mais alívio a Petra do que qualquer outro remédio.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
oi vidocas
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top