70 - 'Culpado'
26 de Abril
O advogado de Lorenzo, um homem de terno escuro e expressão impenetrável, começou a se mover pela sala, como um predador em busca de sua presa. Ele apontou para Marco, Antonella, Rosamaria e Carol, um a um, questionando a credibilidade de seus depoimentos e tentando desestabilizar a narrativa de Petra.
— Marco Bianchi, o senhor afirmou que viu uma discussão entre Lorenzo e Petra. No entanto, não mencionou que a senhorita Lewis também tem um temperamento forte e pode ser provocadora – disse o advogado, mirando Marco com um sorriso calculado. — Não seria justo dizer que ambos têm suas culpas nessa relação?
Marco hesitou, sentindo a pressão do olhar de Lorenzo e a tensão na sala. Ele finalmente respondeu, um pouco inseguro.
— Mas isso não justifica o comportamento de Lorenzo.
O advogado balançou a cabeça, como se aquilo não fosse suficiente.
— Antonella Bianchi... a senhora estava presente em todas essas supostas discussões? Não seria possível que Petra estivesse exagerando em suas reações?
Antonella, agora mais firme, respondeu — Não. Eu vi o impacto que isso teve nela.
O advogado não se deixou abalar e prosseguiu com sua estratégia.
— E quanto a senhorita Montibeller? Sua amizade com Petra a torna parcial. As emoções podem nublar o julgamento de alguém que se preocupa tanto.
Rosa cruzou os braços, os olhos brilhando de indignação. — Não estou aqui para ser parcial, estou aqui para contar a verdade.
O advogado então se virou para Petra, com um sorriso desdenhoso.
— Então, senhorita Lewis. Você estava envolvida em um relacionamento extraconjugal durante o noivado com Lorenzo, não estava? Como isso afeta a sua credibilidade neste tribunal?
A sala ficou em silêncio, todos os olhares se voltaram para Petra. Seu coração disparou ao ouvir as palavras do advogado, e a pressão em seu peito aumentou. Ela queria se defender, mas a verdade era que as palavras estavam presas em sua garganta.
O advogado continuou — Você estava traindo seu noivo enquanto ele estava em outro país, planejando seu casamento. Como podemos acreditar que Lorenzo é o único responsável por seus problemas?
O advogado de Petra imediatamente protestou, levantando-se da cadeira.
— Objeção, Meritíssimo! Isso não tem relevância com os fatos que estamos tratando.
O juiz, com um olhar firme, concedeu um breve intervalo.
Lorenzo se recostou em sua cadeira, tentando manter a compostura, mas seus olhos queimavam com raiva. Petra virou-se para seu advogado, buscando apoio.
— Não sei se consigo – sussurrou Petra, sua voz falhando.
— Você vai conseguir, Petra. Precisamos que você esteja forte agora – respondeu o advogado, com um olhar encorajador.
Julia, no fundo da sala, estava tão abalada quanto Petra. Ela se sentia culpada por tudo, por ter deixado a situação chegar a esse ponto. Quando o juiz chamou todos de volta à sala, ela respirou fundo, sabendo que a parte mais difícil ainda estava por vir.
O juiz, com seu olhar autoritário, fez um sinal para que todos se sentassem novamente. A atmosfera estava carregada de expectativa, e Petra sabia que seria hora de falar.
— Vamos continuar – disse o juiz, com a voz firme. — Senhorita Lewis, por favor, dirija-se ao tribunal. A senhorita pode afirmar o testemunho de Marco Bianchi?
Petra respirou fundo antes de começar seu relato, a voz tremendo levemente enquanto se dirigia ao tribunal. A sala estava em silêncio, todos os olhares fixos nela.
— Claro, a discussão que tive com Lorenzo na casa de Marco foi... Eu tinha acabado de voltar de uma temporada no Japão e recebi a convocação para a seleção. Lorenzo estava tão irritado... Ele não conseguia entender por que eu aceitara. Ele disse que era egoísta da minha parte ir para o Brasil logo depois de voltar. Aquela discussão foi intensa, e ele começou a gritar, e eu não sabia como lidar com aquilo.
