57 - Minha Juju

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17 de Abril

Ao chegarem no hotel, Petra parecia mais tranquila após o depoimento, mas ainda havia um cansaço evidente em seu semblante. Ela mal havia cruzado a porta do saguão quando avistou Zé Roberto, que estava conversando com outros membros da comissão técnica. Sem perder tempo, ela caminhou em sua direção, determinada a falar com ele.

— Zé, posso falar com você um minuto? – Petra pediu, com um tom de urgência, embora tentasse manter a calma.

Zé Roberto a observou por um instante, captando a gravidade em sua voz e o cansaço em seu rosto. Ele assentiu, se afastando dos outros para dar-lhe privacidade.

— Claro, Petra. Vamos ali na sala de reuniões, podemos conversar com mais calma. – sugeriu ele, conduzindo-a para um espaço reservado no hotel.

Assim que entraram, Petra respirou fundo, organizando os pensamentos. Era difícil para ela admitir fraqueza, mas sabia que precisava cuidar de si mesma, e este era um desses momentos.

— Zé, eu... preciso pedir para ficar de fora dos próximos dois jogos. – começou, hesitante, mas logo emendou com mais firmeza. — Sei que estamos em um momento importante, mas eu preciso de um tempo. A situação com o Lorenzo está me consumindo de um jeito que não posso mais ignorar.

Zé Roberto a observou atentamente. Ele sabia que Petra não era de fazer pedidos assim sem uma razão muito forte. Como seu treinador, ele acompanhava o crescimento dela desde que entrou para a seleção e sabia do seu comprometimento, mas também percebia que algo estava errado nas últimas semanas. Agora, tudo começava a fazer mais sentido. — Eu estava esperando você vir até mim, mas sabia que precisava do seu tempo para resolver isso.

Petra assentiu, sentindo o alívio de ser compreendida. Zé sempre foi um líder atencioso, e ela confiava em seu discernimento.

— Eu queria ter vindo antes, mas, sinceramente, estava tentando lidar com tudo sozinha. Só que agora, depois de hoje, percebi que não posso. – ela confessou, a vulnerabilidade transparecendo em sua voz.

Zé Roberto inclinou-se levemente para frente, em um gesto de apoio.

— Você está certa em pedir esse tempo, Petra. Às vezes, o jogo mais difícil não é dentro da quadra, mas na vida pessoal. E não há problema em reconhecer isso. Eu quero que você cuide de si mesma primeiro, porque, sem isso, não há como você estar 100% aqui com o time. – disse ele, seu tom sério, mas acolhedor. — E sinceramente, Petra, eu fico mais tranquilo vendo que finalmente está focada em cuidar de você.

Petra suspirou profundamente, grata por ouvir essas palavras. Ela sempre se sentiu pressionada a manter uma fachada de força, tanto em quadra quanto fora dela, mas essa conversa com Zé era o que ela precisava para validar a decisão de priorizar sua saúde mental e emocional.

— Muito obrigada, Zé. Eu vou tirar esses dias para descansar e organizar tudo. Ainda quero continuar com os treinos leves, mas acho que não estou pronta para a pressão dos jogos agora. – afirmou Petra, sentindo uma leveza no peito ao finalmente colocar isso em palavras.

— Pode deixar. Vamos ajustar sua carga de treinos e você volta quando estiver preparada. O mais importante agora é que você tenha clareza e paz para lidar com o que está enfrentando. – respondeu Zé Roberto, com um aceno firme.

— Obrigada. – disse Petra, com sinceridade.

Zé Roberto se levantou, encerrando a conversa de maneira prática e objetiva. — Se precisar de mais tempo, você me avisa. Estamos aqui para te apoiar, ok?

Petra sorriu levemente, sentindo-se acolhida. Era reconfortante saber que, apesar de toda a tensão que estava vivendo, ela tinha o apoio de sua equipe.

— Eu vou avisar, pode deixar. – respondeu, antes de se despedir e deixar a sala.

Quando Petra voltou ao saguão, Julia estava esperando por ela, sentada em um dos sofás. Seus olhos a seguiam desde que ela havia se afastado com Zé Roberto, e, ao vê-la retornar, a preocupação em seu rosto suavizou um pouco.

