59 - Provocações
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19 de Abril
Após a vitória do Brasil, o clima no time estava leve, e as meninas decidiram que uma comemoração era mais que merecida. Antes de saírem, passaram rapidamente no hotel para se arrumarem. Petra, ainda com o peso do conflito com Julia sobre os ombros, caminhava com as outras, tentando manter o sorriso, mesmo que estivesse um pouco distante.
No corredor do hotel, encontraram Marcela. Assim que viu Petra, Marcela sorriu abertamente e se aproximou.
— Oi, chefinha. Senti falta de te ver em quadra no jogo hoje. – disse Marcela — Volta a jogar quando?
Petra forçou um sorriso, tentando disfarçar o desconforto que ainda sentia pela frieza de Julia durante e após o jogo.
— Obrigada, Cela. Acho que nos jogos da próxima fase já estou de volta. – disse Petra de maneira educada, mas sem o habitual entusiasmo. Julia, que observava a interação de longe, percebeu imediatamente o clima.
Julia se lembrou do dia em que Petra, embora não admitisse, demonstrou ciúmes de Marcela quando a loira estava próxima demais de Julia no corredor do CDV.
Vendo uma oportunidade, Julia, com um sorriso malicioso, decidiu provocar Petra. Aproximou-se de Marcela, jogando o braço por cima dos ombros da loira de forma casual, mas claramente intencional.
— Ei, Marcela, a gente tá indo comemorar a vitória agora num barzinho aqui perto. Você devia vir com a gente! – disse Julia, olhando diretamente para Petra enquanto falava, como se quisesse ver sua reação.
Marcela olhou surpresa para Julia e depois para Petra, claramente honrada com o convite, mas sem perceber a tensão no ar.
— Sério? Poxa, eu adoraria! – respondeu Marcela, animada. — Vou só pegar minhas coisas e já volto.
Enquanto Marcela se afastava para se arrumar, Petra ficou parada, sentindo um aperto no peito. Ela sabia exatamente o que Julia estava fazendo. As outras meninas, que assistiam à cena de camarote, trocaram olhares cúmplices, segurando risadinhas. Kisy e Ana Cristina, que estavam logo atrás de Petra, não resistiram e soltaram algumas risadinhas discretas, conscientes da intenção de Julia.
— Alguém vai dormir no sofá hoje, hein... – sussurrou Kisy para Ana, que apenas assentiu, contendo o riso.
Petra, por sua vez, tentou manter a compostura, mas seu sorriso ficou visivelmente mais tenso. Sabia que Julia estava fazendo aquilo de propósito para provocá-la, mas decidiu não cair na armadilha, pelo menos não ali, na frente de todo mundo.
— Quanto mais gente, melhor, né. – disse Petra, forçando a voz a soar natural, enquanto cruzava os braços, tentando esconder o incômodo. Julia, satisfeita com a reação, apenas deu de ombros e sorriu, como se nada tivesse acontecido.
A caminho do bar, o clima entre as meninas era descontraído, mas Petra e Julia mantinham uma distância silenciosa, a tensão entre elas clara para todas. Mesmo assim, ninguém se atreveu a comentar nada, afinal, já estavam acostumadas com os altos e baixos daquele relacionamento tempestuoso.
O barzinho escolhido pelas meninas tinha uma atmosfera descontraída, com música ao vivo e luzes baixas, perfeito para celebrar a vitória e aliviar a tensão após o jogo intenso. Petra caminhava atrás do grupo, observando as interações entre Julia e Marcela. Ela tentava manter a cabeça erguida, mas o incômodo crescia conforme Julia provocava sutilmente com gestos e risadinhas dirigidas à loira. A cada toque ou olhar, Petra sentia seu coração apertar, mas se recusava a demonstrar qualquer fraqueza.
Assim que chegaram, escolheram uma mesa grande no canto do bar. As conversas começaram a fluir com piadas e brincadeiras sobre o jogo, mas o incômodo entre Petra e Julia continuava latente.