Os murmúrios começaram a ecoar na sala, e Petra percebeu que muitos estavam absorvendo cada palavra. Ela continuou — Depois daquela briga, eu passei algumas noites na casa de Antonella e Marco. Eu não queria ficar em casa, porque quando Lorenzo ficava irritado, ele parecia uma pessoa diferente. Às vezes, eu sentia medo. Era como se ele se transformasse em alguém que eu não conhecia.
Os olhos do advogado de Lorenzo estreitaram-se, mas Petra seguiu em frente, determinada a contar sua história.
— Enquanto estava no Japão, Lorenzo me ligava frequentemente. Ele insistia em dizer que eu não me importava com o nosso relacionamento, que estar longe dele era egoísmo... Eu tentava explicar, mas ele só ficava mais irritado.
Petra sentiu as lágrimas ameaçarem escorregar pelo seu rosto, mas ela se forçou a continuar.
— Então, houve aquela semana em que ele foi para o Rio me visitar. Na primeira noite, nós brigamos novamente. Ele estava tão nervoso... Na manhã seguinte, ele tentou me agradar, fez um café da manhã. – disse com um sorriso triste — Mas acabou se machucando e, quando ficou irritado, ele me bateu. Eu cheguei ao treino com um hematoma no olho, dizendo para todos que foi apenas um acidente mas-
Um murmúrio de choque percorreu a sala, e o advogado de Lorenzo se levantou.
— Objeção, Meritíssimo! Isso não comprova nada!
O juiz, porém, levantou a mão. — O tribunal está ouvindo. Continue, senhorita Lewis.
Ela limpou a garganta, decidida a expor a verdade.
— Naquela mesma semana, eu fiquei com Lorenzo no nosso apartamento. Eu fiz de tudo para manter a paz, porque sabia que se ele se irritasse novamente, poderia... Mas foi inevitável. Nós acabamos brigando novamente, e ele me empurrou contra a parede com força.
Nesse momento, a voz de Petra falhou, e a emoção começou a tomar conta dela.
— Eu me sentia presa, como se não tivesse escapatória. Não era mais o relacionamento que eu sonhei. Eu só queria que ele entendesse o quanto eu me esforçava.
Silêncio total tomou conta do tribunal enquanto as palavras de Petra ressoavam. O advogado de Lorenzo se contorceu, mas não conseguiu interrompê-la novamente.
— A verdade é que eu amava Lorenzo, mas o medo e a dor começaram a ofuscar tudo isso. Ele não era mais a mesma pessoa que eu conheci.
O olhar dela se voltou para Lorenzo, que estava sentado em seu lugar, a expressão mistura de raiva e frustração.
— Eu não sabia mais o que fazer – concluiu Petra, a voz embargada. — E quando eu decidi que precisava acabar com a relação, ele ficou ainda mais furioso e agressivo, mais uma vez.
As lágrimas finalmente escorregaram pelo seu rosto, e a plateia permaneceu em silêncio. O juiz observou Petra antes de voltar a se dirigir à sala. — Vamos fazer uma breve pausa para que se recomponha.
•••
O tribunal estava carregado de tensão quando o advogado de Petra se levantou para apresentar mais uma prova. Ele se aproximou da mesa do juiz, segurando um documento com firmeza.
— Meritíssimo, solicito a apresentação do laudo pericial que atesta lesões corporais sofridas pela minha cliente no dia 14 de abril ainda deste ano. Este laudo é crucial para corroborar a narrativa dela e evidenciar a gravidade das agressões sofridas. O exame físico revela sinais claros de violência, que não podem ser atribuídos a outra causa. Também peço que considere o fato de que o senhor Bianchi já esteve envolvido em um caso semelhante em 2018 e que, de um forma totalmente conveniente, Chiara Romano, a requerente na época, retirou as acusações contra o réu após ser pressionada por sua equipe de advogados.
O juiz acenou, e o advogado passou o laudo para o juiz e para o advogado de Lorenzo, que olhou para o documento com uma expressão de preocupação crescente. O silêncio se instalou na sala, enquanto todos aguardavam a leitura dos principais pontos do laudo.
