60 - Não Me Esquece
"Meu coração já não aguenta mais
Te ver nos braços dele nem mais um segundo"
Novembro de 2019
Era o fim de uma temporada exaustiva e o time de Georgia Tech havia conquistado o campeonato da NCAA daquele ano. A vitória foi celebrada com uma festa memorável, organizada no campus da universidade, e diversas equipes rivais foram convidadas para participar da comemoração. Entre os convidados estava o time de Stanford, e, claro, Petra estava lá, com sua presença carismática e o habitual ar de superioridade que irritava Julia.
A festa estava em pleno vapor. Música alta, risadas, e as luzes piscantes transformavam a casa onde a festa acontecia em uma espécie de balada universitária. Julia se mantinha com um copo na mão, mas sem exagerar nas bebidas. Petra, por outro lado, estava muito mais à vontade, já um pouco mais alta devido ao álcool.
As provocações, sempre presentes entre as duas, começaram logo cedo. Cada vez que se esbarravam, trocavam comentários sarcásticos e olhares desafiadores, em parte pelo ambiente de rivalidade entre Stanford e Georgia Tech, mas também pela atração mal resolvida que já existia entre elas. As colegas de equipe de ambas observavam de longe, rindo das interações entre as duas.
No meio da festa, depois de algumas rodadas de bebida, Petra decidiu ir ao banheiro, sentindo-se levemente tonta e rindo sozinha de suas próprias piadas internas. Julia, que estava por perto, percebeu e a seguiu, mais para manter um olho na rival do que por preocupação real. Quando Petra entrou no pequeno banheiro da casa, Julia encostou-se à parede do corredor, esperando sua vez.
No entanto, Petra estava demorando mais do que o esperado. Julia, impaciente, bateu na porta.
— Vai demorar, miss simpatia? – perguntou com impaciência.
De dentro, Petra gritou de volta, sua voz arrastada pelo álcool — Se quiser entrar, Bergmann, fica à vontade! – disse ela rindo.
Julia revirou os olhos, mas empurrou a porta, que Petra não havia trancado corretamente. Ao abrir, encontrou Petra sentada na pia, seu copo vazio ao lado.
— Você está completamente bêbada, não é? – Julia provocou, entrando no banheiro.
— Não tanto quanto parece, mas suficiente pra não te achar irritante – respondeu Petra, um sorriso malicioso no rosto.
— Você é insuportável – Julia murmurou.
— Ei, você também não é minha companhia favorita, sabe? – Petra rebateu, ainda sorrindo, mas agora com uma ponta de desafio na voz.
A tensão no ar era palpável. As provocações entre as duas, que normalmente aconteciam em quadra, agora estavam ali, a poucos centímetros de distância, em um banheiro apertado. Petra ainda tinha o sorriso no rosto, mas estava claro que o álcool a fazia dizer coisas que normalmente guardaria para si. Julia, por outro lado, estava sóbria o suficiente para sentir a irritação aumentar.
— Por que você sempre age como se fosse melhor que todo mundo? – Julia perguntou de repente, sem nem perceber que as palavras estavam saindo de sua boca.
Petra a olhou com surpresa, erguendo uma sobrancelha.
— Eu? Melhor que todo mundo? – Petra riu. — Acho que você está projetando, ruivinha.
Julia ficou vermelha de raiva. — Eu? Projetando? Você está sempre se exibindo, agindo como se fosse a melhor jogadora do mundo!
— E você não faz o mesmo? – Petra retrucou. — Talvez a gente não seja tão diferente assim.
Julia fez menção de sair, mas no exato momento em que tentou girar a maçaneta, ouviu um estalo. A maçaneta quebrou. Tentou novamente, mas nada.
— Sério isso? – Julia murmurou, testando a maçaneta mais uma vez. Estavam presas. — Porra!
— O que foi? – Petra perguntou, meio sem entender.
— Estamos presas. A maçaneta quebrou. – Julia bufou, olhando em volta do minúsculo banheiro.
— Ah, ótimo! – Petra riu, jogando a cabeça para trás e apoiando as mãos na pia. — Presa no banheiro com você. Quem diria?
Julia tentou conter a irritação. Estava no meio de uma festa para comemorar sua maior vitória no vôlei universitário e agora estava presa no banheiro com Petra. As provocações que já estavam acontecendo durante a noite começaram a aumentar.
— Isso é culpa sua, Lewis. Se tivesse trancado direito... – Julia começou a reclamar.
— Relaxa, Bergmann! – Petra interrompeu, os olhos semicerrados pelo efeito do álcool. — A vida é curta demais pra você ser tão chata.
— Eu sou chata? – Julia se virou para ela, as sobrancelhas arqueadas. — Você é insuportável!
