78 - Minha Idiota
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8 de Maio
Julia ainda permanecia em silêncio, tentando processar o que Petra acabara de confessar. Sentia o coração pulsar acelerado e a mente atordoada. Se perguntando como Petra ousava dizer aquilo com tanta intensidade, como se suas palavras não tivessem o poder de desestabilizá-la completamente. Ela olhou para Petra, ainda surpresa, enquanto tentava recuperar a compostura.
Petra, percebendo a reação contida de Julia, baixou o olhar, sem querer pressioná-la.
— Amanhã, vou conversar com Miguel. Ele ainda não sabe sobre a gente, mas assim que souber vai manter uma distância considerável para não te deixar desconfortável. – Petra respirou fundo, seus olhos voltando a encontrar os de Julia. — Me desculpa, Julia. Eu não queria que isso te deixasse tão chateada.
Julia permaneceu séria, absorvendo as palavras de Petra. Parte de si queria simplesmente abraçá-la, dizer que entendia, mas o orgulho e a insegurança falavam mais alto. Depois de alguns segundos de silêncio, ela respondeu — Só... não me esconde mais nada, por favor.
— Julia...
— Tudo bem, Petra. Vamos só esquecer isso por agora. – Julia desviou o olhar, tentando dissipar o peso que se acumulava no ambiente.
O clima entre elas ainda estava denso, carregado de sentimentos não ditos e de uma tensão que parecia impregnar o ar. As palavras de Petra, sobre estar apaixonada, ainda ecoavam na mente de Julia, como um sussurro persistente que ela não conseguia ignorar, mas tampouco sabia como responder. Petra percebeu que não ouviria algo semelhante de volta e, com um suspiro resignado, decidiu ficar em silêncio.
Algum tempo depois, Petra decidiu tomar um banho. A água quente escorrendo pelo seu corpo ajudou a acalmar seus nervos, mas não aliviou o peso em seu coração. Ela tentava afastar a decepção que sentia por não ter recebido de Julia a resposta que esperava. Quando terminou, secou-se lentamente, como se prolongar aquele momento a afastasse da realidade.
De volta ao quarto, Petra deitou-se na cama, os pensamentos ainda agitados, mas o corpo exausto. Fechou os olhos, embora soubesse que o sono não viria facilmente.
Depois de um tempo, Julia saiu do banheiro, também enrolada em uma toalha. Observou Petra deitada, os olhos fechados, os traços do rosto dela suavizados no silêncio da noite. Por um instante, Julia sentiu uma onda de ternura que tentou reprimir, mas era impossível. Aproximou-se da cama com hesitação, seu coração batendo forte.
— Você é uma idiota, sabe disso, não é? – sussurrou Julia, quase sem perceber, enquanto fazia um carinho suave e hesitante no rosto de Petra. — Minha idiota.
Petra abriu os olhos e sorriu, o gesto de Julia aquecendo seu coração. Mesmo sem a confirmação de que Julia sentia o mesmo, aquele pequeno gesto foi o suficiente para tranquilizá-la. Ela sabia que Julia ainda não estava pronta para se abrir, e estava disposta a esperar. Por ora, aceitaria aquele carinho tímido, aquele toque que parecia dizer tudo o que Julia ainda não conseguia expressar em palavras.
Julia sentiu o peito apertar ao ver o sorriso de Petra. A sensação de paz que aquilo lhe trouxe foi surpreendente, mas junto veio o medo. Medo de que, ao se permitir sentir mais, pudesse acabar machucada, como tantas vezes se protegia para evitar.
— Vem deitar – murmurou Petra, abrindo espaço ao lado dela na cama.
Julia hesitou, mas, incapaz de resistir, deitou-se ao lado de Petra. Elas ficaram em silêncio por alguns minutos, os corpos próximos, quase se tocando, mas sem ultrapassar aquela tênue linha. Mesmo sem trocarem palavras, o calor entre elas parecia preencher o quarto, criando um refúgio onde, por um breve instante, as incertezas e os medos não tinham espaço.
Petra suspirou, relaxando ao lado de Julia, os pensamentos sobre Miguel e sobre os riscos de sua relação com Julia se dissipando aos poucos. Sentir a presença de Julia ao seu lado era o bastante, mesmo sem as declarações de amor que talvez esperasse ouvir.
Julia deitou-se de costas, olhando para um ponto aleatório, os olhos vagando como se tentasse encontrar respostas nas sombras do quarto. As palavras de Petra, confessando seu sentimento, ecoavam em sua mente. Por mais que quisesse ignorá-las, sabia que não poderia fugir daquele sentimento por muito tempo. Ela não estava pronta para retribuir aquelas palavras, mas uma parte dela ansiava pelo momento em que talvez pudesse, finalmente, abaixar as defesas.