— Tá vendo, Pepê? – começou Carolana, pegando uma cerveja. — Se você estivesse em quadra hoje, teria sido ainda mais fácil!
— Pois é! – completou Rosa, rindo. — Aí sim o Japão ia pedir arrego!
— Ei, ei, sem pressão, gente! – brincou Natinha, levantando as mãos. — Deixa a Pepê descansar, que ela merece.
Petra riu, tentando se distrair com as piadas, mas seu olhar sempre voltava para Julia, que parecia completamente à vontade ao lado de Marcela. Ana Cristina percebeu o clima tenso e, inclinando-se para perto de Petra, sussurrou baixinho — Relaxa, Pepê. Ela tá só provocando, você sabe disso.
Petra suspirou, balançando a cabeça em concordância, mas era difícil ignorar.
— Eu sei... Mas ela tá exagerando. – murmurou Petra de volta.
Enquanto isso, Julia continuava com suas provocações sutis. Ela falava algo para Marcela e, de tempos em tempos, lançava um olhar na direção de Petra, certificando-se de que sua presença estava sendo sentida. A loira, por outro lado, parecia completamente alheia à situação, apenas aproveitando o momento, sem perceber o jogo de Julia.
Em determinado momento, Gabi, que observava tudo de longe, não conseguiu segurar e decidiu intervir de forma divertida.
— Tá bom, Julinha! – disse ela, rindo. — Acho que já deu de provocar a Petra por hoje, né? A gente veio aqui pra comemorar, não pra fazer Petra ter um ataque de raiva.
Julia riu, fingindo inocência. — Eu? Provocar? Imagina, Gabi! Só tô sendo simpática.
— Simpática, é? – repetiu Roberta, levantando uma sobrancelha e cruzando os braços. — Você é tão simpática quanto uma bolada na cara, Bergmann.
As meninas explodiram em risadas, lembrando da famosa bolada na NCAA de 2021. Petra até sorriu com a lembrança, tentando aliviar a tensão.
— Falando nisso... – continuou Roberta. — E a bolada que você deu na japonesa hoje? Quase matou a menina!
— Quase fez jus à sua fama, Julia! – acrescentou Macris, entre risos. — Até pareceu de propósito.
— Ela bem queria mandar aquela bola na direção da arquibancada que eu sei... – disse Pri se referindo ao fato de Chiara estar no jogo.
— Nem me fale... Mas a bolada na japonesa não foi de propósito – Julia murmurou, mas seu sorriso travesso sugeria o contrário. — Só estava no lugar errado, na hora errada.
Petra aproveitou o momento para entrar na brincadeira.
— Bom, eu sei como é... – começou ela, cruzando os braços e encarando Julia com um sorriso de canto. — Afinal, eu levei uma dessas também. Não sei se eu tava no lugar errado ou se foi outra coisa.
As meninas riram ainda mais alto, o que fez Julia revirar os olhos com um sorriso. Mas, dessa vez, havia algo mais em seu olhar. Ela sabia que estava ultrapassando alguns limites e talvez já tivesse provocado demais, seu olhar fixou-se em Petra por um segundo mais longo, uma troca silenciosa que quase parecia pedir desculpas.
Enquanto as meninas riam e bebiam, a ruiva fez questão de continuar interagindo com Marcela, ainda que de maneira casual, mas o suficiente para que Petra notasse o jogo.
— Marcela, já te falaram que você fica muito bem loira? – comentou Julia, com um sorriso malicioso. — Aposto que todo mundo te olha duas vezes quando você passa.
Marcela, finalmente percebendo a intenção oculta de Julia, riu de forma descontraída olhando de relance para Petra que tinha os braços cruzados e um rosto emburrado.
— Ah, nada disso, Ju! – respondeu ela. — Mas vou aceitar o elogio, vindo de você.
Petra, que estava sentada ao lado de Ana e Luzia, apertou os lábios e tomou um gole longo de sua bebida, tentando manter a calma. Ela sabia que Julia estava fazendo aquilo apenas para provocar, mas isso não tornava a situação menos irritante.
