58 - 'Calma, Juju'
19 de Abril
Enquanto o grupo se encaminhava para o vestiário, Petra se mantinha um pouco mais atrás, observando as meninas com um olhar sereno. Era bom estar ali, mesmo sem jogar, fazendo parte daquilo que ela amava. Julia olhou por cima do ombro e, percebendo Petra mais distante, desacelerou o passo até que as duas ficassem lado a lado.
— Tem certeza de que não quer entrar só um pouquinho no jogo hoje? – provocou Julia, tentando esconder um sorriso.
— Nem pensar – respondeu Petra, balançando a cabeça com firmeza. — Você sabe que eu não consigo entrar só um 'pouquinho'. Eu me conheço. Melhor ficar fora.
Julia riu, e as duas caminharam juntas até o vestiário. Quando chegaram, as outras meninas já estavam rindo e conversando alto, o clima bem mais leve. Roberta, que estava mexendo na bolsa, levantou a cabeça ao ver Petra e Julia entrando juntas.
— Ei, Petra! – chamou Roberta, com um sorriso malicioso. — Quando você voltar, vai ser pra arrebentar, né? Ou vai ficar nesse esquema de torcida oficial da Julia?
As outras meninas explodiram em risadas, enquanto Julia fez uma cara de falsa indignação.
— Tá vendo, Petra? Até a Roberta tá implicando com a gente! – Julia revirou os olhos, mas não conseguiu esconder o sorriso.
— Se acostuma, Juju! – respondeu Macris, já amarrando os cadarços do tênis. — Aqui, qualquer oportunidade de zoar vocês, a gente vai aproveitar!
— Exato! – gritou Nyeme do outro lado da sala, enquanto ajustava a faixa no cabelo. — A vida de casal tem que ser compartilhada!
Petra apenas balançou a cabeça, rindo das provocações. O carinho e as brincadeiras das meninas faziam com que o ambiente ficasse mais leve, e isso a ajudava a se distanciar um pouco dos problemas que ainda pairavam sobre sua vida pessoal.
— Eu fico fora de dois jogos e vocês já começam a me chamar de 'torcedora'? – disse Petra, entrando na brincadeira. — Vocês vão ver só quando eu voltar!
— Sabemos que, quando você voltar, vai arrebentar, Pepê – disse Carolana, enquanto fazia um alongamento. — Mas, por enquanto, deixa a gente zoar, vai. Faz parte!
— É, aproveita e descansa bastante. – completou Natinha, piscando para Petra. — Ficar longe de todo esse estresse é bom pra você!
O comentário de Natinha trouxe uma pequena pausa na conversa, lembrando a todas o que Petra estava passando. Mas, antes que o clima ficasse pesado de novo, Gabi entrou no vestiário com uma energia contagiante.
— Bora, bora, bora, gente! Hoje é dia de arrasar em quadra! – gritou ela, batendo palmas e pulando animada. — O Japão que se cuide, porque hoje vai ser show!
A alegria de Gabi contagiou todas as meninas, que voltaram a rir e a se preparar para o jogo. Petra observava tudo com um sorriso no rosto. A força e a união do time sempre a impressionavam, e ela se sentia grata por estar cercada de pessoas que a apoiavam, mesmo nos momentos mais difíceis.
Zé Roberto apareceu na porta do vestiário pouco tempo depois, batendo na porta de leve para chamar a atenção das jogadoras.
— Meninas, hora de concentrar. – disse ele, com aquele tom calmo, mas firme que todas conheciam bem. — Quero ver foco total nesse jogo. Vai ser difícil, mas temos condições de vencer. E, Petra – ele se voltou para ela com um olhar divertido — Ainda lembra que vai esquentar o banco hoje, né?
— Pode deixar, Zé. – respondeu Petra, com um sorriso animado. — Só apoio moral hoje.
As jogadoras terminaram de se arrumar, e, pouco a pouco, foram saindo do vestiário rumo ao ginásio. O som da torcida já ecoava pelos corredores, aumentando a adrenalina de todas. Petra caminhava ao lado de Julia, ambas em silêncio, mas a conexão entre elas era clara.