— E aí, como foi? – perguntou Julia, enquanto Petra se aproximava e se sentava ao seu lado.

— Ele entendeu completamente. Vou ficar de fora dos próximos dois jogos. – respondeu Petra, com um sorriso de alívio. — Acho que essa foi a melhor decisão, sabe? Não dá pra me forçar a jogar quando minha cabeça está em outro lugar.

Julia assentiu, satisfeita com a decisão de Petra.

— Você fez a coisa certa. Agora, com esses dias, você pode realmente focar em resolver tudo. E eu vou estar aqui o tempo todo, ok?

Petra sentiu um calor no peito ao ouvir as palavras de Julia.

— Eu sei. – disse Petra, olhando para Julia com gratidão. — E isso faz toda a diferença.

As meninas começaram a se reunir no saguão, criando uma atmosfera leve e acolhedora que fez Petra se sentir um pouco mais à vontade, apesar de tudo que estava passando. As risadas e provocações amistosas rapidamente afastaram o clima pesado.

— Nossa, você parece que tirou um peso das costas! – comentou Ana Cristina, com um sorriso largo no rosto. — O que aconteceu?

Petra deu uma risada curta, aliviada.

— De certa forma, sim. – respondeu, balançando a cabeça. — Pedi ao Zé para ficar fora dos próximos dois jogos. Preciso de um tempo para me recompor e lidar melhor com... vocês sabem.

Rosa, sempre direta e solidária, se aproximou e colocou a mão no ombro de Petra.

— Isso mesmo! Se cuida, garota! Estamos aqui por você.  – disse Rosa, piscando, como se para reforçar o apoio.

— Você é forte, Petra. Vai sair dessa melhor do que nunca! – acrescentou Pri, com sua habitual tranquilidade, enquanto as outras ao redor concordavam, oferecendo palavras de incentivo.

As provocações logo começaram, como sempre faziam quando queriam aliviar a tensão.

— Petra, vem cá! – gritou Kisy do outro lado do saguão, seu olhar indicando que iria soltar alguma provocação, como de costume — Você não vai jogar, mas vai assistir a gente, né? E torcer pela sua mulher, claro!

Julia, que estava ao lado de Petra, quase engasgou ao ouvir o comentário. Seu rosto ficou imediatamente corado.

— Kisy, você não tem nada melhor pra fazer, não? – interrompeu Julia, tentando parecer irritada, mas o leve sorriso no canto de sua boca a entregava.

— Calma aí! Eu nem citei seu nome, Juju! – respondeu Kisy, dando de ombros com um sorriso travesso.

— A mulher da Petra, nesse caso, sou eu. – entrou Kudiess na brincadeira, jogando um braço ao redor dos ombros de Petra. — Vai me ver jogando, né, Pepê? – provocou, olhando diretamente para Julia, que rolou os olhos com uma falsa expressão de indignação.

— Kuddies, sai fora! – interveio Gattaz, rindo alto. — Mulher dos outros não é presente de Deus, viu!

Luzia olhou para Julia, que ainda tentava manter a compostura.

— JuKu, se eu fosse você, nem brincava muito. A Julia vai te deixar careca, e olha, eu nem vou te defender. – disse Luzia, piscando para Julia, que estava tentando segurar o riso.

As outras jogadoras, ao redor, riram junto, já acostumadas com esse tipo de brincadeira.

— Ih, Julinha, vai deixar? – perguntou Gabi, rindo enquanto cutucava Julia de leve no braço.

Julia soltou um suspiro exasperado, mas não conseguiu segurar o riso.

— Se vocês soubessem o que a Julia faz fora de quadra, não mexiam com ela... – brincou Carolana, levantando uma sobrancelha sugestiva, enquanto as outras jogadoras riam ainda mais. — Não é, Petra?

— Tô dizendo! Petra que se cuide. – completou Roberta, dando uma piscadinha para Petra, que apenas balançou a cabeça, rindo.

— Vocês não cansam, né? – disse Macris, com um sorriso no rosto. — Vocês são muito abusadas.

