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16 de Abril

O ginásio já começava a ganhar vida quando o time chegou. O som das arquibancadas se enchendo, das conversas e dos passos ecoando pelas paredes amplas era familiar e reconfortante para as jogadoras. A pressão do jogo contra a Sérvia pairava no ar, mas para o time, especialmente para Petra, entrar naquele ambiente trazia uma sensação de pertencimento. Era ali, na quadra, que ela se sentia em casa, onde todos os problemas pareciam desaparecer, ainda que por algumas horas.

As jogadoras se dirigiram direto ao vestiário para se preparar. As conversas descontraídas continuavam, misturadas com a ansiedade que precedia um jogo importante. Julia estava ao lado de Petra, ajudando-a a ajustar os cadarços do tênis enquanto trocavam palavras rápidas sobre a estratégia da partida.

— Parece que o ginásio vai encher hoje. – comentou Julia, tentando desviar a atenção de qualquer coisa que não fosse o jogo. A lembrança de Chiara provocando mais cedo ainda a incomodava.

— Vai ser um bom jogo, ruivinha. – respondeu Petra, mais focada, mas lançando um olhar reconfortante para Julia.

Com os uniformes devidamente colocados e uma breve conversa de Zé Roberto sobre a importância da partida, todas se dirigiram para a quadra. — Ah, e Petra... se em algum momento do jogo sentir que não vai-

— Relaxa, Zé. Não vou forçar a lesão... nem minha carga emocional. Se sentir que não vou aguentar, peço pra sair na hora. – Petra estava determinada a dar o seu melhor naquela quadra, mas depois de muita insistência de todos ela finalmente entendeu que seu bem-estar também importava e que não deveria ir além dos seus limites.

O aquecimento começou com a habitual rotina de toques e saltos. O foco estava em sincronizar os movimentos e aquecer os músculos para a intensidade que viria em breve.

No meio do aquecimento, enquanto Petra ajustava seus movimentos, uma voz familiar chamou sua atenção. Ela virou-se na direção das arquibancadas e, para sua alegria, viu Pierre, acenando freneticamente para ela. Ele estava com Marco e Antonella, que sorriam amplamente e acenavam de volta. O sorriso de Petra imediatamente se alargou, e ela devolveu o aceno, feliz em ver que eles estavam lá para apoiá-la.

— Olha quem está aí, o pequeno Pierre! – gritou Ana Cristina, notando a interação e apontando para o garoto. — Temos um fã número um na plateia hoje, meninas! Não podemos fazer feio.

Petra riu e, antes de voltar ao aquecimento, seus olhos se fixaram em outra pessoa. Do outro lado das arquibancadas, sentada de maneira descontraída, estava Chiara que levantou e virou de costas para exibir a camisa que usava. O que chamou a atenção de Petra, porém, foi o fato de Chiara estar usando uma camisa da seleção brasileira, mais especificamente com o número 11 nas costas, seu número, e com o sobrenome "Lewis" impresso em letras grandes.

Petra piscou, achando aquilo no mínimo inusitado. Ela não conseguia lembrar de ter conhecido alguém que fosse tão direto assim em mostrar apoio, ou talvez fosse mais uma tentativa de chamar atenção. De qualquer forma, Petra acenou de leve para Chiara, com um sorriso educado e amigável. Afinal, a mulher havia oferecido ajuda com a situação de Lorenzo, então não parecia haver razão para ser rude.

Contudo, essa interação não passou despercebida. Julia, que estava prestando atenção nos arredores e mantendo Petra sob seu radar, viu o aceno e a forma como Chiara estava vestida. Um calor irritado subiu por seu corpo. Ela tentou disfarçar, mas não conseguia evitar sentir uma pontada de ciúmes. Petra estava com ela, claro, mas havia algo na presença de Chiara que a incomodava profundamente, especialmente o fato de ela estar tão descaradamente vestida para provocar.

— Oh, olha só. –  sussurrou Kisy, que também havia notado a cena. — Parece que temos uma nova torcedora número um da Petra.

Natinha, que estava ao lado, riu baixo e olhou para Julia, percebendo a expressão dela.

— E parece que alguém não está gostando nadinha disso. – disse Natinha com um sorriso travesso, cutucando Julia.

— Relaxa, Ju. – provocou Nyeme, aproximando-se de Julia. — É só uma fã. Uma fã bem dedicada, pelo visto.