Quando chegaram ao ginásio, Petra se sentou no banco, ao lado de parte da comissão técnica. Enquanto isso, Julia e as outras jogadoras iam para o aquecimento final. O clima era de concentração, mas havia uma energia positiva no ar. As meninas estavam determinadas a dar o seu melhor, mesmo sem Petra em quadra.
Petra, sentada no banco, observava o ginásio cheio. O som da torcida já era ensurdecedor, criando uma atmosfera de eletricidade no ar. Ela estava acostumada com aquela energia, mas dessa vez era diferente. Estar ali como espectadora era uma sensação estranha, ainda mais com Julia em quadra. Petra mantinha a atenção no aquecimento da equipe, mas, de repente, seus olhos captaram algo nas arquibancadas. Um rosto conhecido. Chiara estava sentada na primeira fileira, acenando animadamente para ela.
Petra franziu a testa por um momento, surpresa com a presença de Chiara. Faziam alguns dias que não se falavam, e a última vez que haviam se encontrado, as coisas estavam tensas por causa do processo contra Lorenzo. Porém, por educação, ela acenou de volta e resolveu ir até a arquibancada para cumprimentá-la. Se levantou do banco, trocando algumas palavras rápidas com Zé Roberto, que apenas assentiu com a cabeça, permitindo que ela fosse até a arquibancada.
— Chiara! – Petra a cumprimentou com um sorriso contido, tentando ignorar o desconforto. — Que surpresa te ver por aqui.
— Petra! – Chiara respondeu, sorrindo e abraçando-a calorosamente. — Eu não podia perder a chance de te ver em quadra... Mesmo que só na torcida hoje, né?
Petra riu, sem jeito. — Pois é, estou fora por enquanto. Mas e você, o que tem feito?
A conversa foi breve e superficial, apenas alguns minutos de trocas de palavras formais. Porém, durante todo o tempo, Petra sentia os olhos de alguém sobre ela. Olhando discretamente para o ginásio, viu que Julia estava a observando. A expressão dela era inconfundível, irritação.
Julia, que já não estava de bom humor desde que viu Chiara, descontava sua frustração no aquecimento, golpeando a bola com força incomum. Quando Petra retornou ao banco, já sentia o clima tenso ao redor da ruiva, que evitava qualquer tipo de contato visual.
Assim que o jogo começou, ficou claro que Julia estava com a cabeça cheia. Seus ataques eram ferozes, quase descuidados, e a postura rígida demonstrava que algo a estava incomodando profundamente. Durante o segundo set, enquanto o Brasil enfrentava uma recepção difícil, Julia saltou para atacar uma bola que veio pelo alto e, sem hesitar, cravou um ataque fortíssimo diretamente no peito da líbero do Japão, que caiu no chão, surpresa com a potência do golpe.
A torcida ficou em silêncio, surpresa com a violência do ataque. Julia esboçou um pedido de desculpa e caminhou até a comissão ao lado da quadra enquanto o jogo parou para verificarem a jogadora japonesa. Seus olhos faiscavam, ainda fixos no banco, onde Petra observava.
Petra, reconhecendo o momento, tentou aliviar o clima. Lembrou-se da vez em que Julia havia acertado uma bolada nela durante uma disputa decisiva, um episódio que elas acabaram transformando em uma piada interna.
— Caramba, Juju, vai com calma! Quase arrancou a cabeça da menina! – brincou Petra, sorrindo, tentando fazer Julia relaxar. — Me lembrou da vez que você me acertou aquela bolada no rosto. Quase fui parar no hospital!
Mas Julia apenas lançou um olhar duro para Petra e se virou, ignorando a tentativa de brincadeira. Petra franziu o cenho, percebendo que a ruiva estava realmente brava. E, conhecendo Julia, sabia muito bem o porquê, a interação com Chiara havia despertado o ciúme que Julia nem tentava mais esconder.
O jogo seguiu tenso, com Julia jogando cada vez mais agressivamente, como se estivesse lutando contra algo além das adversárias do Japão. A cada ponto marcado, ela apenas respirava fundo, sem comemorar, o que não passou despercebido pelas outras jogadoras. Macris, que estava ao lado de Julia na rede, tentou falar com ela em alguns momentos, mas não conseguiu arrancar mais do que respostas monossilábicas.