— E aí, Marcela, já pensou em cortar mais curto? – continuou Julia, inclinando-se um pouco mais. — Acho que ficaria ainda mais estilosa. O que você acha, Pepê?
O uso do apelido carinhoso de Petra no meio de uma conversa sobre Marcela fez com que todas as meninas percebessem a tensão no ar. Petra olhou para Julia por um instante, sentindo o desafio por trás da pergunta. Tentando não demonstrar o ciúme que fervia em seu peito, ela forçou um sorriso leve.
— Acho que ela pode usar o que quiser, vai continuar linda de qualquer jeito. – respondeu Petra, mantendo o tom calmo, mas com um brilho de sarcasmo.
As outras meninas se entreolharam, disfarçando risadinhas. Elas sabiam muito bem o que Julia estava fazendo, e, para a maioria, era quase divertido assistir às duas trocando farpas silenciosas.
— Ah, concordo. – disse Kudiess, tentando quebrar o clima com humor. — E Marcela é daquelas que, até de moletom e cabelo bagunçado, a gente olha e pensa: ‘Como consegue?’. Tá sempre linda!
Marcela ficou corada percebendo que o elogio tinha um tom brincalhão, mas Julia a olhou de um jeito que fez seu corpo reagir. — Vou parar de andar com vocês, que fico até sem graça com tanto elogio!
Julia lançou mais um olhar sugestivo para Petra, como se perguntasse silenciosamente o quanto mais ela suportaria. Petra respirou fundo, tentando manter a postura. Não queria cair no jogo de Julia, mas era difícil ignorar o incômodo que crescia a cada interação.
Enquanto as conversas continuavam na mesa, Julia se levantou e sugeriu — Vou pegar mais uma rodada pra gente. Cela, vem comigo?
— Claro! – respondeu a loira, sem pensar duas vezes.
Assim que as duas se afastaram em direção ao bar, Ana Cristina se inclinou para Petra, sussurrando — Ela tá pegando pesado hoje, né?
Petra suspirou, ainda olhando para Julia e Marcela se distanciando. — Essa ruiva dos infernos tá me tirando do sério, Aninha. – admitiu Petra, com um toque de frustração.
— Você sabe que a Julia faz isso só porque se importa, né? – disse Carolana, que estava ouvindo a conversa. — Mas eu entendo que às vezes ela passa dos limites.
— Realmente. Mas você também, hein, Petra – Nyeme disse com um tom acusador.
— Espera aí! O que eu fiz, Ny?
— Aquela Chiara só falta pular no seu pescoço e você não faz nada! – respondeu Nyeme séria fazendo Petra rir.
— Nyeme sente ciúmes pela Julia também, Petra. Fica esperta, filhinha – Pri brinca causando mais risadas.
— Olha, ela está insegura, Pepê. – completou Ana, com um olhar compreensivo. — Mesmo que nunca admita.
— Acho que essa é a maneira dela mostrar como é desconfortável estar do outro lado. – disse Gattaz — Qual é, Petra. Tudo mundo vê a Chiara se jogando pra você, é claro que a Ju vai ficar irritada.
Petra assentiu, embora ainda estivesse irritada. Entendia que por trás das provocações de Julia havia inseguranças, mas isso não tornava as coisas mais fáceis.
Enquanto isso, no bar, Julia ria com Marcela. As duas conversavam sobre qualquer coisa trivial, mas Julia fazia questão de manter a interação próxima o suficiente para que Petra visse. Ela adorava provocar Petra, mas sentia uma pontada de culpa por estar exagerando naquela noite. No fundo, sabia que precisava parar antes que a situação saísse de controle.
Quando Julia e Marcela voltaram para a mesa com as bebidas, o clima parecia ainda mais tenso. Petra tentava disfarçar seu desconforto, mas suas amigas perceberam que ela estava se segurando para não explodir. Julia, por sua vez, parecia satisfeita com o efeito que estava causando.
— Vocês duas demoraram, hein? – provocou Rosa, sorrindo. — A fila tava grande ou a Marcela estava flertando com o barman?
Julia apenas deu de ombros, piscando para Marcela.
