79 - Ela é Tudo

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9 de Maio

Petra e Julia chegaram à quadra juntas naquela manhã, seus passos em sincronia, mas seus olhares ainda carregando as marcas da conversa íntima que haviam tido mais cedo. Julia parecia mais tranquila, apesar de Petra notar, em pequenos detalhes, o esforço dela para disfarçar o leve ciúme em relação a Miguel. Petra sentiu um calor suave no peito ao perceber isso, mas logo se sentou à beira da quadra para observar o treino enquanto esperava Miguel para a sessão de fisioterapia.

Miguel não demorou a chegar. Assim que entrou na quadra, cumprimentou todas as jogadoras com sua simpatia habitual e foi direto a Petra.

— E aí, está pronta? – perguntou ele, acenando com a cabeça em direção à sala de fisioterapia.

— Pronta! – disse Petra, levantando-se.

Antes de seguir Miguel, Petra lançou um último olhar para Julia, que ainda parecia disfarçar uma expressão de tranquilidade.

Quando chegaram à sala de fisioterapia, Miguel rapidamente começou os exercícios, concentrado e mantendo-se profissional. Ele a ajudava cuidadosamente nos movimentos, apoiando suas pernas e braços com precisão e respeito. O ambiente estava calmo, preenchido apenas pelos sons leves de suas respirações e dos movimentos controlados de Petra.

De repente, Miguel quebrou o silêncio.

— Preciso te perguntar uma coisa – disse ele, hesitante. — Aquele cara... Lorenzo? Ele...

Petra suspirou, percebendo a dificuldade de Miguel em formular a pergunta.

— Está tudo bem agora, Miguel, de verdade. Não precisa se preocupar.

Ele assentiu, mas o olhar preocupado ainda permanecia em seus olhos.

— Sinto muito que tenha passado por algo assim. E sobre sua mãe... – Miguel abaixou a cabeça, com uma expressão triste. — Eu queria ter estado presente para você.

Petra sentiu um aperto no peito. A lembrança de sua mãe era uma cicatriz que jamais se curaria completamente.

— Lorenzo foi… algo que estou superando aos poucos. E minha mãe... Bom, acho que isso é algo que nunca se supera. Mas estou bem, de verdade.

Miguel parecia aliviado, mas ainda havia algo no olhar dele, como se ele tivesse guardado algo por anos.

— Sabe, sinto falta de quando podíamos conversar sobre tudo. Eu ainda guardo nossas fotos de antigamente. Foi como ter uma parte sua comigo nesses últimos dez anos – disse Miguel, olhando-a nos olhos.

Petra o encarou com um olhar de repreensão. — Miguel…

Ele soltou uma risada, percebendo o tom dela.

— Ei, calma, Lizzie! O que eu quero dizer é que sinto falta da minha amiga. Da Petra que sabe todos os meus segredos, meus medos e minhas cicatrizes.

Petra soltou um suspiro de alívio, sorrindo. O passado deles, por mais complicado que fosse, sempre trazia um tipo de conforto, como se fossem velhos amigos reencontrando a leveza de uma amizade pura.

— Olha, você não foi uma namorada tão ruim – brincou Miguel, fazendo uma careta. — Mas, sinceramente, prefiro minha melhor amiga. Só isso, Lizzie.

— Também senti sua falta – respondeu Petra, com um sorriso de ternura. — E eu fui uma namorada muito boa sim!

— Além disso, eu tenho amor à minha vida, sabia? – Miguel disse com um brilho de provocação.

— O quê? – Petra perguntou, confusa.

— Que foi? Acha que eu não percebi que você e a Julia… – Miguel sorriu, meio envergonhado. — Aliás, desculpa por ontem, acho que causei algum problema entre vocês. Eu fiquei nervoso e acabei falando besteira.

Petra deu uma risada suave. — Já que você tocou no assunto… Pode fazer algo por mim?

— Claro, o que você precisar.

Ela respirou fundo, escolhendo as palavras.

— Quero muito que você e a Ju se deem bem. Mas ela ainda está um pouco insegura em relação a você, sabe? Se você puder...

Miguel assentiu, compreensivo.