— Abusadas, não! Só estamos dizendo o que todo mundo já sabe. – retrucou Natinha, com um brilho de travessura nos olhos. — Além do mais, a Julia ficou até quieta, então, ponto pra gente!

Nyeme, que estava observando tudo de perto, sorriu maliciosamente.

— Julia, não tá com medo de perder pra Kudiess, não? – provocou ela, dando uma risadinha. — Olha aí, ela agarrando a Petra e essa sem vergonha deixando.

— Eu? Medo? – Julia revirou os olhos, fingindo desdém. — Por favor, vocês sabem que quem manda aqui sou eu.

— Sabemos, sabemos... – zombou Gattaz, balançando a cabeça. — Só que a Petra tá quietinha demais. Acho que ela que manda nessa história.

— Gattaz tá certa. Petra, você tem a última palavra nessa? – perguntou Diana, rindo, enquanto todas olhavam para Petra, esperando uma resposta.

Petra, que estava acompanhando a troca de provocações com um sorriso no rosto, finalmente decidiu entrar no jogo.

— Não vou mentir... eu sei quando é a minha vez de tomar as rédeas. Não é, Ju? – disse ela, piscando para Julia, que apenas cruzou os braços, rindo de leve.

— Isso aí! – exclamou Pri, rindo. — Se precisar de ajuda pra domar a fera, estamos aqui!

— Vocês são todas umas sem vergonha! – exclamou Julia, fingindo indignação, mas logo caiu na gargalhada com as outras.

Enquanto as risadas enchiam o saguão, Petra sentiu uma leveza tomar conta de si. Apesar dos problemas em sua vida pessoal e da tempestade que ainda estava por vir, o apoio e carinho das amigas eram fundamentais para manter sua sanidade. Elas estavam todas juntas, rindo e compartilhando momentos que fariam toda a diferença nos dias difíceis que estavam por vir.

E por mais que o futuro fosse incerto, pelo menos agora Petra sabia que, não importa o que acontecesse, ela queria manter seu foco no que realmente importava.

O clima começou a ficar mais leve com as brincadeiras das meninas, e Petra sorriu, sentindo um pouco mais de alívio ao ver o time todo se unindo em volta dela.

— Eu hein, vocês todas têm um problema. – Julia balançou a cabeça, mas não conseguiu evitar a risada que escapou.

— O problema é que você não sabe brincar, Juju! — disse Kisy, piscando para Julia, o que fez Petra dar uma risada mais solta.

— É, Juju, relaxa um pouco. – Gabi falou, tentando aliviar o momento com sua risada contagiante. — A gente sabe que você tá morrendo de ciúmes aqui.

— Ciúmes? – Julia arqueou a sobrancelha, cruzando os braços de forma defensiva. — Por que eu teria ciúmes?

— Ah, claro! – Kudiess rolou os olhos, ainda abraçando Petra, colocou o rosto em seu pescoço — Vai dizer que não sente nadinha de ciúmes vendo isso aqui? Nossa, Petra, tá cheirosa, hein.

— Kudiess, sai fora, anda! – Julia respondeu rápida, fazendo todo mundo ao redor rir. — Eu vou raspar teu cabelo...

— Nossa, achei que ela tinha dito que não era sobre ciúmes. – disse Carolana, levantando as mãos como se estivesse apenas observando.

Luzia deu uma leve batida nos ombros de Julia.
— Julinha, olha só, as meninas estão te zoando, mas não precisa ter ciúme.  – brincou, enquanto as outras concordavam entre risadas.

— Eu? Ciúmes? – Julia deu de ombros e tentou disfarçar, mas seus olhos revelavam outra coisa. — Isso é coisa da cabeça perturbada de vocês. — disse, apertando os lábios.

— Ah, claro... Petra, então, como foi a reunião com a Chiara, hein? – provocou Ana dando uma piscadinha para Julia.

— Ok, vocês todas estão oficialmente insuportáveis. – Julia disse, revirando os olhos, mas um sorriso pequeno aparecia no canto dos lábios.

— Gente, vocês estão pegando pesado! – Petra riu, olhando para Julia de canto de olho, vendo que ela tentava se conter, mas estava se divertindo com a situação.