— Ih, Kudiess, vai perder a loirinha. Se esperta logo hein – brincou Luzia falando para Julia mas com um tom de voz alto o suficiente para todas escutarem e rirem de Marcela que ficou envergonhada enquanto Kudiess repreendia Luzia.
— Gente, cadê a maluca da Kisy? – perguntou Sheilla ao lado de Gabi.
— Arrastou a pobre da Diana pra ficar no bar com ela. – respondeu Roberta fazendo um gesto indicando onde as duas estavam.
— Às vezes eu tenho pena da Diana por dividir o quarto com essa louca, ainda tem a Ana de brinde. – Macris disse rindo e Ana a olhou indignada.
— Ei, olha o respeito!
— Meu Deus, ela tá arrastando a Di pra pista de dança! Betinha, bora lá também, vem – Rosa levantou puxando Roberta com ela
— Aí, senhor. Onde eu errei pra merecer isso? – Thaisa que assistia as meninas fazendo uma dança desengonçada disse fingindo reprovação arrancando risadas das outras.
À medida que a noite avançava, Petra decidiu se levantar para pegar uma bebida no bar, dando a si mesma um momento para respirar. Enquanto esperava o barman, Julia apareceu ao seu lado, como se tivesse seguido Petra propositalmente.
Petra finalmente soltou um riso irônico e decidiu que não ia mais se conter. Virando-se para Julia, disse com um tom desafiador — Sabe, Ju... Se você quisesse tanto a atenção da Marcela, era só ter falado antes. Eu teria cedido o lugar no banco durante o jogo.
— Ei, calma aí, Petra... – começou Julia, tentando amenizar a situação.
— Você sabe que eu não vou ficar aqui, quieta, enquanto você faz esse joguinho, Julia.
— Desculpa? – Julia perguntou, a voz baixa o suficiente para que só Petra ouvisse.
Petra deu de ombros, tentando não parecer afetada.
— Tudo bem... Só tentando não enlouquecer com você e suas provocações.
Julia soltou uma risada leve, mas havia um toque de sinceridade em sua expressão. — Eu exagerei, né?
— O que você acha? – Petra respondeu, olhando diretamente para Julia, mas sem animosidade. — Não precisava disso, Ju.
Julia mordeu o lábio, parecendo um pouco arrependida. Ela sabia que tinha passado dos limites, e embora adorasse provocar Petra, a intenção nunca era deixá-la chateada de verdade.
— Desculpa, Pepê. – disse Julia, com um suspiro. — É que... Sei lá, às vezes eu não sei como agir quando você parece distante.
Petra olhou para Julia, surpresa pela vulnerabilidade na resposta. Talvez por trás das provocações, Julia também estivesse lidando com seus próprios medos e inseguranças.
— A gente precisa conversar, Ju... Mas, de verdade. – disse Petra, com a voz suave. — Não aqui, não agora, mas depois... A gente tem que resolver isso.
Julia assentiu, concordando em silêncio. O momento entre elas foi interrompido pelo som das risadas das outras meninas chamando-as de volta para a mesa.
— Vem, vamos voltar. — disse Julia, tocando de leve o braço de Petra. — Ainda temos uma noite pra comemorar. Ei, viu o jeito que a Kudiess tá olhando pra Marcela?
— Eu nem reparei, Julia, tava tentando não bater em você. – respondeu Petra pegando sua bebida enquanto Julia pegou sua mão e a guiou de volta para a mesa.
A ruiva riu lembrando de Petra emburrada a noite toda.
— Sério, amor, a Julia tá encarando a Marcela desde que saímos do hotel. Vamos fazer a ponte, anda!
Petra sorriu pelo jeito que Julia a chamou, e as duas voltaram para o grupo, agora com uma sensação de que, apesar de tudo, poderiam resolver as coisas entre elas. Afinal, por mais difíceis que fossem os momentos, elas sabiam que tinham uma ligação forte o suficiente para superar qualquer provocação ou desentendimento.
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agora já posso sumir mais uma semana, tchau
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