— Não se preocupa, vou fazer o possível para manter tudo em paz entre vocês. Aquela ruiva vai me adorar em breve, anota aí! – disse ele, com seu tom brincalhão de sempre.

— Não se empolga muito, hein? – Petra fingiu um olhar ameaçador, mas os dois riram, quebrando o clima tenso.

— Vocês são lindas juntas – Miguel comentou, com um sorriso admirado. — Julia parece uma mulher incrível.

Petra sentiu suas bochechas corarem, mas sorriu, seu coração transbordando de afeto.

— Ela é tudo que eu preciso, Miguelito.

Miguel riu, balançando a cabeça. — Eu nasci pra ver você totalmente rendida por uma mulher, sério.

Petra o empurrou levemente, rindo da provocação, mas o olhar sincero de Miguel a tranquilizou. Sabia que, mesmo com toda a complicação de suas vidas, tinha um amigo ao seu lado, pronto para apoiá-la.

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Após a sessão de fisioterapia, Petra se despediu de Miguel com um abraço breve e voltou para o ginásio. O treino já estava em andamento, e Julia lançava olhares em sua direção enquanto jogava. Petra sorriu para ela, sentindo uma tranquilidade nova. Miguel era uma presença reconfortante, mas Julia era sua âncora, o que a mantinha firme.

Petra continuava observando o treino com atenção, mas uma presença ao seu lado logo a tirou de seus pensamentos. Era Marcela, que a encarava com um sorriso divertido.

— Você tá com aquela cara de bocó – brincou Marcela, arrancando um revirar de olhos de Petra.

— Tá fazendo o quê aqui, sua loira falsificada? Ah, já sei… Veio ver a Kudiess, né, safada? – provocou Petra, tentando conter o riso enquanto Marcela se sentava ao seu lado.

— Sim, mas também vim te ver. Queria saber se você estava bem – respondeu Marcela, mais séria agora.

Petra suspirou, voltando seu olhar para a quadra, onde Julia estava concentrada no treino.

— Já sei, você tá sabendo do que rolou ontem, né? – disse Petra, sem tirar os olhos de Julia.

— A Kudiess me contou sobre… Lizzie, você não dá uma dentro – comentou Marcela, em um tom de brincadeira, mas com uma preocupação genuína.

— Tem certeza de que veio aqui pra ver se eu tô bem? – Petra brincou, arrancando uma risada de Marcela.

Marcela deu um leve sorriso, mas logo ficou mais séria, mostrando que estava ali para um papo franco. — Vocês se resolveram?

Petra hesitou, lembrando-se dos altos e baixos da conversa e da madrugada inquieta que tinham passado.

— Acho que sim. Mas ainda tem muita coisa envolvida, Celly. Coisas que eu nem sei por onde começar a resolver.

Marcela suspirou e colocou a mão no ombro de Petra.

— Lizzie, olha… não faz muito tempo que você saiu de um relacionamento longo e que te machucou demais. E tem o Miguel que, pelo que me contou, foi um relacionamento tranquilo, algo bonito. E agora que ele voltou, eu consigo ver que você está meio dividida – disse Marcela com um olhar compreensivo.

Petra olhou para ela, um pouco assustada. — Você acha que eu…

— Calma, não tô insinuando que está dividida entre ele e Julia. O que quero dizer é que você está dividida entre os sentimentos que já sentiu antes – Marcela respondeu suavemente. — Com Miguel, você teve um amor calmo, leve… com Lorenzo foi algo que te feriu, e vejo o quanto está tentando superar isso. Você tem medo de que as cicatrizes que Lorenzo deixou acabem afetando você ao ponto de machucar a Julia.

Petra baixou o olhar, as palavras de Marcela acertando em cheio. Ela nunca tinha conseguido expressar seus medos dessa maneira, mas sentia exatamente aquilo.

— E com Miguel… – continuou Marcela — você se sente confusa, porque sabe a importância que ele teve na sua vida. E talvez, de alguma forma, isso possa mexer com a Julia. No fundo, Lizzie, todos os seus medos se baseiam em não querer machucá-la.

Petra respirou fundo, tentando processar tudo aquilo. Sentia que Marcela tinha captado algo que ela mesma não conseguia explicar direito.