Passaram-se alguns minutos, e Julia virou-se para o lado, olhando para Petra, que respirava suavemente, parecendo finalmente pegar no sono. Ela estendeu a mão e, num gesto carinhoso, afastou uma mecha de cabelo do rosto de Petra, observando-a em silêncio. Estava assustada com a intensidade dos sentimentos que aquela mulher despertava nela, mas, ao mesmo tempo, fascinada pela vulnerabilidade e força que via em Petra.
— Não consigo resistir a você – murmurou Julia para si mesma, sentindo o peso das palavras de Petra ainda latejar em seu peito. — Essa nossa bagunça sempre me prende.
Finalmente, Julia fechou os olhos, deixando-se adormecer ao lado de Petra, desejando que o tempo lhes permitisse encontrar uma maneira de estar juntas, sem as barreiras de orgulho e medo que as separavam. E, mesmo que ainda não pudesse confessar seus sentimentos em palavras, sabia que, naquela noite, o silêncio entre elas dizia mais do que qualquer promessa poderia expressar.
9 de Maio
No dia seguinte, Petra acordou cedo, mais cedo do que o habitual. O sol ainda estava nascendo, seu apartamento estava silencioso, com uma calma que parecia refletir o turbilhão de emoções que ela havia vivido nas últimas horas. Ela sabia que as coisas entre ela e Julia estavam complicadas, mas queria tentar fazer algo para aliviar o peso que parecia se arrastar entre elas. Pensou que talvez, com um pequeno gesto de carinho, poderia suavizar um pouco a tensão que ainda estava no ar.
Petra se levantou da cama com cuidado para não acordar Julia, que ainda estava profundamente adormecida. Sentiu-se tímida ao pensar em como queria mostrar seu carinho, mas ao mesmo tempo, determinada. Dirigiu-se para a cozinha e começou a preparar o café da manhã. Era uma tentativa de mostrar, sem palavras, o quanto ela se importava. Mas, no fundo, ela sabia que precisava de mais do que gestos simples. Ainda assim, sentia que era um começo.
Enquanto preparava a comida, seus pensamentos continuavam a vagar. As palavras de Julia, seus gestos hesitantes e o peso do silêncio entre elas ainda estavam frescos em sua mente. Mas ela estava disposta a fazer o que fosse preciso para estar ao lado dela, mesmo com todas as dificuldades que surgiam no caminho. Por outro lado, Petra também se sentia insegura, temendo que suas ações nunca fossem suficientes para superar as pequenas coisas que afastavam elas duas.
De repente, ela ouviu passos atrás de si. Julia entrou na cozinha, com um olhar preguiçoso de quem ainda estava se acostumando com a luz do dia.
— Bom dia – disse Julia, com um sorriso que parecia desconfiado, mas genuíno.
Petra virou-se rapidamente, sua tentativa de surpreender Julia completamente frustrada.
— Ah, não! Você estragou minha ideia – disse Petra com um bico tímido nos lábios. — Volta pra cama!
Ela fez um gesto exagerado, tentando empurrar Julia de volta para o quarto, mas Julia riu, desajeitada, segurando o braço de Petra para impedir que ela a afastasse.
— Espera! – disse Julia, olhando em volta. — Preparou tudo isso? Que horas você acordou?
Petra olhou para Julia com uma expressão de leve embaraço.
— Bem cedinho... Queria te agradar um pouco – respondeu Petra, desviando o olhar timidamente.
Julia se aproximou de Petra e a abraçou pela cintura, seu sorriso se suavizando, como se as palavras de Petra tivessem derretido um pouco da dureza que ela mantinha. Julia a segurou por um momento, sentindo o calor de Petra e o cheiro do café fresco.
— Às vezes você é tão adorável, não consigo ficar brava – disse Julia, apertando Petra levemente contra si.
Petra sorriu, sentindo uma onda de alívio. Mas havia algo mais, algo que ela sabia que precisava dizer, algo que estava preso em sua garganta desde a noite anterior. Ela se afastou um pouco, mas ainda manteve os braços ao redor de Julia, como se quisesse encontrar um ponto de equilíbrio entre a proximidade e a necessidade de expressar o que sentia.