Enquanto assistia ao desenrolar do jogo, Petra sentia uma mistura de emoções. Sabia que precisava resolver a situação com Julia, mas ali, naquele momento, não era o lugar. Tudo o que podia fazer era torcer para que a raiva da ruiva não comprometesse o desempenho do time.
Quando o Brasil finalmente venceu o segundo set com um bloqueio poderoso de Carolana, Julia foi a primeira a sair de quadra e se sentar no banco, bufando de raiva. Petra hesitou por um momento, mas sabia que precisava enfrentar a situação. Levantou-se e foi até Julia, sentando-se ao lado dela.
— Ju, você está jogando bem, mas precisa se acalmar. – Petra disse em um tom baixo, tentando ser razoável.
Julia virou-se para ela, os olhos brilhando de raiva contida.
— Achei que estava mais atenta na torcida do que no jogo, Lewis. – sibilou Julia, tentando manter o tom de voz baixo, mas falhando miseravelmente.
Petra suspirou, já esperando algo do tipo.
— Julia, não foi nada demais. Chiara veio me cumprimentar, e só isso. Não há razão para você ficar assim.
— Claro, porque você sempre atrai pessoas que aparecem do nada, né? – Julia rebateu, sarcasticamente. — Ou será que estou exagerando?
Petra tentou manter a calma. Julia estava claramente com ciúmes, e Petra sabia que não adiantaria tentar justificar demais. Isso só alimentaria a raiva dela.
— Olha, Julia... Não tem nada entre mim e a Chiara. Se você quiser, eu nem falo mais com ela. Mas, por favor, não deixe isso afetar seu jogo. Do jeito que está em quadra pode se machucar.
Julia cruzou os braços, visivelmente contrariada, mas não disse mais nada. Petra sentiu que a conversa não havia resolvido muita coisa, mas ao menos Julia parecia estar se acalmando aos poucos.
Quando o terceiro set começou, Julia voltou para a quadra, ainda com a postura rígida, mas com mais controle sobre suas ações. Seus ataques voltaram a ser precisos, e ela se integrou melhor ao jogo coletivo. Mesmo assim, Petra sabia que aquele problema estava longe de ser resolvido.
A relação que tinham era intensa, e momentos como aquele só evidenciavam o quão complexas as coisas podiam ficar.
Petra assistia tudo atentamente, sentindo o coração acelerar a cada ponto disputado. Em alguns momentos, se pegava torcendo tão alto que se esquecia de que deveria estar se poupando. Natinha, que estava no banco ao lado dela, notou.
— Ei, calma aí – disse Natinha, rindo. — Lembra do que o Zé falou, tá só esquentando o banco hoje, Pepê!
— Tô só torcendo! – respondeu Petra, rindo junto.
Apesar da dificuldade do jogo, o time brasileiro se manteve firme. O terceiro set foi disputado ponto a ponto, mas, com uma sequência de bloqueios impecáveis de Carolana e ataques precisos de Julia, o Brasil conseguiu fechar o set em 26-24.
— Isso! – gritou Petra, levantando-se do banco em um impulso de alegria. As meninas na quadra olharam para ela, rindo e vibrando de volta.
— Viu, Pepê? – disse Kudiess, acenando da quadra. — Sabia que ia torcer por mim!
As meninas se reuniram no centro da quadra para comemorar a vitória, e Petra observava de longe, sentindo um misto de orgulho e felicidade. Mesmo fora de quadra, ela fazia parte daquele momento.
Rosa, ainda no calor da vitória, se aproximou de Petra com um sorriso largo.
— Então, o que achou? – perguntou puxando Petra para um abraço rápido.
— Achei que vocês arrasaram. – respondeu Petra, retribuindo o abraço.
— Agora é sua vez de voltar logo pra gente arrasar juntas. – disse Luzia se aproximando com Kudiess ao seu lado.
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capítulo ruim mas melhor do que ficar sem por mais uma semana 👍🏼
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