Os murmúrios começaram a ecoar na sala novamente, e o advogado de Petra, vendo a oportunidade, se dirigiu ao juiz. — Meritíssimo, este laudo não apenas comprova as lesões que minha cliente sofreu, mas também a situação de abuso a que ela foi submetida. As evidências são claras, e a narrativa de Petra se sustenta com base em provas concretas. E se o senhor decidir considerar o caso de Chiara Romano, eu tenho um depoimento feito por ela.
O advogado de Lorenzo se levantou, tentando controlar a situação.
— Objeção, Meritíssimo! O laudo não apresenta evidências diretas que liguem as lesões à suposta agressão do meu cliente. É uma interpretação subjetiva das evidências. Além disso, o caso anterior mencionado não-
O juiz manteve a calma. — O tribunal considerará todas as evidências apresentadas. Continuemos.
O advogado de Petra, então, aproveitou a oportunidade para fazer sua argumentação final. — Lorenzo não só agrediu Petra fisicamente, mas também a feriu emocionalmente. Os danos morais que ela sofreu não podem ser quantificados, mas são evidentes.
O advogado de Lorenzo, percebendo a direção que a audiência estava tomando, tentou se levantar novamente.
— Meritíssimo, peço permissão para interrogar a requerente.
O juiz acenou e o advogado se aproximou de Petra, seu tom um pouco mais agressivo.
— Você diz ter vivido em um relacionamento abusivo todo esse tempo. Por que não procurou ajuda antes?
Petra olhou nos olhos do advogado, sentindo a pressão das perguntas, mas se sentindo mais forte agora.
— Porque eu estava com medo. E porque eu queria acreditar que ele poderia mudar. Eu amava Lorenzo, e não queria ver o que estava diante de mim. Eu pensei que, se eu tentasse, tudo poderia voltar a ser como antes.
O advogado fez uma pausa, tentando recalcular sua estratégia. — Então, você está admitindo que permaneceu no relacionamento por escolha sua, mesmo sabendo das dificuldades?
Petra, agora mais confiante, respondeu — Eu não queria acreditar que ele poderia me machucar. E quando percebi a gravidade da situação, já era tarde demais. Cada dia era uma luta, e eu não sabia como sair dessa.
O advogado de Lorenzo tentou novamente.
— E em nenhum momento você considerou que as suas ações também poderiam ter contribuído para a situação?
Petra balançou a cabeça, a frustração crescendo dentro dela.
— Eu não estou aqui para assumir a responsabilidade pelo comportamento dele.
O juiz, percebendo a escalada da tensão, decidiu intervir. — Peço que a defesa seja feita a partir dos fatos apresentados sem qualquer insinuação desnecessária contra a requerente.
•••
— Após considerar todas as provas e depoimentos apresentados, incluindo o laudo pericial e o relato de Petra juntamente com as testemunhas, o tribunal chega a uma conclusão.
O juiz fez uma pausa, analisando a sala e as reações de todos. — Lorenzo Bianchi, o senhor foi considerado culpado criminalmente por agressão e danos morais contra a requerente, Petra Lewis.
As palavras do juiz ecoaram na sala, e o advogado de Lorenzo pareceu se encolher, enquanto Petra sentia um peso sendo retirado de seus ombros. Ela olhou para Julia e Marcela vendo o apoio nos olhos delas, e pela primeira vez em muito tempo, uma sensação de alívio começou a crescer dentro dela.
— Lorenzo, você está condenado a cumprir pena de acordo com as leis aplicáveis e a pagar uma indenização a Petra pelos danos morais que ela sofreu – disse o juiz com firmeza. — O tribunal está encerrado.
A partir daquele momento, Petra estava determinada a reconstruir sua vida e se afastar de qualquer dor que Lorenzo tivesse causado. As feridas ainda estavam frescas, mas agora ela tinha a força para se curar e buscar um futuro onde aquele sentimento não governasse sua vida.
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eu precisava despachar esse frango, não aguentei
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