— Eu quero mostrar que me importo, mesmo que eu seja uma bagunça na maior parte do tempo – disse Petra, com um tom um pouco mais sério. — Ontem eu senti que... toda vez que dou um passo para te mostrar o quanto você é importante pra mim, parece que você dá dois para trás, como se estivesse esperando que eu te decepcionasse. Se você espera que eu faça algo de errado que possa afetar a gente, isso é culpa minha. Me desculpa.
Petra sentiu uma dor no peito enquanto falava, como se cada palavra fosse uma tentativa de se explicar, de pedir desculpas por algo que ela nem sabia exatamente o que era. Ela sabia que suas ações nem sempre eram perfeitas, que nem sempre conseguia demonstrar da maneira certa o quanto Julia significava para ela, mas estava tentando. E isso era o que mais importava para Petra. Ela queria que Julia soubesse disso, que soubesse que suas intenções eram sempre as melhores, mesmo que falhassem em algumas partes.
Julia permaneceu em silêncio por um momento, observando Petra com os olhos suavemente apertados. Era como se ela estivesse tentando entender as palavras que acabara de ouvir, tentando perceber a sinceridade por trás delas. Finalmente, ela suspirou e colocou uma mão no rosto de Petra, acariciando-a suavemente.
— Não é culpa sua, amor... — sussurrou Julia, a voz baixa e carregada de emoção. — Eu só tô com medo de perder você. Me sinto insegura sabendo que posso não ser o suficiente e...
Petra sentiu o nó na garganta apertar ainda mais ao ouvir as palavras de Julia. Ela sempre soubera, em algum lugar no fundo de seu coração, que Julia tinha suas próprias inseguranças, mas ouvi-las assim, tão claramente, a fez perceber o quanto era mais profunda a fragilidade da ponte que elas estavam tentando construir. E agora, mais do que nunca, Petra sabia que precisava ser a base de apoio para Julia, que precisava encontrar as palavras certas para mostrar que estava ali, completamente.
— Não! Não fala isso. Você é mais do que suficiente. Não pensa isso, por favor — disse Petra, seus olhos agora marejados, mas firmes.
Julia fechou os olhos por um instante, sentindo a intensidade das palavras de Petra como um abraço reconfortante. Ela sabia, em algum lugar profundo dentro de si, que Petra estava dizendo a verdade. Mas a insegurança ainda era um peso muito grande para ela carregar sozinha. Julia não sabia se poderia ser a pessoa que Petra merecia, se conseguiria dar a ela tudo o que ela precisava. O medo de falhar, de magoá-la, de não ser suficiente, sempre esteve lá, como uma sombra que ela tentava afastar, mas que, muitas vezes, teimava em voltar.
Petra, percebendo o olhar distante de Julia, a puxou para mais perto, envolvendo-a em um abraço apertado. Ela queria que Julia soubesse que, independentemente de tudo, ela estava ali, pronta para lutar pela relação delas. Não importava o que o futuro reservasse, ela estava decidida a estar ao lado de Julia.
— Não precisa ter medo, amor. Vou lutar por nós duas. – disse Petra, com a voz baixa, mas cheia de determinação.
Julia respirou fundo, sentindo a segurança que as palavras de Petra traziam, aquele era o seu refúgio. E, por enquanto, ela estava disposta a ficar ali, com Petra, e ver onde esse caminho as levaria.
Elas se afastaram lentamente do abraço, mas ainda se mantiveram próximas, seus corpos quase se tocando. Julia sorriu, um sorriso tímido, mas sincero.
— Eu sei... Eu também vou lutar por nós. Só... não me deixa duvidar, tá? – disse Julia, a voz baixa, mas com uma suavidade que fazia todo o peso desaparecer.
Petra sorriu de volta, sentindo um alívio profundo ao ouvir as palavras de Julia. Finalmente, parecia que estavam encontrando um terreno comum, um lugar onde poderiam se apoiar mutuamente, mesmo com todas as incertezas e medos que carregavam. Ela sabia que não seria fácil, mas a cada pequeno gesto, a cada palavra trocada, sentia que estavam mais perto de construir algo forte o suficiente para resistir ao que quer que viesse.
— Eu não vou deixar você duvidar de mim. Vou fazer questão de te lembrar que estou disposta a fazer dar certo, sempre que precisar – disse Petra, com um sorriso confiante. — Você me faz ser alguém melhor, lembra?
E, naquele momento, o mundo parecia parar por um segundo. Mesmo com todas as dúvidas que ainda precisavam enfrentar, algo dentro delas dizia que, enquanto estivessem juntas, poderiam superar qualquer obstáculo.
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tô com tempo livre demais, preciso virar clt urgentemente
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