— Acho que nem tanto, né? – Petra deu uma risadinha.
Julia cruzou os braços, encostando-se na porta. O espaço apertado e o calor da festa lá fora faziam o banheiro parecer ainda menor. Petra ainda sentada na pia, seu vestido preto curto moldando-se perfeitamente ao seu corpo. O tecido brilhante realçava suas curvas de maneira quase provocante, enquanto uma das coxas ficava exposta e suas pernas balançando no ar de maneira despreocupada.
As luzes suaves do banheiro refletiam no contorno de seu corpo, destacando a pele levemente bronzeada. Julia, por mais que tentasse desviar o olhar, não conseguia ignorar o quanto Petra estava atraente naquele momento. O cabelo castanho caía displicentemente sobre os ombros, e o sorriso brincalhão em seu rosto apenas intensificava a aura sedutora que emanava dela..
— Eu sempre soube que você era meio obcecada por mim, Bergmann. – Petra brincou, a voz levemente arrastada.
— Obcecada? – Julia riu, mas havia uma tensão na risada. — Por favor, Petra. Você está realmente muito bêbada.
— Ah, claro que estou – Petra esticou a mão e tocou o braço de Julia, a provocação em seus olhos. — É por isso que você me segue até o banheiro?
Julia sentiu o toque de Petra como uma pequena faísca. A verdade era que havia algo em Petra que a deixava fora de si, mas ela sempre mascarava isso com provocações e competição. Elas estavam presas naquele espaço minúsculo, e a proximidade, combinada com o álcool, fez com que a tensão entre as duas atingisse um novo nível.
— Sabe, Julia... – Petra começou, com um sorriso preguiçoso. — Você deveria parar de se controlar tanto. Acho que seria mais divertida se relaxasse um pouco.
Julia bufou, mas antes que pudesse responder, Petra se inclinou para frente, ainda com aquele olhar desafiador. A proximidade das duas era sufocante. Julia podia sentir a respiração de Petra, o cheiro da tequila misturado ao perfume suave que ela usava. Por um segundo, tudo parecia em suspenso.
O som abafado da festa, a luz fraca do banheiro, a raiva fervendo sob a superfície, tudo isso formava uma bolha que parecia prestes a estourar. O ar entre as duas ficou eletricamente carregado, e, sem aviso, Petra puxou Julia pela camisa e a beijou.
Foi um momento inesperado e intenso. Os lábios de Petra nos dela eram macios, mas o beijo era faminto, como se ambas estivessem esperando por isso havia muito tempo. Julia, por um segundo, ficou imóvel, surpresa demais para reagir. Mas então, antes que pudesse processar o que estava acontecendo, seu corpo respondeu por puro instinto. Ela retribuiu o beijo com a mesma intensidade, deixando de lado toda a rivalidade que existia entre elas. A tensão acumulada por meses de provocações explodiu naquele momento.
Sem hesitar, Julia se aproximou mais, ficando entre as pernas de Petra, o espaço apertado da pia aumentando a proximidade entre seus corpos. As mãos de Julia deslizaram pelos quadris de Petra, puxando-a mais perto, enquanto o calor do beijo fazia o mundo ao redor desaparecer. O toque das coxas de Petra contra seu corpo, a respiração acelerada e o leve gosto de álcool nos lábios de ambas criavam uma atmosfera inebriante.
A embriaguez de Petra tornava tudo mais intenso, mais urgente. Julia podia sentir o gosto da bebida nos lábios dela, o calor que emanava do corpo de Petra misturado com o cheiro doce do perfume que ela usava. As mãos de Petra subiram até o pescoço de Julia, puxando-a ainda mais para perto.
Mas, tão rápido quanto começou, Petra interrompeu o beijo, rindo baixinho e cambaleando um pouco ao tentar descer da pia.
— Você... você é tão fácil de provocar – Petra murmurou, ainda rindo, enquanto se afastava um pouco, encostando-se na parede.
Julia ficou parada, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Sua respiração estava pesada, o coração disparado. Olhou para Petra, que agora parecia mais relaxada, como se nada de importante tivesse ocorrido. Mas para Julia, o momento havia mudado tudo.
— Petra... – Julia começou, mas foi interrompida pelo som de vozes do lado de fora. Alguém estava tentando abrir a porta.
— Ei, alguém aí? – uma voz masculina chamou. — A porta está trancada.
— Sim! – Julia respondeu rapidamente. — A maçaneta quebrou, podem nos ajudar a sair?