— Eu só… não quero perder a Julia, Celly. Ela é tudo pra mim agora, e eu sei que as coisas ficaram complicadas com a chegada do Miguel. E pior ainda com as cicatrizes que o Lorenzo deixou. Mas tenho medo de fazer algo errado… de decepcionar ela. Não quero que ela se sinta insegura pelas coisas que vivi com Miguel anos atrás, também tem o fato de eu ainda está me recuperando daquele maldito noivado e eu não quero acabar me perdendo nisso.

Marcela sorriu e deu um leve tapinha no ombro de Petra.

— Lizzie, ninguém aqui é perfeito, nem você. E Julia sabe disso. Ela está com você porque vê algo em você que vale a pena, mesmo com todas as complicações. Talvez o que você precise, mais do que nunca, é confiar que Julia está disposta a enfrentar tanto quanto você.

— Acho que tô precisando de terapia. Muita terapia. – Petra murmurou.

— Você acha? – brincou Marcela apoio a cabeça no ombro de Petra — Relaxa, eu mesma te levo, se for preciso.

— Você já marcou até horário, não é? – Petra perguntou curiosa vendo Marcela sorrir e balançar a cabeça em concordância. — Mesmo antes de eu pedir... E se eu não quisesse?

— Ah, amiga, você não ia ter muito escolha.

Petra sorriu, sentindo-se um pouco mais leve. Estava grata por Marcela estar ali, sempre cuidando dos mínimos detalhes e a apoiando em qualquer situação.

Com o fim do treino, Julia e Kudiess se aproximaram, ainda conversando e trocando risadas descontraídas. Petra abriu um sorriso. — Ei, lindas, querem almoçar com a gente?

— Petra vai cozinhar pra gente – anunciou Marcela, já como se tivesse planejado tudo.

— Eu vou? – Petra arqueou uma sobrancelha, fingindo surpresa.

— Vai, sim, eu tô mandando – respondeu Marcela com um tom de autoridade brincalhão, arrancando risadas das outras.

Petra revirou os olhos, mas sorriu, já se rendendo à ideia. — Kudiess, você me ajuda? Porque a Marcela aqui não sabe nem fritar um ovo.

Kudiess deu uma risadinha enquanto Marcela fazia pose.

— Eu não nasci pra isso, querida – respondeu Marcela, teatralmente.

— E eu faço o quê, então? – perguntou Julia, arqueando as sobrancelhas e cruzando os braços com um sorriso leve.

Petra deu um passo mais perto de Julia e, sem hesitar, deixou um beijo suave no rosto dela, enquanto respondia. — Você senta, relaxa e me deixa mimar você.

Julia sorriu, levemente corada, e Kudiess revirou os olhos com uma expressão fingida de exasperação.

— Vocês duas me dão raiva às vezes, sabia? – brincou Kudiess, mas o sorriso entregava que ela estava apenas se divertindo com o momento.

— Ah, dá um tempo, Kudiess – rebateu Julia, dando uma piscadinha para a amiga.

— Vamos, Kuddies. Não se mistura com essas duas – disse Marcela, rindo enquanto se afastava, com Kudiess a seguindo, ainda trocando piadas.

Julia observou as duas caminhando à frente e, num sussurro, comentou. — Elas estão tão próximas, né?

Petra olhou para as duas e deu de ombros, com um sorriso convencido no rosto.

— Claro, eu juntei elas – respondeu, orgulhosa.

Julia soltou uma risada baixa.

— Ei, eu ajudei também, não esquece – brincou, colocando a mão no ombro de Petra.

— Tá bom, você ajudou um pouquinho – respondeu Petra, com uma piscadela de lado, brincando de volta.

O som da voz de Marcela, um pouco mais à frente, interrompeu a troca de olhares.

— Elizabeth, anda, eu tô com fome!

Petra resmungou baixinho, de forma exagerada. — Essa maluca é meu carma.

Julia não pôde deixar de rir, e, com um sorriso suave no rosto, deu um empurrãozinho em Petra.

— Vamos, amor. Você tem que alimentar aquela criança – disse Julia, apontando para Marcela, que estava parecendo uma criança prestes a fazer birra.

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eu já desiste de revisar tudo, se tiver algum erro que se virem pra ler 😘

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