— Relaxa, Pepê, estamos aqui pra descontrair! – disse Rosa, apoiando a cabeça no ombro de Petra — Vai fazer bem pra você!

— Isso mesmo! — Nyeme se juntou, abrindo os braços como se estivesse prestes a dar um grande discurso. — O importante é que estamos todas aqui, e vamos ganhar o próximo jogo! Mesmo sem a Petra em quadra, a gente vai jogar por ela!

— Ah, isso mesmo! – disse Thaisa com seu jeito firme, mas sempre acolhedor. — Vamos dar o nosso melhor, como sempre, e a Pepê vai estar lá pra torcer. É ou não é?

— Claro que sim! – respondeu Petra, olhando ao redor com gratidão.

— Então pronto! Se concentra no jogo, Juju, que você tem que dar show em quadra, tá ouvindo? – Luzia falou, cutucando Julia de leve. — Petra vai estar te olhando.

Julia bufou, tentando manter a seriedade, mas não conseguiu segurar o sorriso.

— Pode deixar. Vou jogar pra caramba. – ela respondeu, olhando discretamente para Petra, enquanto o grupo todo ria e brincava mais um pouco.

Kisy, sempre pronta para uma última provocação, se aproximou de Julia e falou em um sussurro alto o suficiente para todas ouvirem. — Tá jogando pela gente ou pela Petra, hein?

Julia empurrou Kisy de leve, rindo.

— Kisy, se concentra no seu jogo! – Julia respondeu, já ficando vermelha novamente.

— Tá bom, meninas! Kisy, sua maluca, deixa minha Juju quieta agora. – disse Petra largando Kudiess e abraçando Julia de lado.

— Ihhh, "minha Juju" – gritou Carolana, rindo com as outras.

No meio das risadas e brincadeiras, o barulho das portas automáticas se abrindo chamou a atenção das meninas. Zé Roberto, com sua postura séria, entrou no saguão e imediatamente se aproximou do grupo. As conversas foram diminuindo aos poucos, à medida que ele se aproximava.

— Bom, meninas, já deu de conversa fiada! – disse ele, com um sorriso de leve no rosto, mas com a autoridade de sempre. — Temos treino daqui a pouco. Quero todo mundo se preparando.

Julia imediatamente se endireitou, já acostumada ao tom de Zé, e as outras meninas seguiram seu exemplo.

— Julia, vá se arrumar para o treino. – ordenou Zé, apontando na direção do elevador. — Quero você pronta em vinte minutos.

— Sim, senhor! – respondeu Julia fingindo bater continência.

Ela olhou de relance para Petra, que retribuiu com um sorriso tranquilo.

Zé então virou-se para Petra, sua expressão suavizando um pouco.

— Petra, você também pode ir pro treino. – disse ele, com uma voz mais baixa. — Mas não precisa se esforçar muito, entendeu? Só acompanha o ritmo. O importante é você se movimentar, mas sem exagerar.

Petra assentiu, agradecida pela consideração.

— Vou sim, Zé. Vou pegar leve. – respondeu ela, enquanto as meninas ao seu redor davam sorrisos de encorajamento.

— Boa, menina. – disse Zé, cruzando os braços. — Você pode até não jogar, mas ainda faz parte do time, e sua presença no treino faz diferença.

— A gente cuida dela, velhote! – gritou Nyeme do fundo, arrancando risadas das outras.

— Vai precisar, porque ela adora se jogar de cabeça nas coisas! – provocou Roberta, piscando para Petra.

Zé sorriu, sabendo que a descontração era um bom sinal.

— Certo, meninas, chega de papo! Todo mundo se preparando para o treino. – disse ele, começando a caminhar em direção à saída. — Trinta minutos e quero todo mundo no ônibus que vai nos levar para o ginásio. Vamos lá, sem moleza!

Julia seguiu para o elevador, enquanto as outras também começaram a se dispersar, cada uma se dirigindo para seus quartos. Petra ficou um momento parada, observando Julia se afastar, antes de caminhar com as outras em direção ao elevador.

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eu tava até agora jurando que tinha postado esse capítulo ontem, uma besta 😍

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