Em poucos minutos, um dos amigos de Petra apareceu com uma chave de fenda e conseguiu destrancar a porta. As duas saíram do banheiro, e, para Julia, o mundo parecia diferente. Ela olhou para Petra, que já se misturava de novo à multidão, rindo e bebendo como se nada tivesse acontecido.
Dia Seguinte
Na manhã seguinte, Julia acordou com a memória do beijo ainda fresca na mente. O efeito do álcool havia diminuído, mas a intensidade do momento ainda pulsava dentro dela. Ela sabia que precisava falar com Petra, esclarecer o que havia acontecido. Talvez Petra também estivesse pensando no que havia ocorrido no banheiro.
Por volta do meio-dia, Julia se dirigiu a uma pequena cafeteria perto do campus de Georgia Tech, um lugar onde costumava ir para escapar do tumulto das festas. Para sua surpresa, Petra estava lá, sentada em uma mesa próxima à janela, tomando um café e olhando distraída para o celular.
Julia se aproximou, o coração acelerado, sentindo a necessidade de esclarecer o que estava entre elas. Sentando-se em frente a Petra, respirou fundo antes de falar.
— Petra, sobre ontem... – começou Julia, com a voz hesitante.
Petra, que estava distraída, ergueu o olhar e, por um momento, pareceu confusa. Mas logo sua expressão mudou para um riso cansado, quase indiferente.
— Ah, não! – Petra riu, balançando a cabeça como se afastasse um pensamento desconfortável. — Por favor, vamos esquecer a noite de ontem, Bergmann. Eu bebi demais, fiz um monte de besteira. Não quero nem lembrar!
Julia piscou, surpresa. A reação casual de Petra fez seu estômago afundar.
— Esquecer? – Julia repetiu, seu coração apertando. — Claro... está bem.
Petra, alheia à intensidade no olhar de Julia, sorriu de novo e acenou com a cabeça, claramente sem entender o peso das palavras.
— A noite toda foi um desastre. – Petra deu de ombros e tomou outro gole do café, sem perceber a agonia nos olhos de Julia. — Vamos só deixar isso pra lá, certo?
Julia ficou em silêncio por alguns segundos, tentando processar a frustração que a invadia. Como Petra poderia querer esquecer? Para Julia, o beijo havia sido um momento significativo, algo que não conseguia tirar da cabeça desde que aconteceu. Mas para Petra, aparentemente, era apenas mais uma noite de festa embalada pelo álcool.
Tentando manter a compostura, Julia assentiu lentamente, engolindo a decepção que surgia em sua garganta.
— Certo... – murmurou Julia, mesmo que cada parte de si quisesse dizer o contrário.
O beijo, que havia sido algo transformador para Julia, era nada além de uma memória apagada para Petra. E naquele instante, Julia tomou uma decisão amarga de que enterraria aquele sentimento, mesmo sabendo que isso reforçaria a rivalidade entre elas. Era mais fácil conviver com a raiva e a competição do que admitir o quanto aquele momento a havia abalado.
Mas antes que pudesse afundar mais em seus pensamentos, foi interrompida por um rapaz moreno que se aproximava com passos decididos, seu sotaque europeu inconfundível. — Ei, amor! Achei você – disse o homem, sorrindo calorosamente ao se aproximar.
Petra levantou-se imediatamente, seu sorriso se ampliando ao vê-lo. Sem hesitar, ela o cumprimentou com um beijo breve, mas íntimo. Julia sentiu o coração apertar ainda mais ao assistir a cena.
— Lorenzo, esta é Julia. Julia, esse é Lorenzo Bianchi – apresentou Petra casualmente, ainda segurando a mão do homem.
Julia apenas assentiu, tentando mascarar a surpresa. Lorenzo. O "quase namorado italiano" que todos estavam comentando, mas que Julia estava conhecendo pela primeira vez.
Enquanto Petra e Lorenzo trocavam algumas palavras, Julia não pôde deixar de sentir uma pontada de amargura. Não apenas pelo beijo da noite anterior ter sido apagado da memória de Petra, mas também por vê-la tão despreocupada, como se nada do que aconteceu tivesse significado. E agora, com Lorenzo ao lado dela, tudo parecia ainda mais distante, quase inalcançável.
Ela desviou o olhar, tentando controlar a onda de emoções que a atingia. "Ela não se lembra," repetiu Julia para si mesma, tentando transformar aquela realidade em uma barreira que a ajudasse a lidar com o que sentia. "Foi só mais uma noite para ela."
Mas o beijo com Petra intenso, carregado de uma tensão que Julia mal conseguia entender, tinha sido um divisor de águas para ela. Agora, ver Petra nos braços de Lorenzo, com a mesma despreocupação e leveza que sempre demonstrava, só tornava tudo mais amargo.
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oi 🥰
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