Julia bufou, tentando ignorar os comentários, mas as provocações das outras jogadoras só aumentavam o incômodo. O ciúme, embora não declarado, estava claro para todas, e as amigas de equipe adoravam uma oportunidade para brincar com as reações de Julia.

— Isso é ridículo. – murmurou Julia, mexendo nos ombros, tentando esconder a irritação crescente.

— Ah, para com isso, Julia. – brincou Carolana, sorrindo. — Todo mundo sabe que a Petra é sua. Relaxa. Aquela morena marreta ali tá doidinha por você, garota.

— Isso mesmo! – concordou Gabi, rindo. — Mas, olha, eu no lugar da Petra ia querer essa camisa também. Bem estilosa.

Julia rolou os olhos, mas não conseguiu deixar de lançar outro olhar em direção a Chiara, que agora observava a quadra com uma expressão tranquila, como se estivesse completamente à vontade ali, enquanto Pierre continuava brincando nas arquibancadas com Marco e Antonella. A imagem contrastante entre a doçura de Pierre e a ousadia de Chiara só aumentava a confusão de sentimentos dentro de Julia.

Petra, no entanto, tentava manter o foco. Sabia que qualquer distração poderia prejudicar sua performance. Por mais que a situação fosse inusitada, e até engraçada, em certo ponto, o mais importante naquele momento era o jogo. Ela se aproximou de Julia e sussurrou. — Não liga pra isso. Chiara está só sendo... gentil, eu acho.

Julia lançou um olhar rápido para Petra, ainda franzindo o cenho.

— Olha, Lewis... Ela só me irrita. – admitiu Julia, finalmente deixando transparecer seu incômodo. — Ah, quer saber? Ela tá ali quase te comendo com os olhos e você sorrindo achando que é gentileza. Para de fingir que não tá vendo.

— Não precisa ficar assim, Ju. – disse Petra, sorrindo com leveza. —  Eu não sou boba, estou vendo, mas Chiara estar ali "quase me comendo com os olhos" não muda o fato de que, mesmo com toda essa multidão nesse ginásio lotado, eu só consigo ver você. Então, se acalma e concentra na partida, ruivinha.

Julia suspirou, forçando-se a relaxar. Ela sabia que Petra estava sendo sincera, mas o desconforto com a presença de Chiara ainda persistia, como uma pontada no fundo da mente. Mesmo assim, ela sorriu de volta para Petra, aceitando o momento de reconciliação e mantendo as palavras da morena em sua mente. Eu só consigo ver você.

— Tudo bem. – respondeu Julia, tentando, de verdade, deixar aquilo para lá. — Mas eu não me responsabilizo pelas minhas ações caso ela provoque de novo. Você se liga, hein, Lewis!

O aquecimento continuou sem mais interrupções, e o foco voltou-se completamente para a preparação física e mental. O jogo contra a Sérvia seria intenso, e cada detalhe importava. Zé Roberto fazia seus ajustes finais na estratégia, enquanto as jogadoras mantinham-se concentradas em seus movimentos. A tensão pré-jogo estava no ar, mas dessa vez, havia uma energia positiva fluindo entre elas, mesmo com as provocações e pequenas distrações ao redor.

Enquanto o time brasileiro continuava a se aquecer, as arquibancadas se enchiam. O ginásio estava quase lotado, com torcedores animados e bandeiras verde e amarelo balançando por todo o lado. A presença de Marco, Antonella, Pierre, e até de Chiara foi um lembrete para Petra de que, apesar das complicações pessoais, ela tinha apoio ao seu redor. Mas o mais importante era que, ao seu lado, Julia estava firme, ainda que um pouco incomodada.

A hora do jogo se aproximava, e o momento de deixar as distrações para trás chegava. Era hora de focar totalmente no que mais importava: a vitória contra a Sérvia.

— Vamos nessa, ruivinha? – disse Petra, com uma energia renovada, estendendo a mão para Julia.

Julia segurou a mão de Petra e apertou com firmeza, sorrindo.

— Vamos nessa, principessa.

Com as mãos entrelaçadas por um breve segundo, elas se olharam com uma cumplicidade silenciosa antes de se separarem e voltarem para o time, prontas para o desafio que as aguardava.

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Julia saindo no tapa com a Chiara a qualquer momento
e a Petra se fazendo de sonsa 🤩